InformaLista

 

O Informativo da lista “Educação Ambiental”

No. 04 – 27 de agosto de 2000

 

Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)

Os textos não passaram por revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.

 

 

Aquarela

Toquinho - Vinícius de Moraes

 

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Giro o lápis em torno da mão e eu me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
 
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
 
 
Vai voando, contornando a imensa curva, norte e sul
Vou com ela viajando no Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco à vela, branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul
 
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser ele vai voltar
 
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço um mundo
 
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
 
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de voltar
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
 
Nesta estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
E o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela
Que um dia, enfim, descolorirá  

 

 

Este poema  infantil do Olavo Bilac está musicado no CD Meu Pé Meu Querido Pé. Resolvi enviá-lo para vcs pois achei muito bonito, tb acho q quem já teve a oportunidade de ter um cachorro (vira-latas - vulgo Street Dog, rs - ou mesmo de raça, não importa qual), um daqueles cães companheiros das crianças, talvez se identifique com ele.

Aí vai para vcs todos:

 

PLUTÃO

Poema de Olavo Bilac

 

 

"Negro, com os olhos em brasa,

Bom, fiel e brincalhão,

Era a alegria da casa,

O corajoso Plutão.

 

Fortíssimo, ágil no salto,

Era o terror dos caminhos,

E duas vezes mais alto

Do que o seu dono Carlinhos.

 

Jamais à casa chegara

Nem a sombra de um ladrão;

Pois fazia medo a cara

Do destemido Plutão.

 

Dormia durante o dia,

Mas quando a noite chegava,

Junto à porta se estendia,

Montando guarda ficava.

 

Porém Carlinhos, rolando

Com ele às tontas no chão,

Nunca saía chorando,

Mordido pelo Plutão...

 

Plutão velava-lhe o sono,

Seguindo-o quando acordado:

O seu pequenino dono

Era todo seu cuidado.

 

Um dia caiu doente

Carlinhos... junto ao colchão

Vivia constantemente

Triste e abatido, o Plutão.

 

Vieram muitos doutores,

Em vão. Toda a casa aflita,

Era uma casa maldita,

Era uma casa de dores.

 

Morreu Carlinhos... À um canto;

Gania e ladrava o cão;

E tinha os olhos em pranto,

Como um homem, o Plutão.

 

Depois, segui o menino,

Seguiu-o calado e sério;

Quis ter o mesmo destino;

Não saiu do cemitério.

 

Foram um dia à procura

Dele. E, esticado no chão,

Junto de uma sepultura,

Acharam morto o Plutão."

 

 

Abraços em todos,

 

Gustavo Borges

 

 

Uma reflexão sobre as plantas transgênicas:

 

A respeito do artigo "Plantas transgênicas na agricultura", Eduardo M. Krieger e Herman Chaimovich, publicado no "Globo", após os autores iniciarem pela confrontação entre conjuntos da comunidade que se posicionam a favor e contra, abruptamente passam à defesa, isto é, a favor da adoção em larga escala dos alimentos provenientes de plantas transgênicas, baseados na fome cada vez mais crescente no Mundo. O leitor ficaria melhor informado se as comparações entre os prós e os contras tivessem continuidade no artigo. Colocando de lado as especulações econômicas que apontam para o domínio da agricultura mundial pelas grandes corporações detentoras das patentes dos vegetais transgênicos, preocupa-nos entrar de cabeça nesta opção, visto que a própria história vem demonstrando que muitas maravilhas tecnológicas, às suas épocas, vieram, mais tarde, constituir-se em grandes desastres difíceis de serem amenizados. Vide a geração de frio a partir dos CFC's e hoje seus efeitos na camada de ozônio, provocando uma série de agressões ao meio ambiente e à saúde humana, em face das radiações ultra violetas. Vide a "maravilha", à época, das bifenilas policloradas - PCB's (nome comercial mais comum Ascarel) que fizeram uma revolução muito positiva no campo da engenharia elétrica, quando utilizados em transformadores e chaves elétricas como dielétricos e hoje são banidos internacionalmente pelos seus efeitos deletérios na saúde humana. Vide o DDT, o DDD e seus parentes que foram uma revolução como inseticidas e hoje estão também banidos por serem fortes degradadores a partir da cadeia alimentar. Vide o amianto, excelente isolante térmico etc. No caso dos transgênicos, se a "coisa" não der certo, daqui a quanto tempo iremos perceber? Face à universalidade de seu uso, haverá retorno para a correção do erro?

 

Gil Portugal

 


A ÁGUA DE BEBER

Gil Portugal

A água de que nos utilizamos em nosso dia-a-dia deve ser cuidada, visto que pode ser um veículo de diversas doenças. Há alguns anos o SAAE/VR analisou as águas de diversas minas de Volta Redonda e interditou algumas delas pela qualidade inadequada ao consumo como potável. Se bem me lembro, a população que se servia dessas minas que foram condenadas reagiu e continuou a utilizar-se de suas águas, ignorando o aviso. Uma reportagem no “Diário do Vale”, ano passado, sob o título “Apenas 13 minas têm água potável”, fazia menção à qualidade da água usada por parte da população de Barra Mansa e condenava 11 minas como contaminadas. A propósito desta reportagem, vale comentar que, com muita propriedade, o Assessor do SAAE/BM, Alexandre Garcia, citou os inconvenientes do uso dessas águas comprovadamente contaminadas, conforme análises realizadas pelo próprio SAAE/BM; todavia se lamentava que estava encontrando resistência, por parte da população, com desobediência aos alertas de contaminação. A índole do povo brasileiro não aceita de bom grado as imposições, mormente de órgãos públicos, quando possa haver desconfiança de que as proibições de uso sejam por motivo econômico; no caso: água comprada e água de graça. O fato de que os “SAAE’s” façam análises de águas, tanto naquelas que trataram, quanto nas que não trataram, é até uma obrigação, porque tais águas influenciam diretamente na saúde de seus usuários. Em nossos subsolos circulam constantemente grandes quantidades de águas que não percebemos. Algumas delas afloram, como no caso das chamadas minas e outras são buscadas através de baldes ou bombas, após a construção de poços que as atinjam no subsolo. Em todas elas há um fato comum: elas transitam pelos meandros dos subsolos, onde podem se purificar ou se contaminar. A purificação se dá pela integração solo-água. O solo age como um filtro biológico, captando as impurezas orgânicas existentes e até acrescentando alguns minerais úteis. A contaminação vem através de fatores externos ocorridos na superfície ou pouco abaixo dela, como os depósitos de lixo comum e hospitalar, os cemitérios, as valas negras, as tubulações de esgotos com vazamentos, todos podendo ocasionar infiltrações no terreno e indo contaminar águas limpas subterrâneas com toda a sorte de bactérias e vírus. Além disso, os aterros destinados aos resíduos industriais podem levar às águas subterrâneas contaminações de natureza química, mais difíceis de serem detectadas, devido a que as análises são mais complexas. Mas, não só a qualidade das águas de subsolo deve ser cuidada. Mesmo nas águas originalmente boas que recebemos dos departamentos de água, elas podem vir a se contaminar pelo caminho até as nossas casas através contatos indesejáveis face a vazamentos e também, devido à falta de limpeza periódica das cisternas e das caixas d’água e até mesmo por uma dosagem insuficiente do cloro que não dê margem a que exista um resíduo dessa substância para continuar o seu papel de biocida. Em todos os casos as crianças são, sem dúvida, a parte da população mais afetada pela qualidade imprópria da água, principalmente no que diz respeito às contaminações orgânicas. Vigiar a qualidade da nossa própria água de cada dia é também nossa obrigação.

