Nossas impressões sobre o Fórum Social Mundial/2005


2 - Visitando a Feira da Economia Solidária no Fórum Social Mundial 2005

Estande da Casa Ecológica Falkoski, Dois Irmãos/RS - fone (51) 564 3763 - Tele-entrega de verduras, frutas e produtos coloniais, uma inovação!

Estande de Kalu, mostrando seu artesanato em Origami

Estava quente, muito quente, quando chegamos ao espaço da feira. Conforme informações da imprensa do FSM, nesta edição, participaram mais de 1.500 pessoas, da Feira da Economia Solidária, em estandes, divulgando e apresentando seus produtos. 

Resolvemos tomar alguma coisa antes de iniciar a visitação. Para nossa surpresa, reencontramos um amigo que não víamos há muito tempo. Ele estava lá apresentando seus produtos coloniais da Casa Ecológica Falkoski (foto), da cidade de Dois Irmãos/RS. A instituição tem uma preocupação com toda sustentabilidade do seu negócio. Tudo é reciclado, e todos os produtos são cultivados sem o uso de produtos químicos. Um de seus serviços é a tele-entrega de verduras e produtos coloniais. Um exemplo de economia solidária que envolve, também, a sustentabilidade. Conversamos sobre o evento e matamos a nossa sede com um delicioso caldo-de-cana que nos foi graciosamente oferecido.

Prosseguimos nossa visita percorrendo os corredores da feira onde todos apresentavam orgulhosos seus produtos “ambientalmente corretos”. Eram dos mais diversos tipos e espécies, desde alimentos, vestuário, artesanatos. Um dos trabalhos que nos chamou a atenção foi o de esculturas confeccionadas com origami (técnica oriental de dobraduras). As peças formavam desde cestas até aves que ornamentavam o espaço, chamando a atenção dos visitantes. Kalu, o autor das obras, estava presente trabalhando na confecção de novos produtos. Assim, foi possível ver desde as peças prontas até a confecção das mesmas. Todas feitas com papel de revista, jornal e folhetos de propaganda. Kalu trabalha pela prefeitura de Santa Maria/RS e veio trazer sua experiência para milhares de pessoas que participam do Fórum Social Mundial.

Mas, qual é, exatamente, a importância da Economia Solidária? Euclides André Mance (http://www.milenio.com.br/mance/fsm3.htm) diz que “a noção de economia solidária abarca diversas práticas e não há um pensamento único sobre o seu significado. Ela está associada a ações de consumo, comercialização, produção e serviços em que se defende, em graus variados, entre outros aspectos, a participação coletiva, autogestão, democracia, igualitarismo, cooperação e intercooperação, auto-sustentação, a promoção do desenvolvimento humano, responsabilidade social e a preservação do equilíbrio dos ecossistemas. O grande avanço nos anos 90 das práticas de economia solidária deveu-se à colaboração em rede entre as organizações. E este é o caminho que devemos seguir para continuar crescendo, para consolidar uma alternativa hegemônica ao capitalismo. Entre estas práticas inclui-se: a Autogestão de Empresas pelos Trabalhadores, Fair Trade ou Comércio Équo e Solidário, Organizações de Marca e Credenciamento, Agricultura Ecológica, Consumo Crítico, Consumo Solidário, Sistemas Locais de Emprego e Comércio (LETS), Sistemas Locais de Troca (SEL), Sistemas Comunitários de Intercâmbio (SEC), Redes de Trocas, Economia de Comunhão, Sistemas de Micro-Crédito e de Crédito Recíproco, Bancos do Povo, Bancos Éticos, Grupos de Compras Solidárias, Movimentos de Boicote, Sistemas Locais de Moedas Sociais, Cooperativismo e Associativismo Popular, difusão de Softwares Livres, entre muitas outras práticas de economia solidária. Diversas redes nacionais e continentais se organizaram. O crescimento mundial dessas redes, indica a ampliação de novos campos de possibilidade para ações solidárias estrategicamente articuladas [...] O consumo solidário significa selecionar os bens de consumo ou serviços que atendam nossas necessidades e desejos visando tanto realizar o nosso livre bem viver pessoal, quanto promover o bem viver de trabalhadores e trabalhadoras que elaboram aquele produto ou serviço, como também visando manter o equilíbrio dos ecossistemas.De fato, quando consumimos um produto em cuja elaboração seres humanos foram explorados e o ecossistema prejudicado, nós próprios somos co-responsáveis pela exploração daquelas pessoas e pelo dano provocado ao equilíbrio ecológico, pois com nosso ato de compra contribuímos para que os responsáveis por essa opressão possam converter as mercadorias em capital a ser reinvestido do mesmo modo, reproduzindo as mesmas práticas injustas socialmente e danosas ecologicamente. O ato de consumo, portanto, não é apenas econômico, mas é também ético e político. Trata-se de um exercício de poder pelo qual efetivamente podemos apoiar a exploração de seres humanos, a destruição progressiva do planeta, a concentração de riquezas e a exclusão social ou contrapor-nos a esse modo lesivo de produção, promovendo, pela prática do consumo solidário, a ampliação das liberdades públicas e privadas, a desconcentração da riqueza e o desenvolvimento ecológica e socialmente sustentável. Ao selecionar e consumir produtos das redes solidárias nós contribuímos para que o processo produtivo solidário se fortaleça, pois os valores que gastamos em tal consumo irão realimentar a produção solidária em função do bem viver de todos que integram as redes de produtores e consumidores.O potencial de consumo das organizações e populações solidárias em todo o mundo é gigantesco. Não basta criticar o capitalismo com belos discursos políticos, se continuamos realimentá-lo com a prática de nosso consumo. Sempre que possível, devemos praticar o consumo solidário e ecológico”.

