A merenda escolar dentro do contexto da Educação Ambiental

Berenice Gehlen Adams

Considero ser de extrema importância um debate e/ou uma reflexão acerca da merenda escolar. Não estou me referindo à merenda escolar distribuída pelo Governo (este seria outro assunto para reflexão), mas à merenda que vai de casa para a escola ou que é adquirida no próprio estabelecimento educacional. É importante refletir quanto ao valor nutricional da mesma, bem como sua origem (caseira ou industrializada) e geração de lixo (embalagens). Todos nós sabemos que quanto mais natural e integral for nossa alimentação, melhor será a nossa saúde. Muitas escolas, cientes desta questão, sugerem aos pais um cardápio para a merenda diária, incentivando uma alimentação mais saudável, o que facilita na aceitação por parte das crianças, o consumo de alimentos com maior valor nutricional. Por outro lado, muitas escolas, na sua grande maioria, deixam para livre escolha, o que as crianças levam ou adquirem para merendar.

 As escolas que estão empenhadas com esta questão já deram um grande passo em relação à Educação Ambiental, pois a alimentação está diretamente relacionada às questões ambientais. Penso que incentivando a utilização de frutas, leguminosas, cereais, alimentos caseiros, para a merenda escolar, estão contribuindo de forma direta com a conscientização de que quanto mais natural for nossa alimentação, menos lixo será produzido e mais saúde teremos.

 Na grande maioria das escolas particulares, a merenda escolar é uma questão esquecida e não levada a sério. Muitos estabelecimentos mantêm um barzinho onde as guloseimas e os refrigerantes são consumidos diariamente. Além da produção de lixo, do baixo valor nutricional dos alimentos oferecidos, dos aditivos químicos, e do incentivo ao consumo, muitas crianças acabam rejeitando sua própria merenda (quando, eventualmente, alguma delas leva frutas, sanduíches, chá, etc.) Devido ao pouco tempo de que dispõem os pais, para a manufatura da merenda escolar, estes recorrem a uma vasta gama de produtos industrializados, o que acaba, também, interferindo na qualidade da merenda escolar. Certa vez escutei um comentário de uma criança: “Na nossa sala nós separamos o lixo, mas o lixo orgânico está sempre vazio!”. Este comentário é, no mínimo, revelador.

 Seria interessante a escola fazer um levantamento quanto ao o que está sendo consumido na hora da merenda. Não tenho dúvidas de que o resultado seria, na sua grande maioria, o consumo de produtos industrializados (salgadinhos, refrigerantes, bolachas recheadas, todynhos, chocolates).

 A Escola que deseja inserir a Educação Ambiental de forma ampla e integrada não pode deixar de lado a questão da merenda escolar. Este não é um desafio fácil, mas necessário para uma verdadeira inserção da Educação Ambiental dentro do contexto da mudança de atitudes, para uma reintegração do elemento humano ao meio ambiente.

 Está lançado o desafio!


Sugestões de merendas naturais e saudáveis:

- Frutas da época;

- Sanduíche, de preferência com pão integral (recheados com verduras picadas, queijo ou geléias caseiras) - Evite utilizar gordura vegetal (margarinas);

- Salada de frutas;

- Iogurte caseiro ou natural, com mel ou frutas picadas;

- Bolos e bolachas caseiras e/ou integrais;

- Ovo cozido e azeitonas;

- Nozes, avelãs, castanhas-do-pará;

- Arroz doce;

- Torrada com mel;

- Cuca;

- Pudim caseiro;

- Sucos frescos de frutas, chá.


Estas são apenas algumas sugestões. Para quem não está habituado, pode parecer difícil e um tanto "chato", mas na medida em que nos tornarmos mais conscientes de uma necessidade de mudança de postura em relação às nossas atitudes, veremos que além de estarmos contribuindo para diminuição da produção de lixo, estaremos contribuindo com a saúde de nossas crianças. Sem esta postura estaremos dando continuidade à "geração coca-cola". Vale a pena o esforço!


Saúde em risco

Nutrientes perdem para
sabor na hora da compra


Ivana Carvalho
Repórter


Carrinho de supermercado e lista de compras ao alcance das mãos. Tudo pronto para mergulhar num mundo de tentações, em que, na maioria das vezes, os produtos mais atraentes, gostosos e coloridos são também os mais prejudiciais à saúde. Para conhecer os hábitos alimentares dos juizforanos, a Tribuna foi a supermercados da cidade verificar os tipos de alimentos consumidos, com o auxílio de uma nutricionista.

A primeira constatação foi a resistência das pessoas em reconhecer que se alimentam de forma inadequada. Na teoria, todos sabem cuidar bem da saúde, mas, na hora de encher o carrinho, não deixam faltar refrigerantes, enlatados, congelados, queijos amarelos, hamburgueres, macarrão e sopa de preparo instantâneo, além de maionese e catchup. A justificativa para a presença de tantos supérfluos é sempre a mesma: estes produtos são consumidos, eventualmente, nos finais de semana ou quando não sobra tempo para cozinhar.

Nos dias de hoje, a alimentação do brasileiro é considerada, de uma maneira em geral, carente de nutrientes. Submetidos à correria da vida moderna e influenciados pelos meios de comunicação, os consumidores estão trocando o almoço em casa por refeições em lanchonetes e fast foods. Muitas vezes, eles nem têm consciência do quanto estes novos hábitos alimentares são prejudiciais à saúde.

Neste sentido, a Tribuna publica, a partir de hoje, uma série de reportagens, para orientar os leitores sobre a composição dos alimentos consumidos diariamente. Com a ajuda de nutrici0nistas, engenheiros agrônomos e médicos, serão destacados benefícios e prejuízos causados à saúde. Cada grupo alimentar será tratado separadamente, como vegetais, frutas e legumes, carnes e ovos, carboidratos, leite e derivados, grãos, entre outros.

