PORQUE SOMOS AMBIENTALMENTE MAL INFORMADOS?

Por *Bere Adams

Estarmos bem informado é fundamental para que saibamos bem lidar, de forma proativa, com a complexidade dos dilemas que nos rodeiam, e os recursos tecnológicos são potentes ferramentas para nos atualizarmos. Através da Internet, os fatos e acontecimentos se propagam instantaneamente. Porém, é preciso checar sempre a veracidade das informações que nos chegam, dependendo de onde elas vêm, e nem sempre alcançamos as informações que mais nos interessam. Então, precisamos pesquisar, e hoje, quando se fala em pesquisar, automaticamente acionamos buscadores virtuais, que rapidamente nos oferecem um cardápio recheado de centenas ou milhares de opções, e lá vamos nós, clicarmos nos links que mais se aproximam daquilo que pesquisamos. Porém, encontrar informações atualizadas nem sempre é fácil, e exige muito tempo e muitos cliques, até que se encontre o que buscamos.

O que facilita muito a pesquisa é a criação de um banco de links temáticos. Com isto ganhamos tempo e podemos alcançar com mais facilidade as informações que desejamos.  E esta era a proposta inicial deste texto: apresentar uma série de links que nos facilitam a vida na busca de informações ambientais, aproveitando que preciso atualizar o meu banco de links, que anda para lá de defasado. Mas, confesso que não está nada fácil de fazer este rol. A maioria dos sites indicados pela busca com as palavras “notícias meio ambiente” direciona para informativos, grandes e pequenos, que apresentam pouquíssimas matérias atuais, e normalmente as mesmas, comprovando que informações ambientais não são lá muito fáceis de encontrar.

Nesta busca cheguei a um blog – desatualizado – que contém dados bem preciosos sobre informação ambiental, apesar de ter encerrado as suas atividades lá em 2011. Trata-se do Blog Papo Sustentável - Jornalismo Ambiental, que foi desenvolvido por alunos do último semestre do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).  O principal objetivo do blog é o de despertar jornalistas e público em geral a respeito da importância da mídia na informação ambiental.

As preciosidades as quais me refiro são frases ditas (não constam as datas, mas seguramente foram ditas antes de 2011) por importantes jornalistas das grandes redes de comunicação, relacionadas ao que estes pensam sobre a informação ambiental. São elas, seguidas por um comentário:

"A televisão não gosta desses assuntos. Sempre procura mostrar os crimes, escândalos políticos... O meio ambiente no Brasil não tem o peso que deveria ter, ainda." (Jornalista e apresentador do Jornal do SBT Carlos Nascimento)

Se formos observar as informações veiculadas nos principais jornais televisivos podemos contatar o que o jornalista Carlos Nascimento aponta. A frase revela que a mídia televisiva tem preferências em assuntos que chamam mais a atenção como escândalos e crimes, e que assuntos ambientais não dão audiência. Acabam, pois, sendo excluídos e ignorados, pois não dão retorno às transmissoras de televisão. Lamentável.

"Eu não gosto muito da expressão jornalismo ambiental, pois dá a impressão de algo separado, um gueto na comunicação." (Jornalista Washington Novaes)

Compreendo este sentimento do Jornalista Washington Novaes quando ele expressa insatisfação em classificar as informações ambientais como sendo de uma área separada do jornalismo como um todo, pois é um pouco semelhante ao que acontece quando falamos em Educação Ambiental, como se ela fosse algo fora, algum complemento, ou ainda, - o que é pior – uma disciplina a ser inserida no currículo, pois a Educação Ambiental é legitimada como uma prática educacional interdisciplinar que deveria estar inserida em todas as disciplinas do currículo. Assim como a informação ambiental deveria estar incluída no jornalismo como um todo, da mesma forma compreendo que toda educação deveria ser ambiental.

"A grande dificuldade é, ainda, a compreensão do que é [...] meio ambiente para uma grande maioria, seja público ou profissional." (Jornalista da Globo News, Rui Gonçalves)

O jornalista Rui Gonçalves destaca, em sua frase, uma questão bastante importante que é a da interpretação do termo “meio ambiente”. O que nós entendemos como “meio ambiente”? A maioria das pessoas compreende como paisagens paradisíacas, plantas, animais, florestas, rios, enfim, tudo o que se reporta à natureza, e nesta visão, nós, humanos, somos meros expectadores e usuários deste meio, como se não fôssemos parte dele. Poucas são as pessoas que se sentem inseridas no ambiente e o compreendem como o espaço onde vivemos, quer seja rural, urbano, natural, construído. Tudo é ambiente, seja natural, intocado, ou transformado pela interferência humana.

"O jornalista ambiental tem que ter o objetivo de impedir a degradação. É difícil cobrir a área ambiental sem essa visão engajada." (Jornalista e professor Wilson da Costa Bueno)

Wilson da Costa aponta que é importante haver o engajamento com as questões ambientais para que os profissionais da comunicação se debrucem mais sobre este tema. Aliás, se todos os profissionais, de todas as áreas, inserissem o foco ambiental em suas atividades, seria o ideal, afinal, existimos e vivemos graças ao meio ambiente, então, tudo e todos têm relação com ele.

"A mídia precisa ser uma vitrine de soluções. Ela precisa mostrar o norte magnético da bússola." (Jornalista da Globo News, André Trigueiro)

Eis um profissional da área do jornalismo mais do que engajado com as questões ambientais, que, além de apresentar os problemas, apresenta soluções pelo excelente programa Cidades e Soluções. Além disto, Trigueiro relaciona com propriedade o tema meio ambiente com espiritualidade, destacando, em publicações como o livro Ecologia e Espiritismo, que a vida neste Planeta Terra vai muito além dos seus aspectos físicos.

"O jornalismo tem que sair do esquema de cobrir apenas catástrofes e assumir o seu papel educativo." (Professora de jornalismo ambiental, Ilza Girardi)

E não somente o jornalismo precisa deixar de abordar o meio ambiente enfatizando apenas as mazelas e situações problemas, mas a própria educação também. O ideal seria que a abordagem ambiental fosse inserida pela sua importância para a manutenção da vida. Abordar enfoques como interação, interdependência, os aspectos ecológicos, biológicos associados as posturas humanas, e a partir daí, abordar o nosso papel como membros e partes integrantes do ambiente. Devemos deixar de trabalhar a Educação Ambiental como salvadora do Planeta, e oferecer oportunidades de descobertas, desafios, vivências com as comunidades, experiências concretas não somente visando soluções de problemas mas conhecer como a vida funciona e o que ela precisa para funcionar bem, incentivando sempre mudanças de hábitos e atitudes que promovam qualidade de vida.

Enfim, por estas e outras razões é que somos ambientalmente muito mal informados. Se o jornalismo desse maior ênfase às boas ações, a inventos menos impactantes, às iniciativas de comunidades que solucionam seus problemas ambientais e inovam suas vidas com técnicas ecológicas, que trouxesse à tona aspectos ambientais positivos, certamente o jornalismo seria uma maravilhosa referência para implementar as atividades de Educação Ambiental como atividade educacional interdisciplinar.

Sobre o rol de links para facilitar o acesso à informação ambiental, bem, este ficará para o próximo artigo.

