InformaLista

O Informativo da lista “Educação Ambiental”

No. 08 – 10 de dezembro de 2000

 

Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)

Os textos não passaram por revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.


NOVOS PROJETOS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR

Gil Portugal

(setembro de 2000)

 

Com traduzir em reais o valor de uma espécie de uma comunidade natural, de um ecossistema, de uma paisagem etc. quando da implantação de um novo projeto?

Por exemplo, a defesa de uma floresta ou de pequena parte dela, não se resume só às árvores que podemos ver, mas também às inúmeras espécies animais que não vemos, mas que ali vivem.

Para a implantação de um novo projeto deve sempre haver uma demanda de opções, ou seja, o desejo de dispor de opções das espécies do ecossistema afetado, conceito este muito importante na avaliação das relações de um projeto com o meio ambiente.

É muito difícil atribuir valor monetário a todas as espécies de um ecossistema que sofrerão a influência de um projeto. Esse custo é, sobretudo, subjetivo, com grandes componentes culturais. O importante é que existe esse custo. Seu valor deve ser estabelecido com a participação da comunidade, ainda que isso possa representar grandes dificuldades e se constitua num grande desafio.

É fundamental, antes da implantação, avaliar-se o custo social de cada alternativa locacional, como também de percurso, tecnológica etc. Com isso, evitar-se-á aprovar projetos degradadores que visem apenas gerar lucros para alguns, com altos custos ambientais. Estar-se-á, assim, realizando os mais elevados objetivos de uma pré-análise comumente chamada Estudo de Impacto Ambiental - EIA, ou seja, a finalidade dessa pré-análise é permitir um desenvolvimento em equilíbrio com a natureza, não impactante e que reverta inteiramente em benefício da sociedade.

A solução dessa problemática visa tranqüilizar a comunidade envolvida quanto às suas preocupações ambientais, sociais e econômicas; em outras palavras, como o projeto após implantado, irá alterar, além do meio ambiente, o "statu-quo" de seu "modus vivendi".

A geração de conflitos "a posteriori", entre o empreendedor e a comunidade é devida, no geral, ao espaço de tempo que a comunidade leva para "perceber" o projeto em toda a sua concepção, desde seu início.

Dessa forma, a solução a contento para empreendedor e comunidade deve partir da participação desta última desde o início da concepção do projeto.

Não se pode esquecer que a noção de impacto ambiental, social e econômico, em face do novo projeto, pressupõe julgamento de valores. Tal julgamento depende do grupo social envolvido e de sua capacidade de influir, tanto no processo de avaliação dos impactos do projeto, quanto na escolha das alternativas menos impactantes e julgar as medidas propostas em face da proteção ambiental, da saúde pública e das modificações do estado geral de suas vidas.

No Brasil, infelizmente, a comunidade só começa a participar em estudos muito adiantados de projetos, acabando por prevalecer interesses políticos e ou econômicos já muito discutidos e decididos.

A rigor, a participação pública num projeto deve começar do início deste, através de publicações do empreendedor e órgãos públicos, além de discussões com órgãos representativos da sociedade, universidades etc.

Com esses procedimentos fica proporcionada a plena oportunidade de participação do público, auxiliando sobremaneira o levantamento dos problemas e dos valores locais, identificando características ambientais, sociais e econômicas relevantes.

Muitas vezes, a oposição pública a um determinado projeto decorre da má ou da falta de informações da comunidade sobre o mesmo.

Hão que ser consideradas nas discussões, pelo menos, a modificação da densidade populacional na área de influência; as modificações no uso do solo e dos valores econômicos das propriedades; as modificações nos sistemas de transporte e na movimentação de pessoas; as modificações estéticas e paisagísticas e a poluição por gases e ruídos por veículos automotores.

Na verdade, nossas comunidades não aceitam mais passivamente a implantação de projetos que possam induzir impactos, quer ecológicos, quer sócio-econômicos.

Nossos políticos devem cada vez mais se conscientizar que o que devem representar são os interesses da comunidade. Já, os dirigentes de órgãos de controle têm que se conscientizar que todo progresso é desejável, mas precisa da participação popular e principalmente da sua aceitação, isto é, a população quer ser instrumento, co-participante e co-autora nos processos de desenvolvimento.

Os políticos e os dirigentes de órgãos de controle nunca devem olvidar que seus cargos são transitórios, ao contrário das aspirações sociais que quase sempre são permanentes.

Gil Portugal


LENDAS AMAZÔNICAS

 

"No início era o nada. Os deuses esconderam as tintas nas árvores, nos animais e na terra, e guardaram para si o encantamento da tapiragem nas aves. E esperaram... Ainda era tudo escuro, e ao mesmo tempo que foi criado o Sol e a Lua, Kúat e Iaê, os deuses da sabedoria, mostraram a natureza como horizonte do homem, para que convivendo com ela, aprendesse a amá-la e respeitá-la. A Pele pintada para dar vida à vida, cor às cores, para mostrar a alegria do existir e a razão do viver. Através da mutação das penas, um pouco da incomparável beleza da aves saiu do céu. O sonho dos homens de voar nunca se realizou materialmente, mas em espírito eles alçaram vôo junto aos deuses, e os deuses sorriam, acreditando no homem..."

 

A Lenda da Cestaria

Há muitos e muitos anos, na profundeza do Rio Paru de Leste, afluente do Amazonas, e mais precisamente na divisa com o rio Axiki, vivia a serpente Tuluperê, conhecida popularmente como a cobra-grande. Ela tinha um comprimento fora do comum. A pele, desde a cabeça até o final do corpo, apresentava as cores vermelha e preta. E reunia características da sucuriju e da jibóia. Tuluperê virava embarcações que navegavam nas águas dessa divisa e, quando conseguia pegar uma pessoa, apertava-a até matar e dela se alimentava. Um dia, os índios da nação Wayana, da família linguística Karib, com a ajuda do Xamã, líder religioso, conseguiram matar Tuluperê, depois que a atingiram com muitas flechas. Nessa ocasião, viram os desenhos da pele da cobra-grande, memorizando-os. A partir daí, passaram a reproduzí-los em todas as suas peças de cestaria.

 

A Lenda da Mandioca

A mandioca é uma raiz amidosa, muito volumosa, usada para fazer um especial tipo de farinha. A farinha da mandioca faz parte da comida diária dos nativos da Amazonia, e é usada só ou acompanhada de arroz, batata, milho, e como acompanhamento para peixe, carne ou feijão. Esta raiz possui um forte veneno, cianide que precisa ser eliminado durante a preparação da farinha. Isto é feito durante o cozimento ou fermentação da raiz. A massa obtida é tostada e está pronta para armazenagem. Em épocas remotas, a filha de um poderoso tuxaua foi expulsa de sua tribo e foi viver em uma velha cabana distante por ter engravidado misteriosamente.

Parentes longíquos iam levar-lhe comida para seu sustento, e assim a índia viveu até dar a luz a uma linda menina, muito branca, o qual chamou de Mani.

A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança a qual se tornou muito amada por todos. No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa, sem nunca ter adoecido. A mãe ficou desolada e enterrou a filha perto da cabana onde vivia e sobre ela derramou seu pranto por horas. Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar de lá uma planta que cresceu rápida e fresca. Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam. Desde então a mandioca passou a ser um excelente alimento para os índios e se tornou um importante alimento em toda a região. Mandi = Mani, nome da criança. oca = aca, semelhante a um chifre.

 

A Lenda do Boto

Existem dois tipos de botos na Amazonia, o rosado e o preto, sendo cada um de diferente espécie com diferentes hábitos e envolvidos em diferentes tradições. Viajando ao longo dos rios é comum ver um boto mergulhando ou ondulando as águas a distância. Se diz que o boto preto ou tucuxi é amigável e ajuda a salvar as pessoas de afogamentos, mas dizem que o rosado é perigoso. Sendo de visão ineficiente, os botos possuem um sofisticado sistema sonar que os ajuda a navegar nas águas barrentas do Rio Amazonas.

Depois do homem eles são os maiores predadores de peixes.

A lenda do boto é mais uma crença que o povo costumava lembrar ou dizer como piada quando uma moça encontrava um novo namorado nas festas de junho.

É tradição junina do povo da Amazônia festejar os Dias de Santo Antonio, São João e São Pedro. Em estas noites se fazem fogueiras e se queima foguetes enquanto se desfruta de comidas típicas e se dança quadrilhas e outras danças ao som alegre das sanfonas. As lendas contam que em estas noites, quando as pessoas estão distraídas celebrando, o boto rosado aparece transformado em um bonito e elegante rapaz, mas sempre usando um chapéu, porque sua transformação nao é completa, pois suas narinas se encontram no topo de sua cabeça fazendo um buraco. Como um cavalheiro, ele conquista e encanta a primeira jovem bonita que ele encontra e a leva para o fundo do rio, engravidando-a e nunca mais voltando para vê-la. Durante estas festividades, quando um homem aparece usando um chapéu, as pessoas pedem para que ele o retire para que não pensem que ele é um boto. E quando uma jovem engravida e não se sabe quem é o pai, é comum dizerem ser "do boto".