Ingestão de gordura vem aumentando

Na opinião da endocrinologista Ana Chartuni Teixeira Cury, o principal erro alimentar da atualidade é o aumento da ingestão de gordura. Ela aponta pesquisas feitas recentemente no país, comprovando o crescimento do consumo diário da substância nos últimos 15 anos. Em Recife (PE), o aumento foi de 18% para 25%, em Curitiba (PR), de 27% para 34% e, em São Paulo, de 31% para 35%. Por outro lado, esta proporção na dieta dos americanos caiu de 40% para 34% no mesmo período.

Uma alimentação diária balanceada deve ser composta por 55% de carboidratos, de 15% a 20% de proteínas e menos de 30% de gordura. Já o consumo recomendado de vitaminas e sais mineirais varia de acordo com sexo e faixa etária. A pirâmide alimentar (ver ilustração) mostra que devem predominar em nossas refeições cereais, pães, massas e legumes, seguidos por hortaliças e frutas, laticínios e carnes e, por fim, óleo e açúcar.

Ana Chartuni ressalta que a tradicional refeição brasileira, composta por arroz, feijão, legumes e carne, é muito saudável. “No entanto, está havendo uma americanização dos hábitos, marcada pelo consumo de pizzas e hamburgueres dos fast foods.”

Refeições rápidas
Enlatados de sardinha, milho verde e ervilha, refrigerantes, requeijão e queijo amarelo foram encontrados no carrinho de supermercado do casal formado pela professora Stella Façanha Mendes, 28 anos, e o físico Albert Rodrigues Mendes, 30. Stella, grávida de sete meses, garante usar os enlatados eventualmente, porque eles costumam fazer refeições fora de casa. “Tento evitar alimentos gordurosos. Só não consigo resistir a sanduíches e pizzas.”

Já a professora Maria José de Almeida, 52, não deixou faltar em seu carrinho frutas e legumes variados. Por outro lado, chamou a atenção da nutricionista da Amac, Cristina Garcia Lopes, a grande quantidade de congelados. “Deixo para consumi-los somente quando preciso preparar uma refeição rápida.” Consciente de como deve ser uma alimentação saudável, a professora evita carne bovina e suína, além de frituras e enlatados. “Gosto de ver o prato colorido, com arroz, feijão, verduras e legumes de diferentes cores. Tomamos sucos naturais e comemos frutas de sobremesa.”

Apesar de a dona de casa Dulcemar Silva Alves, 44, dar preferência à alimentação saudável, consumindo produtos light, carne branca, queijo branco e ricota, não consegue se livrar de substâncias hipercalóricas. A presença de congelados, refrigerantes, maionese, catchup e suco concentrado em garrafa no carrinho atende as preferências dos filhos. A aposentada Maria Aparecida Lima, 53, opta por produtos de preparo instantâneo, como sopa e macarrão, que, apesar de práticos, têm mais gordura.

Sobrepeso já atinge 40% da população

A aquisição de maus hábitos alimentares tem refletido diretamente no aumento de peso dos brasileiros. Segundo a endocrinologista Ana Chartuni Teixeira Cury, pesquisas comprovaram que 40% da população têm sobrepeso. A saúde das crianças, alimentadas com sanduíches e biscoitos, é a mais afetada. “Elas estão tão anêmicas quanto as africanas e tão obesas quanto as americanas.”

O correto é comer moderadamente, várias vezes ao dia, fazendo pelo menos quatro refeições (ver quadro). É indicado incluir carboidratos (arroz, macarrão e batata), proteínas (de preferência carnes não gordurosas, evitando gemas de ovo e laticínios gordos) e alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras e legumes.

Como o organismo precisa de equilíbrio de nutrientes, a dica é comer alimentos variados, para fornecer energia, proteínas, vitaminas, sais minerais e fibras necessárias. De acordo com Ana Chartuni, a gordura tem o dobro de calorias dos carboidratos e somente 3% do seu valor calórico são aproveitados durante o metabolismo, o restante é estocado no organismo. Este índice de aproveitamento sobe para 25% no caso dos carboidratos. A dieta pobre em gordura não aumenta o nível de colesterol do sangue e reduz os riscos de infarto e câncer.

A endocrinologista aconselha as pessoas a programarem as refeições e as compras no supermercado, levando sempre uma lista. É bom não deixar alimentos muito calóricos na despensa ou na geladeira. O ideal é optar por frutas e legumes da estação que são mais frescos. “Se for ingerir alimentos com mais calorias, é preciso consumi-los em pequenas quantidades, mastigando devagar, de preferência depois de ter comido produtos hipocalóricos, como salada de frutas.”

Carência
Na opinião da médica nutróloga Alice Amaral, os alimentos chegam carentes de nutrientes à mesa das pessoas. Os problemas começam no plantio, com uso inadequado do solo e utilização de agrotóxicos. As condições de transporte, armazenamento e preparo contribuem para uma perda ainda maior. A preferência dos consumidores por frituras, enlatados, alimentos congelados, condimentados e refrigerantes agrava a situação. As conseqüências são alterações no colesterol, aumento de peso e ácido úrico, diabetes, hipoglicemia e carências nutricionais.

Açúcar cristal tem menos produtos químicos

O consumo de açúcar branco ou cristal deve ser reduzido ao máximo, pois o produto é rico em calorias e não possui nutrientes. São as chamadas calorias vazias. Entre estes dois tipos, é melhor optar pelo cristal, que passa por menos tratamento químico. Por trazer benefícios ao organismo, o mascavo é o mais indicado, sendo composto por sais minerais (cálcio, ferro e potássio), além de vitamina C e do complexo B.

Já os vegetais, altamente benéficos para a saúde, normalmente são consumidos em pequena quantidade. A nutricionista da Amac, Cristina Garcia Lopes, destaca também o fato de as pessoas não aproveitarem a variedade destes gêneros. “As refeições costumam ser monótonas, restringindo-se a batata, cenoura, alface e tomate.” O ideal, na sua avaliação, é conciliar legumes de cor amarela, como cenoura, abóbora e moranga, com verduras de cor verde escuro, incluindo taioba, couve, almeirão e rúcula. As hortaliças cruas têm mais concentração de vitaminas.