 

Referência:

http://paposustentavel-jor.blogspot.com.br/

 


 

MUDANDO O MUNDO PELA ALIMENTAÇÃOPor *Bere Adams

 

O artigo anteriormente publicado tratou sobre a educação culinária para crianças e a sua importância para a aquisição de bons e saudáveis hábitos alimentares. Levando em conta que nós, adultos, precisamos nos reeducar para uma alimentação saudável, porque também não recebemos uma educação alimentar adequada, é bom explorarmos bastante este assunto para que possamos conhecer mais sobre as melhores formas de alimentação. Somente assim poderemos cumprir a nossa missão de bem educar as nossas crianças porque, segundo Santos et al (s/d):

A aquisição de bons hábitos alimentares deve ser iniciada desde cedo e de forma gradual [...] com o intuito de favorecer o desenvolvimento de ações que garantam a adoção de práticas alimentares mais saudáveis dentro e fora do ambiente escolar. (SANTOS et al, p. 3, s/d)

Vivemos em uma sociedade que mais se preocupa com a remediação do que com as causas dos problemas, e no que se refere ao estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis, isto não é diferente. No entanto, se trabalharmos com o foco dos problemas na sua raiz, muitas das dificuldades que enfrentamos poderiam ser evitadas, ao invés de serem remediadas. Sobre isto, Oliveira et al (2011) apontam que:

Os hábitos alimentares são estabelecidos na infância e quando inadequados, poderão estar contribuindo negativamente para a saúde dos futuros adultos [...] A prevenção de algumas doenças degenerativas do adulto começa na infância. (OLIVEIRA,  J.  C. et al, p. 03, 2001)

A alimentação está diretamente relacionada a todos os demais contextos que vivenciamos, uma vez que precisamos nos alimentar, pelo menos, três vezes ao dia, porém, este fato é praticamente ignorado por se tratar de uma ação rotineira. Normalmente, quando agimos de forma rotineira, a nossas ações tornam-se automatizadas e raramente prestamos atenção à forma como estamos nos alimentando, nem quanto aos tipos de alimentos que compõem as nossas refeições diárias. Isto é fácil de ser percebido quando saímos da rotina e vamos para outro local onde os costumes alimentares são diferentes e temos, até, certa dificuldade para aceitarmos outras opções de refeições.

Assim, a maioria de nós se alimenta sem nos darmos conta da importância de estarmos atentos à quantidade e à qualidade dos alimentos que ingerimos. Por vezes, caímos no grave erro de obrigar as crianças a comerem quando não querem, ou então deixamos que elas escolham os seus próprios alimentos, quando estas não têm a menor noção de quais são os alimentos que nos fazem bem.

As consequências desta forma errônea de percebermos o ato de nos alimentar são sentidas não somente na saúde das pessoas como também na saúde do planeta, uma vez que as formas de produzir alimentos prejudicam a água, o ar, o solo.   Um dos reflexos mais visíveis desta falta de consciência para uma nutrição adequada é a obesidade.

Pesquisas recentes apontam que a obesidade transformou-se em uma epidemia nos principais países do mundo. Atualmente 641 milhões de pessoas — 10,8% dos homens e 14,9% das mulheres — podem ser consideradas obesas e a tendência é que este cenário piore ainda mais.

Este, portanto, é um assunto que deve entrar em pauta nos ambientes educacionais e precisa ser mais explorado para que vislumbremos um cenário diferente do que o que apontam as pesquisas.

Existem diferentes linhas sobre abordagem alimentar e como tenho estado bastante em contato com ideias e práticas oriundas da nutrição ayurvédica, abordarei alguns aspectos que, apesar de mínimos, são bastante abrangentes e que revelam o quanto a alimentação é importante para termos um organismo equilibrado.

De acordo com a Ayurveda, palavra que significa: Ciência (veda) da vida (ayur), e que se trata do conhecimento médico desenvolvido na Índia há aproximadamente 7 mil anos -configurando-se um dos mais antigos sistemas medicinais da humanidade -, os alimentos têm propriedades terapêuticas que estão ligadas aos sabores e combinações. Convém salientar que a Ayurveda é uma medicina complementar reconhecida pela Organização Mundial da Saúde. (ADAMS, 2017)

De forma bastante sintetizada, pode-se destacar que:

A nutrição ayurvedica é uma das especialidades da medicina tradicional indiana. Esse sistema holístico ancestral define a saúde como o resultado do equilíbrio entre o corpo físico, a alma (atman), a mente (manas) e a energia vital (prãna), e não apenas a ausência de doenças. Os alimentos são considerados sagrados e a alimentação adequada é um dos principais pilares da saúde [...] Essa nutrição busca, portanto, prevenir ou curar desequilíbrios e doenças. Longevidade, vitalidade, saúde física, mental e emocional são seus objetivos. Esse tipo de alimentação raramente trata os sintomas. Na verdade, ela busca evitar que eles apareçam através de uma dieta equilibrada. Portanto, o princípio básico da alimentação ayurvedica é prevenir e manter a saúde do corpo e da mente por meio de uma dieta e um estilo de vida harmonioso. (http://www.namu.com.br/)

Pelo fato desta abordagem levar mais em conta a prevenção do que a remediação, penso que seja um excelente caminho a ser explorado para que se efetivem mudanças em nossos hábitos alimentares.

Mas, antes de sugerir estas mudanças, que a experimentemos em nós. A sensação de transformação e bem estar é fantástica e certamente será um grande incentivo para a promoção de muitas outras mudanças que a nossa civilização deve travar.

 

 

Referências:

 

ADAMS. A. G. Medicina Ayurvédica harmonia que cura. Caderno Saúde, Novo Hamburgo: Jornal NH. 23 a 29 JAN. 2017.

 

FULBER, Ademir; GUEDES, Edson. Projeto Atitutti. Disponível em: http://projetoatitutti.com.br/ . Acesso em: 25/04/2017.

 

OLIVEIRA,  J.  C. et al.Educação nutricional com atividade lúdica para escolares da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Disponível em: http://www.unibrasil.com.br/pdf/nutricao/2011-1/2_tcc.pdf.  2001. Acesso em: 19/05/2017.

 

PIRES, Laura. O sabor da harmonia: receitas para o bem estar. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.

 

SANTOS, C. R. da C et al. Sugestões de atividades de educação alimentar e nutricional. Coordenação de Vigilância Nutricional GVE/SUVISA/SES-GO. Disponível em: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2015-09/cartilha-de-atividades-de-ean.pdf Acesso em: 19/05/2017.

 


 

CULINÁRIA PARA CRIANÇAS, POR QUE NÃO?  - Por *Bere Adams

Toda cozinha pode ser considerada como um grande laboratório, por ser um espaço onde ocorrem muitas experiências e transformações. Mas, por questões de segurança, cozinha nunca foi um espaço liberado para as crianças.  Porém, com cautela e com algumas adaptações, uma cozinha pode ser um rico ambiente educacional, por proporcionar muitos aprendizados significativos. Ali podem acontecer aprendizados que as crianças levam para a vida toda.

Em uma época em que, cada vez mais, nos alimentamos de forma errada, consumindo muitos produtos industrializados e de pouco valor nutricional, precisamos oportunizar as crianças um olhar mais aprofundado sobre a qualidade da alimentação e tudo o que está relacionado a ela, desde os resíduos de embalagens de produtos industrializados e formas de produção dos alimentos, até as consequências das grandes produções agrícolas, o uso de elementos químicos que poluem o solo e promovem degradação ambiental e, ainda, colocam riscos à saúde.  

Conforme Almeida et al. (2010):

O padrão alimentar brasileiro tem apresentado mudanças, decorrentes do maior consumo de alimentos industrializados, em substituição às tradicionais comidas caseiras. Estas transformações provocadas pelo estilo de vida moderna levam a utilização excessiva de preparações gordurosas, açúcares, doces e bebidas açucaradas (com elevado índice glicêmico) e à diminuição da ingestão de cereais e/ou produtos integrais, frutas e verduras, os quais são fontes de fibra (ALMEIDA et al., 2010, p. 2)

Em virtude destes problemas tão graves referentes à alimentação, faz-se imprescindível adotar práticas educacionais que despertem o interesse dos educandos por alimentos mais saudáveis, e para isto, nada melhor do que oferecer atividades que promovam uma educação nutricional, aliando a práticas de sensibilização ambiental, - que não serão tratadas neste artigo. Este aprendizado pode ocorrer utilizando-se diferentes recursos didático-pedagógicos, como por exemplo, experiência concretas com plantas alimentícias, brincadeiras e jogos sensoriais envolvendo sabores e texturas, atividades culinárias.

Em atividades culinárias, além de aprender a se alimentar e aprender como uma boa e saudável comida é preparada, as crianças descobrem conteúdos de Ciências, Matemática, Português, História e Geografia. É o que afirma Almeida (1998), Coordenadora Pedagógica da Escola de Educação Infantil Bola de Neve.

