InformaLista
O Informativo da lista “Educaço
Ambiental”
Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)
Os textos não passaram por
revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.~
Uma floresta de papel
Josiane Giacomini Alves, do Cosmo On Line
Você acha possível um livro ter 178 árvores inteiras e mais 662 passarinhos? Pode acreditar: o livro Para se ter uma floresta, de João Proteti, tem sim. Mais: um a um - as árvores e os passarinhos - foram desenhados por ele, com lápis de cor. Isso sem falar no texto. O trabalho demorou seis meses para ficar pronto.
O livro Para se ter uma floresta foi editado pela Papirus, custa R$ 15,00 e já pode ser encontrado nas livrarias. Confira agora um pouquinho das idéias do João Proteti.
Cosmo Criança -
Quando e como aconteceu a idéia de fazer o livro Para se ter uma floresta?
João - Desenho árvores e pássaros desde sempre e acho que eles estavam
prontos e armazenados aqui dentro. De repente, no estalo, saíram com texto e
...pronto.
O seu livro tem 178 árvores
e 662 passarinhos (contando com a capa). Quanto tempo você levou para fazê-los?
Desenhei e colori um a um, com tamanha alegria que me esqueci de contar o tempo.
Você usou muitos lápis
de cor para fazer o livro?
Não sei quantos lápis usei, mas foram muitos. Tão bom tê-los esparramados na
mesa por seis meses e fazê-los virar árvores, passarinhos, chuva, semente...
E porque você escolheu
lápis de cor?
Trabalho sempre com lápis de cor. Dificilmente uso aquarela ou acrílica.
Certamente é pela leveza e delicadeza que minhas idéias pedem. Principalmente
no Para se ter uma floresta.
Algum passarinho que
lhe serviu de base?
Os passarinhos não são baseados em passarinhos reais. Quem me dera que eu
fizesse passarinhos belos como os de Deus! E eu gosto de todos, por igual.
Você costumava
desenhar muito quando era pequeno?
Não muito. Talvez um pouco mais do que normalmente crianças desenham.
Você acha que
escrever/desenhar sobre temas como a preservação ecológica é um jeito de
'acordar' a garotada? Você tem essa intenção quando faz um trabalho assim?
Sabe, desde pequeno que os lápis verde e azul sempre acabam primeiro nas minhas
caixas de lápis de cor. Depois de adulto é que vim perceber e saber que sempre
fui ecológico, sem saber que era. Sempre desenhei árvores, céu, arco-íris,
caminho, chuva, passarinho, montanha, planície, mas nunca tive essa preocupação
de acordar ou conscientizar outras pessoas para a questão da ecologia. Tudo que
faço, faço porque preciso fazer, por mim. Claro que se as pessoas se
conscientizarem da sua importância como ser ecológico vendo qualquer trabalho
meu, fico satisfeito.
http://www.cosmo.com.br/crianca/materias/literatura0624.shtm
Cidadania
Ecológica
Promover a qualidade de vida e a consciência ambiental
(texto
organizado a partir de reflexões de Pedro Jacobi[1]
no Jornal da Abong)
Uma forte tendência nas grandes cidades, tem sido o crescimento dos problemas ambientais em função da dinâmica da urbanização predatória. Contribui diretamente para esta realidade, o déficit de moradia especialmente para as populações de baixa renda, que inclusive acabam sendo diretamente afetadas por muitos destes problemas ambientais.
Poucas são as cidades que escapam desse quadro crítico, que combina muitos fatores, entre eles a precariedade dos diversos serviços e a omissão do poder público na proteção/preservação das condições de vida da população. No entanto, há que se reconhecer que o descuido, a omissão, a falta de informação, etc dos moradores dos centros urbanos, também colabora com o agravamento dos problemas ambientais.
Este processo de degradação ambiental que vem ocorrendo em muitas cidades, tem entre outros fatores relevantes a contaminação da água potável, a falta de cobertura da rede de esgotos, o déficit do sistema de tratamento de água servida, os problemas com a destinação do lixo doméstico, a falta de controle sobre a produção dos resíduos tóxicos, a emissão de poluentes oriundos dos veículos, o aumento da proliferação de vetores de doenças oriundas muitas vezes, da falta de educação sanitária e de saneamento, etc.