 

Lenda do Guaraná

O guaraná é um fruto da Amazonia usado para fazer uma soda ou refrigerante de sabor doce e agradável. É uma bebida bastante popular na Amazônia. A origem deste fruto é explicada na seguinte lenda: Um casal de índios pertencente à tribo Maués viviam juntos por muitos anos sem ter filhos, mas desejavam muito ter uma criança ao menos. Um dia, eles pediram a Tupã uma criança para completar aquela felicidade. Tupã, o rei dos deuses, sabendo que o casal era cheio de bondade, lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo menino. O tempo passou rapidamente e o menino cresceu bonito, generoso e bom. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão, sentia uma extrema inveja do menino e da paz e felicidade que ele transmitia, e decidiu então ceifar aquela vida em flor. Um dia o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari se aproveitou da ocasião para lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa e mordeu o menino, matando-o instantaneamente. A triste notícia se espalhou rapidamente. Neste momento, trovões ecoaram na floresta e fortes relâmpagos caíram pela aldeia. A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que ela deveria plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos. Os índios obedeceram ao pedido da mãe e plantaram os olhos do menino. Neste lugar cresceu o guaraná, cujas sementes são negras, cada uma com um arilo em seu redor, imitando os olhos humanos.

 

A Lenda da Vitória Régia

A maior lili aquática no mundo é a Vitória Régia, nativa da bacia do Rio Amazonas. Suas folhas arrendondadas atingem até 2 m de diamêtro e possuem as bordas pronunciadas e levantadas. A vitória régia flutua graciosamente na água e pode sustentar o peso correspondente ao tamanho de um pequeno animal.

Quando floresce, suas pétalas são brancas ou levemente rosadas, com bordas esverdeadas.

Há muitos anos, nas margens do majestoso Rio Amazonas, Naia, uma jovem e bela índia ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da lua branca e o mistério das estrelas. Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naia subir numa árvore alta para tentar tocar a lua. Ela não obteve êxito. No próximo dia, ela decidiu subir as montanhas distantes para sentir com suas mãos a maciez aveludada do rosto da lua, mas novamente ela falhou. Quando chegou lá, a lua estava tão alta que retornou à aldeia desapontada. Ela acreditava que a Lua era um bonito guerreiro - Jaci, e sonhava em ser a noiva desse bravo guerreiro. Na noite seguinte, Naia deixou a aldeia esperando realizar seu sonho. Ela tomou o caminho do rio para encontrar a lua nas negras águas. Refletida no espelho das águas, lá estava a Lua, imensa, resplandescente. Naia, em sua inocência, pensou que a lua tinha vindo se banhar no rio e permitir que fosse tocada. Ela mergulhou nas profundezas das águas desaparecendo para sempre. A lua, sentindo pena daquela tão jovem vida agora perdida, transformou Naia em uma flor gigante - a Vitória Régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber em toda sua superfície, a luz da lua.

 

A Lenda do Pirarucú

O pirarucu é um peixe da Amazônia, cujo comprimento pode chegar até 2 metros. Suas escamas são grandes e rígidas o suficiente para serem usadas como lixas de unha, ou como artesanato ou simplesmente vendidas como souvenirs. A carne do Pirarucu é suave e usada em pratos típicos da nossa região. Pode também ser preparada de outras maneiras, frequentemente salgada e exposta ao sol para secar. Se fresca ou seca, a carne do pirarucu é sempre uma delícia em qualquer receita.

Pirarucu era um índio que pertencia a tribo dos Uaiás que habitava as planícies de Lábrea no sudoeste da Amazonia. Ele era um bravo guerreiro mas tinha um coração perverso, mesmo sendo filho de Pindarô, um homem de bom coração e também chefe da tribo. Pirarucu era cheio de vaidades, egoísmo e excessivamente orgulhoso de seu poder. Um dia, enquanto seu pai fazia uma visita amigável a tribos vizinhas, Pirarucu se aproveitou da ocasião para tomar como refém índios da aldeia e executá-los sem nenhuma motivo. Pirarucu também adorava criticar os deuses. Tupã, o deus dos deuses, observou Pirarucu por um longo tempo, até que cansado daquele comportamento, decidiu punir Pirarucu. Tupã chamou Polo e ordenou que ele espalhase seu mais poderoso relâmpago na área inteira. Ele também chamou Iururaruaçú, a deusa das torrentes, e ordenou que ela provocasse as mais fortes torrentes de chuva sobre Pirarucú, que estava pescando com outros índios as margens do rio Tocantins, não muito longe da aldeia. O fogo de Tupã foi visto por toda a floresta. Quando Pirarucu percebeu as ondas furiosas do rio e ouviu a voz enraivecida de Tupã, ele somente as ignorou com uma risada e palavras de desprezo. Então Tupã enviou Xandoré, o demônio que odeia os homens, para atirar relâmpagos e trovões sobre Pirarucu, enchendo o ar de luz. Pirarucu tentou escapar, mas enquanto ele corria por entre os galhos das árvores, um relâmpago fulminante enviado por Xandoré acertou o coracão do guerreiro que mesmo assim ainda se recusou a pedir perdão. Todos aqueles que se encontravam com Pirarucu correram para a selva terrivelmente assustados, enquanto o corpo de Pirarucu, ainda vivo, foi levado para as profundezas do rio Tocantins e transformado em um gigante e escuro peixe. Pirarucu desapareceu nas águas e nunca mais retornou, mas por um longo tempo foi o terror da região.

 

Lendas extraídas do site:

http://www.geocities.com/RainForest/Canopy/8767/lendas.htm


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

Oliveira, Haydée T.; Cinquetti, Heloísa S.; Freitas, Denise de; Nale,

Nivaldo

 

Há um reconhecimento da comunidade ligada aos setores educacionais de que a Educação Ambiental (EA) é necessária para se alcançar o ideal de sociedades sustentáveis. Isso é verificado via formulação recente de políticas públicas, difusão da temática em diferentes movimentos sociais e propostas de incorporação do estudo do ambiente associado à ciência, tecnologia e sociedade no âmbito escolar. Nesse sentido a preparação de professores com competência para atuarem como agentes de mudança tem sido considerada prioritária (UNESCO-UNEP, 1988; Tilbury, 1992; Fien & Rawling, 1996). Há também um amplo entendimento de que tal formação é bastante complexa face ao conhecimento, atitudes e habilidades exigidos para se alcançar a variedade de objetivos e metas da EA.

Entre os vários obstáculos encontrados na adoção de mudanças na prática escolar Fien & Rawling (1996) e Robottom (1987) apontam: i) a idéia equivocada de que Educação Ambiental é tema somente para aulas de Ciências e Biologia; ii) as limitações decorrentes dos aspectos infra-estruturais, tais como falta de recursos didáticos específicos, tempo para preparação coletiva de novas propostas metodológicas e grande número de alunos por sala; iii) a supervalorização da transmissão de informações, e iv) as políticas institucionais contrárias a um trabalho orientado para mudança de valores e atitudes diante da realidade.

Nesse contexto, a temática ambiental emerge como uma possibilidade fecunda de engajamento de professores e alunos em situações de ensino-aprendizagem, nas quais a problematização tem sido facilmente atingida, por envolver direta ou indiretamente, questões vitais.

Esses aspectos, aliados à recente incorporação da temática como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais, impõem e tornam um desafio a busca de alternativas formativas para profissionais atuarem na área.

O presente trabalho analisa uma experiência formativa em EA, desenvolvida em 1999, na Universidade Federal de São Carlos. A disciplina foi oferecida aos alunos dos 8 cursos de licenciatura e foi planejada tendo por base alguns princípios que consideramos fundamentais para a formação de educadores ambientais. Entre esses destacamos:

A EA deve estar inserida num projeto educacional que tenha como meta transformações das relações entre ciência-sociedade-tecnologia-ambiente em direção à sustentabilidade;

Para garantir a inserção da temática ambiental na atuação docente há necessidade de reflexão sobre conceitos e pressupostos ambientais e educacionais que norteiam as políticas e práticas de EA, dentro de um espaço curricular próprio frente a atual conjuntura;

A utilização de metodologias investigativas é uma das formas de envolver tanto cognitiva quanto afetivamente os aprendizes na exploração de problemas relevantes da comunidade;

O desenvolvimento de práticas coletivas é uma forma privilegiada para fazer emergir contradições entre crenças pessoais e práticas profissionais, capazes de abrir caminho para reflexão pessoal necessária para que ocorram mudanças significativas na atuação do educador;

O trabalho em grupo, enfatizando a cooperação, é mais eficiente do que o individual para resistir às pressões que normalmente se exercem ao trabalho inovador em Educação;

Para a solução dos problemas ambientais faz-se necessária a formação de equipes interdisciplinares para construção de saberes originais, numa abordagem sistêmica.

Nesse trabalho interpretaremos a experiência de implantação da disciplina "Ensino e Pesquisa em Educação Ambiental", tomando por referência os princípios supra-mencionados, que refletem o conhecimento recente da área de EA e formação de professores (Robottom, 1987; Carvalho, 1996; Penteado, 1997; Sorrentino, 1998; Reigota, 1999). Para possibilitar essa análise, contou-se com: 

1) dados obtidos por meio de um questionário respondido pelos alunos no início e término do semestre, envolvendo questões sobre concepções de ambiente e de ensino e sobre desempenho individual, dos grupos e dos professores; 

2) nossas anotações pessoais; 

3) os produtos gerados pelos alunos e 

4) os projetos de intervenção, suas implantações e os respectivos relatórios.