Para Almeida (1998):

Ao propor as atividades de culinária queremos evitar uma aprendizagem mecânica de Ciências, na qual predomina uma listagem de nomes a serem memorizados e leis preestabelecidas. Acreditamos que o aluno pode construir seu próprio conhecimento, partindo de situações concretas e elaborando, em seguida, reflexões sobre a prática. (ALMEIDA, 1998, p. 111)

Desta forma, atividades de culinária promovem aprendizados que perpassam várias disciplinas favorecendo um aprendizado interdisciplinar, próprio da essência da Educação Ambiental. Esta interdisciplinaridade fica clara quando vemos os objetivos  da oficina de culinária que foram estabelecidos por Almeida (1998, pp. 111-112):

Os principais objetivos das atividades culinárias são:

- Propor atividades que propiciassem a exploração de fatos cotidianos;

- Enfatizar cuidados necessários com higiene e segurança no preparo dos alimentos;

- Estimular a criança a nomear tudo o que está à sua volta;

- Explorar objetos variados levantando suas características de forma, tamanho, espessura, textura, cor, odor, sabor etc.;

- Possibilitar a observação de mudança de estado físico: líquido para sólido, líquido para gasoso etc.; de acordo com a temperatura e a intervenção nos elementos;

- Estimular o levantamento de hipóteses sobre os resultados que seriam obtidos;

- Possibilitar o contato com a leitura de rótulos e das receitas, ampliando o vocabulário e favorecendo o registro através de desenho e escrita;

- Apontar as questões relativas à qualidade da alimentação para o desenvolvimento de uma vida saudável;

- Alertar para as necessidades de reaproveitamento de embalagens e reciclagem do lixo;

- Transmitir conteúdos socioculturais, como a origem de receitas típicas de lugares específicos;

- Valorizar a socialização através da troca e da união do grupo na hora de preparar e experimentar os alimentos.

Para elaborar atividades educacionais de culinária é necessário um planejamento detalhado e o envolvimento da equipe pedagógica da escola, a fim de que todas as recomendações de segurança sejam seguidas. Além disto, é possível elaborar um projeto amplo envolvendo diversas turmas, de diferentes idades, contanto que todas as atividades propostas sejam adaptadas as faixas etárias envolvidas.

A fim de incentivar educadoras e educadores a incluírem em sua rotina aspectos relevantes de uma boa educação alimentar e atividades de culinária, compartilho os resultados de um projeto de pesquisa desenvolvido com crianças do 1º ao 5º ano de uma escola de Ensino Fundamental:

As oficinas culinárias proporcionaram o aprendizado de maneira lúdica, pois foi um momento de descontração em que os alunos fizeram abordagens a respeito de sua relação com os alimentos, qual o significado da comida para cada um, utilizando produtos conhecidos que os alunos denominavam com facilidade e a possibilidade de conhecerem alimentos novos, como o açúcar mascavo, ricota e a farinha de trigo integral, além de desenvolverem outras atividades durante o evento, como a correlação dos ingredientes na pirâmide dos alimentos, a abordagem acerca da composição nutricional das preparações, o estímulo sensorial pela manipulação dos produtos e a degustação, quando cada estudante pode comprovar a possibilidade de se preparar alimentos saborosos e nutritivos, em momentos prazerosos [...] (ALMEIDA et al., 2010, p. 12)

Além das atividades de culinária propriamente ditas, há diversas atividades que podem ser desenvolvidas utilizando diferentes técnicas didático-pedagógicas que podem trazer excelentes resultados no que se refere a uma boa educação alimentar. As atividades descritas, a seguir, foram elaboradas por BOOG (s/d) e estão disponibilizadas em itens:

 

• Observar o trabalho da pessoa que cozinha.

(em casa ou na escola) e elencar as ações realizadas.

Aspectos a serem explorados: vocabulário,valorização da atividade de cozinhar, aprendizagem de técnicas (cortar, picar, medir, lavar, selecionar, etc).

 

• Identificar alimentos , relacioná-los com as cores e prová-los.

Aspectos a serem explorados: conhecimento dos nomes dos alimentos, seus sabores, especialmente das verduras, legumes e frutas; valorização da diversidade de recursos alimentares que a natureza oferece; valorização dos aspectos estéticos na alimentação.

 

• Nomear e identificar alimentos de diversos grupos: verduras, legumes, frutas, feculentos, cereais, laticínios.

Aspectos a serem explorados: vocabulário, formas, cores, peso, texturas, sabores, época, produtos derivados, unidades de medida, preços.

 

• Observar sobras e restos de alimentos no lixo (da escola, de casa).

Aspectos a serem explorados: desperdício de alimentos, rejeição. Utilização dos recursos da natureza. Compostagem.

 

• Entrevistar pessoas idosas sobre a sua alimentação na infância.

Aspectos a serem explorados: transformações históricas na produção de alimentos, nos hábitos de consumo e na saúde das pessoas.

 

• Solicitar aos alunos relatos sobre produção doméstica de alimentos (hortas, árvores frutíferas, ervas aromáticas, criação de animais).

Aspectos a serem explorados: incentivo à produção doméstica e ao plantio de árvores, valorização do trabalho do agricultor, economia , consumo de alimentos frescos e de qualidade garantida (isentos de defensivos agrícolas).

Utilização dos recursos da natureza.

 

• Solicitar aos alunos que tragam um determinado alimento (ex: um limão/aluno), empregá-los no ensino de matemática e depois consumi-los sob a forma de limonada.

Realizar a atividade, preferencialmente , em épocas de calor.

Aspectos a serem explorados: conceituação de unidades; socialização; conhecimento e incentivo de uma prática alimentar saudável.

 

• Identificar etapas e tarefas na produção de alimentos.

Aspectos a serem explorados: reconhecimento de profissões, valorização do trabalho do agricultor, conhecimento da origem dos alimentos, valorização dos alimentos naturais, sustentabilidade, diversidade.

 

• Visitar uma feira e provar algumas frutas

Aspectos a serem trabalhados: disponibilidade de alimentos na região (geografia), variedade na alimentação, preços, unidades de medida (matemática), profissões.

 

• Reconhecer alimentos pelo aroma e sabor, tendo os olhos vendados.

Aspectos a serem explorados: desenvolvimento da sensibilidade olfativa e gustativa.

 

• Cantar músicas cujo tema seja alimentos (Ex: Manga Rosa, Cio da Terra, Alecrim, Feijoada Completa, entre muitas outras)

Aspectos a serem explorados: ampliar a cultura alimentar resgatando valores culturais relativos aos alimentos e à alimentação.

 

• Exercitar mastigação lenta. Contar o número de vezes que se mastiga antes de engolir diferentes alimentos. Exercitar o prolongamento do tempo de mastigação.

Aspectos a serem explorados: relacionar com o processo de digestão dos alimentos, fomentar hábitos saudáveis.

 

• Calcular áreas de canteiros da horta, produtividade por área, sementes por canteiro, custo da produção x preço de venda no mercado, custo da alimentação.

Aspectos a serem explorados : conceitos matemáticos, cálculo de área, de produção.

 

• Calcular o valor calórico da merenda e de outros alimentos. Fazer comparações.

Aspectos a serem explorados: origem da energia (fotossíntese) e utilização da energia dos alimentos (produção de calor e trabalho muscular). Comparar gasto energético de pessoas sedentárias e de esportistas. Valorização da atividade física e da alimentação saudável.

 

• Identificar influências de outras culturas na alimentação dos brasileiros. Entrevistar pessoas de outros Estados ou de outros Países.

Aspectos a serem explorados: influência dos movimentos migratórios na cultura de um País ou região. Proporcionar o conhecimento e estimular a aceitação e tolerância com outras culturas e outros costumes.

• Ler textos e poesias cuja temática seja ou possa ser relacionada à alimentação. Ex: poema “O Bicho” de Manuel Bandeira; “O açúcar” de Ferreira Gullar; “O chão e o pão” de Cecília Meireles.