Uso eventual
Os produtos congelados devem ser usados eventualmente, pois são mais gordurosos e temperados. Antes de comprar qualquer alimento, é importante ler o rótulo, para verificar a procedência e os ingredientes. O alto consumo de gorduras animais e produtos industrializados (com grande quantidade de lipídeo e açúcar), aliado à vida sedentária, é apontado como principal causa da maior incidência da obesidade no Brasil. “É importante observar a quantidade de gordura total ingerida diariamente. Nem os alimentos light estão livres dela. As substâncias do tipo vegetal são melhores fontes de vitamina E do que as animais”, frisa a nutricionista. Cristina também aconselha os pais a não exagerarem na quantidade de leite e derivados oferecida às crianças. O consumo abusivo de iogurtes, queijos e doces à base de leite podem levar a um excesso de cálcio e proteínas, prejudicial ao organismo.

Quantidade mínima
Não há diferenças significativas entre os óleos vegetais, como de soja, milho, canola ou girassol. Todos não possuem colesterol, mas têm alto valor calórico - uma colher de sobremesa equivale a 90 calorias. Por isso, devem ser usados em quantidade mínima e eventualmente. Um copo de óleo/dia é suficiente para o consumo de cinco pessoas. O azeite de oliva tem o mesmo valor calórico, mas estudos mostram seu efeito protetor contra doenças cardiovasculares.

Também é aconselhável ingerir pouca quantidade de sal. Segundo Cristina, muitos alimentos oferecidos às crianças possuem sal adicionado - batata frita industrializada, hamburguer e pipoca - favorecendo o aparecimento de doenças hipertensivas precocemente. Bebidas energéticas ou repositores hidroeletrolíticos possuem alta concentração de cloreto de sódio e devem ser evitados por hipertensos. A alternativa é a água de côco.

Arroz parboilizado é mais rico que o polido

Para orientar os consumidores sobre a tradicional compra do mês nos supermercados, a nutricionista da Amac, Cristina Garcia Lopes, baseou-se nos produtos incluídos na cesta básica. Mesmo quem não os consome deve fazê-lo, porque eles apresentam nutrientes. O arroz, necessário na alimentação como fonte de carboidratos (amido), possui vitaminas do complexo B e sais minerais (ferro e cálcio).

O arroz integral é mais nutritivo e possui também proteínas e fibras. “Além disso, engorda menos, e a pessoa fica satisfeita, ingerindo quantidade menor”, comenta Cristina. O arroz branco polido perde nutrientes importantes no processo de refinamento industrial. O parboilizado - apesar de passar por tratamento no qual a vitamina presente na película é absorvida pelo grão - tem pouca aceitação, por causa do sabor diferente. Na hora de escolher, é importante observar procedência, mofo, bichinhos e se a embalagem está perfeita. Não esqueça de verificar data de validade.

Outro alimento indispensável, o feijão é fonte de proteínas, sais minerais (ferro, fósforo e cálcio) e fibras, assim como ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja. Indicado para prevenir e combater anemia, ajuda a regular o trânsito intestinal e atua na formação da estrutura óssea. “Quanto mais vermelho o grão, mais ferro possui. O adulto deve comer três colheres de sopa por refeição. Quem não consome carne, pode aumentar a quantidade”, sugere Cristina.

Já o tradicional fubá tem poucas proteínas e fibras, podendo ser substituído por arroz ou macarrão. As massas de preparo instantâneo devem ser evitadas, pois possuem muita gordura hidrogenada e valor calórico mais alto. Este tipo de produto pode levar ao aumento da gordura no sangue. “Por ter forma sólida, a hidrogenada comporta-se no organismo como a substância animal.”

Antônio Olavo Cerezo 07/08/00

Alimentos saudáveis

Agricultura orgânica é
saída contra agrotóxicos


Já foi o tempo em que o consumo de verduras, legumes e frutas representava garantia de alimentação saudável. O risco de contaminação por agrotóxicos é cada vez maior, levando as pessoas a terem receio de adquirir estes produtos em mercados e feiras. Na contramão da disseminação do uso de adubos químicos, surge a agricultura orgânica, também chamada de alternativa e natural.

Este tipo de cultivo descarta o uso de defensivos agrícolas e utiliza somente produtos biológicos, como esterco, humus, fosfato natural, esterco de curral, palhadas e calda de esterco. A agricultura orgânica começou a se desenvolver mais no país na década de 90, mas até hoje é pouco difundida. Segundo o engenheiro agrônomo e proprietário do Sítio Vale da Fruta, Bernardo Maestrini, são aproveitadas as tecnologias desenvolvidas na agricultura química, usando apenas produtos alternativos.

Produtor de alimentos orgânicos desde 1993, no sítio localizado na estrada de Chácara, ele ressalta que, como as pesquisas ainda são restritas, a produção sem agrotóxico representa um aprendizado diário. “O agricultor precisa observar cultivo, pragas e doenças, para buscar melhores condições de crescimento saudável e produtivo das plantas. Dessa forma, respeitam-se mais o solo e o ciclo da cultura.” Os biofertilizantes usados no combate de pragas são menos eficientes se comparados aos químicos, mas não deixam resíduos. O desenvolvimento das hortaliças também costuma ser mais lento. A alface, por exemplo, demora até 20% a mais para ser colhida.

Produtividade
De acordo com o professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Ricardo Santos, o mercado de produtos orgânicos ou “ecologicamente corretos” é um dos que mais crescem no mundo.

Ao comparar o cultivo orgânico com o convencional, ele destaca que a produtividade tende a ser menor nos primeiros anos de conversão, igualando-se posteriormente. “Do ponto de vista científico, existem resultados contraditórios quanto ao melhor sabor ou valor nutritivo dos orgânicos, mas, com certeza, a vantagem está em não conter resíduos de agrotóxicos”, diz o professor.

Santos destaca, neste tipo de cultivo, a preocupação em aumentar a diversidade da flora e da fauna no sistema produtivo e ao redor dele. Esta agricultura enfatiza também rotação de culturas, compostagem, adubação verde e orgânica, reciclagem e preparados alternativos e menos tóxicos para o controle de insetos e doenças.