 

Desenvolvimento da proposta e análise de alguns elementos

A equipe responsável pelo curso era composta de quatro profissionais, com formações diversificadas (Biologia, Psicologia e Pedagogia). A disciplina, de caráter optativo e com um carga de 4 horas semanais, teve a participação de 30 alunos.

Da análise realizada destacamos para esse trabalho três momentos da implementação da proposta metodológica da disciplina, considerados significativos tendo em vista os princípios norteadores para a formação de professores em EA.

O primeiro momento refere-se à estratégia de análise da evolução histórica da EA e das mudanças educacionais. Para proceder o estudo sobre esse histórico utilizamos procedimentos didáticos conjugados, que tiveram por objetivos tornar mais inteligível o estudo, de modo a possibilitar a percepção mais ampla do momento histórico, interrelacionando as proposições em EA e os acontecimentos e pensamentos no âmbito sócio-político-cultural, bem como vivenciar estratégias alternativas de ensino.

O segundo momento diz respeito à abordagem de conceitos básicos da EA: meio ambiente, educação ambiental, desenvolvimento sustentável e interdisciplinaridade. Na primeira aula do curso aplicamos um questionário em que, entre outras informações, pedíamos aos alunos para que tentassem expressar suas idéias sobre os conceitos referidos. A opção por esse instrumento foi garantir o registro permanente, para a avaliação a posteriori das mudanças conceituais, e ainda que permitisse a derivação de categorias e a elaboração de quadros sinópticos das concepções, de maneira a evidenciá-las no início das discussões, fornecendo posteriormente as interpretações científicas correntes na literatura. Esperávamos, dessa forma, promover o confronto de idéias para a produção de sínteses pessoais mais elaboradas e significativas.

A explicitação de concepções exclusivamente por meio de expressão escrita como utilizada e a subsequente estratégia de utilização de quadros sinópticos não geraram a riqueza de diálogo que se pretendia entre o conhecimento dos alunos e os conceitos veiculados na literatura. O intervalo decorrido entre a aplicação do questionário e as discussões em aula, entre outros fatores, podem ter contribuído para o baixo envolvimento dos alunos nessa tarefa. Uma alternativa a ser explorada seria o uso de imagens para complementar a expressão verbal, como na metodologia de Freire (1982) e de Reigota (1999), que poderia propiciar o levantamento não só de aspectos cognitivos, mas também valorativos e afetivos, mais controversos e tão essenciais para a discussão de temas de meio ambiente e educação. Assim sendo, permanece o desafio de empreender melhor o referido diálogo, que é talvez o desafio maior dos educadores preocupados com uma aprendizagem significativa em suas práticas.

A elaboração e implementação de projetos de intervenção constitui o terceiro momento. Para promover a vinculação dos conceitos apreendidos com a realidade do trabalho em EA, os alunos desenvolveram projetos, partindo do diagnóstico de problemas ambientais do campus da UFSCar, visando torná-los partícipes na resolução dos mesmos.

Foram sete os projetos de intervenção, envolvendo sujeitos de faixas etárias muito diversas e com diferentes segmentos da comunidade. Foram abordados: desenvolvimento da percepção e sensibilização ambiental; recomposição de áreas verdes; animais nativos em cativeiro; destinação de resíduos químicos de laboratórios; desperdício de alimentos no restaurante universitário; e minimização de resíduos na instituição.

Em nossa avaliação, três grupos tiveram forte envolvimento com o trabalho e implantaram seus projetos de maneira mais abrangente e articulada. Quatro grupos tiveram um comprometimento menor com o projeto desenvolvido, sendo que apenas um não conseguiu realizar a intervenção proposta.

A maioria dos grupos utilizou procedimentos considerados participativos e/ou criativos, tais como: teatro com bonecos; oficina para criação de brinquedos a partir de materiais recicláveis; plantio de mudas com envolvimento da comunidade; trilha interpretativa; cartazes lúdicos estimulando a curiosidade e entrevistas com pessoas da comunidade. Apenas um grupo utilizou exclusivamente a aula expositiva como procedimento didático, centrada na transmissão de conhecimentos científicos sobre o tema.

Como conseqüência das intervenções foi constatado algum nível de melhoria ambiental em dois casos: 

1) o grupo que trabalhou com o desperdício nrestaurante universitário conseguiu reduzir, durante o projeto, a quantidade de sobras de comida; 

2) o grupo que fez o diagnóstico dos vários problemas de uma área verde muito utilizada pela população, escolheu para intervir a falta de árvores em alguns pontos da área. Foram plantadas árvores nativas com o envolvimento dos usuários. Apesar do término da disciplina, alguns integrantes, e alguns usuários, vêm mantendo o acompanhamento das mudas plantadas e promovendo novos plantios.

A estratégia de projetos permitiu que alcançássemos parcialmente nossos objetivos em função do grau de envolvimento de cada grupo e de cada aluno, no desenvolvimento das metodologias investigativas. Avaliamos que teoria e prática ficaram ainda cindidas, em razão do pouco tempo para que os alunos pudessem atingir maturidade, internalizando novas formas de conceber e agir atividades que envolvem pesquisa/ensino/extensão.

 

Considerações Finais

A análise do desenvolvimento da proposta metodológica e dos resultados obtidos nos permitiram discutir e avaliar as dificuldades e avanços frente a implementação da EA na formação de professores dentro da estrutura curricular vigentes nos cursos de licenciatura.

Uma decisão acertada e fundamental, mas não sem dificuldades, foi a de reunir alunos e professores de diferentes áreas de conhecimento, para enfrentar um dos grandes desafios da EA, que é a constituição de uma equipe de trabalho interdisciplinar. Apesar dos erros e acertos a vivência do processo permitiu a todos uma reflexão e revisão de suas atitudes enquanto educadores e aprendizes. Reconhecendo, ainda, que todo trabalho em EA requer mudanças de conceitos, concepções, valores e atitudes, e que o educador precisa ter competências e habilidade específicas para conduzir esse processo, durante a disciplina pudemos - alunos e professores – enfatizar a importância de trabalhar nossas limitações, uma vez que o processo começa por nós educadores.

Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de promover situações de ensino que provoquem nos alunos, de maneira mais radical, uma revisão tanto cognitiva como afetiva dos seus paradigmas epistemológicos, de seus valores culturais, e da sua maneira de ser e estar no mundo físico e social.

Na nova lei que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99) é vedada a criação de disciplinas de EA nos currículos dos cursos superiores, exceção feita ao desenvolvimento de aspectos metodológicos.  

Frente a atual conjuntura educacional sustentamos a posição de que há especificidades no ensinar a aprender sobre a temática ambiental que requerem, ainda que transitoriamente, um espaço curricular específico porém, inserido em vários momentos da formação, uma vez que, para estimular as mudanças apontadas consideramos necessária ampliar as oportunidades de experiências nesta direção.

 

Referências bibliográficas

 

CARVALHO, L.M. A temática ambiental e a formação de professores. In: BICUDO,

M.A.V. & SILVA JUNIOR, C.A. (orgs.) Formação do educador: dever do Estado,

tarefa da Universidade. S.P. EDUNESP.1996 (Seminários e Debates).

FIEN, J. & RAWLING, R. Reflective Practice: a case study of professional

development for environmental education. The Journal of Environmental

Education, 27, 3, p.11-20. 1996.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, 150p.

PENTEADO, H.D. Meio Ambiente e formação de professores. S.P.: Cortez

Editora. 2ª ed. 1997. (Coleção Questões da nossa época, v. 38).

REIGOTA, M. A Floresta e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna. São Paulo: Cortez, 1999, 167p.

ROBOTTOM, I. Two paradigns of professional development in environmental

education. The Environmentalist, 7, 4, pp.291-298. 1987.

SORRENTINO, M. De Tbilisi a Thessaloniki: a educação ambiental no Brasil.

In: Cascino, F.; Jacobi, P.; Oliveira, J.F. (orgs.) Educação, Meio Ambiente

e Cidadania: reflexões e experiências. SP: SMA/CEAM. pp. 27-32 , 1998.

TILBURY, D. Environmental Education within preservice teacher education: the priority of priorities. International Journal of Environmental Education and Information. 11, 4, pp.267-280.1992.

UNESCO-UNEP International strategy for action in the field of environmental

education and training for the 1990s. Paris: UNESCO e Nairobi. 1988.

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Extraído do site: http://www.anped.org.br/0810p.htm


Sugiro que todos se inscrevam na lista de discussão EALatina indo para o site do www.mma.gov.br

Moderador da lista Educa;ao Ambiental na América Latina

Alexandre de Gusmão Pedrini


Uma reflexão sobre educação ambiental como instrumento-chave para o

desenvolvimento sustentável.

 

A Educação Ambiental, cada vez mais investigada, discutida, redimensionada, recentemente encontra-se mergulhada num processo ininterrupto que a compartimenta em vários seguimentos e revela novos conceitos em suas variadas formas. Esta afirmação traz em seu contexto uma rápida reflexão a todos os estudiosos das questões que envolvem o homem e suas relações com o meio ambiente, objetivando uma convivência equilibrada, conseqüentemente sustentável.

