Diagnóstico do Inep sobre o ensino: calamidade
Estudo condensa dados inéditos e antigos
sobre educação básica e superior, traça o rendimento escolar dos alunos, a
infra-estrutura das escolas, salário dos professores e investimentos públicos
em educação
SANDRA SATO
BRASÍLIA - A cada grupo de 100 alunos matriculados no ensino fundamental, 41
deixam a escola sem completá-lo. Os que conseguem se formar gastam, em média,
10,2 anos. Esse tempo é praticamente o mesmo tempo que levariam para cursar as
oito séries do ensino fundamental e as três do ensino médio, se não houvesse
repetência.
A relação entre alunos que iniciam e terminam o curso é melhor no ensino médio.
De cada 100 alunos que ingressam no ensino médio, 74 conseguem concluí-lo e
gastam, em média, 3,7 anos para cursar as três séries desse nível. Do total
de alunos matriculados na 1.ª série do ensino fundamental, apenas 40%
conseguem se formar no ensino médio.
Os dados fazem parte da publicação Geografia da Educação Brasileira 2001,
divulgada ontem pelo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep)
do Ministério da Educação, Otaviano Helene, que está disponível na internet
(www.inep.gov.br).
O estudo condensa dados inéditos e antigos sobre educação básica e superior,
no País, traça o rendimento escolar dos alunos, a infra-estrutura das escolas,
salário dos professores e investimentos públicos em educação. "A situação
nos três patamares é calamitosa", avaliou Otaviano, observando que em vários
casos os índices melhoraram, mas de forma lenta e aquém das necessidades do País.
O atraso na educação básica, segundo o presidente do Inep, é incompatível
com a possibilidade de desenvolvimento econômico do País. A persistir esse
quadro, advertiu, o Brasil terá dificuldades com a sua força de trabalho daqui
a 10 ou 15 anos. Pelo levantamento do Inep, em 2000 existiam no País 16 milhões
de analfabetos e 21,7% dos alunos matriculados no ensino fundamental estavam
repetindo a série cursada no ano anterior. Para o Inep, a repetência é uma
das principais razões para a queda da auto-estima do aluno.
A pesquisa retrata como as desigualdades sociais produzem rendimentos escolares
diferentes por regiões e Estados. Enquanto São Paulo registrou a maior taxa de
conclusão nos ensinos fundamental e médio, com 52,3% em 2000, Tocantins
apresentou o menor índice (13,3%) entre os Estados.
A desigualdade regional na educação também se observa em relação à taxa de
distorção idade-série, provocada pelos altos índices de repetência e evasão
escolar. Há dois anos, 39% dos alunos inscritos no ensino fundamental no País
não tinham idade adequada à série que cursavam. No Norte e Nordeste, a taxa
era, respectivamente, de 52,9% e 57,1%. O Centro-Oeste vinha em terceiro lugar
com 38%. Já no Sudeste, o porcentual de atrasados caiu para 24%; e no Sul, para
21,6%.
Crianças - Alunos do Sul e Sudeste do País também permanecem mais tempo em
sala de aula do que os das demais regiões. A diferença é mais acentuada na
educação infantil: enquanto as crianças do Norte e Nordeste permanecem na
sala de aula, em média, 4,4 horas por dia, no Sul, a média é 6,5 horas. Para
o Inep, o aumento da carga horária é essencial para oferecer melhores condições
de estudos aos alunos.
O nível de instrução da população também é marcado pelas diferenças
regionais. No Sudeste, 34% da população adulta jovem (entre 25 e 34 anos) têm
graduação superior, enquanto que 23% dos nordestinos na mesma faixa etária
possuem o mesmo grau de formação.
O guia Geografia da Educação Brasileira identificou um aumento no número de
candidatos a vagas nas universidades públicas, gratuitas e, geralmente, de
melhor qualidade. O número de inscritos por vaga era de 7,4 em 1997, passando
para 9,3 em 2001. No mesmo período, a concorrência nas faculdades privadas
caiu de 2,6 para 1,8 aluno por vaga.
A abertura de novas vagas nas universidades federais foi insuficiente para
reduzir a concorrência. No Sudeste, uma vaga é disputada por 11 vestibulandos.
No Norte, a relação é de 9 alunos por vaga; no Sul e Centro-Oeste, é de 8,5;
enquanto, no Nordeste, é de 7,7.
FONTE: http://www.estado.com.br/editorias/2003/03/12/ger013.html
Projeto Apoema - Educação Ambiental