Preços podem ser até 100% mais altos

Lavados e colocados em embalagens próprias, os alimentos orgânicos são encontrados em supermercados da cidade com preços que podem ser de 30% a 100% superiores em relação aos convencionais. “O produto final é superior e não tem gosto de química”, opina o produtor Bernardo Maestrini. Ele também ressalta a vantagem de os alimentos terem mais vitaminas e sais minerais, além de durar mais tempo na geladeira, no mínimo uma semana.

Os consumidores confirmam estes benefícios, como a advogada Mônica Paiva Carvalho Lovisi, 39 anos. Apesar de sempre ter dado preferência aos produtos naturais durante as compras em quitandas, feiras e supermercados, há oito meses, ela recebe, em casa, as hortaliças produzidas no Vale da Fruta. Maestrini faz entregas a domicílio para 300 clientes.

Filha de agricultor, Mônica sempre foi alertada pelo pai sobre os danos provocados pelos agrotóxicos. “Dá para sentir a diferença no sabor e no aroma dos produtos. O efeito pode ser até psicológico, mas senti melhorias na saúde, principalmente na digestão e no funcionamento intestinal, afastando também as gripes.”

Ela lamenta a pouca variedade de orgânicos, o que limita o consumo a alimentos convencionais. “Evito consumir morangos e tomates, conhecidos pelo alto grau de contaminação de defensivos agrícolas.”

Consumidores
Consumidora há três anos de alimentos orgânicos, a vendedora Marinete Pinheiro Araújo Mendonça, 44, ressalta a vantagem de comer as hortaliças, até mesmo cruas, sem receio. Segundo Maestrini, o tradicional hábito de deixar frutas de molho no vinagre, para retirar os agrotóxicos, não adianta, pois a toxidez está na composição do produto.

Ele afirma ser difícil produzir frutas, como tomate, morango, pêssego e goiaba na agricultura orgânica, porque são mais atacadas por doenças. “Ainda não foram desenvolvidas tecnologias, para este controle.” Na opinião do agrônomo, o volume restrito e a inconstância na produção dificultam a inserção dos orgânicos no mercado. “É inviável colher produtos todos os dias, durante o ano inteiro.”

Boa aparência não garante qualidade

Na opinião do médico naturalista Augusto Vinholis, as pessoas são exigentes quanto à aparência dos alimentos e não se preocupam com a qualidade. “É preciso mudar este pensamento, pois é preferível comprar tomate com bichinho do que liso e bonito, mas composto por até 12 tipos de agrotóxicos. O feijão com caruncho e palha também não deve ser trocado pelo limpo, mas contaminado por inseticidas.”

Vinholis já realizou pesquisas na região de Brasília, onde pôde constatar o uso exagerado de agrotóxicos nas plantações. Segundo ele, os alimentos contaminados por defensivos contribuem para acumular radicais livres e metais pesados no organismo, podendo causar câncer de fígado, doenças degenerativas graves, como Mal de Alzheimer e Mal de Parkinson, além de outros tipos de tumores.

Os agrotóxicos podem ser divididos em inseticidas (combatem insetos, larvas e formigas), fungicidas (contra fungos) e herbicidas (contra ervas daninhas). A presença do agrotóxico no organismo provoca tontura, perturbação da visão, náusea, vômito, dor de cabeça e falhas na coordenação motora. A longo prazo, o acúmulo do produto no organismo pode causar problemas renais, cardíacos e respiratórios.

Produtos cultivados pela agricultura orgânica

Alface
Componentes
Nutritivos: Boa fonte de vitaminas A, do complexo B e C, cálcio, ferro e fibras.
Funções: Boa para anemia, favorece o funcionamento normal do intestino, atua na formação de ossos e dentes e auxilia a boa visão.
Como escolher: As folhas devem estar limpas, brilhantes e firmes, porém não muito grandes. Guarde a alface na geladeira, embrulhada em saco plástico transparente, assim se conserva por cinco a sete dias.
 
Agrião
Componentes
Nutritivos: Excelente fonte de vitaminas do complexo B e C e boa fonte de iodo e vitamina A.
Funções: Ótimo para a visão, para manter a saúde da pele, ajuda na formação de dentes e ossos, facilita a digestão e contribui para a produção de glóbulos vermelhos do sangue.
Como escolher: Procure o maço que tiver folhas verdes e brilhantes, firmes, limpas e sem picadas de insetos.
 
Brócolis
Componentes
Nutritivos: Rico em ferro, cálcio e vitamina A. Ainda contém vitamina C, que se perde no processo de cozimento.
Funções: Auxilia a boa visão, atua na formação de dentes e ossos e na prevenção da anemia.
Como escolher: Verifique se talos e flores estão verdes e sem marcas de picadas de insetos. Folhas amareladas indicam que o brócolis está velho.
 
Espinafre
Componentes
Nutritivos: Rico em ferro e possui também cálcio, fósforo e vitaminas A, B e C.
Funções: Auxilia o crescimento e o desenvolvimento. É recomendado contra anemias, combate o escorbuto (problemas na gengiva) e contribui para regular o sistema nervoso.
Como escolher: Dê preferência ao espinafre de folhas frescas, de cor verde-escura, firmes, limpas e sem marcas de picadas de insetos.
 
Berinjela
Componentes
Nutritivos: Boa fonte de vitamina B5 e sais minerais (cálcio, fósforo e ferro).
Funções: Seu consumo é recomendado para pessoas com problemas de artrite, gota (excesso de ácido úrico), reumatismo e inflamações da pele.
Como escolher: Escolha as que têm coloração roxo-azulada ou quase preta, de formato ovalado, ligeiramente alongado. A casca deve ser lisa e firme.
 
Beterraba
Componentes
Nutritivos: Contém carboidratos, ferro, vitaminas do complexo B e C.
Funções: Auxilia no combate à anemia. O suco da beterraba é tônico, refrescante e diurético, com ligeiro efeito laxante. A vitamina C só é aproveitada quando a beterraba é consumida crua.
Como escolher: A casca deve ser lisa, firme e sem rachaduras. Escolha a beterraba de cor concentrada e tamanho médio.
 