Gil Portugal

 

O LAGO CLEAR

Gil Portugal (outubro/89)

Numa bela região montanhosa, a cerca de 140 quilômetros de São Francisco, na Califórnia, situa-se o La-go Clear, preferido dos pescadores da região. Clear em inglês significa claro, o que, na realidade, não condiz, pois as águas são turvas devido ao limo negro e mole que cobre o leito raso do lago. Acontece que esse lago é “habitat” de um pequeno mosquito que não é sugador de sangue, mas que inco-moda tremendamente pela quantidade. A tentativa de controle desse mosquito por métodos naturais não surtiu efeito. No final da década de 40 resolveu-se apelar para um inseticida a base de hidrocarboneto clorado, denomi-nado DDD, muito aparentado com o DDT, mas que, aparentemente, era menos perigoso à vida dos peixes. Cientificamente, determinou-se o volume do lago e decidiu-se por uma aplicação mínima, que foi 1 parte de inseticida para 70 milhões de partes de água. O controle do mosquito começou a mostrar efeitos, todavia, cinco anos mais tarde, como persistiam, re-solveu-se fazer uma nova aplicação, desta feita, na proporção de 1 para 50 milhões. Virtualmente o controle foi completado. No inverno que se seguiu começou-se a notar que outras espécies animais estavam sendo afetadas; os mergulhões começaram a morrer. Os mergulhões são aves de ninhadas e também visitantes do inverno, atraídos pela abundância de peixes do lago. O mergulhão é uma ave de aparência espetacular e hábitos enganadores; constrói seus ninhos em lagos rasos na parte ocidental dos Estados Unidos e Canadá. Lá, é denominado “mergulhão-cisne” e com razão pois, desliza pela água sem produzir encrespamento algum na superfície; o corpo nada baixo, ao passo que, o pescoço branco e a cabeça negra brilhante são mantidos em boa altura. Os filhotes, recém-nascidos, são revestidos de pe-nugem acinzentada muito macia e poucas horas depois do nascimento, cada filhote ruma para a água, às costas do pai ou da mãe, aninhado-se por baixo da asa paterna ou materna. Em 1957, um novo ataque de DDD foi feito e mais mergulhões morreram. Moléstias contagiosas foram pesquisadas nas aves mortas e nada foi detectado. Quando, porém, resolveu-se analisar o tecido graxo dos mergu-lhões (aquele que permite sua flutuação), encontrou-se a extraordinária cifra de 1.600 partes de DDD por milhão de partes. Ora, numa aplicação de 0,02 partes por milhão nas águas do lago, como foi possível que esse inseticida se concentrasse a 1.600 partes? Aprofundadas as pesquisas em outro organismo do lago, chegou-se a conclusão: Organismos do plâncton continham 5 partes por milhão; os peixes herbívoros que se alimentavam dos plâncton acumulavam de 40 a 300 partes; os peixes carnívoros que se alimentavam dos peixes herbívoros apresentavam acúmulos fantásticos que atingiam até 2.500 partes, na família do bagre. Aquilo era como uma louca seqüência onde, os carnívoros maiores tinham comido os carnívoros meno-res, que tinham comido os herbívoros, que tinham comido o plâncton, que tinha absorvido veneno contido na água. O extraordinário é que análises da água mostravam que não havia vestígios do DDD; o veneno não tinha, porém, abandonado o lago mas, encaminhado para o contexto de vida que o lago sustentava. No plâncton, o ve-neno passava de geração em geração. Também, nos peixes, aves e sapos examinados, depois de um ano da última aplicação do DDD, encontrou-se o veneno, inclusive nas gerações subseqüentes. As colônias reprodutoras de mergulhões se reduziram de 1.000 casais, antes do primeiro tratamento com o inseticida, para cerca de 30 em 1960 e todo o acasalamento deles foi em vão pois, nenhum mergulhão novo foi observado. E na outra extremidade da cadeia, o homem? Pesquisas recentes revelaram que o DDD suprime violentamente a função do córtex suprarenal humano. O aprendizado que ficou é que o inseticida, mesmo aplicado em concentrações baixíssimas, apresenta um aspecto “explosivo” de concentrações nos organismos vivos. E fica a pergunta: será prudente ou desejável fazer uso de substâncias capazes de tão poderoso efeito so-bre os processos fisiológicos, para o controle de insetos? Adaptado do Livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson (Edições Melhoramentos, 1964).

Gil Portugal

 

DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO

Gil Portugal (abril/93)

Quando se fala em esgotos domésticos, o termo DBO é freqüentemente usado pelos técnicos; ele é indispensável em qualquer discussão a respeito. Vou tentar esclarecer o que significa, em termos um tanto quanto leigos, porque não sou biólogo. Então, com licença biólogos e desculpem alguma falha. A minha intenção é passar uma mensagem aos leigos do entendimento de um autodidata que gosta do assunto. DBO é a abreviatura de Demanda Bioquímica de Oxigênio. A palavra demanda quer dizer, entre outros significados, quantidade consumida ou a consumir; a pa-lavra bioquímica significa, aí; um misto de reações de origem biológica e química. Dessa forma, podemos resumir que DBO é um consumo de oxigênio através de reações biológicas e químicas. Um corpo d’água doce significa um rio, um lago, ou mesmo um conjunto de águas subterrâneas. Num corpo d’água coexistem bactérias e matéria orgânica de todas as naturezas. Uma bactéria se alimenta de matéria orgânica, isto é, seu alimento se baseia em substâncias que con-têm carbono e hidrogênio. A digestão completa dessa matéria orgânica se faz no organismo da bactéria, através de uma reação bioquímica que necessita de um elemento fundamental para ser realizada: o oxigênio. Quando é fornecido como alimento à uma bactéria uma quantidade de matéria orgânica, ela precisará de uma determinada quantidade de oxigênio para que seu organismo transforme a matéria orgânica em outra substância (no caso, mineralize a matéria orgânica). Um rio ou um lago é sempre rico em matéria orgânica (alimento) e bactérias. Para que as bactérias sobrevivam e se multipliquem é necessário haver alimento (matéria orgânica) e oxigênio. Se houver muitos alimentos, as bactérias se multiplicarão em demasia e disputarão entre si todo o oxigênio disponível; dessa forma, o oxigênio tende a acabar e as bactérias a morrerem transformando-se em mais alimento disponível (afinal elas são matérias orgânicas também). Acabado o oxigênio, as águas do rio ou do lago serão incapazes de sustentar a vida aeróbia (isto é, a vida de todos os organismos que habitam as águas e necessitam oxigênio para viver). Dessa forma, tem sempre que haver um limite de matéria orgânica que pode ser lançada a um rio ou a um lago, para que o oxigênio existente não desapareça e com isso o rio ou lago “morram”. Um esgoto a céu aberto que deságua em um rio é uma fonte enorme de matéria orgânica; diz-se que a DBO desse esgoto é alta ou, o que quer dizer: as águas do esgoto irão exigir um alto consumo de oxigênio do rio, exatamente por serem ricas em matéria orgânica. O tratamento de esgotos nada mais é que uma forma de reduzir essa DBO antes que o esgoto atinja o rio (ou o lago) para preservar seu oxigênio e também, em alguns casos, eliminar matérias orgânicas vivas transmissoras de doenças para o homem. Alguns exemplos de DBO: as águas servidas de uma refinaria de açúcar chegam a ter DBO de 6.000 miligramas por litro, o que significa que a cada litro dessas águas despejado num rio farão com que 6.000 mg ou seja, 6g do oxigênio dissolvido na água do rio desapareçam. Nos esgotos não tratados (esgotos domésticos), cada pessoa é responsável (em média) pelo desapare-cimento de 54 gramas diárias de oxigênio existentes nas águas do rio (ou lago) onde esse esgoto é despejado. Dessa forma, sendo a água doce um bem raro, qualquer tratamento prévio para reduzir a DBO (fossa séptica, filtro biológico etc.) será de grande importância na preservação dos corpos d’água doce, dos quais dependemos para viver.