O grande desafio posto, é a necessidade de fortalecer a importância da qualidade de vida articulada à ampliação da consciência ambiental. Nessa relação a defesa da qualidade de vida, está baseada na noção de bem coletivo que envolve especialmente as condições de saúde, a satisfação das necessidade humanas básicas, as condições de moradia e de transportes, a oferta de educação, o acesso à infraestrutura e a rede de serviços, etc.
Ainda são muito incipientes as mobilizações sociais em torno da necessidade de evitar a deteriorização da qualidade de vida, na perspectiva da cidade como um todo. A população em geral, se mobiliza a partir dos impactos imediatos e ameaças que a emergência do problema acarreta. A classe média brasileira por exemplo, surge à cena pública através de manifestações muitas vezes voltadas para a preservação de áreas verdes, ameaçadas pela especulação imobiliária.
Em algumas ocasiões, o apoio de organizações da sociedade civil em muitas manifestações, possibilita maior visibilidade e repercussão, estrapolando o espaço local. Mais ainda é pouco.
O avanço das práticas mobilizatórias que questionam a dilapidação do meio ambiente através da sua proteção, preservação, conservação, recuperação e controle deve estar apoiado na multiplicação de práticas participativas diversificadas e numa ampla informação ambiental para a cidadania, bem como em campanhas educativas.
O acesso à informação é de considerável importância, pois potencializa mudanças de comportamento necessárias à uma ação mais orientada para o interesse coletivo. Qualquer cidadão bem informado quando amplia seus horizontes de conhecimento, identifica a importância de sua contribuição nos destinos da cidade. O resultado é que a participação ativa pode levar à co-responsabilidade.
O atual quadro de degradação ambiental nas cidades, está a exigir novos valores e comportamentos, tanto no plano individual quanto coletivo como também dos gestores públicos.
No campo da ação das administrações municipais, a questão ambiental merece atenção urgente e de investimentos significativos. Mas além disso, a abordagem dos problemas ambientais, mais do que ações localizadas deve estar presente na construção e realização de um projeto de CIDADE SUSTENTÁVEL. Isto significa entre outros pontos, que uma política ambiental deve ser traduzida nas diversas ações municipais. Nesse sentido, investimentos na área da saúde necessitam de sintonia com o tratamento da questão do saneamento, por exemplo.
Segundo Jacobi, o que está em jogo é a necessidade de responder ao atraso na implantação de infraestrutura ambiental, assim como de reverter a lógica de estimular obras pontuais para responder a problemas muito específicos.
Algumas experiências inovadoras de implantação de Políticas Municipais de Meio Ambiente, revelam que havendo vontade política, é possível viabilizar ações governamentais pautadas pela adoção de princípios de sustentabilidade ambiental, conjugada com resultados na esfera do desenvolvimento social. Um dado relevante desta tendência é com certeza a implementação em algumas cidades brasileiras da Agenda 21 Local[2].
[1] Professor da Unicamp e vice-presidente do CEDEC – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea).
[2] A Agenda 21 Local é a tradução nas cidades, das propostas firmadas pela Agenda 21 Nacional, esta representa um conjunto de compromissos subscritos pelo Brasil durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92). A base desta proposta está centrada na questão da reorientação do estilo de padrão de desenvolvimento para a sustentabilidade, isto é, associando as dimensões da equidade, da sustentabilidade ecológica e da participação social ao crescimento necessário. A Agenda 21 Local já está sendo desenvolvida em cerca de 1.800 cidades em todo o mundo. No Brasil, o número de cidades com este compromisso está em torno de 20.