Em décadas passadas, mais precisamente 60 e 70, o homem manifestou efetivo interesse no binômio “degradação e preservação da natureza”, dando início a grandes eventos que produziram e ainda produzem importantes documentos, tais como, tratados, acordos, relatórios, agendas, todos de cunho nacional e internacional. Este significativo avanço não só apontou caminhos e soluções, mas indicou falhas e outras percepções até então ignoradas. Durante este período criou-se um arsenal de instrumentos no afã de subsidiar e sistematizar a incipiente batalha que apenas emergia. A educação ambiental provinda de correntes filosóficas e pragmáticas materializou-se em sua potencialidade como um instrumento capaz de modificar o comportamento humano e introduzir inusitadas concepções de um mundo mais consciente e preocupado com seu próprio destino e das gerações futuras. Tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento têm sua preocupação voltada a questões econômicas e através de posturas ortodoxas ou não tentam provar a superioridade do setor econômico em detrimento aos demais problemas sociais que solapam todo o planeta. Não seria uma posição politicamente equivocada?

Enfim, este tema suscita discussões demagógicas e bastante prolixas. Esta concepção tem sofrido uma notória mudança, pois a valor ambiental, por excelência cultural, implica necessariamente no atrelamento com o desenvolvimento econômico, uma vez que a Constituição Federal através de seu artigo 225, traz claramente a noção de valor relacionado à problemática ambiental, evidenciando a importância da relação da sociedade com a natureza. Os benefícios conquistados com o desenvolvimento se refletem de forma invertida na sociedade mundial através da má distribuição da renda per capta, ocasionando graves problemas sociais. Conseqüentemente, esta realidade projeta-se numa grande diferenciação de classes sociais, onde a imensa maioria formada pela base piramidal menos abastada e cada vez mais distanciada das oportunidades, torna-se vítima em potencial dessa cruel situação. Esta potencialidade relaciona-se principalmente com a ignorância adquirida pela falta de uma educação voltada para os valores de cidadania. Como exercer essa cidadania se não se sabe o verdadeiro sentido da palavra?

A educação, como valor maior de uma sociedade, mostra sua preocupação com os valores que envolvem as questões ambientais. As Leis de Diretrizes e Bases e os Parâmetros Curriculares Nacionais provocam polêmica em torno da discussão dos temas neles abordados através dos diferentes atores envolvidos no ensino formal. Essa celeuma além de debater os pontos obscuros, incompletos e evasivos propicia um exercício muito importante para o resgate cultural e social através da mobilização, seja individual ou coletiva, pontual ou difusa. O precioso crescimento resultante das experiências práticas transforma-se no indicador de uma nova concepção de educação. 

A educação ambiental em toda a sua amplitude, isto é, nos modos formal, não-formal e informal depõe a favor das tendências emergentes que preconizam a importância da educação ambiental como instrumento-chave sem destacar os méritos aos demais instrumentos que integram a gestão educacional.

Conceituar, criar novas metodologias, discutir leis, produzir trabalhos técnicos e científicos, discordar ou concordar com pontos de vista, esse aparato traz uma preponderante mas, muitas vezes, desapercebida percepção e dimensão dos novos rumos que a educação aponta, a partir da necessidade em preservar o meio ambiente da ação degradante e dos inesperados impactos e seus imensuráveis malefícios ao planeta. Diante dos prejuízos causados à natureza, podemos concluir que a relativa proteção que a legislação ambiental destina a ela é, na maioria das vezes, insuficiente e ineficaz. Os danos causados são de impossível reparação, pois aquilo que é destruído pode demorar milhares de anos para se recompor. Espécies que foram extintas jamais voltarão a existir. A destruição de ecossistemas pode representar um desequilíbrio irremediável ao sistema. A verdadeira eficiência se traduz na aplicação da educação ambiental em todos os níveis do ensino visando a disseminação de uma cultura estruturada em princípios de eqüidade social e sustentabilidade ambiental. Informar não é o bastante, porém a conscientização, através de práticas de sensibilização e estímulo, mostra-se como uma imprescindível aliada na transformação de comportamentos e valores.

Este pensamento se completa a partir de ações educativas eficazes que induzam à uma ação positiva e conjugada de esforços. Autor: Marco Antonio Bertini Pesquisador em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental EESC/CRHEA/USP

Extraído do site:

http://200.218.9.17/ecopress/eco_detalhes.php3?id_jornal=2&id_noticia=3917


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOBILIZAÇÃO SOCIAL

José Silva Quintas

 

“Eu quero ter o direito de refletir sobre esta história, sobre o grão que se transforma em árvore que se torna móvel e acaba no fogo, sem ser lenhador, marceneiro, vendedor, que não vêem senão um segmento da história".

Edgar Morin

INTRODUÇÃO

Segundo Bernardo Toro “ mobilizar é convocar voluntários a um propósito com interpretação e sentidos compartilhados”. De acordo com esta concepção a mobilização social se distingue da “ manipulação, persuasão e chantagem pública”, por ser, ao mesmo tempo, “ um ato de liberdade e de paixão”, que somente se realiza quando há participação consciente e espontânea dos sujeitos nela envolvidos.

Para este autor uma proposta de mobilização se concretiza quando três condições são atendidas.

A primeira diz respeito a existência de um propósito preciso que corresponde a expectativas e percepções dos atores sociais. Este propósito, denominado imaginário, além de despertar a paixão, deve também direcionar a formulação das metas e dos procedimentos para se atingir o objetivo da mobilização.

A outra condição refere-se à necessidade de pessoas qualificadas para atuarem como multiplicadores. Este multiplicador, também chamado de reeditor, seria um sujeito com capacidade de “ negar, transmitir, introduzir e criar sentidos” e, também, de “ modificar as formas de pensar, agir e atuar do público” ao qual está vinculado.

O terceiro aspecto fundamental da mobilização esta relacionado com o processo de coletivização da prática dos reeditores. Diz-se que há coletivização quando cada reeditor tem a certeza de que os outros reeditores, de sua categoria, estão fazendo o mesmo que ele faz, a partir de idêntico imaginário.

Ainda, segundo o autor, a mobilização, enquanto ato intencionado, necessita da ação de um produtor social, entendido como pessoa ou instituição com legitimidade, capacidade técnica e financeira para fazer uma proposta de mobilização à sociedade. O produtor social, além de propor idéias, organizar finanças e equipes, articular atores sociais, identificar reeditores, também, “ de alguma forma deve interpretar a intenção de sentidos que se quer imprimir a um imaginário específico.”

No caso do Brasil, ao se discutir a mobilização social, na esfera do meio ambiente, pelo menos três questões subjacentes devem ser objeto de exame.

São elas:

1) A percepção da sociedade brasileira sobre a questão ambiental;

2) A gestão ambiental no Brasil e a distribuição de benefícios e custos decorrentes da apropriação dos recursos naturais na sociedade brasileira;

3) A Educação no processo de gestão ambiental.

 

1- A Percepção da Sociedade Brasileira sobre a Questão Ambiental

Para se esboçar um quadro compreensivo sobre a visão da nossa sociedade sobre a problemática ambiental se utilizará alguns resultados das pesquisas realizadas por Samyra Crespo e Pedro Leitão(92) e Samyra Crespo(97) que investigaram a percepção do brasileiro sobre esta questão. Obtidos a partir de pesquisas qualitativa e quantitativa(amostra representativa da população brasileira com idade a partir de 16 anos), estes estudos constituem o mais completo banco de dados disponível no Brasil sobre como a temática ambiental é percebida e sentida em nossa sociedade.

A seguir são apresentadas algumas conclusões extraídas do relatório parcial da pesquisa “ O Que o Brasileiro Pensa sobre o Meio Ambiente, Desenvolvimento e Sustentabilidade”, coordenada por Samyra Crespo(97) , muito úteis para a discussão do tema desta mesa.

Uma das principais conclusões que a pesquisa nos permite tirar é a de que há uma significativa - consciência ambiental - no Brasil, muito embora o brasileiro continue se considerando, desde 1992, pouco informado sobre as questões que exigem menções espontâneas. Esta “ consciência” é caracterizada na pesquisa por três componentes básicos: a) uma reverência religiosa perante a natureza, considerada sograda, por mais da metade da população, tanto em 1992 quanto em 1997; b) uma concepção naturalista do meio ambiente, pois são poucos os brasileiros que conseguem enxergar as cidades, favelas, homens e mulheres como parte integrante do mesmo, ainda que mais de 75% da população estejam hoje vivendo em centros urbanos; c) uma disposição em não aceitar a poluição e a degradação ambiental, ainda que isto signifique maior desenvolvimento econômico e mais empregos.

Cresce pouco o nível de informação do brasileiro sobre problemas do meio ambiente, em relação a 1992. 95% alegam nunca ter ouvido falar da Agenda 21, principal compromisso assumido por 179 países na Rio-92, mostrando o baixo impacto das campanhas de Agenda 21, nacional e locais, na opinião pública, de um modo geral. Seu conhecimento da chamada “ agenda ambiental global ” é diferenciado, dependendo do tema. O maior índice de conhecimento fica com o “ efeito estufa”(46%) e o mais baixo, com “ perda de biodiversidade”( 21%).