Cenoura
Componentes
Nutritivos: Excelente fonte de vitamina A, boa fonte de vitaminas do complexo B, fósforo, cálcio, potássio e sódio.
Funções: Contribui para o bom estado da vista, da pele e das mucosas. Ajuda na formação de dentes e ossos, a regular o sistema nervoso e a função do aparelho digestivo.
Como escolher: Escolha as firmes, lisas, sem rugas, de aparência fresca e de cor laranja-vivo.
 
Dicas
Lave bem as hortaliças em água corrente. No caso das verduras, lave folha por folha e, para legumes e frutas, use uma escova ou bucha separadas exclusivamente para este fim. Não passe sabão ou detergente
Cozinhe as hortaliças apenas o tempo necessário para que fiquem macias, em pouca água. Deixe a água ferver antes de colocá-las, desta forma perde-se menos vitaminas
OBS: Também são produzidos na agricultura orgânica local: alface crespa e americana, abobrinha, cebolinha, escarola, rúcula, salsinha, cerralha, repolho, pimentão, quiabo, vagem manteiga, nabo, rabanete, ervilha e pimenta malagueta.
Informações sobre os componentes dos produtos:
Secretaria Municipal de Abastecimento de Belo Horizonte

Alimentação saudável

Hidroponia pode ser desenvolvida em casa

Falta de espaço não é mais empecilho para o cultivo de hortaliças folhosas, frutos, plantas medicinais, ornamentais e condimentares até mesmo dentro de apartamentos, em varandas, parapeitos de janelas e jardins de inverno. Os ingredientes básicos para o plantio são água, nutrientes e arejamento. Nesta forma de cultivo, denominada de hidroponia, a água misturada com fertilizantes substitui o solo.

A opção representa garantia de obter alimentos frescos, limpos e sem resíduos de agrotóxicos ou contaminação com água de procedência duvidosa. Para resgatar esta técnica milenar de plantio e adaptá-la ao uso domiciliar, a Aquaplanta Viçosa Ltda desenvolveu o Kit Hidroponia Residencial, disponível no mercado há dois meses (ver quadro). A firma é vinculada à Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal de Viçosa (UFV)/Fundação Arthur Bernardes (Funarb).

Segundo o professor do Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Agronomia da UFV, Roberto de Aquino Leite, foi ajustada uma solução nutritiva para uso residencial, visando ao controle do PH da água. Antes de colocar o produto à venda, realizaram-se testes durante mais de cinco anos. “O kit residencial é direcionado às donas de casa, que agora têm acesso a uma técnica avançada de hidroponia. Elas poderão plantar salsa, cebolinha, manjericão, tomates, morangos e até flores, como amor-perfeito, cravo e crisântemo, na varanda ou na área de serviço.”

O kit é seguro contra o mosquito da dengue, por ser fechado e conter água com arejamento e nutrientes, não permitindo a proliferação do Aedes aegypti. Leite explica que a ausência do solo diminui bastante a chance de a planta ser contaminada por pragas. A fonte de contágio via ar é baixa e, se a água for afetada, basta renovar a solução nutritiva. Outra vantagem é a tela da estufa impedir a entrada de insetos. O conjunto destes fatores contribui para reduzir a necessidade de uso de defensivos agrícolas nas plantas.

Agricultura especializada
A hidroponia é muito difundida em países, como Holanda e Bélgica, mas, no Brasil, este tipo de cultivo ainda é restrito. De acordo com o professor da UFV, o plantio na terra é mais fácil, pois o país possui bons solos. “A hidroponia exige maior conhecimento da técnica. Trata-se de uma agricultura mais especializada.”

Na produção comercial, utilizam-se canos de PVC, por onde o líquido circula. O sistema mais usado consiste em construir uma espécie de mesa, feita de canos de PVC cortados ao meio, com pequena inclinação. A água, com os nutrientes já dissolvidos, corre por essas canaletas.

O líquido fica armazenado numa pequena caixa, junto à mesa de cultivo e é bombeado para as canaletas com certos intervalos. O sustento das plantas é feito sobre uma mesa coberta com placas de isopor perfuradas, para deixarem passar as raízes. A hidroponia reduz riscos de perda de safra devido à falta ou ao excesso de chuvas. “O produto tem mais qualidade, graças ao cultivo em água limpa. Além disso, o sabor e o aroma são melhores”, afirma Leite.

O Kit Hidroponia Residencial pode ser comprado na Tropical Flores e Plantas Ltda, Rua Batista de Oliveira 1.067, Bairro Granbery.

Consumo abusivo

Brasileiros têm refeições hiperproteicas

As proteínas, responsáveis por construir e conservar os tecidos do corpo, aparecem em excesso na refeição dos brasileiros. A porcentagem diária ingerida deste nutriente é de aproximadamente 20%, enquanto o recomendado varia entre 10% e 15%. Esta dieta hiperproteica está associada ao consumo concentrado de carnes, queijos, ovos e embutidos.

A ingestão abusiva destes produtos pode provocar alterações no colesterol e a doença denominada de gota, caracterizada pelo aumento da quantidade de ácido úrico no sangue. O indicado é consumir diariamente 1g de proteína por cada quilo de peso. Dessa forma, uma pessoa que pesa 60kg deve ingerir 60g desta substância por dia.

Para se ter idéia da quantidade em alimentos, dois bifes de tamanho médio possuem 48g de proteínas. Basta completar a refeição com arroz, feijão e algum prato que leve queijo, para atingir o índice adequado.

Ovos, feijão, soja, grão-de-bico, ervilha e lentilha são alternativas para se ter uma alimentação proteica sem a necessidade de se consumir carne. Engana-se quem a considera o principal item da refeição. O nutricionista Arnaldo Hamilton Pinheiro explica que as proteínas de origem animal possuem oito tipos de aminoácidos essenciais ao organismo.

No entanto, combinações de produtos, como arroz e feijão ou outra leguminosa, com alimentos à base de ovos ou queijos (suflês e gratinados), podem compensar a falta da carne. O inconveniente da dieta vegetariana é o fato de, a longo prazo, a pessoa ter deficiência de vitamina B12, provocando anemia. Para repor a substância, recorre-se a injeções ou óleo de fígado de bacalhau.