Aspectos a serem explorados: aspectos simbólicos, estéticos, humanitários, políticos (relativos ao Direito à Alimentação), dependendo do texto.

 

• Para pré-escola: colocar as crianças sentadas no chão, em círculo para rodarem uma melancia inteira, empurrando-a. Depois parti-la e comê-la.

Aspectos a serem explorados: conhecimento da fruta, observação de suas características, oportunidade de experimentar. Despertar na criança uma relação gostosa e divertida com essa fruta.

 

• Realizar trabalhos de artes com alimentos ou partes não comestíveis de alimentos. Ex: castiçais com casca de mexerica, casinhas com cascas de melão, enfeites com cascas de laranja, carimbos com chuchu cortado ao meio.

Aspectos a serem explorados: manusear partes das frutas, ampliar o conhecimento da fruta, valorizar aspectos estéticos, desenvolver a sensibilidade.

 

• Identificar influências indígenas na alimentação (mandioca, inhame, palmito, milho, frutas, mel, peixes, crustáceos, moluscos, carnes de caça: porco-do-mato, queixada, caititu, anta, cutia).

Aspectos a serem explorados: conhecimento e valorização dos alimentos naturais, típicos do país

 

Este artigo finaliza destacando que se trabalhe de forma mais efetiva nos espaços educacionais, a temática da alimentação de forma mais abrangente e com continuidade. Se não for pela mudança de hábitos, que seja por respeito às crianças pelas quais nós, adultos, somos responsáveis, pois essencialmente o hábito de se alimentar bem, ou não, é adquirido em casa e reforçado na escola. Que pelo menos na escola possamos cumprir o importante papel de nutrir as crianças com aprendizagens saudáveis.

  

Referências

ALMEIDA T. M. M.. Aulas de culinária para crianças. Comunicação & Educação, São Paulo, (1 3): 110 a 114, SET./DEZ. 1998.

ALMEIDA D. F. et al. Nutrição escolar consciente: oficinas de culinária para alunos do ensino fundamental das escolas públicas do município de Duque de Caxias/RJ. Colóquio Educação, Alimentação e Cultura. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2010.

BOOG, M. C. F. Atividades para educação alimentar e nutricional: educação básica e educação infantil. Disponível em: http://educacaoemnutricao.com.br/site/wp-content/uploads/2014/03/atividadesdeean_educacaoinfantileeducacaobasica5517.pdf Acesso em: 06/05/2017.

 

 


 

RUMO À MUDANÇA PELA ALIMENTAÇÃO – POR *BERE ADAMS

 

Mesmo sabendo o que muitas pesquisas indicam, que comemos cada vez pior, continuamos a nos alimentar de forma comprometedora, colocando em risco a nossa saúde e a saúde do Planeta. E porque comer mal é tão bom? Porque o ato de comer está mais associado aos aspectos sensoriais e culturais, do que aos aspectos nutricionais e planetários. A indústria alimentícia, assim como tudo o que gira em torno da alimentação urbana e prática, descobriu, há muito tempo, que a maioria das pessoas se alimenta por prazer, pelo sabor, pela aparência. Por isto, este setor vem investindo cada vez mais em receitas super apetitosas (utilizando sabores artificiais), coloridas (utilizando corantes artificiais), cheirosas (utilizando essências artificiais) e duráveis (utilizando diversos tipos de conservantes), e se não estão prontas para irem direto do pacote para a boca, são produtos muito fáceis de fazer, rápidos e que vêm empacotados nas mais chamativas e sofisticadas embalagens, que nem a terra consegue digerir.

Os resíduos que a terra consegue decompor são bem-vindos e servem para nutrir o solo. Todos os outros, não! A atitude mais inteligente da nossa parte seria, então, selecionar com maior cuidado e critério aquilo que colocamos dentro da boca, pensando no que este alimento nos beneficia, e se ele agride, ou não, em sua forma de produção e resíduos de embalagens, o meio ambiente.

É lamentável que não aprendamos a lidar de forma correta com a nossa alimentação desde bem pequenos. Um trabalho educacional sistematizado, aliado à Educação Ambiental auxiliaria sobremaneira a promover estas mudanças necessárias nos atuais hábitos alimentares. Mas, como conheço muita gente que ousa, um artigo como este pode ser um incentivo para o assunto adentrar pelas salas de aula dos pequenos (e grandes), e é tão prazeroso! Existem, sim, muitos projetos de educação formal e não-formal sendo desenvolvidos com esta temática, porém, na maioria são pontuais e sem sequência.

DIAS (2013), que é permacultor e gerente de projetos do Instituto Pindorama, num artigo publicado em jornal virtual, levanta questões bem interessantes para enriquecer esta reflexão:

Reflita profundamente: “O que estou comendo? Que sistema estou financiando com minhas escolhas? Como meu alimento é produzido? Quem produz meu alimento? Qual impacto da minha dieta na saúde do meu corpo? E no meio ambiente?”. (DIAS, 2013, s/p)

As nossas respostas para estas questões indicam, sem dúvida, como anda a qualidade da nossa alimentação, bem como o quanto estamos impactando o ambiente com os nossos hábitos alimentares.

E por que nos alimentamos desta maneira? Simplesmente por que somos induzidos a isto por diversas formas e razões. Ao invés de comermos para viver, vivemos para comer. Todos querem comer bem, não é? Mas, o que é mesmo comer bem? Para nós, comer bem é uma coisa, para o meio ambiente e para o nosso próprio corpo é outra, e aí reside um paradoxo.

Alguns autores da área da nutrição apontam que:

Nas últimas décadas, foi possível observar mudanças nos hábitos alimentares em diversos países, o que reflete a complexidade dos modelos de consumo e dos fatores que os determinam (PINHEIRO, 2001). Tais mudanças afetam a qualidade dos alimentos produzidos e industrializados. Na tentativa de adequar a alimentação ao ritmo acelerado do dia-a-dia, as escolhas e os hábitos de consumo passaram a apontar para alimentos mais condizentes com o novo estilo de vida, fazendo com que fossem incorporados hábitos rápidos e práticos. (FRANÇA, MENDES, ANDRADE, RIBEIRO, PINHEIRO, p. 1, 2012)

Porém, toda esta praticidade anda cobrando um preço bastante alto para o ambiente e, consequentemente, para a saúde de todos os seres vivos.

Mudar hábitos alimentares em um cenário cada vez mais artificializado e prático não é tarefa fácil, porém, os benefícios de uma alimentação mais saudável e sustentável são muitos e posso citar alguns deles:

- O nosso organismo evidencia maior equilíbrio;

- Não necessitamos de medicamentos, uma vez que uma alimentação mais saudável promove saúde;

- Sentimo-nos mais dispostos;

- Evitamos o sobrepeso;

- Colaboramos com o meio ambiente;

- Percebemos com mais clareza a nossa profunda relação com o meio ambiente e nos sentimos mais integrados a ele.

Uma vida mais conectada com o todo favorece a plenitude e para buscar a plenitude precisamos estar atentos às mudanças que devem se manifestar nas nossas vidas e para finalizar, deixo algumas dicas do Mundo Verde para ter uma "Dieta Sustentável"

1 - Diminua o consumo de carne- a criação de bovinos é um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa, principalmente pela grande liberação de metano nos gases dos animais. Além disso, a produção de carne vermelha demanda uma quantidade enorme de água. Para produzir 1kg de carne vermelha são necessários 200 litros de água potável.

2 - Evidências a respeito das vantagens dos alimentos vegetais na redução do risco de doenças crônicas têm sido estabelecidas nos últimos anos. A cada dia percebe-se um aumento no número de indivíduos que evitam os alimentos de origem animal, influenciados por fatores como saúde, preocupação ecológica, ética e religião.

3 - As dietas vegetarianas são caracterizadas pelo alto conteúdo de hortaliças, frutas, cereais integrais, leguminosas, oleaginosas, sementes e óleos vegetais, o que vai ao encontro das evidências epidemiológicas que demonstram que o consumo desses alimentos reduz o risco de diversas doenças degenerativas.