Gil Portugal




Completando suas informações, o maior responsável pela desaparecimento de organismos aquáticos é o consumo do oxigênio dissolvido na água pelas bactérias e não produtos tóxicos, que normalmente são repassados à teia alimentar do ecossistema aquático.

De: Adriano Ferreira da Silva  <aferreira@passosuemg.br>
Data: Dom,  6 de Ago de 2000 3:22pm
Assunto: Re: Demanda bioquímica de oxigênio

 

A ÁGUA NÃO É INESGOTÁVEL

Gil Portugal (junho/91)

Toda vida existente na Terra nasceu da água e poderá desaparecer pela própria água, por ser ela um dos elementos indispensáveis ao ecossistema chamado Planeta Terra. No Planeta, 97% de toda água existente são salgadas; do restante, água doce, apenas 0,03% estão fácies e diretamente disponíveis para o uso do homem nos rios, lagos e subsuperfícies. No caso particular do Brasil, o seu maior recurso hídrico e também do Mundo, correspondendo a 20% de toda a á-gua doce disponível no planeta, é a bacia Amazônica que está distante das grandes concentrações urbanas e industriais, o que implica, apesar dos outros recursos do país, tornar a água doce um bem de extremo valor para as demais regiões. Quantos as águas dos mares e dos oceanos que são os termostatos do Planeta e a maior fonte de oxigênio pela fabri-cação intensa de sua rica flora, via fotossíntese, sua degradação por processos oriundos da atividade humana implica no desequilíbrio na biota, prejudicando o fornecimento do oxigênio, bem como de alimentos em geral. Pode-se afirmar que o futuro próximo dependerá da manutenção da qualidade da água doce, que é rara, e o futuro não muito longínquo, da quali-dade da água salgada. Quanto às águas doces dos rios, e subsuperficiais, são essas que devem constituir-se na prioridade imediata no que se refere à sua preservação de qualidade por que são elas disponíveis e que dia após dia, todos fazem uso, quer direta, quer indiretamente, como indivíduos ou coletivamente, através das atividades industriais, agrícolas, de conforto etc. Em todos os casos, quer se refiram às águas salgadas, quer às doce, os cuidados na preservação implicam uma dívida que temos com as gerações que virão, pois estamos fazendo uso de patrimônio que também lhes pertence. O homem é o grande consumidor de água doce, quer direta, quer indireta. Em números aproximados, temos que o consumo de sua família na cidade é seis vezes maior que de outra família no campo; uma descarga sanitária eqüivale a doze litros, e para encher-se uma banheira ou se lavar uma quantidade de roupas na máquina o consumo é de 120 litros. Mas se compararmos esses consumos, ditos diretos, com os indiretos, a situação é alarmante. Se não vejamos: a fei-tura de um simples pãozinho demanda 400 litros de água, se considerarmos as necessidades desde o trigo que lhe deu ori-gem. Um quilo de carne corresponde a 18.000 litros de água que foram fornecidos direta ou indiretamente ao animal que lhe deu origem até a carne estar pronta para o consumo. A produção de uma tonelada de milho requer 1,6 milhões de litros d’água, assim como 2,4 milhões de litros para uma tonelada de borracha sintética e 1,3 milhão para uma toneladas de alumí-nio. Nas mesmas proporções estariam os consumos na fabricação de fibras, papel, aço etc. Daí se depreende que é imprescindível reutilizar a água doce em escala cada vez mais crescente, mas esbarra-se no grande problema que é retornar às águas as suas características mínimas que sirvam a esse propósito, extirpando sua conta-minação, ou seja, retirando da água usada os fatores que a poluíram. No geral, degradação da qualidade das águas dos rios e lagos deve ser pensada em dois aspectos: o primeiro vem a ser aquele que influencia na cadeia alimentar diretamente, como, por exemplo, pelo transporte de um metal pesado e que irá atingir o homem, elo final da cadeia, afetando a sua saúde; o segundo se refere à qualidade da água propriamente dita, no que diz respeito aos conteúdos orgânicos. A auto depuração das águas dos rios e lagos, principalmente dos rios, felizmente, é notável, quanto à auto eliminação de contaminações via matérias e substâncias orgânicas, desde que haja condições ade-quadas para tal. Vamos deixar de lado o primeiro aspecto e pensar na degradação que se refere aos conteúdos orgânicos dos corpos d’água. Nesse caso, o elemento fundamental a ser preservado nas águas dos rios e lagos é o oxigênio, e toda degradação orgânica na sua qualidade passa pelo abaixamento da taxa de oxigênio dissolvido, porque do oxigênio dependerá a vida animal contida na água e é essa vida animal que realizará a importante missão de fazer funcionar todo um ciclo que propici-ará ao homem uma água saudável. Qualquer perturbação, seja por elemento estranho ou por modificações físicas da massa líquida, que venha direta ou indiretamente a reduzir o oxigênio nela dissolvido, degrada a qualidade da água. Em outras palavras, polui. As águas de um rio ou de um lago sustentam ou aumentam a taxa de oxigênio dissolvido através de dois processos: agitação, quando a água capta o oxigênio do ar pelo íntimo contato deste com a superfície líquida e pela fotossíntese, quan-do a luz solar incide sobre uma vegetação aquática e realiza nela uma reação bioquímica que resulta o oxigênio. Ao analisarmos individualmente as atividades não naturais, devidas exclusivamente ao homem, que geram altera-ções, direta ou indiretamente nas taxas de oxigênio dissolvido, no sentido de abaixá-las ou de não mantê-las, ficarão clara-mente indicados os procedimentos de preservação. Dessa forma, todas as ações relativas ao emprego de agrotóxicos e adubos, aos desmatamentos, aos efluentes indus-triais, aos lixos e esgotos domésticos etc. devem corresponder atuações que tenham que ser amenizadas ou compensadas. Outrossim, quaisquer que sejam as modalidades de degradação, enxergadas pelas suas causas, os esforços de com-pensação concernentes devem, também, levar em conta a complexidade das condições ambientais, os recursos disponíveis e potenciais e visarem reduzir ao mínimo o aspecto predatório da utilização desses recursos.