Cortar as carnes das refeições de crianças é complicado, pois elas precisam de proteínas para o desenvolvimento. Para não comprometer o crescimento, é aconselhável consultar um nutricionista. O consumo diário adequado varia com a faixa etária. De 1 a 3 anos, 16g, de 4 a 6 anos, 24g, e de 7 a 10 anos, 28g. A carne é também uma das fontes de ferro, mas feijão, vegetais verdes-escuros, inhame e passas podem substituí-la.

Músculo possui maior teor de ferro e menos gordura

As carnes bovinas chamadas de primeira, como filé mignon, alcatra, contrafilé, picanha e patinho, são as mais ricas em lipídios. A gordura está presente não só na camada externa (visível) do produto, mas entre as fibras. Por serem macias, são as partes do boi que menos se movimentam. O consumo deve ser moderado, preparando-as na grelha ou cozidas. A gordura externa deve ser retirada antes do preparo.

Pinheiro indica a opção pelo músculo (parte dianteira do boi), que possui maior teor de ferro e menos gordura. Apesar de ser carne de segunda e mais dura, o nutricionista destaca pratos saborosos possíveis de serem preparados. Cozido com legumes e ervas, falso lombo recheado com vegetais e carne moída refogada com berinjela são algumas sugestões.

Quanto ao consumo das carnes suínas, condenado pelos médicos, não é tratado da mesma forma pelo nutricionista. Segundo ele, os porcos passaram por tratamento genético e estão menos gordos. “A gordura bovina é mais saturada e tem maior possibilidade de provocar entupimento das veias.” Dependendo da parte da carne, a suína é até menos gordurosa. Um bife de contrafilé tem 31,77% de gordura e um pedaço de lombo assado, 24,29%.

Cardápio ao avesso

Cantina facilita alimentação inadequada

A troca da merendeira pelos produtos gordurosos e industrializados vendidos nas cantinas das escolas induz as crianças a erros fatais na alimentação, que as perseguem até a idade adulta. Salgadinhos industrializados, refrigerantes, chocolates e balas são considerados os principais vilões da alimentação saudável na infância. O cardápio adequado foi virado pelo avesso, e a garotada já começa o dia se alimentando mal.

No café da manhã, toma apenas um copo de leite com achocolatado em pó. Diante disso, no momento da merenda, já na escola, a criança está “morrendo” de fome e acaba fazendo uma alimentação hipercalórica, comprando salgados, biscoito recheado e refrigerante, para acompanhar. No almoço, encontra-se sem apetite e, além de comer pouco, geralmente só quer arroz, feijão, bife e batata frita.

Mal alimentada, costuma passar a tarde inteira beliscando pipoca, biscoito, chocolate e balas, seja assistindo televisão ou estudando. Com isso, acaba perdendo também a vontade de jantar. “As crianças não têm horários regulares para se alimentar, provocando perda da qualidade das refeições”, considera a nutricionista da Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento (SMAA) Soraia Augusta da Silva.

Responsável por definir a pauta de produtos da merenda das escolas municipais, ela ressalta que os produtos industrializados estão invadindo também a rede pública, onde é proibido ter cantina. Apesar de os estabelecimentos fornecerem refeições completas e balanceadas, alguns alunos levam refrigerantes e salgadinhos industrializados de casa, rejeitando a comida oferecida. Outra opção é comprar os produtos de ambulantes instalados em frente aos colégios.

A nutricionista destaca a necessidade de a instituição também ser uma fonte de educação alimentar. Na sua opinião, as entidades particulares deveriam voltar a fornecer lanches, para os alunos não ficarem muito tempo sem comer, o que alías pode afetar a concentração e até a capacidade de aprendizagem.

Doenças de adultos
Obesidade é a principal conseqüência da ingestão de tanta química e alimentos calóricos. No setor de endocrinologia pediátrica do Instituto da Criança e do Adolescente (ICA), 33% das consultas atendidas são para tratamento deste distúrbio. O índice aceitável seria de 10% e o ideal, 2%. Para prestar assistência a este público infantil, foi criado o Grupo Peso Legal e Saúde, em fevereiro de 1999, coordenado pelo endocrinologista Pablino Duarte Paredes.

A principal dificuldade para promover a reeducação alimentar e a redução do peso é justamente a falta de horário para a alimentação, aliada ao hábito de “beliscar” o dia inteiro. Junto com a obesidade, costumam aparecer distúrbios, como aumento de colesterol, dores na articulação e hipertensão. Soraia também ressalta problemas de pele (irritação e alergia), respiratórios e deficiência nutricional. Criança em idade escolar (5 a 11 anos) deve ingerir de 1.800 a 2.200 calorias por dia. Na adolescência, devido à maior atividade hormonal e ao aumento do metabolismo, esta média é superior.

Alunos são desafiados a comer bem

Informações sobre alimentos, seus nutrientes e benefícios para saúde estão na ponta da língua dos alunos das três turmas de quinta série da Escola Estadual Professor Teodoro Coelho, no Bairro Jóquei Clube. Usando a criatividade, o professor de ciências, Cristiano Campos Donado, inspirou-se no programa “No limite”, da Rede Globo, para criar uma gincana, envolvendo provas artísticas, de habilidade e de conhecimento sobre alimentação.

O resultado do trabalho não poderia ser melhor. Motivados a vencer a gincana, os alunos estão estudando e pesquisando o assunto em casa, com receio de serem eliminados durante as provas. Cerca de 90 estudantes participam do desafio denominado de Rompendo os limites. No final, só restará um vencedor, e os disputados prêmios escolhidos pela garotada são chuteira, se o vencedor for menino, e patins, se for menina.

A Tribuna acompanhou, na última quinta-feira, a prova de alimentos da quinta série A, dividida em cinco equipes de seis alunos denominadas de lipídios, minerais, fibra, H2O e marte. O professor cuida de todos os detalhes e chega mais cedo para preparar os pratos de brócolis, cenoura, beterraba, salada de alface, tomate e cebola crua, e de frutas, maçã, banana e uva.

As equipes, com colares de identificação nos pescoços, ficam organizadas em filas na quadra esportiva. Quando chegam os alimentos que deverão ser identificados e comidos pelas crianças, começa o festival de caretas e resmungos.