4 - Prefira os alimentos da safra e produzidos em sua região- além de economizar combustível com o transporte, você incentiva o crescimento da sua comunidade, bairro ou cidade.

5 - Priorize os alimentos frescos aos industrializados ou congelados- os alimentos industrializados ou comida congelada, além de mais caros, consomem mais energia para serem produzidas. Além de gerarem mais lixo pois são embalados.

6 - Se for inevitável o uso de alimentos embalados prefira as embalagens de vidro- as embalagens de vidro podem ser reutilizadas para acondicionar alimentos preparados em casa, além do que alimentos embalados em plástico estão contaminados por Bisfenol A, uma substancia relacionada ao surgimento de doenças como o câncer.

7 - Na hora de suas compras use sacolas retornáveis- devemos pensar não só na forma como os alimentos são produzidos, mas também devemos ser responsáveis na hora de adquiri-los. O uso de eco bags diminui o impacto ambiental pois diminui o uso de plástico, a extração de recursos e a geração de lixo.

8 - Escolha os alimentos orgânicos- aqueles que são cultivados sem o uso de agrotóxicos, fertilizantes ou pesticidas, em harmonia com o meio ambiente e valorizando o homem do campo.

9 - Elabore o cardápio da semana e adquira os produtos frescos de acordo com o planejamento- desta forma diminuímos o desperdício dos alimentos. As frutas e verduras estragam mais facilmente, então sabendo o que será usado no cardápio e comprado a quantidade correta estamos evitando o desperdício.

10 - Seja criativo na elaboração das receitas, aproveite os alimentos integralmente - use as folhas e talos dos vegetais em sopas e suflês, as sementes de abóbora podem ser torradas e usadas como aperitivo, as sementes de melão e melancia batidas no suco...

E a última dica que tomo a liberdade de incluir, antes de disponibilizar alguns links que uso bastante, é que pesquisemos mais sobre alimentação saudável, sobre alimentação orgânica, sobre alimentação ayurveda e que experimentemos alimentos que nunca provamos. Isto vai nos enriquecer por dentro. Sem dúvida, a vida ficará bem melhor.

Agora, algumas sugestões de links bacanas com ideias, papos e muitas coisas legais que nos dão vontade de fazer essa reviravolta na nossa alimentação:

 

Blog Bela Gil: http://www.belagil.com/blog/

Canal do Youtube Bela Gil: bit.ly/canaldaBela

Ciclo Vivo: http://ciclovivo.com.br/canal/vida-sustentavel/

GreenMe: https://www.greenme.com.br/

 

Mudar não é fácil, mas depois de assimiladas as primeiras mudanças, a transformação é contínua, e impressionante! Até o próximo artigo!

 

 

Referências

 FRANÇA, F.C.O .; MENDES, A.C.R. ; ANDRADE, I.S.; RIBEIRO, G.S.; PINHEIRO, I.B. Mudanças dos hábitos alimentares provocados pela industrialização e o impacto sobre a saúde do brasileiro. Anais do I Seminário Alimentação e Cultura na Bahia. Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), 13- 15 JUN, 2012.

DIAS, Nilson. O Impacto da alimentação na saúde do nosso corpo, da sociedade e do meio ambiente. Jornal Forum Século XXI, 02/MAI/2013. Disponível em: http://www.forumseculo21.com.br/noticias4653,o-impacto-da-alimentacao-na-saude-do-nosso-corpo-da-sociedade-e-do-meio-ambiente.html . Acesso em: 09/05/2017.

 

 


 

Educação ambiental, uma educação para a vida – Por *Bere Adams

Assistindo a um programa de culinária vegetariana, a apresentadora questionou o porquê de não haver uma educação alimentar nas escolas, uma vez que a alimentação é uma necessidade vital, e quanto melhor ela for, mais saúde e qualidade de vida teremos.

Lembrei-me, então, de quando eu estudava - lá pela 6ª série do Ensino Fundamental - em uma escola estadual. No contra turno tínhamos rodízio de atividades extracurriculares, chamadas de oficinas. Havia diversas, entre elas marcenaria: onde aprendíamos a elaborar pequenos objetos em madeira como chaveiros e porta-cuias; tipografia: onde aprendíamos como se imprimiam folhetos e fazíamos bloquinhos de notas; horta: plantávamos verduras e legumes; fundição – sim, que incrível não? – aprendíamos como eram feitas peças de metal como parafusos, porcas, e moldávamos esculturas metálicas; arte em couro: fazíamos cintos, niqueleiras, bolsas e outros objetos; e, tínhamos a disciplina de Técnicas Domésticas: aprendíamos como realizar tarefas diárias, desde cozinhar, costurar, guardar mantimentos, até como deveriam ser todos os cuidados da casa. Até hoje me lembro de muitas coisas que aprendi nestas oficinas, e não nego que eu gostava mais destas atividades do que das aulas. Foram lições que eu trouxe para a minha vida prática. E pelo que me lembro, todos gostavam tanto quanto eu.

Quando saí daquela escola senti muita falta deste tipo de atividade.

E foi pesquisando mais sobre este assunto para uma reflexão sobre coisas importantes que a escola deixa, e/ou deixou de abordar, que encontrei este texto do escritor Fabricio Carpinejar:

TÉCNICAS DOMÉSTICAS

Quando criança, na minha escola pública (Imperatriz Leopoldina), tinha uma disciplina chamada Técnicas Domésticas.

Aprendi a mexer com agulha e linha em sala de aula. Aprendi a passar roupa.

Não era obrigação de menina, era regra de sobrevivência, para conservar e fazer durar o uniforme escolar.

Desde lá, sei pregar botões, sei consertar tecidos.

Saber costurar é uma demonstração de ternura.

Tão bonito pegar um moletom do filho e fechar um rasgo.

Tão bonito pegar a calça do filho e fazer a bainha.

Tão bonito ver um botão solto da camisa do filho e arrumar em poucos minutos porque ele está atrasado.

Não há cena mais emocionante do que costurar meias. Meias que rasgam nos calcanhares. Fechar com a linha da cor da meia para ninguém perceber.

É muita esperança não jogar fora um par de meias e oferecer uma segunda vida para ele.

Demonstra que você não se desfaz das coisas facilmente, que não vai dispensar as pessoas facilmente, que você tenta primeiro remendar, que não é do tipo que estragou e compra outra, que não descarta simplesmente porque foi barato.

Costurar meia é para aqueles que acreditam na família, acreditam em superação, acreditam no casamento, acreditam que vale a pena almoçar juntos.

(Já cueca, por favor, não dá para costurar. Costurar cueca não é esperança, é muito desespero).

Pela forma que Carpinejar se refere a esta disciplina de Técnicas Domésticas, acredito que ele, assim como eu, também tenha tido aprendizagens bem significativas, caso contrário não dedicaria um texto a este assunto.

 Poucas são as disciplinas e as atividades educacionais que, atualmente, preparam os indivíduos para a vida. A escola, hoje, objetiva preparar os seus alunos - ou pelo menos tenta - para o vestibular, para o trabalho, para o sucesso, para um “vir a ser alguém na vida”, porém, não os prepara para a vida propriamente dita.

Vejamos bem, se a gente não sabe bem como as coisas funcionam, nem como devemos cuidar da nossa casa, do nosso alimento, do nosso organismo, e se não temos consciência da importância desses cuidados, ditos “domésticos”, para uma vida com qualidade, então, como vamos respeitar e dar valor ao que temos e fazemos uso, se essa temática é completamente ignorada pelo nosso sistema educacional?

Basicamente a Educação Ambiental leva em conta todo o sistema vital do Planeta nos processos de ensino aprendizagem. Não trata somente dos sistemas naturais, mas também de todas as conexões entre humanos e o ambiente, e as alterações engendradas, buscando por um equilíbrio entre estas interferências e a manutenção de vida no Planeta.