Os problemas ambientais mais fixados pelo brasileiro são o desmatamento e a contaminação dos recursos hídricos.

A pesquisa indica, igualmente, comparando os dados obtidos em 92 com 97, que as responsabilidades atribuídas à esfera federal do governo começam a diminuir, aumentando, em contrapartida, as responsabilidades atribuídas à esfera municipal. A pesquisa mostra claramente que o brasileiro começa a perceber e apoiar a descentralização e a valorizar as ações locais.

A maioria absoluta da população brasileira, isto é, 80%, tem grande simpatia pelo trabalho das organizações que atuam na defesa do meio ambiente. Contudo poucos brasileiros conseguem mencionar o nome de algum grupo ou organização ambientalista. O maior índice de lembrança foi alcançado pela agência governamental federal IBAMA, 8%, mesmo percentual de 92, mostrando que tanto as governamentais quanto as não-governamentais não têm conseguido dar maior visibilidade ao seu trabalho. Somente 1% declarou ser filiado a alguma organização deste tipo e poucos estão dispostos a contribuir com dinheiro.

Mas a pesquisa revela que há uma grande disposição da população para o trabalho voluntário, sobretudo entre os jovens.

Embora o meio ambiente não apareça entre as principais preocupações dos brasileiros - desemprego, saúde, educação, segurança e moradia são as prioridades mais citadas - ele ocupa o 7° lugar nas preocupações das pessoas com renda mais alta e mais educadas. Entre as pessoas de menor escolaridade e menor renda, esta preocupação cai para 11° lugar.

Tanto em 92 quanto em 97, os empresários são os vilões do meio ambiente.

Eles constituem o grupo que recebe a pior avaliação da população. Para reduzir a poluição de origem industrial, mais da metade dos brasileiros acredita que o governo deve votar leis mais rigorosas. 35% são a favor de incentivos às industrias, tais como descontos nos impostos, para que invistam em preservação do meio ambiente.

Campanhas para separação de lixo para eliminar o desperdício de água e energia no consumo doméstico continuam contando, desde 92, com a adesão da maior parte da população. Também é significativa a disposição para participar de mutirões de reflorestamentos. De um modo geral, quando se trata de fazer sacrifícios que resultem em melhoria do meio ambiente, os brasileiros preferem mudar hábitos e atitudes do que dispender dinheiro( como pagar um imposto para despoluir, comprar produtos mais caros, desde que menos agressivos ao meio ambiente , etc). Como em 92, os brasileiros acreditam que a educação ambiental é a chave para a mudança. 95% da população são a favor de que ela se torne obrigatória nas escolas.

A predominância, entre a maioria dos brasileiros, com idade igual ou superior a 16 anos, de:

I) Uma concepção naturalizada do meio ambiente e sacralizada de natureza, que nega ao ser humano a condição de ser natural;

II) Um baixo índice de participação organizada em defesa do meio ambiente; e

III) um nível insatisfatório de informações sobre a temática ambiental, se de um lado constituem um grande desafio para os Programas de Educação

Ambiental, também , fornecem indicações preciosas para os seus rumos no Brasil.

A construção, pela sociedade brasileira, de um estilo de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente seguro( responsável) passa, necessariamente, pela ação coletiva e organizada do cidadão, pela democratização do acesso ao conhecimento e à informação e pelo resgate do entendimento que o significado do humano é inerente a nossa condição de ser cultural e natural ao mesmo tempo.

Por outro lado, a simpatia da população pelas organizações que atuam na defesa do meio ambiente, sua disposição para trabalho voluntário, principalmente do segmento jovem, bem como a vontade de se filiar a organizações ambientalistas e de participar de campanhas contra empresas que poluem, referida a uma pequena fração de respondentes, são aspectos relevantes a serem levados em conta no planejamento e execução dos programas de Educação Ambiental e de Mobilização Social.

2 - Gestão Ambiental no Brasil - Distribuição de Benefícios e Custos decorrentes da Apropriação dos Recursos Naturais na Sociedade Brasileira.

A chamada questão ambiental diz respeito aos diferentes modos pelosquais a sociedade através dos tempos se relaciona com o meio físico-natural. O ser humano sempre dependeu dele para garantir sua sobrevivência. Em nenhum momento de sua história, a humanidade viveu sem o auxílio do meio físico-natural. O seu uso, como base material de sustentação da existência humana , bem como as alterações decorrentes deste uso, são tão antigas quanto a própria presença do homem no planeta Terra.

Da relação - em diferentes épocas e lugares - dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural emerge o que se denomina neste texto de meio ambiente. Diferente dos mares, dos rios, das florestas, da atmosfera, que não necessitaram da ação humana para existir, o meio ambiente precisa do trabalho dos seres humanos para ser construído e reconstruído e, portanto, para ter existência concreta.

Por tudo isto, afirma-se que meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e assim indissociáveis. Na medida em que o ser humano é parte integrante da natureza, e ao mesmo tempo ser social e, por conseqüência, detentor de conhecimentos e valores socialmente produzidos ao longo do processo histórico, tem ele o poder de atuar permanentemente sobre sua base natural de sustentação (material e espiritual), alterando suas propriedades, e sobre o meio social provocando modificações em sua dinâmica.

No processo de transformação do meio ambiente, de sua construção e reconstrução pela ação coletiva dos seres humanos - são criados e recriados modos de relacionamento da sociedade com o meio natural (homem-natureza) e no seio da própria sociedade (homem-homem). Ao se relacionar com a natureza e com outros homens, o ser humano produz cultura ou seja cria bens materiais, valores, modos de fazer, de pensar, de perceber o mundo, de interagir com a própria natureza e com os outros seres humanos, que constituem o patrimônio cultural construído pela humanidade ao longo de sua história.

A concepção de que a questão ambiental diz respeito à relação sociedade-natureza, não é suficiente para direcionar um processo de análise e reflexão que permita a compreensão deste relacionamento em toda a sua complexidade. É necessário, ainda, assumir-se que a construção do conhecimento sobre esta relação se realiza sob a ótica dos processos que ocorrem na sociedade. Isto significa que a chave do entendimento da problemática ambiental está no mundo da cultura ou seja na esfera da totalidade da vida societária. Contudo, não se está afirmando que o conhecimento do meio físico natural não seja importante para uma compreensão da problemática ambiental. É mais do que importante, é fundamental para se aferirem as implicações da ação do homem no meio natural, para o próprio meio e para o meio social. Afinal, são as práticas do meio social que determinam a natureza dos problemas ambientais que afligem a humanidade.

É neste contexto que surge a necessidade de se praticar a Gestão Ambiental.

A Gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que agem sobre os meios físico natural e construído.  

Este processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também como se distribuem na sociedade os custos e os benefícios decorrentes da ação destes agentes.

No Brasil, o Estado, enquanto mediador principal deste processo, é detentor de poderes, estabelecidos na legislação, que lhe permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais (incluindo a criação de mecanismos econômicos e fiscais) até a reparação e a prisão de indivíduos pelo dano ambiental. Neste sentido, o Poder Público estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador, promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora.

Por outro lado, observa-se, no Brasil, que o poder de decidir e intervir para transformar o ambiente seja ele físico, natural ou construído, e os benefícios e custos dele decorrentes estão distribuídos socialmente e geograficamente na sociedade de modo assimétrico. Por serem detentores de poder econômico ou de poderes outorgados pela sociedade, determinados grupos sociais possuem, por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente na transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade do meio ambiental. É o caso dos empresários (poder do capital) dos políticos (poder de legislar); dos juízes (poder de condenar e absolver etc); dos membros do Ministério Público (o poder de investigar e acusar); dos dirigentes de órgãos ambientais (poder de embargar, licenciar, multar); jornalistas e professores ( poder de influenciar na formação da "opinião pública"), agências estatais de desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de infra-estrutura) e de outros atores sociais cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade ambiental e conseqüentemente na qualidade de vida das populações.

Há que se considerar, ainda, que o modo de perceber determinado problema ambiental, ou mesmo a aceitação de sua existência, não é meramente uma função cognitiva. A percepção dos diferentes sujeitos é mediada por interesses econômicos, políticos, posição ideológica e ocorre num determinado contexto social, político, espacial e temporal.

Entretanto, estes atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam em conta os interesses e necessidades das diferentes camadas sociais direta ou indiretamente afetadas. As decisões tomadas podem representar benefícios para uns e prejuízos para outros. Um determinado empreendimento pode representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto pessoal para moradores de certas áreas, votos para políticos, aumento de arrecadação para Governos, melhoria da qualidade de vida para parte da população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo para outros empresários, desemprego para outros trabalhadores, perda de propriedade, empobrecimento dos habitantes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição atmosférica e hídrica, desagregação social e outros problemas que caracterizam a degradação ambiental.

Portanto, a prática da gestão ambiental não é neutra. O Estado, ao assumir determinada postura frente a um problema ambiental, está de fato definindo quem ficará, na sociedade e no país, com os custos e quem ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele físico, natural ou construído.