Biografia Vilmar Berna é jornalista e editor, desde janeiro de 1996, do Jornal do Meio Ambiente, um veículo especializado, de circulação nacional, destinado aos multiplicadores de opinião em meio ambiente no Brasil. O site do Jornal tem recebido prêmios nacionais e internacionais como o melhor site de meio ambiente da internet brasileira. Em 1999, Vilmar Berna foi homenageado pela ONU com o Prêmio Global 500 de Meio Ambiente, sendo o único representante ambientalista do Brasil e da América do Sul naquele ano. Vilmar fundou as ONGs ambientalistas Univerde e Defensores da Terra e preside a Coopernatureza – Cooperativa Multidisciplinar Profissional de Serviços Ambientais, com sede no Estado do Rio de Janeiro, que reúne uma equipe multidisciplinar de especialistas em soluções de problemas ambientais. Também foi fundador do Projeto de Educação Ambiental nas Escolas Clube dos Amigos do Planeta e do Movimento Independente e Suprapartidário Voluntários Ambientais, que teve atuação destacada no caso do acidente com óleo na Baía de Guanabara. |
São Paulo -
Dois anos após a morte
do irmão Cláudio, a quem dedica o livro, Orlando Villas-Bôas lançou A
Arte dos Pajés - impressões sobre o universo espiritual do índio
xinguano. Sua autoridade - merecida após longa experiência em um trabalho
que é referência entre os antropólogos - dá importância ao volume, uma
consciente descrição da prática mística dos povos ditos "não-civilizados".
Villas-Bôas, dotado de sensibilidade humanista, tem um contato direto com o
mundo que revela e capacidade para expressá-lo de forma ao mesmo tempo
simples e aprofundada, ou seja, sem pedantismo acadêmico mas também sem
superficialidade redutora.
Como seria difícil de evitar numa obra de divulgação, o autor demonstra
a preocupação de evidenciar os equívocos que as pessoas do mundo civilizado
têm a respeito dos índios e sua cultura. "O universo do índio não é
simples como muitos possam imaginar", ressalta o sertanista. Segundo ele,
trata-se de uma cultura complexa que tem recebido pouca atenção dos
estudiosos. Essa cultura, admite, tem sido dominada "por uma sociedade
mais forte", num processo de aculturação. Mas não é certo dizer que
os índios tenham parado no tempo: "Sua evolução se dá em outro
ritmo."
A "vida natural" da qual os índios costumam ser símbolo gera
paixões peculiares entre os brancos. Há quem exalte o modo de vida indígena,
crendo-o mais autêntico do caráter animal do ser humano - afinal, os índios
respeitam a natureza que provê seu sustento, vivem em harmonia coletiva,
relacionam-se socialmente de forma mais ética. Para outros, eles representam
uma sociedade arcaica e que não deve ser invejada - seriam coletividades
perdidas em superstições, tecnicamente limitadas e sem capacidade política
para se relacionarem de igual para igual com outras sociedades. De fato,
dificilmente um civilizado se adaptaria totalmente ao modo de vida do índio,
desprovido de quase tudo o que se acredita serem os "confortos" dos
tempos modernos.
Mas a relação dos índios com a natureza e entre eles próprios é
carregada de exemplos para os brancos. O chefe indígena é um conselheiro
cheio de obrigações - alcança essa posição por mérito natural e
inquestionável, passando a ser mais exigido do que antes. Isso é uma lição
para o nosso modelo de autoridade, pelo qual nossos "caciques" fazem
de tudo para chegar a um poder que será recebido mais como um privilégio do
que como uma responsabilidade.
O problema político da questão indígena está em como tornar viável a
convivência pacífica entre os brancos e esse povo que, como diz Villas-Bôas,
"não tem necessariamente de caminhar na mesma direção" que nós.
O poder público do País - que demitiu Orlando da Funai por meio de um fax -
tem um papel relevante nessa questão. Diversas vezes o governo brasileiro
teve atuações positivas, como a do marechal Rondon no início do século, a
expedição Roncador-Xingu na década de 40 - liderada desde o início pelos
irmãos Villas-Bôas, incluindo Orlando - e a criação do Parque Nacional do
Xingu em 1961 (por força dos irmãos Villas-Bôas). Mas a realidade da região
é bastante complicada, e o autor é obrigado a contar, aqui e ali, episódios
cruéis em que serras, facas e farinha de mandioca com arsênico chegaram a
ser instrumentos contra os índios, dos quais lançaram mão seringueiros,
garimpeiros, etc. Evitando maniqueísmo, também procura relatar as fortes
retaliações dos indígenas diante dessas agressões.