Se não tivermos uma educação que desenvolva atividades que podem ser aplicadas de forma prática em nossas atividades rotineiras, temos aí uma lacuna para o desenvolvimento de uma compreensão mais complexa entre as nossas ações e suas interferências no meio que nos proporciona a vida. Precisamos aprender de forma prática, saudável e sustentável a viver no dia a dia para podermos perceber que cada atividade nossa interfere no meio ambiente.

Com esse aprendizado será possível perceber o valor de cada coisa que existe e, consequentemente, teremos interesse consciente por cuidar mais de tudo o que está a nossa volta, e de nós mesmos.

E é do livro A DOUTRINA DE BUDA - da Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para Divulgação do Budismo) que é extraída uma história que pode bem ilustrar as ideias de cuidado e de valor, necessárias para o princípio do “Cuidar”, preconizado pelo teólogo e ambientalista Leonardo Boff e por documentos que fundamentam a Educação Ambiental, como por exemplo, A Carta da Terra. Eis o conto:

"Certa feita, Syamavati, a rainha consorte do rei Udayana, ofereceu quinhentas peças de roupas a Ananda, que as aceitou com grande satisfação. O rei, tomando conhecimento do ocorrido e suspeitando de alguma desonestidade por parte de Ananda, perguntou-lhe o que ia fazer com estas quinhentas peças de roupas. Ananda respondeu-lhe: "Ó, meu rei, muitos irmãos estão em farrapos e eu vou distribuir estas roupas entre eles." Assim, estabeleceu-se o seguinte diálogo: "O que farão com as roupas velhas?"

"Faremos lençóis com elas."

"O que farão com os velhos lençóis?"

"Faremos fronhas."

"O que farão com as velhas fronhas?"

"Faremos tapetes com elas."

"O que farão com os velhos tapetes?"

"Usaremos como toalhas para os pés."

"O que farão com as velhas toalhas de pés?"

"Faremos panos de chão."

"O que farão com os velhos panos de chão?"

"Sua alteza, nós os cortaremos em pedaços, misturaremos com o barro, e usaremos esta massa para rebocar as paredes das casas."

“Devemos usar, com cuidado e proveitosamente, todo artigo que a nós foi confiado apenas temporariamente."

Com tantos anos lidando com a Educação Ambiental compreendo que Educação Ambiental não se trata de uma disciplina a mais para ser trabalhada no currículo, mas sim que toda educação, em todos os espaços e níveis, deve ser ambiental, uma vez que não há vida sem o ambiente. Ou será preciso rever os objetivos do que entendemos por educação, se ela pouco vale para uma vida significativa, com sentidos que ultrapassam as razões físicas e se, por outro ângulo, ela bem serve para tão poucos.

 

Referências

CARPINEGAR, Fabricio.  Técnicas domésticas. Disponível em: http://carpinejar.blogspot.com.br/2014/06/tecnicas-domesticas.html.  Acesso em: 29/04/2017 

Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para Divulgação do Budismo). A doutrina de Buda. Disponível em:  http://ficazen.blogspot.com.br/2012/05/uma-licao-de-sustentabilidade-extraida.html . Acesso em: 29/04/2017

 


 

Alimentação, saúde e meio ambiente, uma conexão necessária – Por *Bere Adams

Em outro artigo comentei sobre o quanto uma alimentação adequada contribui para uma melhor qualidade de vida e que, apesar de atualmente estarmos vivendo mais, nunca antes a população mundial teve tantos distúrbios de saúde como hoje, o que compromete a qualidade de vida.

E o que uma boa alimentação e saúde têm a ver com Educação Ambiental? Tudo, afinal, se a fonte primária da vida é a alimentação, e algumas das principais causas da degradação ambiental estão relacionadas às formas de cultivo e produção de alimentos, mudar a forma como nos alimentamos é primordial para a reversão dos problemas relacionados ao meio ambiente e para vivermos com saúde e melhor qualidade de vida.

Em um artigo da nutricionista Nadia Cozzi, intitulado “Alimentação saudável e sustentável – A relação entre a alimentação e o meio ambiente” ela descreve que para ela é muito clara a relação entre alimentação saudável e meio ambiente, já que a produção agrícola interfere na saúde dos seres humanos, do solo, dos rios, dos animais, do planeta enfim. Ela destaca que desde 1972, a produção crescente de alimentos é o principal fator de pressão sobre os recursos da terra. Para ela o fracasso das políticas e práticas agrícolas inadequadas contribui para uma maior pressão sobre a terra. Ela cita como exemplo o uso excessivo de fertilizantes e outros produtos químicos que contribuem para a degradação do solo e a poluição da água, e salienta que entre 1972 e 1988, o uso global de fertilizantes aumentou para uma média anual de 3,5%, ou mais de 4 milhões de toneladas por ano. Cozzi aponta, ainda, que os pesticidas continuam a ser usados de forma indiscriminada (às vezes ilegalmente) em alguns lugares e descartados com negligência.  

Há algum tempo eu comprei um livro cujo título é: “Você é o que você come”. Iniciei a leitura, mas, antes que eu avançasse pelos primeiros capítulos, acabei emprestando-o a não lembro quem, e nunca mais o vi. Uma pena, já que este assunto tem me interessado muito ultimamente, pois finalmente estou aprendendo a me alimentar melhor, através da orientação do especialista ayurveda Ademir Fulber, que desenvolve vários projetos, entre eles o Projeto Atitutti onde disponibiliza materiais e vídeos com muita orientação para quem quer aprender a se alimentar e viver melhor e feliz. Ele desenvolve este projeto com a parceria de Edson Guedes e recomendo (Link no final).

A mudança que percebo na dinâmica do meu organismo, desde os primeiros dias desta mudança, é impressionante, e comprova todas as orientações que venho recebendo e aplicando.  A mudança positiva me encoraja a melhorar, cada vez mais, os meus hábitos alimentares e concluo que a maioria das pessoas alimenta-se mal por falta de orientação, ou melhor, por falta de uma educação alimentar adequada.

Apesar de se tratar de um assunto bastante amplo e importante para ser abordado com profundidade neste pequeno artigo, vou destacar alguns pontos relevantes que, por si só, já sinalizam onde estamos errando em nossos hábitos alimentares.

Segundo o Guia de Alimentação Ayurveda, de autoria da terapeuta ayurveda Daniele Barbosa, que está disponível para download pela Internet, há algumas regras básicas para uma alimentação correta. São elas:

1ª- Só comer com fome

2ª - Não comer antes de digerir a refeição anterior

3ª - Comer em lugar calmo

4ª- Não comer vendo televisão

5ª- Mastigar adequadamente

6ª - Não comer ansioso, irritado ou sob forte emoção

7ª- Agradecer, fazer uma prece ou nutrir sentimento de gratidão pelo alimento que será ingerido

Estas sete regras evidenciam que uma alimentação adequada envolve outras atitudes que, por vezes, passam desapercebidas.

Vejamos a primeira: Só comer com fome. Quantas vezes por dia ingerimos alimentos, ou comida, apenas por estarem à nossa disposição, sem que estejamos realmente com fome? Além disso, há uma variedade imensa de produtos alimentícios prontos, tão práticos, empacotados nas mais variadas e atraentes embalagens. Isso sem falar da qualidade destes alimentos.

Por consequência, se quebramos esta primeira regra, automaticamente também quebramos a segunda, que é: Não comer antes de digerir a refeição anterior, porque não temos, sequer, consciência se já digerimos o que comemos anteriormente e nos alimentamos novamente, ainda sem fome.

A terceira regra: Comer em lugar calmo é um desafio para todos nós, que vivemos em ambientes tumultuados. Na maioria dos ambientes destinados a alimentação há uma televisão, portanto, o aparelho torna-se um “personagem” muito presente nas horas das refeições, quer seja em lares, em refeitórios ou restaurantes e bares, o que viola a quarta regra: Não comer vendo televisão.

Quanto à regra: Mastigar adequadamente, poucas são as pessoas que observam este aspecto importante, pois a maioria de nós sempre come apressadamente e mastigar mais do que de costume parece ser “perda de tempo”. Trata-se de uma ação nada valorizada, apesar de ter fundamental importância para uma boa digestão.