Isto fica visível quando se investiga conflitos sócio-ambientais** ocorridos em vários pontos do País. Carvalho e Scotto(1995) , que analisou 273 agressões ao meio ambiente, mencionadas na imprensa nacional, regional elocal constatou que 50% dessas, o agente responsável pertencia à esfera do capital privado, enquanto que 27%(empresas e órgãos da administração pública) ao Estado. Do total dos casos estudados 63% referem-se a conflitos que envolviam poluição do ar(8%), de águas(32%), degradação do solo(23%) enquanto 37% referem-se à apropriação privada de espécies da fauna e flora e de minerais para comercialização. Por outro lado, a pesquisa constata que considerando a alta participação do capital privado e do Estado como atores de agressão ambiental( juntos somam 76% dos casos) é oportuno verificar que 40% dos casos onde o capital agiu como agressor não tiveram qualquer desdobramento, caracterizando uma margem expressiva de impunidade”.

A assimetria na distribuição dos custos e benefícios decorrente da apropriação e uso dos recursos ambientais no Brasil, fica patente quando se analisa os casos do uso do solo e da água doce para consumo humano.

No caso do uso do solo, 2,8% dos proprietários rurais do Brasil se apropriam de 56,7% da área total dos imóveis rurais existentes no País, enquanto que para 89,1% de minifundiários e pequenos proprietários rurais resta apenas a fração de 23,3% desta área .

Quando se examina a distribuição de água doce para consumo da população urbana, através de rede geral, observa-se que aos segmentos de maior renda correspondem índices maiores de acesso. Em 1990, enquanto 95% da população com renda acima de cinco salários mínimos( 5 S.M) estava abastecida de água por rede geral, somente 75% da população com renda entre zero e um salário mínimo( 0 - 1 S.M) tinha acesso a este serviço.

Da mesma forma, os serviços de coleta de lixo e de esgotamento sanitário, por rede geral, contribuem significativamente para melhorar a qualidade de vida das pessoas, são distribuídos obedecendo o princípio “ quem tem mais recebe mais. Assim é que, em 1990, da população urbana que possuia renda superior a cinco salários mínimos (5 S.M), 63% dispunha de esgoto sanitário ligado à rede geral e 89% usufruira da coleta de lixo. No mesmo ano, da população cuja a renda se situa na faixa de zero a um salário mínimo( 0 -1 S.M), apenas 23% tinha suas residências ligadas a rede geral de esgotamento sanitário e 51% tinham acesso à coleta de lixo.

Por outro lado, quando se considera a distribuição de renda no Brasil, que em última análise , corresponde à distribuição de benefícios do processo de apropriação dos recursos naturais, verifica-se que o País possui uma das maiores concentração de renda do Planeta. Os 10% mais ricos da população brasileira dispõem de uma renda cerca de 30 vezes maior do que a dos 40% mais pobres.

Entre as décadas de 60 e 90, a renda dos 20% mais ricos da população cresceu 11 pontos percentuais(passou de 54% para 65%) enquanto que a fração de renda do País apropriada pelos mais pobres decresceu 6 pontos percentuais( diminuiu de 18% para 12%).

- A Educação no Processo de Gestão Ambiental "Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais".

Paulo Freire.

 

O desafio que se coloca para a educação ambiental, enquanto prática dialógica, é o de criar condições para a participação dos diferentes segmentos sociais, tanto na formulação de políticas para o meio ambiente, quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do meio natural, social e cultural. Neste sentido, para que os diferentes segmentos sociais tenham condições efetivas de intervirem no processo de gestão ambiental, é essencial que a prática educativa se fundamente na premissa de que a sociedade não é o lugar da harmonia, mas sobretudo, o lugar dos conflitos e dos confrontos que ocorrem em suas diferentes esferas (da política, da economia, das relações sociais, dos valores etc).

Como se definiu na Conferência de Tbilisi, é fundamental que o processo educativo proporcione ainda:

- uma percepção integrada da natureza complexa do meio físico-natural e do meio construído pelos seres humanos, resultante da interação dos aspectos físicos, biológicos sociais, econômicos e culturais;

- a construção de valores sociais, a aquisição de conhecimentos e habilidades e o desenvolvimento de atitudes voltadas para a participação responsável e eficaz na prevenção e solução dos problemas ambientais e da gestão da qualidade do meio ambiente;

- a compreensão das interdependências econômicas, políticas e ecológicas do mundo atual, em que as decisões e comportamentos dos diversos países têm conseqüências e alcance internacional, para o que se requer desenvolver um espírito de solidariedade e uma atitude mais responsável entre eles.

A prática da educação ambiental deve ter como um dos seus pressupostos, o respeito aos processos culturais característicos de cada país, região ou comunidade.

No caso brasileiro, constata-se a existência de diferentes contextos culturais, cada um com suas especificidades. Isto significa reconhecer que há diferentes modos de relacionamento homem-homem e homem-natureza na sociedade brasileira. Esses diferentes modos de relacionamento determinam a existência de conhecimentos, valores e atitudes que devem ser considerados na formulação, execução e avaliação da prática da educação ambiental.

A complexidade da questão ambiental exige, para sua compreensão, uma abordagem metodológica que, sem abrir mão do saber especializado, supere as fronteiras convencionais dos diferentes compartimentos disciplinares em que estão divididas as diversas áreas do conhecimento.

A abordagem interdisciplinar das questões ambientais implica utilizar-se a contribuição das várias disciplinas (conteúdo e método) para se construir uma base comum de compreensão e explicação do problema tratado e, desse modo, superar a compartimentação do ato de conhecer, provocada pela especialização do trabalho científico. Implica, também, construir esta base comum, considerando-se os conhecimentos das populações envolvidas, tendo em vista a especificidade do contexto cultural em que são produzidos.

Delineado o problema, a questão que se coloca é o da formação de um educador capaz de construir e reconstruir, num processo de ação e reflexão, o conhecimento sobre a realidade, de modo dialógico, com sujeitos envolvidos no processo educativo, superando assim, a visão fragmentada sobre a mesma. O educador deve, portanto, estar capacitado para atuar como catalizador de processos educativos que respeitem a pluralidade e diversidade cultural, fortaleçam a ação coletiva, articulem aportes de diferentes saberes e fazeres e proporcionem a compreensão individual e coletiva da problemática ambiental em toda a sua complexidade. Deve estar qualificado também para agir em conjunto com a sociedade civil organizada e sobretudo com os movimentos sociais, numa visão da educação ambiental como processo instituinte de novas relações dos homens entre si e deles com a natureza.

CONCLUSÃO

O ponto de partida da mobilização social está na existência de um imaginário. Segundo Bernardo Toro, “ quando uma sociedade é capaz de entender um objetivo como comum, prioritário para o conjunto dos atores que a formam, converte-o em imaginário. Ou, se raciocinarmos em sentido oposto, quando o imaginário - que pertence à esfera das expectativas, da esperança coletiva de uma sociedade - é proposto, esse imaginário consegue mover essa sociedade.

Para este autor, “ mobilizar é somar singularidades”. No seu entendimento toda mobilização move pessoas concretas e instituições concretas, mas busca, de alguma forma uma globalidade, ou uma universalidade.”

Nesta concepção está implícita que o conceito de mobilização está associado à construção , na sociedade, de consensos amplos, em torno de imaginários.

Ao contrário do que parece, à primeira vista, a área ambiental, por lidar com direitos difusos e estar vinculada a questões estruturais da sociedade, não é um território fácil para se produzir consensos. talvez isto explique as dificuldades de implementação das principais convenções assinadas durante a Rio-92 e, também, o motivo de tantas campanhas voltadas para sensibilização do público, com foco em aspectos pontuais da problemática ambiental.

No caso do Brasil, à complexidade intríseca da questão ambiental, agregam-se especificidades da sociedade brasileira que tornam, ainda, mais difícil a construção de consensos sobre aspectos relevantes desta temática que envolvam os setores hegemônicos do capital, da política e da alta burocracia do Estado, cuja ação tem grande influência na qualidade do meio ambiente. A alteração deste quadro, passa pela mudança na estrutura de poder na sociedade, o que dificilmente se fará por consenso.

De um lado, o pouco conhecimento sobre a problemática ambiental, observado em todos os segmentos da sociedade brasileira, a dificuldade da sociedade civil agir organizadamente e o modo como são distribuídos os benefícios e os custos decorrentes da apropriação dos recursos naturais, colocam em dúvida a possibilidade de se implementar programas de mobilização social, com foco em aspectos estruturais da problemática ambiental do País, que consigam articular a participação ampla e diversificada de atores sociais.

Dificilmente os conglomerados financeiros com interesses em empreendimentos imobiliários ou na implantação de complexos turísticos na área costeira, apoiariam, por exemplo, um projeto de mobilização social cujo imaginário se focalizasse no resgate da costa brasileira como bem de uso comum da população.

Por outro lado, o Estado Brasileiro que poderia agir como produtor social no processo de mobilização, não dispõe de legitimidade e credibilidade junto ao conjunto da sociedade para tanto. A sua identificação histórica com a minoria que controla os meios de produção, a prática do clientelismo político no seu âmbito, a sua omissão pela incapacidade de agir, tira do Estado Brasileiro a credibilidade necessária para que se qualifique como grande articulador da mobilização daqueles segmentos da sociedade brasileira comprometidos com a causa ambiental.