Esses temas não poderiam deixar de ser mencionados, mas o assunto central
do livro de Orlando Villas-Bôas é a espiritualidade dos povos do Xingu.
Segundo o sertanista, a concepção de divindade do índio "é fruto de
uma introspecção em que a fé deve nascer da intuição e não da doutrinação
de outrem". Dessa forma, seria em princípio mais pessoal e sensível,
menos convencional e impositiva.
Equilibrado, o autor não faz nenhuma maquiagem, não enaltece as
atividades místicas dos índios nem emprega efeitos literários oportunistas.
Não evita a palavra "supersticiosos" para caracterizá-los e deixa
bem claro, em vários relatos, que os pajés não curam ninguém de graça e
que os mais "famosos" são proporcionalmente mais caros. Mas também
não deixa de expressar seu espanto diante de acontecimentos fantásticos,
como a história de duas crianças que desapareceram durante uma pescaria,
colocaram inúmeras aldeias em polvorosa e reapareceram 14 dias depois, na
hora indicada pelo pajé Tacumã, após sua intervenção ritualística. Esse
equilíbrio e a descrição lúcida tornam o livro fidedigno e permitem que o
leitor tenha um contato com esse universo de uma maneira crítica
A Arte dos Pajés, de Orlando Villas-Bôas. Editora Globo, 126 págs,
R$19,50 http://www.estadao.com.br/divirtase/noticias/2000/set/08/340.htm
"Os índios nada têm a comemorar ou festejar"
Uma das figuras mais importantes na história do contato entre índios e não índios, Orlando Vilas Boas teve um papel ambíguo nessa relação. Ao mesmo tempo em que sempre manifestou uma sincera preocupação com o bem-estar e com a sobrevivência das populações indígenas Orlando esteve junto de algumas expedições do Marechal Rondon pelo interior país. Essas expedições, que estabelecerem o primeiro contato com muitas populações indígenas, também criaram as rotas que foram usadas por madereiros, garimpeiros e industriais responsáveis por muitas das mazelas vividas pelos índios. A Expedição Roncador-Xingu, lançada em 1943 - da qual Orlando participou ao lado de seus irmãos Cláudio, Leonardo e Álvaro e que foi liderada por Rondon - abriu mais de 2 mil Km de picadas, 36 campos de pouso, 42 vilas e cidades em 42 anos.
Hoje, às vésperas da aprovação do Estatuto das Sociedade Indígenas (veja texto), Villas Bôas demonstra estar inquieto com o futuro dos índios que, segundo ele, nada tiveram a comemorar nos festejos do ano passado. Tendo desenvolvido a maior parte de suas atividades no chamado período da "tutela" das populações indígenas - em que os índios eram tidos como populações que não têm condições de assumir integralmente suas responsabilidades - Villas Bôas afirma que "bom seria se sobre eles chegasse a nossa proteção", Para ele, as populações indígenas "caminham para o fim". Foi sobre esse assunto e sobre como os índios encararam as comemorações dos 500 anos que Orlando Villas Bôas falou à revista Com Ciência.
Com Ciência
- Houve alguma mudança na vida dos índios após as comemorações?
Orlando Villas Bôas - Não. A situação continua essencialmente a mesma.
Não obstante, a atual gestão da FUNAI pareça ter um maior interesse que a
desastrada gestão anterior, é possível verificar a continuidade no estado
de abandono das aldeias, sobretudo daquelas que se localizam na faixa litorânea
ou gravitam à margem de grandes centros urbanos, como é o caso das aldeias
do Jaraguá e Parelheiros aqui em São Paulo. Esses são exemplos de uma
pseudo-política integracionista que não integra ninguém, apenas
desestrutura e exclui. As comemorações do Brasil 500 anos foram para
"inglês ver" e, de fato, talvez eles as tenham visto. O índio
certamente não viu nada.