Uma vida atribulada gera situações de ansiedade e angústia. A tensão faz parte do dia a dia das pessoas, em todo o mundo, porém, nos momentos das refeições é preciso que estejamos bem e relaxados para que nosso organismo possa melhor digerir o que comemos, é o que diz a sexta regra: Não comer ansioso, irritado ou sob forte emoção.

O nosso alimento é a nossa fonte de energia e pela sua importância para a manutenção da vida é muito saudável que sejamos gratos a ele e, por isto, a sétima regra é: Agradecer, fazer uma prece ou nutrir sentimento de gratidão pelo alimento que será ingerido. A gratidão também engloba o valor dado a cada refeição, quando muitas pessoas no mundo sofrem com fome, e nesse caso, ter alimentos é uma bênção, independente de crenças ou religiões.

Apenas estas sete regras nos sinalizam algumas mudanças que podemos adotar para que o ato de se alimentar ultrapasse a visão superficial que temos sobre a alimentação, e que, além de melhorar a qualidade de vida, a partir de um maior equilíbrio dos nossos organismos promovidos por uma alimentação consciente e saudável, colaboramos para a preservação ambiental.

Conforme afirma Nadia Cozzi, o ato de se alimentar é diário, pelo menos 3 vezes ao dia e conclui, portanto, que a nossa interferência na saúde do planeta ocorre diariamente, várias vezes. Ela faz o seguinte apelo: “[...] é chegada a hora de sairmos da zona de conforto e assumirmos que nossa própria sustentabilidade está em jogo. Atitudes tão simples como selecionar e preparar os alimentos contribui de forma efetiva para a preservação do Mundo. Nossas escolhas fazem toda a diferença”.

Fica, portanto, mais do que claro que uma alimentação adequada vai muito além daquilo o que colocamos em nossos pratos. E esse assunto precisa ser inserido de forma mais enfática nos processos educacionais, e não pára por aqui. Até o próximo artigo!

 

Referências

COZZI, Nadia. Alimentação saudável e sustentável – A relação entre a alimentação e o meio ambiente. Disponível em:  http://www.coletivoverde.com.br/alimentacao-sustentavel/. Acesso em: 23/04/2017.

BARBOSA, Daniele. Guia de Alimentação Ayurveda, de autoria da terapeuta ayurveda. Disponível em: http://portalestarbem.com.br/wp-content/uploads/2016/04/programa-e-guia-de-alimentacao-ayurvedica.pdf . Acesso em: 23/04/2017


 

Pensamos, logo...

– Por *Bere Adams

 

O raciocínio, - recurso tão magnífico por tornar capaz toda a evolução civilizatória - ao mesmo tempo em que permite criar, sonhar, desenvolver, inventar, também permite destruir e aniquilar. Não é por acaso que numa sociedade de racionais exista miséria, descaso, abandono, violência, guerras, destruição...

Portanto, se por um lado o pensar nos permite construir as mais incríveis estruturas como os engenhosos recursos tecnológicos, por outro, nos permite desmantelar, destruir, arruinar ecossistemas inteiros, comprometendo a biodiversidade do Planeta, bem como promover malefícios diversos que comprometem, também, a vida de muita gente.

O ambiente urbano onde a maioria de nós vivemos, relaciona-se a um estilo de vida que deseja, acima de tudo, confortos e comodidades, porém, é barulhento, agitado, tumultuado, poluído, constituído por uma visão capitalista, que comporta dominantes e dominados. Assim, naturalmente a natureza é percebida, simplesmente, como um baú recheado de recursos naturais a serem utilizados, sem levar em conta o equilíbrio ecológico para a manutenção da vida do Planeta.

Formamos uma sociedade excludente. Para a cronista Livia Zoé, “A exclusão é histórica na sociedade brasileira. Passados quinhentos anos ainda engatinhamos como forma social dentro de estruturas arcaicas que sobrevivem como vampiros simbióticos, estagnando estupidamente todas as possibilidades de renovação do contexto social”.

Vivemos em uma sociedade dividida em camadas como uma enorme torta de gente. Uma sociedade de desigualdades, de injustiças, onde a vida de humanos e outros seres vivos fica dependendo da própria sorte.

Neste modelo de vida no qual estamos inseridos e pouquíssimos escapam, diariamente somos expostos a riscos. Há gravíssimos problemas a serem solucionados. Uma pesquisa recente realizada com jovens da Geração Y de diversos países, no Fórum Econômico Mundial, aponta que na visão deles os principais problemas que a humanidade enfrenta são: mudanças climáticas, conflitos, pobreza, corrupção, segurança, bem-estar, educação, instabilidade política, alimentação e água, saúde, falta de empregos, desigualdade de gênero, falta de privacidade, falta de infra-estrutura. Todos sofremos com estes problemas que nada mais são do que consequência deste sistema que vem ruindo sem que ao menos percebamos isto com clareza.

Quanto mais dominamos, mais dominados vamos ficando. Somos dominados pela tecnologia, pelo carro, pelo comércio, pelo celular, pelo micro-computador, pela Internet, por coisas luminosas e quadradas ou retangulares, como se fôssemos “encaixotados”... Somos dominados por nós mesmos, aprisionados em grades que nós mesmos pensamos, logo, construímos.

 


 

Facilidades perigosas e mudanças de atitudes

- Por *Bere Adams

 

É de impressionar a diversidade de mercadorias que foram criadas para, ilusoriamente, facilitar a nossa vida, e que estão à nossa disposição, distribuídas metodicamente em prateleiras de supermercados e nos mais variados pontos de comércio que nos circundam. Destaco o sentido ilusório, pois a maioria destas mercadorias existe para alimentar o sistema capitalista que, literalmente, atropela e compromete toda qualidade de vida do Planeta.

Pensando sobre isto é inevitável não lembrar de como eram as coisas até há pouco tempo. Na alimentação não existiam as "facilidades" de, por exemplo, alimentos industrializados e tele-entregas – não só de alimentos, mas também de diferentes tipos de mercadorias. No vestuário, não havia roupas prontas de confecções industrializadas.

Com o passar do tempo, as invencionices vão aumentando rapidamente e a elas vamos nos acostumando, ao ponto de nos tornarmos completamente dependentes delas.

Apesar de a humanidade ter aumentado, nos últimos anos, a longevidade, a qualidade de vida deixa a desejar quando constatamos serem raras as pessoas adultas ou de idade mais avançada que não necessitam de medicações diárias para controlar os malefícios que os maus hábitos (muitos deles oferecidos por estas tais facilidades), promovem como: pressão alta, diabetes, colesterol alto, insônia, depressão, entre outros descontroles da saúde humana atual. É o que aponta uma pesquisa do Instituto de Métrica e Avaliação em Saúde e Universidade de Washington, (USA), que avaliou a população de 180 países. A pesquisa conclui: “A longevidade da população mundial aumentou, mas ela está vivendo cada vez mais doente”. E não é por acaso que os quadros de depressão aumentam em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, são mais de 350 milhões de pessoas afetadas.

Então, do que adianta uma maior longevidade, se finalizamos a nossa jornada aqui na Terra sem qualidade de vida? Já não está mais do que na hora de uma ampla e geral mudança em nossas atitudes, a começar por não cairmos na tentação destas ditas facilidades, que colocam a qualidade de vida em risco?

Atualmente muitas pessoas se questionam sobre como efetivar as mudanças necessárias para uma melhor qualidade de vida, porém, algumas esperam por receitas prontas, como bem ilustra os questionamentos desta frase de Caio Fernando de Abreu: “Você tem alguma receita pra gente mudar de vida? E pra tomar decisões? E para mudar de personalidade? E para flagrar-se? E para pagar o karma em suaves prestações? E pra desorientação aguda, você tem? Se tiver, me passa que eu preciso”.