Neste sentido, a mobilização no que concerne aos aspectos estruturais da problemática ambiental vem ocorrendo numa esfera mais restrita da sociedade. envolvendo atores sociais cujos interesses não são antagônicos em torno de agendas específicas. Por exemplo, conhece-se bastante a aliança dos seringueiros com setores do movimento ambientalista visando combater a destruição dos seringuais nativos do Acre para transformá-los em pastagens.

Da mesma forma, os grandes proprietários rurais conseguiram a aprovação, pelo Congresso Nacional, de um dispositivo, na lei que dispõe sobre a Política Agrícola(artigo 99, Lei 817/91), que lhes permite recompor a Reserva Florestal Legal, na proporção anual de um trinta avos da sua área total, apesar da obrigatoriedade de preservá-la constar do Código Florestal desde 1965.

Exttraído do site: http://www.ibama.gov.br/online/artigos/artigo19.html


Empreendimento x Meio Ambiente: a educação ambiental como instrumento de conscientização da comunidade

Cláudio Jorge Cançado Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais – UFSCar Mestre em Engenharia Urbana – UFSCar Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG Engenheiro Civil e Sanitarista - UFMG

Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Mestranda em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos – UFMG Especialista em Gestão Ambiental Empresarial – PUC/Minas Bióloga – PUC/Minas

Atualmente, a sociedade vive o que pode ser considerado um paradoxo: como sobreviverá um modelo econômico de desenvolvimento baseado na exploração de recursos naturais, sem considerar a sua auto - sustentação e desconsiderando as mais elementares noções sobre os processos ecológicos?
É de conhecimento geral que toda atividade humana, principalmente, o uso de energia, a produção industrial e o desmatamento causam desequilíbrios ecológico e ambiental, muitas vezes irreversíveis à estabilidade do planeta Terra. Em contrapartida, o desenvolvimento é inevitável e deve servir à causa humana e não contra esta.
A ISO 14000 junto com a Agenda 21 são megaprodutos da ECO’92, a ISO 14000 visa o mercado enquanto a Agenda 21 é destinada à sociedade em geral e aos governantes. Ambos são instrumentos para o desenvolvimento sustentável, pois integram a idéia preservacionista ao benefício econômico através de uma política ambiental de sucesso que atenda a competitividade de uma economia globalizada.
A proposta moderna é baseada não na detenção da posse do recurso e, sim, em saber usá–lo racionalmente.
Pode-se citar como exmplo hipotético, uma cidade de 20.000 habitantes apresentando toda a infra-estrutura necessária a sua população. Uma cidade cercada por planícies e florestas naturais preservadas por seu valor turístico e histórico. Apresenta solos férteis, fauna e flora diversificada, nascentes de rios, áreas de recarga de aqüíferos, animais raros em vias de extinção, enfim um ecossistema característico rico de biodiversidade e troficamente estável. A cidade orgulha-se de suas riquezas naturais e de sua cultura mesclada por esse ecossistema que interage com seus habitantes.
Um empresário com o intuito de propiciar um “desenvolvimento” para esta cidade, propôs a instalação de uma fábrica que causará um alto impacto ambiental. A área escolhida se localizava próxima às áreas preservadas. Negociou-se com a Prefeitura e com a Câmara a autorização do empreendimento na região, alegando-se abertura de vários postos de emprego, resultando numa forte repercussão popular. Seguindo os trâmites legais, os estudos ambientais caracterizados pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA) foram executados e apresentados ao órgão fiscalizador. Após uma tumultuada audiência pública, mesmo com forte resistência da sociedade civil ao empreendimento, alicerçada na falta de conhecimento sobre o processo produtivo e sobre o impacto que o mesmo teria sobre a região, o órgão ambiental aprovou o empreendimento e suas respectivas medidas mitigadoras. Várias organizações da sociedade civil, dentre elas uma associação de defesa ambiental, tentaram paralisar a implantação do empreendimento alegando-se a falta de informações complementares sobre os impactos advindos daquele empreendimento e o esclarecimento da população dos possíveis danos ambientais do mesmo. O juiz entendeu como válida a alegação e embargou o empreendimento. Após uma nova audiência pública de esclarecimentos, o empreendimento obteve sua licença de instalação. Ainda assim, até a presente data, o empreendimento possui ampla desaprovação de entidades civis, pois não houve esclarecimentos adequados para a população do que é um desenvolvimento sustentável e de como o empreendimento poderia se instalar de maneira que suas ações pudessem conviver em harmonia com o meio ambiente.
A situação hipotética acima citada pode acontecer a qualquer cidade. A pergunta que se faz é: como empresários e sociedade podem implantar empreendimentos em áreas de risco de maneira a integrar a comunidade e o empreendimento no sentido de garantir o desenvolvimento sustentável?
Refletindo-se profundamente sobre o assunto, observa-se que a educação ambiental seria uma solução amplamente benéfica tanto para o empreendedor quanto para a comunidade envolvida em questões ambientais. Afinal, subentende-se como educação ambiental, a educação para a resolução de problemas a partir de bases filosóficas do holismo, da sustentabilidade e do aprimoramento (Agenda 21). Seu objetivo é aperfeiçoar as relações homem e ecossistemas de uma maneira global e permanente, buscando soluções melhores e cada vez mais integradas com a comunidade e o meio ambiente do qual o mesmo faz parte.
Mostra-se claro que a relação entre empreendedor e comunidade deve ser buscada de forma cristalina e verdadeira, já que ambos se mostram hostis em interagirem-se. A integração entre as partes pode conduzir a um processo de gestão ambiental benéfico para as mesmas, onde todos estão interessados numa qualidade de vida melhor subtendendo-se emprego, saúde, segurança, lazer, entre outros.
A Carta de Belgrado escrita em 1975 por especialistas em educação ambiental de todo o mundo expressa que a meta da educação ambiental é:

“Desenvolver um cidadão consciente do ambiente total, preocupado com os problemas associados a esse ambiente e que tenha o conhecimento, as atitudes, motivações, envolvimento e habilidades para trabalhar individualmente e coletivamente em busca de soluções para resolver os problemas atuais e prevenir os futuros.”

Analisando-se a afirmação acima, cabe aqui um comentário sobre a cidadania. A cidadania é um dever de todo indivíduo, sendo ele de qualquer raça ou credo. A comunidade é composta de cidadãos e, assim sendo, cada empresário e político também o são. Logo, não basta uma educação ambiental voltada para a comunidade sem que os empresários e os nossos governantes sejam inseridos nela de maneira intensa e produtiva.
Faz-se de grande necessidade que nossos governantes e empresários saibam como os processos biológicos são importantes para a nossa própria sobrevivência e como esse sistema biológico é frágil, pois trata-se de uma rede de interações complexas onde só contemplamos o seu desequilíbrio quando somos atingidos por ele.
Observa-se, por exemplo, o problema dos recursos hídricos. Guerras são iniciadas e terminadas por eles. No Brasil, os rios urbanos são verdadeiros esgotos a céu aberto. A capacidade de recarga dos rios está cada vez mais comprometida por uso inadequado do solo, pela especulação imobiliária, pelo descaso dos nossos recursos naturais, enfim por ignorância. Quantas enchentes mais serão necessárias?
Gandhi dizia: “a Terra é suficiente para prover as necessidades de todos, porém não para a ganância de todos.”
Assim sendo, se administrarmos com eficiência e sustentabilidade os recursos da Terra, eles serão suficientes para preencher a necessidade de todas as criaturas. Através da educação ambiental, podemos compreender totalmente como o mundo funciona e quão pouco sabíamos sobre ele. Podemos desenvolver nossas atividades econômicas de uma maneira ambientalmente saudável, bastando apenas entender os seus riscos e como superá-los.
Uma abordagem eficiente da educação ambiental se faz de maneira contínua, avaliando seus processos e resultados. Isto é, uma análise cuidadosa acompanhada por uma experimentação lenta seguida de uma avaliação constante e real dos progressos e/ou erros cometidos, somada à vontade de modificar as ações e estratégias vigentes.
Nessa abordagem, se torna complementar a análise não racional através da intuição, da percepção, do respeito e da compaixão. A cultura e o saber prático devem ser levados em conta em qualquer processo de educação ambiental. Ambos os saberes racional e não racional são necessários. São dons humanos preciosos e acima de tudo harmônicos e complementares.
Esta proposta com algumas variáveis traduz o conceito de Desenvolvimento Sustentável em que foi estabelecido que é necessário desenvolver-se técnico, econômico e socialmente para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo.
A área ambiental é relativamente nova, no tocante às tecnologias limpas, aspectos gerenciais, mercadológicos, sociais, políticos e econômicos, evoluindo diariamente, exigindo atitudes conscientes de todos os estames sociais. Por isso, é importante que cada ser humano se conscientize como um instrumento de grande valia neste processo quer seja no âmbito acadêmico, quer no de pesquisa, quer no estratégico, devendo ampliar e conhecer até que ponto sua atuação é legal, útil e de fundamental importância.
Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, a busca de tecnologias limpas é essencial para minimizar as atividades impactantes que são necessárias no mundo moderno.
Constata-se ainda que há um grande desenvolvimento de técnicas biológicas e de engenharia para a recuperação de áreas degradadas. De um modo geral, o ser humano ainda não apresenta um comportamento provido de uma consciência ambiental satisfatória que preencha as necessidades sociais e econômicas conforme as exigências legais. Transcrito da na Revista SEMEARH 01

Extraído do site: http://www.ecolatina.com.br/artigos/educamb/edu_0008-1.htm


Um homem chamado Peixe

<mailto:no@no.com.br> Fernando Gabeira <no@no.com.br>

 

[ 16.Out ] Um homem de 1m60m, pesando uns 50 quilos, meio curvo, descalço, pele curtida de sol e sal, as calças amarradas por um cordão, ele tem o nariz de águia, mas, na verdade, é um peixe - Zé Peixe, lendário prático do porto de Aracaju - SE que, aos 74 anos, ainda nada 11 quilômetros e, no meio de ondas gigantescas, conduz os barcos à saída da barra.