Gil Portugal

 

UMA ESTORINHA ECOLÓGICA

Gil Portugal (julho/89)

Numa ilha das Antilhas grassou uma epidemia de malária e os especialistas identificaram com facili-dade a causa: um mosquito, tipo do nosso pernilongo. Fizeram, então, seus planos para a cura dos doentes mas resolveram, também, atacar de frente a cau-sa: eliminar totalmente a praga causadora. A solução não deixou por menos na ação: dedetizar, por avião, toda a ilha. Passaram rapidamente à decisão tomada: aviões em todas as direções pulverizaram todos os recantos da dita ilha. Não sobrou um mosquito para contar a estória. Passado algum tempo, os nativos começaram a notar dois fatos: os lagartos que existiam na ilha, em número razoável, apresentavam um aspecto de sonolência, como se estivessem bêbados e não reagiam com rapidez à aproximação do homem, como era natural, e ainda que, o número deles começava a rarear. Novamente devido àquele fato estranho, reuniram-se os especialistas e chegaram à conclusão, após observarem em paralelo, também um número exagerado de “óbitos” na população de gatos: os gatos comem os lagartos; como esses lagartos estão sem sua reação de autodefesa, os gatos os pegam com facilidade, e se os gatos estão morrendo é porque os lagartos estão envenenados, e se estão envenenados é porque o seu ali-mento natural (os mosquitos) estavam envenenados com o DDT. Enquanto os luminares da terra conjecturavam da importância desses fatos, começaram a notar que seus celeiros de grãos e suas casas estavam sofrendo ataques ferozes de ratos. A população de ratos na ilha crescia assustadoramente, porque faltava, agora, na ilha, seu predador natural, o gato. Novamente, as cabeças pensantes se reuniram e decidiram que a solução seria colocar em toda a ilha iscas para os ratos. Aí, alguém de bom senso se levantou e pediu a palavra: Alto lá! Se fizermos isso não saberemos as conseqüências, poderemos estar envolvendo outros animais, inclusive porcos, galinhas etc. e com isso, nós mesmos sofreremos na pele. Todos concordaram e a idéia morreu. Que fazer então? Brilhante conclusão: vamos importar gatos! E como importaram! Navios vinham apinhados de bichanos e a ilha, fi-nalmente, readquiriu sus população “gatal”. Não demorou muito, a população de ratos começou a não inco-modar. Passado um ano, começou-se a notar um outro fenômeno diferente: as choupanas dos habitantes, fei-tas de madeira e palha, começavam a desabar. Fácil ver, era cupim que não acabava mais. Por que tanto cu-pim? Indagavam-se os habitantes da ilha. Alguém, brilhantemente, concluiu: falta o seu predador natural, o lagarto. Conclusão: começaram a importar lagartos em larga escala. Moral da estória: O ciclo natural pode ser quebrado pelo homem, mas a Natureza dá o troco. Nota do autor: essa estória foi adaptada por mim de um fato contado em um congresso de defesa do Meio Ambiente.

Gil Portugal

 

Liks para testes auto-avaliativos



http://200.246.56.125/meioambiente/teste.html

http://200.246.56.125/meioambiente/teste2.html

http://200.246.56.125/meioambiente/teste3.html

 

 

Esse é o AR

           que VO

                    REspira!!!

 

 

 

 

 

“A FALSA PROMESSA DA SUSTENTABILIDADE DA ENGENHARIA GENÉTICA”.

A engenharia genética é a biotecnologia moderna mais significativa. Ela emergiu nos anos 70, juntamente com as técnicas de fertilização in vitro (FIV), e se distanciou radicalmente das biotecnologias “clássicas”, tais como a reprodução tradicional de plantas (na qual a modificação genética é feita em nível de organismo) e a ciência da fermentação.

Uma definição simples de engenharia genética (também conhecida como tecnologia do DNA recombinante) é a manipulação científica em nível celular para produzir organismos alterados, ou novos, que realizem funções desejadas ou programadas, invariavelmente para facilitar processos de produção industrial. Tecnicamente, os organismos geneticamente manipulados (OGMs) são aqueles cuja construção genética foi alterada pela inserção ou pela retirada de pequenos fragmentos de DNA. No caso da inserção, o material genético poderá ser de uma linhagem diferente da mesma espécie ou de uma linhagem de uma espécie distinta ou, ainda, ser sintética (isto é, genes projetados e fabricados em laboratório). Dessa forma, não só espécies totalmente não relacionadas podem partilhar o seu material genético, mas organismos totalmente novos podem ser construídos.

Na agricultura, a engenharia genética é aplicada a plantas, animais e microrganismos (bactérias e vírus). Embora a experimentação da engenharia genética envolvendo animais seja altamente controvertida, as conseqüências ecológicas da alteração genética no reino vegetal são mais extensas do que nos animais.

AS PROMESSAS TECNOCÊNTRICAS DA ENGENHARIA GENÉTICA

A indústria da engenharia genética está promovendo uma versão tecnocêntrica da agricultura sustentável com o alcance de maior produtividade através de variedades melhoradas de plantas, bem como através de insumo a custos menores e de problemas ambientais declinantes. Os proponentes da tecnologia focalizam suas alegações em quatro principais promessas:

·        a capacidade da pesquisa sobre plantas tolerantes (ou resistentes) a herbicidas levar à substituição de herbicidas perigosos por outros “benignos do ponto de vista ambiental”;

·        a capacidade da pesquisa sobre resistência a pragas de reduzir a utilização de agroquímicos, de contra-atacar a crescente resistência  dos insetos aos métodos convencionais de controle de pragas e de oferecer maior precisão do que os inseticidas de amplo espectro;

·        a capacidade da pesquisa sobre plantas fixadoras de nitrogênio vir a reduzir a utilização de fertilizantes químicos;

·        o baixo risco de conseqüências ambientalmente adversas provocadas pela liberação de organismos geneticamente manipulados no ambiente aberto.

TOLERÂNCIA A HERBICIDAS

A prioridade na agenda da pesquisa e do desenvolvimento da engenharia genética agrícola é a variedade de planta tolerante a herbicidas. Estima-se que 30 a 50% dos recursos da indústria estão direcionados para esse produto. Através da pesquisa e do desenvolvimento da tolerância a herbicidas, as plantas podem ser geneticamente adaptadas aos herbicidas chamados “ambientalmente benignos”. Elas também podem ser dessensibilizadas para suportar herbicidas não-seletivos mais tóxicos, bem como doses maiores desses produtos. Contrariando as alegações da indústria, a utilização de herbicidas irá, assim, provavelmente, aumentar. Por exemplo, as plantas do algodão geneticamente dessensibilizadas para suportar o herbicida por contato bromoxynil permitirão que quantidades bem maiores desse agroquímico sejam aplicadas nos algodoais. Jane Rissler e Margaret Mello, da Federação Americana da Vida Selvagem, calculam que “se forem mantidos os atuais níveis de uso do bromozynil, a adoção do algodoeiro tolerante a esse produto em apenas metade da área plantada com algodão mais do que dobraria o uso do agroquímico [nos EUA]. Os proponentes argumentam que o bromoxynil faz parte de um grupo de herbicidas “ambientalmente mais limpos” com previsão de desenvolvimento prioritário. Entretanto, há outros  programas de pesquisa e desenvolvimento, bem como dados recentes, que contradizem  tais alegações. Por exemplo, na Austrália, a Divisão de Indústria Vegetal da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Comunidade (CSIRO) obteve sucesso, recentemente, na produção de um híbrido transgênicos do tabaco que sobreviveu à pulverização com doses do herbicida phenoxy, 2,4-D, quatro a oito vezes maiores que as recomendadas em condições normais. Embora os cientistas da CSIRO aleguem que o 2,4-D é ambientalmente benigno, numerosas preocupações foram expressas em relação à sua segurança. Ademais, os ecologistas americanos verificaram que as plantações expostas apenas às doses recomendadas de 2,4-D ficaram muito mais suscetíveis ao ataque de insetos e doenças, o que faz supor a necessidade crescente de doses mais elevadas de agroquímicos complementares como inseticidas e fungicidas. Verificou-se que insetos benéficos, como a abelha, sofrem adversamente com a utilização do 2,4-D. O desenvolvimento de resistência ao 2,4–D nas ervas invasoras também foi confirmado pondo em dúvida a eficácia de se empregarem recursos escassos do setor público para desenvolver plantas tolerantes a herbicidas.