Não existem receitas prontas ou universais para mudanças, mas existem muitas pessoas que optaram pela mudança, melhoraram suas vidas e hoje se dedicam a projetos motivando as pessoas a realizarem as necessárias mudanças de atitudes.

 

“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”.(Eduardo Galeano)


 

Uma educação pela vida

- Por *Bere Adams

Todos já sabemos que precisamos mudar o nosso estilo de vida para que possamos viver com mais qualidade. E esse estilo representa uma concepção errônea de vida, que é ensinada e aprendida, principalmente, nos espaços educacionais.

Muitos especialistas da educação de todo o mundo já dizem, há tempos, que o sistema de educação que é fragmentado e focado no conhecimento não consegue formar um sujeito crítico e cidadão, aliás, Rubem Alves criticava severamente o conceito “formar”. Dizia ele que “formar é colocar na fôrma, fechar. Um ser humano ‘formado’ é um ser humano fechado”.

Porém, poucas são as mudanças que ocorrem nos ambientes educacionais. Nestes, dá-se, ainda, mais ênfase para o conhecimento cognitivo focado, também, na competitividade: devemos estudar mais para sermos melhores!

Mas, onde ficam os ensinamentos necessários para o desenvolvimento da autonomia, da persistência, dos valores, da organização, da cooperação, tão necessários para quando os alunos saem das dependências educacionais e seguem para as suas mais variadas realidades?

A autonomia é fundamental para o despertar de sujeitos pró-ativos. A persistência é importante para a manutenção dos tropeços da vida. Os valores servem como bússola, indicando diferentes direções a serem seguidas diante alguns dilemas. A organização também promove a pró-atividade e facilita muito na realização de toda e qualquer tarefa. E a cooperação? Como vamos transformar a nossa sociedade em uma sociedade justa e equitativa se a competição está presente em todas as áreas e níveis da educação? Temos doutores que colecionam teses pelo simples prazer de competir.

Edgar Morin, importante pesquisador frances em seu livro: “Ensinar a Viver Manifesto para mudar a educação” clama para que a escola se livre da lógica do mercado da qual é prisioneira.

Enquanto a educação não mudar, nos depararemos - a cada dia mais - com confrontos, ao invés de encontros. E nesta competição, todos saímos perdendo...

 


 

A biodiversidade perto de você

– Por *Bere Adams

 

Não tem forma melhor de perceber a beleza e a complexidade da vida do que observar e sentir a natureza, da qual somos parte integrante. Embora a nossa Pátria Brasil esteja carente de boas colocações nos mais variados rankings relacionados à qualidade de vida, dentre os demais países do mundo, nós, brasileiros, somos privilegiados, uma vez que temos a maior biodiversidade de flora e fauna do Planeta Terra.

Mas, infelizmente, a vida cotidiana com compromissos inadiáveis impede que a maioria das pessoas dedique tempo para observar a natureza – independente se em espaços urbanos ou rurais e naturais.

Porém, bastam apenas alguns minutos de observação por dia para nos tornarmos mais integrados, conectados à vida e a toda essa maravilhosa biodiversidade do nosso País.

O nosso distanciamento impede que nos sensibilizemos para as importantes questões ambientais que comprometem a qualidade de vida em todo o Planeta, enquanto a aproximação nos evidencia que no ciclo da vida tudo está entrelaçado e que temos grande influência no meio, afinal, somos parte dele e não seus donos.

O nosso distanciamento ou a nossa aproximação com o meio que nos envolve pode ser mensurado diante a resposta para esta questão: “Você conhece a biodiversidade da sua cidade?” Ou seja, para alcançarmos este conhecimento vai depender de como nos relacionamos com a vida que acontece a nossa volta e o quanto nos interessamos em conhecê-la. Nós conhecemos, mesmo, o ambiente onde vivemos? Acredito que a resposta da maioria de nós seja “Não”, ou “Muito pouco”, e poucas serão as pessoas que responderão com propriedade que conhecem a biodiversidade que nos rodeia. Isso me deu a ideia de fazer uma pesquisa on-line, cujos resultados compartilharei em um próximo artigo.

Muitas organizações ambientais desenvolvem trabalhos para levar o conhecimento da biodiversidade local as suas comunidades. Exemplo disto é a publicação “Almanaque da Fauna e Flora do Wallahai”, lançado em 2015 pelo Projeto VerdeSinos em parceria com a prefeitura de Novo Hamburgo/RS . Trata-se de um guia sobre flora e fauna presentes no Vale dos Sinos. O guia pode ser acessado em: http://migre.me/wk5lJ

A partir do momento em que começamos a observar a natureza, certamente teremos inúmeras surpresas, como a de ver uma flor que nunca havíamos visto antes, ou escutar um canto de pássaro diferente... Saberemos também que raramente um pássaro usa o mesmo ninho, e que algumas aranhas conseguem andar sobre a água... E isto é só o começo!

Boas descobertas e se tiver vontade, compartilhe-as comigo enviando mensagem para bereadams@gmail.com

 

"Penso que a natureza sonha. Montanhas, florestas, mares, rios, lagos, nuvens, cachoeiras, animais, flores - todos sonham um mesmo sonho. Sonham em que um dia chegará o dia em que os seres humanos desaparecerão da face da terra. Pois os dinossauros não desapareceram? Quando isso acontecer, será a felicidade! A natureza estará, finalmente, livre dos demônios que a destroem. A natureza, então, tranquilamente, sem pressa, se curará das feridas que nós lhe causamos." (Rubem Alves)

“Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja”. (Chico Xavier)


 

Nossas escolhas

– Por *Bere Adams

           São inúmeras as mentiras que se tornam verdades, que circulam pelas redes sociais, mas, infelizmente, muitas informações estarrecedoras, que eu preferiria que fossem inverdades, são reais. O grande desafio é identificá-las - apurar a veracidade. A estas me refiro agora, às informações assustadoras, que comprovadamente são verdade, mas passam bem longe da preocupação da maioria das pessoas. Diante delas muitos de nós dizemos, através das nossas ações: “Eu não ligo!”.

Eu não ligo para aquilo que me ofereço de alimento, nem para a minha saúde, quando os meus hábitos alimentares são saciados pelas poderosas indústrias alimentícias, apesar de saber dos malefícios que estes produtos provocam. Eu não ligo para o trabalho escravo, incluindo o de crianças, quando uso vestuário de marcas renomadas que lucram com a exploração humana e tornam vidas desumanas. Eu não ligo para um dos maiores problemas ambientais, que é o desmatamento, quando a base da minha alimentação faz aumentá-lo ainda mais. Eu não ligo para o lixo que produzo, quando não opto por produtos com cunho ecológico que promovem sustentabilidade. Eu não ligo para o desaparecimento do orangotango das florestas tropicais do Bornéu e da Sumatra, quando faço uso de um produto feito a base de óleo de palma, fornecido pela planta que com ele compete, covardemente, pelo uso do meio ambiente.   Eu não ligo para a vida, quando pouco me importa como são feitas as coisas, de onde elas vêm, que resíduos geram, importando apenas se o preço é bom e se as ofertas são generosas para o meu bolso. Eu não ligo que a cada minuto morrem cinco crianças de fome, quando desperdiço alimento deixando comida no prato.

E na medida em que eu não ligo, vou me desligando do todo, transformando-me em um minúsculo e isolado ser, feito um verme a corroer a terra.  Mas, quando eu ligo e nós ligamos para todas estas e outras situações equivocadas da humanidade, e nos envolvemos com elas, cuidamos delas, tudo muda, por que passamos a compreender que precisamos estar ligados e cuidar daquilo que realmente importa para a manutenção da vida. A vida pode ser uma máquina complexa da qual somos apenas peças; pode ser um teatro de bonecos onde somos marionetes, ou, então, ela pode ser uma bênção. Vai depender do quanto nos envolvemos e nos preocupamos com ela.

 


 

*Berenice Gehlen Adams é Diretora da Apoema Cultura Ambiental; Coordenadora do Projeto Apoema www.apoema.com.br e editora responsável da revista Educação Ambiental em Ação www.revistaea.org