Convivendo com sua estátua, erguida a alguns quilômetros de sua casa, Zé Peixe ganhou muitas medalhas por salvar náufragos e navios e sua história correu o mundo, porque tinha o hábito de saltar 17 metros do alto dos navio  e voltar nadando para a praia.

Conhecendo a barra do rio Sergipe como a palma da mão, Zé do Peixe embarcava em grandes navios e era seguido por um rebocador com a missão de trazê-lo de volta, assim que vencesse os perigos da barra e colocasse a embarcação em rota segura. No momento do transbordo para o rebocador, Zé do Peixe saltava do alto do navio e voltava nadando.

Os capitães estrangeiros ficavam perplexos. Um russo achou que Zé Peixe estava tentando suicídio e acionou a tripulação para que o detivesse. Mesmo assim, ele saltou para as águas escuras do litoral de Sergipe. Seguiu a história do mundo nessas praias, trazendo e levando navios.

Quando criança testemunhou uma tragédia: o naufrágio do navio Aníbal Benévolo que vinha do Rio para Aracaju e foi bombardeado por alemães. Viu os corpos na praia, com as maletas de viagem, viu o saque de seus bens, o desespero das famílias e a cena pode ter marcado sua vida. Diante dele, ali naquela barra não haveria mais naufrágios.

Nascido e criado na avenida Ivo Porto, numa casa ao lado da capitania, Zé Peixe não se lembra quando aprendeu a nadar. Para ele, é como se tivesse nascido sabendo. Filho de um influente político sergipano, Nicanor Nunes, Zé fez de uma travessura seu primeiro barco. Ele levou um baú da familia e conseguiu adaptá-lo e se lançar ao mar.

Quando passou para uma canoa, sua desenvoltura no mar impressionava aos capitães e marujos. Um deles ao ver o menino navegar e nadar, encontrou o nome que o define Zé Peixe, a capacidade humana de viajar pelas águas e a líquida adequação às ondas do mar.

Aos 25 anos, já como prático, Zé Peixe fez o primeiro grande salvamento. Ele conduzia uma iole do Rio Grande do Norte para fora da barra e o barco virou.

Zé tinha levado sua irmã Rita, dez anos mais nova que ele. Os dois conseguiram trazer os tripulantes para a praia, apontando o caminho , sustentando-os quando pareciam se afogar. A partir desse dia, Rita também passou a ser chamada Rita Peixe.

Aos 64 anos, Rita hoje é mãe de seis filhos e só costuma mergulhar na piscina de sua casa. Mas lembra-se bem de como nadou no mar revolto, orientando o mais velho dos marujos potiguares a prosseguir para a praia.

Foi a primeira chegar. Pediu socorro por Zé Peixe que vinha trazendo todos os outros. Os escassos automóveis de Aracaju rumaram para a praia e acenderam seus faróis e Peixe, atraído por eles como uma mariposa, acabou chegando a praia. Todos salvos.

Esse ato de heroismo valeu a Zé Peixe uma medalha de ouro, comprada pelo povo do Rio Grande do Norte. A medalha foi roubada por um amigo, mas Zé Peixe parece não ter se importado muito com isto. É um homem despreendido e, além disso, sabe que, mesmo no mar, não se pode contar com todos a seu favor. As caravelas, uma bolha com um rastro azul, queimam seu corpo quase sempre, assim como os miquins, um peixe que incha quando se coça sua barriga, costumam espetar seus pés.

Todos os diplomas, medalhas e honrarias que Zé Peixe foi colhendo em sua vida estão num quarto fechado no casarão onde mora. Bolor, poeira cupins destroem rapidamente suas memórias e o impulso que se tem quando se vêem os papéis amarelados e dilacerados, é de levá-los para um lugar seguro e catalogá-los.

Isso seria perigoso pois roubaria de Zé Peixe uma tática singular de triunfar sobre a morte. Convivendo com papéis amarelados que enaltecem seus feitos, ele acompanha diariamente sua decomposição, vendo-os desaparecer antes dele. Zé Peixe consegue asssim sobreviver à memória dos seus feitos, subvertendo a ordem biográfica dos heróis.

O cotodiano de um homem chamado Peixe não se compara com quem vive na terra firme. Ele acorda e mergulha diante de sua casa. Não toma banho de água doce desde a II Guerra. Às vezes quer visitar a irmã , sai nadando e irrompe em sua praia. Para levar documentos, cartas, usa plástico e nada com com sua carga colada no corpo.

Praticamente não come. Alimenta-se de fruta e pão, toma café. Vive colado ao telefone, esperando que o chamem para um serviço no mar. Aposentado, faz free lancer com prático e o dinheiro que ganha dá para os netos e amigos que o procuram. O casarão da família, de onde ele jamais saiu, tem as paredes descascadas, alguns móveis estão cobertos com panos, o velho piano atacado por cupins. É como se deixasse a casa envelhecer com ele e estar pronta para a demolição com sua morte.

Ele se lembra do tempo em que os manguezais de Aracaju não tinham sido devastados pela especulação imobilária. Aliás, alguns grandes empreendimentos da cidade não teriam sido feitos, sobretudo os aterros, se consultassem Zé Peixe. Sua experiência nadando pelo litoral o fez conhecer detalhes que os próprios engenheiros e arquitetos ignoram. O movimento das areias por exemplo. Zé Peixe trabalha sempre sabendo para onde os ventos movem a areia, transformando um lugar calmo em perigoso e vice-versa.

Os navios já não chegam mais tão perto como chegaram. Foi construído um porto off-shore . Mas o desquilíbrio causado pelos aterros é visível e barreiras de pedra foram construídas para tentar atenuá-lo. Zé Peixe acompanha cada mudança e nenhuma talvez tenha sido mais direta quanto a descarga de esgoto nas águas que chegam perto de sua casa. Mesmo assim, continha mergulhando como se a pele escamosa e curtida criasse defesas inexpugnáveis.

Alguns sinais da idade mostram que nem o corpo de Zé Peixe escapou do processo que corrói sua casa, os papéis e consome os manguezais de sua infância. Um cabo mal lancado atingiu seu olho esquerdo e perdeu parte da visão. Seu pavor é o que o declarem incapaz para o trabalho. A médica que o atende confessa aos amigos que é o único cliente que pede ardentemente para minizimar seu problema e deixá-lo trabalhar. A maioria esmagadora vai numa direção simetricamente oposta.

Zé Peixe anda descalço e foi assim que o conheci, em 96, no aeroporto de Aracaju. Dizem que tinha medo de não o deixarem entrar por não trazer os sapatos. Na verdade, Zé Peixe tem sapatos e os leva no ombro para calçá-los numa única hipótese: a missa dominical. Católico, herdou essa crença da mãe, uma vez que o pai era ateu e a única concessão que fez no leito de morte foi admitir que se Deus existisse seria uma grande surpresa. Zé Peixe não dorme em cama. Ele prefere o chão e confessou à irmã que não quer relaxar muito o corpo pois podem precisar , de repente, e o alcançam com o sono leve. Os amigos acham que se parar de trabalhar, Zé Peixe morre, embora nem todos aprovem sua frugalidade radical.

Zé Peixe se casou uma vez, ficou viúvo ainda na metade da vida. Nunca mais namorou. No casarão onde vive, vive um irmão mais velho, doente e um empregado. E há os gatos que ele acaricia., quando volta do mar.

Desempregados às vezes batem a sua porta. Ele ajuda. Sabe que a vida é difícil e que mesmo os peixes são mais escassos.

Tanto quanto a devastação dos manguezais, preocupa a Zé do Peixe a disaparição dos navios. Para ele, os carros foram substituindo os barcos, novas rodovias iam encurtando seu tempo de trabalho e, de repente, quase todo barco que vê é de bandeira estrangeira. Zé Peixe fala inglês, trabalha também com os estrangeiros, mas gostaria de mais movimento.

O menino que fez de um baú seu primeiro barco e que conhecia a riqueza dos manguezais, resiste toda a manhã mergulhando em águas poluídas, esperando que um barco o chame. A escassez de barcos e manguezais é o cenário onde Zé Peixe espera sua morte Ele ensinou o neto Kiko a nadar e espera que continue a tradição. Mas sabe que os mares mudaram e não estão mais para peixe.


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