Os pesquisadores da CSIRO acabaram de incorporar o gene que expressa alta tolerância ao 2,4-D no algodão, que é extremamente sensível a esse herbicida largamente utilizado. O projeto CSIRO, que é custeado parcialmente pela indústria algodoeira, tem por meta dessensibilizar o algodoeiro, uma vez que todo o ano as plantações são atingidas pelo 2,4-D pulverizado em outras culturas (o 2,4-D evapora-se com facilidade e pode ser levado pelo vento a até 30 Km de distância). O algodão dessensibilizado é vantajoso não apenas para seus produtores, mas para os do trigo, pois as restrições sobre o uso do relativamente barato 2,4-D na proximidade de algodoais podem ser suavizadas. Os cientistas da CSIRO esclarecem que se a indústria  do algodão desejar variedades do algodoeiro que possam tolerar a aplicação direta do 2,4–D no futuro, a pesquisa da CSIRO poderá atender a essa solicitação.

Embora a CSIRO pretenda apenas desenvolver o algodão dessensibilizado, não se pode esperar que os fabricantes de produtos químicos deixem passar a oportunidade comercial de desenvolver semente que possam suportar a aplicação direta do 2,4-D. Na verdade, há indicações de que , por volta de 1985, a DOW Chemicals havia desenvolvido uma variedade de tabaco resistente ao 2,4-D, e a Rhône-Poulenc conseguiu o mesmo com as cenouras, e que ambas as empresas estavam competindo, juntamente com a Union Carbide, para desenvolver outras plantas resistentes, incluindo-se o milho, o arroz e a cevada. Isso parece contradizer as alegações da indústria de que as empresas não desenvolverão plantas resistentes a herbicidas se estes não forem mais protegidos por patente. Como os cientistas da CSIRO declaram: “A introdução do gene para a monooxigenase do 2,4-D em plantas de folhas largas, como o algodoeiro, deve, eventualmente, permitir que o esse agroquímico seja utilizado como um herbicida barato de pós-emergência em culturas de dicotiledôneas economicamente importantes, como arroz, milho e a maioria das frutas e verduras. Isso indica um amplo mercado, tanto para as sementes tolerantes ao herbicida 2,4-D como para o próprio herbicida. O conglomerado farmacêutico suíço Schering-Plough já detém uma patente nos EUA e na Europa sobre o gene que expressa a tolerância  ao 2,4-D”.

Empresas químicas estão se mobilizando rapidamente para desenvolver plantas resistentes a herbicidas ainda sob patente. A Rhône Poulenc, em colaboração com a empresa biotécnica Calgene USA, iniciou essa tendência  nos EUA com o algodão tolerante ao bromoxynil. No Canadá, a canola (semente de alta qualidade que é a segunda plantação mais importante do Canadá e a terceira maior fonte de óleo vegetal em todo o mundo) tolerante ao atrazine já está no mercado, muito embora mais de 55 espécies de “plantas invasoras” estejam agora resistentes ao grupo de herbicidas triazine ao qual pertence o atrazine. Um herbicida desse tipo também pode levar à maior sensibilidade do milho ao vírus do mosaico, da mesma forma que 2,4-D o sintoma piora com o aumento da dosagem. Além disso, o atrazine se decompõe muito lentamente no ambiente e é um dos dois pesticidas encontrados com maior freqüência nas águas subterrâneas contaminadas dos EUA.

Mesmo se a pesquisa sobre tolerância aos herbicidas fosse limitada aos mais novos produtos químicos tidos como “ambientalmente benignos”, isso ainda causaria problemas ambientais . Por exemplo, em 1989, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA cancelou e limitou diversas formulações contendo bromoxynill em função de potenciais defeitos nas crianças nascidas das pessoas que vinham lidando com os produtos, bem como pela indução de efeitos carcinogênicos. Ecologicamente, essa herbicida ameaça a maioria das plantas de folhas largas, bem como a vegetação dos habitats de vida selvagem adjacentes às plantações, se aplicado erroneamente, sendo, ainda, altamente tóxico para certas espécies aquáticas.

Sulfonylurea, chlosulfuron e imidazole também estão entre os herbicidas mais novos de baixa dosagem (ou mais concentrados), mas há indicações de que sua persistência no ambiente prejudica as plantações subseqüentes. Os sulfonylureas também são tóxicos para as plantas em quantidades mínimas. Apesar do glyphosate, outro herbicida recente , degradar-se rapidamente na maioria dos tipos de solos, ele  persiste na água de escoamento e pode ser levado rio abaixo através dos ecossistemas aquáticos. Algumas formulações do glyphosate contêm os chamados ingredientes “inertes” que são altamente tóxicos para alguns organismos aquáticos. De modo significativo, a completa gama de impactos ecológicos desses herbicidas é desconhecida devido à pouca pesquisa e avaliação. Mesmo assim, plantas que resistem ao glyphosate e aos sulfonylureas também já foram testadas em campo.

A rápida evolução de plantas invasoras resistentes a alguns dos herbicidas mais novos torna improvável que os mais antigos e mais tóxicos possam, de fato, ser facilmente substituídos. É mais provável que o pacote biotecnológico de pesticidas emergentes será uma mistura entre herbicidas antigos e novos. Por exemplo, na Austrália, o azevém já é resistente à maioria  dos sulfonylureas, entre outros herbicidas. Pelo menos 100 espécies de plantas invasoras resistentes a herbicidas foram identificadas, e já foram descobertas populações dessas plantas tolerantes a quase todos os herbicidas conhecidos. Tais problemas ilustram a falsa promessa da biotecnologia, ou o que Jane Rissler chama de promessa enganosa.

Outros problemas poderão surgir com a possível transferência da tolerância a herbicidas dos OGMs para as plantas invasoras, por exemplo, através da hibridização. Herbicidas considerados ambientalmente “mais seguros” não seriam mais eficazes contra as plantas invasoras que tivessem capturado um gene de resistência a esse agroquímico. Conseqüentemente, as populações dessas plantas aumentariam, fazendo com que se acelerasse a escalada dos pesticidas.

Em todo o mundo, mais de 79 programas de pesquisa empresa/estado estão desenvolvendo mais de 23 linhagens de plantas tolerantes a herbicidas, incluindo-se algodão, milho, batata, arroz, sorgo, soja, trigo, tomate, alfafa e cana-de-açúcar. Essa situação vai fortalecer ainda mais a abordagem química da agricultura, o que, por sua vez, vai aumentar em muito a poluição do solo e da água, a resistência a pragas e os resíduos químicos nos alimentos. Como decorrência, os processos ecológicos naturais serão fortemente desvirtuados e a erosão da biodiversidade acelerada.