Provas
Cada equipe escolhe um participante para a prova. Os selecionados precisam identificar qual alimento tem o nutriente indicado pelo professor, como vitaminas A, C e fibra. Todos fazem a escolha certa e não hesitam em comer os produtos, com o incentivo da torcida dos companheiros de equipe. Depois Donado convida os participantes a comerem os legumes que menos gostam.

Tandara Yhara da Fonseca, 12 anos, que odeia cenoura, fez careta, mas não deixa de comer o legume. “Até que não é tão ruim assim”, comenta depois. Luciano Fernandes Ferreira, 11, não gosta de banana, mas quase engasgou depois de colocar um pedaço grande da fruta na boca, com a pressa de ganhar a competição. Isaac Assis Costa, 12, diz que é mais fácil comer beterraba quando se está estimulado a vencer uma disputa. “Talvez eu até passe a comer este legume daqui para frente.”

Depois do momento de alegria e vibração, os alunos voltam para a sala de aula onde é realizado o portal, para eliminação de um participante de cada equipe perdedora. Nesta hora, o choro é inevitável, mas o professor ressalta a importância da experiência para os estudantes aprenderem a perder, a respeitar os limites de cada um e a ser solidário com o sofrimento dos colegas.

Maior dificuldade é controlar filhos no supermercado

No supermercado, quando a garotada acompanha os pais, não hesita em escolher seus produtos prediletos e, muitas vezes, também os mais prejudiciais à saúde. Tamyris, com apenas 3 anos, agarrou um pacote de batatas fritas industrializadas, situado na prateleira próxima ao caixa, e foi logo pedir à mãe para comprar. Rejane Fernandes de Oliveira não cedeu ao apelo da filha, dizendo que, se não controlá-la, a menina enche o carrinho só de “bobagens”.

“Tamyris se alimenta bem, comendo legumes e frutas. Balas, bombons, sorvetes e batatas fritas são permitidos somente nos finais de semana. As mães têm que manter os pés firmes. Não quero que ela sofra como eu, obrigada a fazer dietas a vida toda”, declara a mãe.

Refrigerante e muito catchup são acompanhamentos indispensáveis nas refeições de Rafael, 12 anos, e do irmão Caio, 5. Hamburgueres, salgadinhos, biscoitos recheados e chocolates fazem parte da rotina dos meninos. A mãe, Saionara de Almeida Paula, 31, tenta cortar estes produtos em casa, mas reclama da teimosia dos filhos. “Eu até levei o Rafael ao médico, porque estou achando-o muito pequeno para idade dele.” Os garotos só comem alface e tomate com sanduíches. “Não gosto nem de experimentar outros legumes. Só faria isso se a minha mãe me desse dinheiro”, afirma Rafael.

Segundo a psicóloga Gelza Pimentel Cordeiro, os pais devem usar a criatividade, para os filhos terem alimentação saudável. Colocar alface e tomate no sanduíche é uma boa forma de introduzir verduras nas refeições das crianças. “É preciso negociar um horário para as refeições e impor um limite. Não adianta forçar ou obrigar, porque vai se travar uma guerra dentro de casa, e o filho tomará raiva da comida.”

Cardápio infantil

Café da manhã - 7h: leite (puro ou com café), pão ou biscoito com manteiga ou margarina e queijo. Fruta B (mais calorias e menos água - mamão, pera, banana e maçã).

OBS: O uso do achocolatado com leite não é indicado, porque reduz a absorção de cálcio pelo organismo. Uma boa opção é bater o leite com frutas.

Lanche da manhã - 9h30: fruta B ou iogurte.

Almoço - 12h: arroz ou batata ou macarrão, feijão e carne (bife, carne moída ou coxa de frango). Se a criança não gostar de salada, uma saída é “mascarar” os legumes, misturando-os no arroz, no macarrão e no preparo de suflês. Depois da refeição, ela pode tomar sucos de laranja, acerola, maracujá ou limonada. De sobremesa, uma fruta A (menos calorias e mais água): laranja, melão, abacaxi e melancia.

Lanche da tarde - 16h: Se estiver na aula, iogurte ou fruta B. Em casa, o lanche pode ser mais caprichado, com vitamina ou café com leite e pão com queijo e manteiga.

Jantar - 19h: Semelhante ao almoço. Se a família tiver o hábito de lanchar, a refeição deve ter frutas, leite e cereal. Outra opção é o suco natural e um sanduíche de pão de forma com legumes ( cenoura ralada, alface e tomate).

OBS: A quantidade dos alimentos vai depender da faixa etária e das atividades físicas praticadas pela criança. Quanto mais colorido e variado o prato estiver, mais curiosidade a criança terá para experimentar os alimentos.

Fonte: Nutricionista da SMAA Soraia Augusta da Silva.

Alimentação de bebês

Cuidados devem começar aos 6 meses

Os cuidados com a alimentação devem começar com o bebê, depois dos 6 meses, quando costuma deixar de ingerir leite materno. Nesta época, inicia-se a introdução gradual de frutas, papinhas e cereais. O ideal é fornecer a maior variedade possível de frutas, como banana, maçã e mamão.

Na papinha, também é aconselhável incluir pelo menos um elemento de cada grupo de vegetais: A (menos calóricos - hortaliças folhosas, tomate, cebola, couve-flor, brócolis e pimentão), B (médio calóricos - cenoura, abóbora madura e beterraba) e C (muito calóricos - inhame, mandioca, batata inglesa e baroa). Ovo e feijão devem ser introduzidos gradualmente. A nutricionista da Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento (SMAA) Soraia Augusta da Silva explica que, por apresentarem alto teor de proteínas, podem provocar diarréia e efeito alérgico nos bebês.

Um dos erros cometidos pelas mães é priorizar o vegetal C, por acharem que sustenta mais. Com isso, o alimento fica sem fontes de ferro e vitamina A. As folhas, por perderem vitaminas mais facilmente com o aquecimento, devem ser adicionadas à papinha depois de pronta.

