A
Alma da Escola
Berenice Gehlen Adams
Com
o passar dos anos, a Escola foi crescendo e aos poucos foi mudando. Só que
esta mudança não foi uma boa mudança porque os professores começaram a
ficar severos, punitivos, exigentes, e
tudo o que tinha valor eram notas altas, letra bonita, bom comportamento,
conhecimento - quanto mais, melhor. Com isto as crianças deixaram de ser
alegres e curiosas. Estudavam para tirar boas notas, escreviam bonito para
agradar o professor, decoravam a matéria para provas e comportavam-se bem
para evitar que chamassem os pais, para reclamações. Aqueles que não se
enquadravam, passaram a ser considerados incapazes e improdutivos.
Pouco
a pouco, a Escola foi ficando cada vez
mais triste. Até que um dia a alma da Escola começou a chorar muito. Pois é,
Escola tem alma, vocês sabem... Vendo aquela triste mudança a Escola pensou:
“Tenho que fazer alguma coisa! Isto não pode continuar assim!”. Foi então
que ela se lembrou do velho Sábio que morava numa montanha próxima. O Sábio
conhecia a Escola desde pequenina. A Escola chamou o passarinho bem-te-vi, que
voava por ali, e pediu que mandasse um recado ao Sábio. O pássaro, sem
demora, voou até o alto da montanha, e com um belo, mas triste, trinado,
passou ao sábio o recado.
Antes
de descer a montanha, o Sábio entrou na caverna, pegou algumas sementes,
enrolou-as numa folha de bananeira e seguiu em direção da Escola.
Chegando
lá, o Sábio logo viu que as coisas não
andavam bem. Percebeu que estava faltando, naquela Escola, o principal: o amor
pela vida. Ficou observando como as crianças brincavam/brigavam e como os
professores davam suas aulas. Como era um sábio, logo entendeu o por quê da Escola estar
pedindo socorro. Esperou o sinal do final da aula e depois que todos haviam
partido para suas casas, sentou-se no
pátio e, de olhos fechados, pôs-se a conversar com a Escola.
-
Querida Escola, vejo que as coisas não vão bem, mas não fique triste. Estou
aqui para ajudá-la!
A
Escola, então, falou:
-
Sabe o que é, Sábio, não estou me sentindo muito bem. Sinto muito frio e
muita tristeza, pois ninguém mais sorri como outrora. As crianças estão
ficando adultas cedo demais. Brigam, competem, não lêem mais histórias e
falam como se fossem “gente grande”, e o que é pior, os professores
valorizam mais as crianças que se portam assim. Não estão mais preocupados
em educar para a vida e sim educar para o trabalho, para o vestibular, e para
melhor competir com o seu semelhante. Isto está gerando muita discórdia e
ressentimento. Eles estão, professores e alunos, distanciando-se cada vez
mais do ambiente e dos seres que também têm direito a vida.
O que devo fazer, Sábio? Estou muito fraca e acabarei morrendo. O que
restará será simplesmente um prédio frio, sem vida, sem alma, apenas um depósito
de pessoas grandes e pequenas...
O
Sábio, após pensar um pouco, falou:
-
Este é um sério problema, Escola, mas todo problema tem solução. Trouxe
comigo algumas sementes de conscientização que colhi de uma linda árvore.
Elas serão espalhadas antes do início das aulas. Logo,
começarás a sentir alguns efeitos. Quando as sementes começarem a brotar,
professores e crianças ficarão mais sensíveis e começarão a sentir falta
do contato com a natureza, do respeito, da amizade, do amor. Aos poucos passarão
a perceber o que é realmente importante para a vida e tudo começará a
modificar.
-
Mas, Sábio, como farei isto? Como poderei espalhar as sementes?
O
Sábio riu e disse:
-
Não te preocupes! Deixarei as sementes no canto do telhado e pedirei ao amigo
Vento para fazer isto. Durante
sete dias ele soprará estas minúsculas sementes que se espalharão pelo ar e
entrarão no coração de cada um. Aos
poucos as sementes germinarão e frutificarão. Porém, é preciso ter paciência.
A
Escola respondeu que era difícil ter paciência, mas que iria fazer um esforço,
pois sabia que valeria a pena. Falou, então, ao Sábio:
-
Sábio, sei que não deveria ter deixado chegar a este ponto tão crítico.
Mantive meus olhos fechados por muito tempo e não estava conseguindo ver esta
realidade, até que a tristeza passou a ser insuportável. Acredito que vamos
conseguir, com estas sementes, trazer de volta a VIDA e o AMOR que está
faltando.
E
o Sábio diz:
-
Escola, tenha fé e confiança. Logo, logo perceberás as mudanças. Na medida
em que conhecerem melhor a si próprios, tanto professores como alunos, passarão
a ver e viver com respeito por tudo e por todos. E isto sairá pelos portões
afora, chegará aos lares e por fim estará em todos os lugares: fábricas,
indústrias, igrejas, hospitais, parques, florestas... Agora, tenho que ir!
A
Escola despede-se do Sábio com palavras de agradecimento, e de repente,
chama-o de volta:
-
Senhor Sábio, tenho uma pergunta! Onde conseguiste tais sementes? Que árvore
tão maravilhosa é esta?
O
Sábio retorna alguns passos e responde serenamente:
- Foi numa árvore especial, muito grande, muito linda, mas pouco conhecida e compreendida. É chamada Árvore da Educação Ambiental.
Daquele dia em diante, a alma da Escola voltou a sorrir...
É autorizada a reprodução dos trabalhos de autoria de Berenice Gehlen Adams - desde que citada a autoria e a fonte.
Projeto Apoema - Educação Ambiental