O BIOPESTICIDA TRANSGÊNICO

O desenvolvimento dos biopesticidas transgênicos também traz outros riscos ecológicos. Tais produtos dão às plantas uma resistência embutida ao transferirem um gene que expressa uma toxina de ocorrência natural (biotoxina) dentro de suas células. Consegue-se isso incorporando-se geneticamente o gene na bactéria que comumente coloniza a planta. A toxina é, então, expressa através das folhas e das hastes ou do sistema vascular da planta, atacando o trato intestinal dos insetos alvo. Alega-se que essas toxinas são inofensivas a insetos não alvo, pássaros e animais  superiores. As indicações são de que 20 a 30% da pesquisa e desenvolvimento envolvendo a engenharia genética, realizados por empresas, estejam relacionados com tais produtos.

Como essa técnica não depende de inseticidas químicos, argumenta-se que ela será ambientalmente limpa e mais eficaz que as atuais estratégias de controle de insetos. Entretanto, mais uma vez, há riscos não-revelados.

Um problema é que, exatamente como no caso dos pesticidas químicos, pode-se esperar que os biopesticidas transgênicos exerçam uma forte pressão de seleção a favor das pragas com resistência às biotoxinas naturais utilizadas. Mais de 500 espécies de insetos já desenvolveram resistência a um ou mais inseticidas químicos; muitas delas são pragas importantes. Nos EUA, apesar de um aumento de dez vezes no uso de inseticidas de 1945 a 1988, as perdas anuais das plantações causadas por insetos aumentou de 7 para 13%. Em todo o mundo essa perda é de cerca de 15%.

O Bacillus thuringiensis (Bt) é a principal bactéria que está sendo manipulada geneticamente para o bio pesticida transgênico, com um enorme mercado projetado para as culturas resistentes a insetos. O Bt é uma bactéria do solo possuidora de um gene que produz uma proteína natural. Ele tem sido utilizado restritivamente por mais de 30 anos como um agente de controle biológico comercial especialmente importante para muitos produtores orgânicos e outros produtores “alternativos”. Contudo, quando aplicado mais intensivamente, como foi feito em experimentos laboratoriais, dez espécies de insetos desenvolveram rápida resistência às linhagens de Bt. Ainda significativo é o fato de que populações de dois tipos de mariposas desenvolvem resistência ao Bt no campo, mesmo enquanto novas variedades adaptadas ao Bt estão sendo testadas em campo. Diferentemente da aplicação manual do Bt, em que as plantações são pulverizadas com esporos em latência que, então, se multiplicam e cobrem as plantações com a bactéria tóxica, o produtor que cultivar uma planta com B produzido geneticamente não pode limitar a quantidade de toxina expressa, exceto pelo não cultivo da planta. As dosagens de inseticida estão geneticamente atreladas à planta, não importando a época ou os níveis de infestação.

Quando as plantações são monoculturas, os geneticistas botânicos estimam que de 5 a 15 anos depois de ser introduzida uma nova forma de resistência genética em uma variedade de planta, essa resistência entra em colapso em face de uma forma recém-evoluída da doença ou da praga. À medida que os insetos desenvolvem resistência a uma linhagem de Bt, outra linhagem será utilizada e depois mais uma e assim por diante – um círculo vicioso biológico paralelo a outro químico. Mesmo os proponentes da engenharia genética acreditam que há uma certa validade nessas alegações. Atualmente, a CSIRO está realizando uma pesquisa para desenvolver variedades de algodão resistentes à lagarta Heliothis sp. utilizando a toxina Bt da Monsanto e declarou: “Mais cedo ou mais tarde, a lagarta Heliothis sp. desenvolverá resistência à toxina Bt da Monsanto, da mesma forma que está desenvolvendo agora em relação aos pesticidas químicos que estão sendo utilizados para controlá-la”.

Para contrapor-se a essa eventualidade e “assegurar que a utilidade das plantas produzidas geneticamente permaneça por muitos anos ainda”, A CSIRO está tentando produzir algodoeiros contendo genes com múltiplas biotoxinas (genes empilhados), e seus cientistas argumentam que há apenas uma pequena probabilidade dos insetos obterem resistência a esses genes simultaneamente. Entretanto, no caso dos produtos químicos sintéticos, “a coexistência, de diversos mecanismos de resistência, conhecidos como multirresistência, vem tornando-se um fenômeno cada vez mais comum”. Atualmente, 17 espécies de insetos podem resistir, simultaneamente, a cinco classes de produtos químicos.

TORNAR O Bt MAIS MORTÍFERO

Uma estratégia proposta para ampliar a longetividade e a eficácia do biopesticida é modificar o gene Bt com um conjunto de genes de biotoxina e de vírus de outras espécies. Embora existam numerosas linhagens de Bt, verificou-se que apenas algumas são suficientemente tóxicas para matar insetos. Essa estratégia, mais uma vez, traz à tona a questão sobre quanto tempo será necessário para os insetos obtenham resistência ao grupo mais amplo de biopesticidas de ocorrência natural.”

A utilização extensiva do Bt e de outras biotoxinas poderia, ainda, causar uma dramática mudança na dinâmica da população de insetos, o que perturbaria os polinizadores e as comunidades naturais de planta, tanto local como regionalmente. Ademais, verificou-se que algumas linhagens de Bt são danosas às minhocas. Outro risco potencial é a transferência de genes que expressam biotoxinas, das plantas modificadas para as plantas invasoras, tornando estas menos suscetíveis aos insetos que dela se alimentam. Também podem ocorrer mutações. Se o Bt fosse mutacionado, ele poderia deixar de atacar lagartas para atacar, por exemplo, as joaninhas que agem como predadoras no controle de pragas.

Finalmente, há um outro problema que se reflete diretamente na saúde humana. As toxinas de ocorrência natural podem ser extremamente perigosas, e aplicar a engenharia genética em plantas à procura de resistência a pragas poderá produzir metabólitos nos alimentos que são mais tóxicos aos seres humanos do que os pesticidas que estão sendo substituídos com a grande velocidade com que se desenvolve a biotecnologia, novas técnicas de transferência de genes poderão permitir uma mudança mais rápida dos níveis de toxina, a introdução de toxinas totalmente novas, ou a criação de uma situação secundária que será um convite à produção de toxinas.

Apesar das preocupações acima, a Ecogen, uma empresa americana de engenharia genética agrícola, foi capaz de licenciar direitos sobre determinados genes de inseticidas derivados do Bt. A multinacional que controla cerca de 34% do mercado de sementes de milho, que movimenta  Us$1,33 bilhões, planeja utilizar os genes em novos híbridos de milho.”

MANIPULAÇÃO DA FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO

Com muito menos prioridade na agenda de pesquisa e desenvolvimento das empresas, está a engenharia genética nas culturas de cereais para expressar a fixação de nitrogênio. Embora os lucros previstos nesse campo sejam enormes, existem muitos problemas teóricos relacionados à pesquisa. Como resultado, a maior parte da pesquisa inicial foi deixada para os pesquisadores do setor público – o setor empresarial entrará quando houver um progresso mais substancial.

No entanto, há diversos riscos ecológicos de longo prazo envolvidos na fixação de nitrogênio pela engenharia genética. A bactéria fixadora de nitrogênio, outrora capaz de se instalar em espécies que não os cereais cultivados, concedendo vantagem às plantas invasoras, por exemplo. É importante  considerar-se isso agora, no momento em que os pesquisadores  australianos produziram uma planta de trigo que fixa seu próprio nitrogênio.