Após cozidos, os legumes devem ser amassados com garfo, passando por uma peneira. Os alimentos não devem ser batidos no liqüidificador, pois os bebês precisam fortalecer a mastigação e o músculo da deglutição, importantes na formação correta da arcada dentária. Para isso, também é preferível dar frutas raspadas a sucos e vitaminas. Segundo Soraia, um dos erros das mães é priorizar alimentos líquidos. “Dessa forma, as crianças não têm aporte suficiente de nutrientes e não treinam o paladar e o sabor diferenciado. Elas podem ter problemas de dicção e na arcada dentária por falha no início da formação.”

Industrializado
As papinhas industrializadas devem ser usadas eventualmente, pois apresentam sempre a mesma consistência e mudam pouco o paladar. Se a criança não comeu bem, não é aconselhável complementar a refeição com a mamadeira, pois o cálcio impede a fixação de ferro no organismo. O ideal é oferecer frutas e dar o leite só depois de duas horas. Após completar 9 meses, a criança já pode começar a receber a alimentação da família.

Venda de carne

Consumidor deve ficar atento à higiene

O primeiro passo na hora de comprar carnes é escolher um estabelecimento que ofereça boas condições higiênico-sanitárias. É válido observar se os produtos estão refrigerados, se os funcionários estão com uniformes limpos, lenços ou gorros cobrindo os cabelos, e se não há mau cheiro no ar. Estes são apenas alguns dos aspectos avaliados durante as fiscalizações de rotina da Secretaria Municipal de Atividades Urbanas (Smau) em açougues e supermercados.

Os fiscais também observam ventilação, existência de tela nos basculantes, azulejos nas paredes, se o piso é impermeável, se os materiais de corte são de inox, entre outras exigências. Só depois de inspecionar com cuidado as condições higiênico-sanitárias do estabelecimento, os funcionários começam a fiscalizar os produtos.

A diretora da Regional Centro da Smau, Luzia Helena Bittencourt, explica que os proprietários precisam apresentar nota fiscal das carnes. Os produtos devem estar com carimbos ou selos do Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) ou do Serviço de Inspeção Municipal (SIM). “As carnes geralmente chegam aos estabelecimentos embaladas com plástico. O comerciante deve deixar para vender por último a peça na qual está o carimbo. Esta é a forma de ele provar que a carne foi inspecionada.”

Luzia alerta os consumidores para desconfiarem de preços muito baixos, pois o produto pode estar com a data de validade quase vencendo. Não é aconselhável comprar carnes picadas, pois geralmente são sobras retalhadas em más condições de consumo.

Certificado de inspeção
O supervisor de inspeção da delegacia regional do IMA de Juiz de Fora, José Alberto Moreira de Souza, também aconselha a não comprar lingüiça, hambúrguer e almôndega sem serem embaladas e de empresas com certificado de inspeção. “Sem esta garantia, não dá para saber como o produto foi feito e em que estado de conservação estava a carne. A pessoa corre riscos de ter intoxicação alimentar e até doenças graves, como leptospirose, salmonelose e cisticercose.”

A delegacia regional do IMA possui 70 indústrias registradas e abrange 104 municípios, incluindo Juiz de Fora. O órgão faz inspeção permanente antes e depois do abate de carnes bovinas e suínas. Um médico veterinário avalia as condições de saúde dos animais e, quando são detectados sintomas de doenças, o boi é separado do lote no matadouro, para evitar risco de contaminação. Dependendo do tipo de problema, a carne é destruída ou levada para indústria, onde passa por tratamento.

Entre as doenças mais comuns encontradas durante a inspeção estão cisticercose, hepatite, tuberculose, contusões graves e pneumonia. A cisticercose é uma doença parasitária que ocorre nos homens e nos animais, podendo ocasionar, nos seres humanos, parasitoses intestinais (tênia) e em outros órgãos. A pior delas é quando o parasito se aloja no cérebro, podendo causar desde convulsões e paralisias até a morte. As pessoas correm riscos de contrair a doença quando comem carnes bovinas e suínas mal cozidas.

Procedência
Para garantir a compra de carne de boa procedência, Souza considera mais indicado optar pela embalada. Ele explica que é normal, neste tipo de acondicionamento, o produto apresentar coloração mais escura. “Como é embalada a vácuo, a falta de oxigênio altera a cor natural da carne. Ao abrir a embalagem, o produto volta a ficar rosado depois de dez minutos em contato com o oxigênio.”

O IMA também desenvolve trabalho de controle e prevenção de doenças, como febre aftosa e brucelose. Segundo o assistente técnico Antônio José Gomes Bastos, há seis anos, a delegacia regional do órgão não registra casos de febre aftosa.

Cuidados na hora da compra

* As carnes sempre devem estar armazenadas dentro de geladeira, câmara fria ou balcão frigorífico. Nunca podem estar expostas sem refrigeração

* Observar se os produtos possuem o carimbo ou o selo de serviços de inspeção

* Dê preferência às carnes embaladas, pois possuem datas de fabricação e validade e geralmente são produtos de boa procedência. Não compre se a embalagem estiver violada

* Lingüiça, hambúrguer e almôndega devem ser comprados embalados de empresas que possuem certificados de inspeção

* As carnes bovinas devem apresentar coloração vermelha, com sangue presente, sem odores fétidos. Se estiver escura, é sinal de que já está ficando passada. As suínas têm tonalidade mais clara.

* Os peixes devem estar com olhos perfeitos (brilhantes), guelras rosas, escamas brilhantes e resistentes. Os olhos não podem estar foscos nem afundados. Ao apertar a carne com o dedo, ela tem que ter elasticidade, se afundar, pode estar podre. O cheiro deve ser de maresia, pois, se estiver com odor desagradável, pode estar estragada.

* Antes de comprar o frango, é preciso observar se a carcaça está fresca, sem alteração de cor, sem líquido viscoso e odor fétido. A cor normal da carne deve ser de branco a rosa. Se estiver roxa, é sinal de que está estragando.

Fonte: Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Secretaria Municipal de Atividades Urbanas (Smau) e o nutricionista Arnaldo Hamilton Pinheiro. http://www.tribunademinas.com.br/grandes/alimenta.htm


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