Berenice Gehlen Adams - Fotos: Pedro Adams Junior


1 - Balde de água fria no início do FSM

 

Como educadores ambientais, percorremos o ambiente onde ocorreu o FSM de 2005 com olhos atentos sobre as inúmeras atividades lá oferecidas para centenas de milhares de pessoas, e nos detivemos àquelas que buscassem discutir alternativas para o desenvolvimento da sustentabilidade ambiental.

Primeiro fomos conhecer a Feira da Economia Solidária, um espaço destinado ao comércio de organizações voltadas para a produção e consumo sustentável. Depois, fomos conhecer o espaço indígena: Puxirum. Conforme mensagem enviada pela equipe da imprensa do FSM, o Puxirum de Artes e Saberes Indígenas começou na quarta-feira de abertura do FSM com o Ritual de Proteção do Fogo Sagrado, realizado pelos pajés dos povos guarani, kaingang e xoclen, que são as comunidades anfitriãs do evento. E às 19h, começaria a Cerimônia Internacional dos Oito Mil Tambores. Ainda, conforme mensagem da imprensa do FSM, a Cerimônia Internacional dos Oito Mil Tambores seria uma atividade realizada por cerca de 50 xamãs e pajés de vários países. “Previsto para começar às 19h, a Cerimônia tem duração de cerca de 10 horas. O objetivo do ritual é a harmonização da mente com o planeta terra, produzindo uma cura planetária. A cerimônia é dividida em três momentos. O primeiro é a adoração mística do sol e da lua; o segundo, é a reverência ao pôr-do-sol e a terceira, o ritmo dos tambores. Esse último é composto de três momentos: o ritmo do coração, o ritmo do guerreiro e o ritmo da mulher selvagem”.

Comparecemos pontualmente às 19h para assistirmos à cerimônia anunciada - somente depois de muito perguntar, conseguimos encontrar o local. Estranhamos a falta de movimentação, porém, imaginamos que poderia ter atrasado devido à longa caminhada de abertura, que estava acontecendo nas proximidades. 

Eram 20hs e 30m quando resolvemos perguntar para algumas pessoas que tomavam conta do local (no solário do Parque Marinha do Brasil), onde, exatamente, seria realizado o ritual. Elas nos disseram que não sabiam dessa programação e que estavam ali apenas para cuidar do local. Perguntamos, então, sobre a Chama Sagrada que teria sido acesa no início do ritual e, para nossa surpresa, nos disseram que agentes da prefeitura haviam passado pelo local e, ao avistarem o fogo, foram imediatamente apagá-lo. Mesmo explicando do que se tratava, os “guardiões” do espaço tiveram que abrir passagem e permitiram que a Chama Sagrada fosse apagada. “Após apagarem o fogo ainda saíram dali nos chamando de ignorantes”, disseram os encarregados do espaço. Ficamos boquiabertos com essa informação: a prefeitura manda apagar a Chama Sagrada do ritual indígena do FSM. Isso foi uma lástima. Apesar da inacreditável notícia, permanecemos ali, aguardando o início do evento, até o cansaço chegar. Resolvemos seguir circulando pelo território do FSM um tanto frustrados e tristes. Infelizmente essa experiência serviu para desmoronar nossa expectativa em relação ao evento. Fizemos uma singela reverência ao pôr-do-sol do Guaíba, e antes de a lua estar no alto do céu, já estávamos voltando para casa.

Berenice Gehlen Adams e Pedro Adams Junior

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Foto: Pedro Adams Júnior / Pôr-do-sol do Guaíba

Foto: Pedro Adams Júnior / Espaço indígena Puxirum no Parque Marinha do Brasil - POA

Em breve publicaremos mais textos sobre o FSM/2005 e a transcrição da palestra proferida por Leonardo Boff. 


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