Mais ameaçador é o desenvolvimento de plantas capazes de utilizar fertilizantes sintéticos mais eficazmente, ou de absorvê-los em maiores quantidades. Cada um desses empreendimentos seria altamente favorecido pelas empresas químicas, pois aumentaria a dependência dos produtores a tais insumos.

LIBERAÇÕES NO MEIO AMBIENTE

A indústria da engenharia genética vem alegando persistentemente que os riscos da liberação de organismos geneticamente manipulados são insignificantes. Entretanto, os críticos temem a possibilidade de pandemias causados por patógenos recém-criados, bem como o desencadeamento de desequilíbrios ecológicos significativos.

Há diversas razões para essa diferença na percepção dos riscos. A maioria  dos cientistas responsáveis pelas declarações sobre baixo risco ou são geneticistas moleculares e microbiologistas, ou são bioquímicos que se especializam em biologia molecular e celular. Muitas vezes, eles estão diretamente envolvidos com a indústria da engenharia genética. Em contraposição, muitos dos críticos são ecologistas que se especializam em biologia, do ponto de vista da interação organismo / ecossistema / biosfera, e são independentes da indústria. O mundo real não pode ser simulado no plano limitado do laboratório e, devido a uma compreensão limitada de muitos aspectos da genética, dos ecossistemas e dos processos ecológicos, os cientistas ainda não podem prever, com um mínimo grau de precisão como os organismos alterados se “comportarão” quando liberados. Ao mesmo tempo, continuamente surgem novas provas que indicam os perigos da experimentação com OGMs. Por exemplo, foi recentemente relatado que são encontrados de mil a 10 milhões de vezes mais vírus em água não poluída do que o esperado. Concentrações de 250 milhões de vírus por mililitro de água foram constatadas por um grupo de pesquisadores que calcularam que um terço das bactérias da água sofreriam um ataque de vírus bacteriófagos a cada dia. Esse fato traz implicações significativas em termos do potencial de transferência de tendências genéticas como, por exemplo, resistência a biotoxinas, dos OGMs aquáticos para a população bacteriana nativa dos ecossistemas aquáticos e outros.

Os biotecnologistas advogam consistentemente a precisão da alteração de genes através da engenharia genética, sustentando que a inserção ou a retirada de um único gene levará a um resultado específico. Entretanto, um artigo recente da Science relatou que um único gene pode controlar dois processos totalmente não-relacionados. Nesse caso, o gene para a esterilidade citoplasmática masculina estava associada à sensibilidade à ferrugem da folha de milho na epidemia do milho híbrido de 1970 nos EUA. Embora essa eventualidade possa parecer rara para os biotecnologistas, ela indica a real necessidade de se prosseguir com extrema cautela. De fato, Bruce Pollock, do Serviço de Mediação com a Ciência, do Colorado, sugere que “parece ser impossível garantir a segurança da biotecnologia”.

O efeito da inserção de um único gene no genoma (todo o DNA do organismo em um único conjunto de cromossomos) possui, necessariamente, um elemento de incerteza a ele associado pelo fato de as características biológicas do organismo serem, geralmente, determinadas pela complexa interação de grupos de genes que evoluíram juntos. O resultado de uma única inserção depende igualmente da função do gene inserido e de como ele interage com outros genes do genoma. Se, por exemplo, o gene inserido tiver uma função controladora ou reguladora, ele poderá alterar significativamente a expressão fenotípica (como o tamanho da folha ou a produção de proteína) dos outros genes. Além disso, pequenas mudanças genéticas podem ter grandes efeitos, especialmente se o gene alterado afetar o desenvolvimento embrionário. Conseqüentemente, é importante que o gene inserido adote o padrão correto de expressão durante a diferenciação do tecido e do órgão, mas isso é difícil de se planejar. Por exemplo, poderá aumentar a freqüência de erros de transcrição na produção de uma proteína de um gene; pequenas mudanças na sequência dos aminoácidos pode afetar grandemente a atividade de uma proteína, e pequenas mudanças no genoma podem alterar sua tolerância fisiológica a fatores ambientais como temperatura ou salinidade, aumentando ou diminuindo, assim, a faixa geográfica do organismo.

 

OS ERROS GERENCIAIS DA ENGENHARIA GENÉTICA

Diversos incidentes têm sido revelados que demonstram os erros de gerenciamento da engenharia genética e da biotecnologia e a falha das fracas estruturas regulamentadoras. A seguir, alguns deles:

Ø     Em novembro de 1986, o Instituto Wistar, da Filadélfia, em colaboração com a organização Pan-Americana de saúde, conduziu testes de campo com uma vacina viral produzida geneticamente em 20 vacas em Azul, Argentina, sem a aprovação das autoridades argentinas ou americanas. A vacina foi levada dos EUA para a Argentina numa bagagem diplomática, burlando, assim, as leis de importação argentinas. O Wistar sustentou que não era legalmente obrigado a revelar nada porque a Argentina não tinha qualquer lei sobre o assunto e nenhum mecanismo regulamentador sobre o teste de campo com produtos biotecnológicos potencialmente danosos.

Ø     Em maio de 1987, um pesquisador da Universidade de Bayreuth, Alemanha, promoveu a liberação de rizóbios geneticamente manipulados em um campo de ervilhas. De acordo com os regulamentos nacionais sobre engenharia genética, qualquer experimento envolvendo a liberação de organismos geneticamente manipulados teria de ser aprovado pela Comissão Central para a Segurança Biológica. Mas, a definição desse tipo de organismos inclui apenas aqueles criando in vitro através da utilização de técnicas de DNA recombinante. Para desalento dos críticos, o Rhizobium liberado não se enquadrava sob essa rubrica e, assim, não precisava de aprovação oficial.

Ø     Em junho de 1987, um pesquisador da Universidade Estadual de Montana liberou bactérias geneticamente manipuladas em olmeiros, sem a aprovação da Agência de proteção Ambiental ou do Departamento de Agricultura. Descobriu-se, ainda, que o mesmo pesquisador também havia liberado rizóbios geneticamente manipulados na Califórnia, em Nebraska e em South DaKota durante 1983 e 1984. Em todos os casos, ele preferiu ignorar os regulamentos.

Ø     Em 1987, a liberação acidental de uma nuvem protéica gasosa de uma fábrica nas cercanias de Leningrado causou inúmeros casos de asma brônquica. Os protestos ambientais nacionais resultantes forçaram o fechamento da indústria microbiológica soviética.

Ø     Em 1988, mais de 50 porcos transgênicos foram levados a um abatedouro no sul da Austrália cujas instalações eram dirigidas pela Metrotech, um empreendimento conjunto entre o Metro Meats e a Universidade de Adelaide. Os porcos transgênicos foram abatidos para consumo humano. É provável que nem a Comissão de Biossegurança Institucional da Universidade nem a Comissão de Assessoria para Manipulação Genética nacional foram avisadas. O diretor gerente da Metrotech alegou que o código de conduta voluntária da Austrália aplicava-se à universidade mas não às empresas.

