Reflexão sobre o dia da professora e do professor

Berenice Gehlen Adams

Houve um tempo, não muito distante, em que a sociedade respeitava e valorizava os professores e as professoras, estes profissionais tão importantes para a humanidade quanto o ar que respiramos, quanto a terra onde pisamos, quanto a água que bebemos, principalmente docentes da educação básica inicial, que desempenham inúmeras outras funções além do ato de ensinar. O trabalho com crianças pequenas é extremamente delicado, exigente e necessário para o desenvolvimento cultural de um país.

Ouvimos por toda a vida que se não estudarmos, não teremos oportunidades de bons empregos, que seremos excluídos e marginalizados. E sabemos o quanto isto é verdade. Sim, são as professoras e os professores que nos ensinam a enxergar o mundo do conhecimento. Estas pessoas nos oferecem as chaves que abrem as portas dos caminhos da vida. Trabalham até a exaustão, abrindo mão de sua própria vida para exercerem a função que nenhuma outra profissão possibilita: o desenvolvimento das habilidades humanas e das potencialidades criadoras que nos possibilitam engendrar as mais belas e complexas criações.

O médico, o engenheiro, o advogado,  são profissionais que fazem parte das classes privilegiadas da sociedade. São profissionais valorizados e reconhecidos que conseguem manter um padrão de vida estável – que, no mínimo, permite um sustento mensal através da sua merecida remuneração. Porém, estes nada seriam se não fossem suas professoras e seus professores. No entanto, há um contraste muito grande, uma disparidade, um distanciamento enorme entre estas categorias e a categoria dos docentes, e não há uma justificativa racional para isto. Ambos lidam com a vida: o médico lida com a saúde física do paciente, o professor lida com a saúde cultural de um país. Estes profissionais educacionais, devido ao descaso e ao abandono social do qual são vítimas, vêm enfrentando uma série de dificuldades resultando em carências que lhes negam uma qualidade de vida.

A valorização deste profissional é uma responsabilidade da sociedade, do poder público e da própria escola. Neste dia 15 de outubro, infelizmente, temos pouco para comemorar. Que pelo menos façamos uma reflexão. Valorizar este profissional é resgatar a saúde cultural do país que hoje se encontra em estágio terminal. 

Agradeço a todos os meus professores e professoras que tive na infância, na adolescência e aos que tenho hoje, na graduação. Agradeço aos que me ensinaram a ser professora também. Muito obrigada! 

 


 

Heróis invisíveis

 Berenice Gehlen Adams

     

   Um professor é aquele que mostra os caminhos traçados pela civilização, que apresenta as chaves que abrem portas da felicidade, que faz perpetuar a cultura humana. Ah, nada mais lindo do que o olhar de uma criança que desperta para a leitura do mundo. Ah, nada mais sensibilizador do que conviver num mundo de descobertas, de encantamento, de possibilidades, de aprendizados. Essa é uma visão romântica da função exercida pelo professor, função esta que é cada vez mais desvalorizada pela crise social que vivenciamos.

 
    Nós, educadoras e educadores, que convivemos em espaços escolares, sabemos que esse romantismo tem uma outra conotação. Sabemos que, na prática, as coisas são diferentes. Hoje, o professor tem o papel de mediador que busca reestruturar o equilíbrio de uma sociedade desajustada, excludente e preconceituosa. É no seio da escola que explodem as bombas armadas pela atual crise, e os professores, como heróis invisíveis, tentam resgatar valores que foram afogados pela sociedade do consumo. Ser professor, hoje, é navegar em um oceano turbulento, é trilhar os caminhos tortuosos da contradição e da falta de valorização.
 
    Em ano de eleição é quando mais se ouvem discursos sobre a importância da educação para um país prosperar, vozes que silenciam após as campanhas. Mas, será mesmo interessante um país cujo povo pense, tenha senso crítico, seja um povo empreendedor? Temem, os donos do poder, que um povo crítico coloque abaixo toda engenharia desenvolvida para a exclusão. Não, infelizmente não há interesse em valorizar a educação.
 
    Mesmo sabendo disto, os professores continuam a existir. Alguns acomodados, que realizam sua tarefa com aquele olhar rotineiro, romântico e submisso, que dão graças a Deus por terem um emprego garantido; porém, há os que têm seus ideais, há os que lutam, persistem em buscar alternativas para que o sistema educacional, arcaico e ultrapassado, mude. Recentemente ganhei de presente um livro de Rubem Alves: Por uma educação romântica. Na obra, o autor aponta diversas feridas educacionais que podem ser curadas com amor, com respeito, com criatividade. Porém,  a educação romântica de Rubem Alves não é aquela que aceita tudo, que acha tudo lindo, maravilhoso, que serve de máscara. É aquela educação que vem da alma do ser humano, que educa para a sensibilidade, e que questiona constantemente “qual é a função prática do que estou ensinando, para o momento da vida do aluno à minha frente?”. Que nossos professores tenham a coragem de trazer para dentro da escola os elementos que não fazem parte do currículo, que questionem com seus alunos sobre a vida como ela é, e que tenham a coragem de continuar a serem heróis, mesmo que invisíveis.

É autorizada a reprodução dos trabalhos de autoria de Berenice Gehlen Adams - desde que citada a autoria e a fonte.


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