O EXEMPLO DE LIBERAÇÕES EXÓTICAS

Há pouca distinção, em termos ecológicos, entre a liberação no ambiente de um organismo novo (por exemplo, um organismo nativo com pelo menos um gene modificando ou inserido) e um organismo exótico (não nativo do ambiente em que é liberado ou introduzido). Os efeitos ambientais de liberações exóticas feitas no passado não são um bom presságio para as futuras liberações de organismos geneticamente manipulados. Um estudo de 850 casos de espécies introduzidas na América do Norte verificou que 104 delas causaram a extinção de espécies nativas. De modo semelhante, 10% das espécies investigadas em um estudo de espécies exóticas introduzidas na Inglaterra causaram efeitos ecológicos significativos. Portanto, mesmo se o nível de risco para liberação de OGMs fosse inferior a cerca de 1% - margem que alguns engenheiros genéticos dizem ser bastante aceitável – isso poderia significar importantes danos ecológicos, dado que milhares de “lotes” de OGMs provavelmente serão liberados através de um longo período de tempo.

Os danos ecológicos advindos da introdução de organismos novos só podem ser chutados. Há uma grande incerteza sobre se um a transferência de tendências incorporadas, como resistência a pragas, doenças, salinidade ou herbicidas, ocorrerá entre organismos modificados e organismos não-alvo, de ocorrência natural. Da mesma forma, existem sérias dúvidas sobre se um organismo geneticamente alterado poderá se adaptar a condições externas ao laboratório; especialmente se ele poderá ser rapidamente eliminado, cultivado com segurança, ou se não haverá qualquer controle natural para limitar sua proliferação.

Além disso, poderão emergir efeitos provenientes dos OGMs que, possivelmente, não seriam detectados por um longo tempo. A disseminação de OGMs, especialmente microorganismos geneticamente alterados, seria de monitoração muito difícil, e, uma vez liberados, eles não poderiam não ser detectados nem recuperados.

OS RISCOS DOS TESTES DE CAMPO

Para superar todas essas incertezas, os biotecnologistas advogam os testes de campo. Mas eles próprios constituem liberações no meio ambiente. David Pimentel, da Universidade Cornell, conclui, com base na experiência anterior com pragas introduzidas, que “uma vez liberados organismos geneticamente manipulados no meio ambiente, as chances de controlá-los posteriormente são praticamente nulas”.

Apesar desses riscos, já ocorreram de 250 a 300 liberações conhecidas (testes de campo em pequena escala) conduzidas internacionalmente. Até agora, não parece ter havido quaisquer “escapes” ou conseqüências adversas, mas, no entanto, importantes questões são colocadas a respeito da adequação da monitoração pós liberação nos testes de campo. Por exemplo, no caso de testes de microrganismos com genes alterados, até que profundidade o perfil do solo é monitorado e a água subterrânea subjacente é testada para verificação da contaminação? As indicações são de quatro os atuais procedimentos de avaliação são extremamente inadequados – como é o caso dos controles dos testes do Hormônio de Crescimento Bovino recombinante (HCB ou STB).

Muito em breve, as chances de ocorrerem conseqüências adversas advindas dos OGMs serão diminuídos pela introdução de testes de campo em larga escala. Após três anos de testes em pequena escala, a Calgene USA recentemente solicitou permissões para testar em campo 2,3 milhões de algodoeiros transgênicos tolerantes ao bromoxylnil em 55 locais em 12 estados, dos quais 100 mil também estão sendo testados para resistência transgênica para insetos.

Claramente, as promessas da indústria de que essas utilizações da engenharia genética oferecem sustentabilidade ou são ingênuas e confusas, ou apenas conversa fiada visando iludir o público em benefício daqueles que lucrarão com as novas tecnologias. A numerosas liberações em larga escala de OGMs podem diminuir a diversidade genética, distorcer processos ecológicos naturais e, em prazos mais longos, possivelmente causar significativos danos à biosfera.

PREOCUPAÇÕES ECOCENTRISTAS

Bem claramente, a versão empresarial da agricultura sustentável é continuar com a agricultura convencional e tentar utilizar a biotecnologia para superar alguns de seus problemas críticos como queda da produtividade, aumento de resistência das pragas, erosão genética e ampla oposição pública aos agroquímicos. Em outras palavras, a biotecnologia está sendo utilizada como um “acerto tecnológico” para contornar esses problemas sem questionar as suposições equivocadas que desde o início deram origem aos problemas.

Dessa perspectiva, a engenharia genética não está resolvendo a questão central do desenvolvimento de uma agricultura sustentável – a questão central do desenvolvimento de uma agricultura sustentável – a necessidade de um modus operandi ecologicamente seguro. Além disso, está claro que os problemas ambientais que a indústria e seus defensores alegam poder resolver são simplesmente os resultados de um conjunto anterior de inovações que, na época, também, foram considerados acertos tecnológicos que tentavam superar os limites ecológicos. A abordagem biotecnológica simplesmente virá a representar não uma alternativa ecologicamente aceitável para a agricultura convencional, mas uma “nova” forma de agricultura convencional que aumentará nosso problemas ambientais. Com sua capacidade de expandir sinteticamente a base de recursos ambientais, a tecnologia de DNA recombinante também tem o poder de diminuí-la ecologicamente.

O DESAFIO PARA OS AMBIENTALISTAS

A curto prazo, os novos grupamentos das ciências da vida irão obter recompensas importantes, exatamente como aconteceu com seus antecessores, através da introdução de pacotes de agricultura industrializada em todo o mundo. Agora, está surgindo um novo e muito caro pacote de negócios agrícolas. Ele compreenderá agroquímicos comerciais juntamente com sementes híbridas tolerantes a herbicidas e a diversas pragas (bem como quaisquer outras características que a indústria puder embutir). Através desse pacote biotecnológico, e com o apoio permanente do estado, as multinacionais expandirão sua hegemonia na produção agrícola e no fornecimento de alimentos e, assim, sustentarão e expandirão seu controle político, geográfico, econômico, social e ecológico.

O desafio para os ambientalistas é assegurar que apenas os aspectos ecologicamente seguros da biorevolução sejam pesquisados e desenvolvidos. Ações importantes e urgentes incluem oposição ao domínio da elaboração de políticas biotecnológicas pelas multinacionais, conscientização da população sobre as implicações da biotecnologia, desenvolvimento de uma rede internacional mais consistente para preservar e utilizar variedades de plantas com polinização aberta e, por último, exigência de um rígido regime de regulamentação para a engenharia genética que envolva a monitoração pública, eficaz e obrigatória de todos os níveis da pesquisa e do desenvolvimento. Já é tempo de o movimento verde internacional ter uma compreensão e um posicionamento claro em relação ao desafio e à realidade da engenharia genética.

 

A Falsa Promessa da Sustentabilidade da Engenharia Genética

Richard Hindmarch, 1993, Textos para debate nº 49, AS-PTA - RJ

 

Contribuição de:

De: Carlos Alberto Mourthe Junior  <mourthe@pucminas.br>
Data: Ter,  8 de Ago de 2000 12:03pm
Assunto: Transgênicos


A luta pela utilização de alimentos transgênicos é permeada por interesses individuais e se apoia em argumentos que não condizem com uma perspectiva sustentável de desenvolvimento.

Propostas miraculosas como esta vêm sendo colocadas desde a década de sessenta, com a utilização de híbridos na agricultura, o aumento de fertilizantes dentre outras. Sabe-se no entanto, que as possibilidades de alcance de um equilíbrio entre a demanda e a produção não serão alcançadas com inovações tecnológicas que não estejam no mínimo alicerçadas em bases ecológicas.

O texto anexo traz valiosas informações úteis para sustentar argumentos contrários a esta prática perniciosa e fundamentada apenas em bases capitalistas.

Um grande abraço a todos,

Carlos

 

 

Projeto Apoema - Educação Ambiental

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