Com
Ciência - Segundo a organização do evento "Brasil 500 anos",
houve uma renda de R$ 4,5 milhões, entre bilheteria e venda de catálogos, de
um total de 1.883.872 visitantes somente na cidade de São Paulo. O Sr. foi
informado se houve ou há algum projeto para que parte desta renda seja
revertida aos indígenas?
Villas Bôas - O evento "Brasil 500 anos" não atingiu o índio.
Ele foi esquecido como esquecido continua sendo. Para boa parte de nossa
gente, e isso inclui até nossas autoridades, o índio é ainda uma figura
folclórica. Desconheço qualquer projeto que estabeleça a reversão de parte
da renda obtida na "comemoração" para as comunidades indígenas.
Com
Ciência - Quando o sr. afirma que "os índios, tal como o conhecemos na
sua cultura pura, não existirão mais", qual o aspecto mais relevante
que o faz pensar assim? Dos 851.196.500 hectares do território brasileiro, as
terras reservadas aos indígenas ocupam 104.367.993, ou seja 12,26%. Este número
é suficiente? Além de outros fatores, isto influencia de que maneira na
expectativa de vida indígena?
Villas Bôas - Os índios caminham para o fim. Bom seria se sobre eles
chegasse a nossa proteção. A proteção do Estado e as da gente. Parece que
nós não levamos em conta que eles nos deram um continente para que nos tornássemos
uma nação. Não creio entretanto que haja apenas um aspecto essencial para
isso. Há, isso sim, uma conjunção de aspectos que vão desde o descaso do
poder público à sanha de riqueza de vários grupos que tornam o índio como
um estorvo, ou como um meio de enriquecimento. Não basta garantir a terra do
índio (o que por vezes nem sequer é feito), é preciso resguardá-lo de um
contato indiscriminado com pessoas que visam explorar as riquezas dessa terra
e de sua cultura.
Com
Ciência - Marechal Rondon tinha como ideal em relação aos índios, o lema
"Morrer se preciso for, matar nunca", que era seguido à risca por
todos os integrantes da Fundação Brasil Central (FBC). Como o sr. vê este
lema nos dias de hoje?
Villas Bôas - Não canso de dizer que vivemos num país sem memória. Não
fosse isso, o velho Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon seria
considerado por todos como o maior homem do século XX. Foi ele que, já no início
da República começou a implantar as linhas telegráficas nas selvas do
Planalto Central brasileiro, desbravando nossos sertões e empurrando nossas
fronteiras até encostar nos andes. Foi ele também que, muito adiante de seu
tempo, criou o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), em 1910. Rondon era um
humanista. O lema "morrer se preciso for, matar nunca", apenas
expressa o ideal de Rondon no trato com estas gentes. Sua preocupação com os
índios foi decisiva na história de nosso país. Nós tivemos o privilégio
de conhecê-lo, e dele nos tornarmos amigos em meados da década de quarenta,
quando engajávamos na Marcha para o Oeste, que havia sido criada em 1943 por
Getúlio Vargas. Lembramos que ainda no início da expedição Roncador-Xingu,
a intervenção de Rondon foi decisiva para que os índios Xavantes não
fossem massacrados por uma frente militar que iria "limpar o
caminho" para a expansão brasileira. Após alertarmos o Marechal a
respeito disso, ele mandou que a frente militar fosse suspensa, e foi quando
assumimos a vanguarda da Expedição. Rondon influenciou toda uma geração de
indigenistas e antropólogos brasileiros, dentre os primeiros incluo a mim, e
a meus irmãos Cláudio, Leonardo e Álvaro. Dentre os segundos, destaco
sobretudo, Darcy Ribeiro. Hoje Rondon está esquecido e, com ele, toda uma política
de trato com os índios que foi se estiolando até descambar no que hoje
temos.
Com
Ciência - Em uma oportunidade, o senhor disse que após tantos anos vivendo
na selva com os índios, de alguma maneira, o sr. se transformou em um deles.
Então, será que o sr. poderia dizer qual foi o significado/ou sentimento que
as comemorações do Redescobrimento do Brasil gerou nos indígenas? Tiveram
motivos ou benefícios para festejar?
Villas
Bôas -
Em verdade não chegamos a nos "transformar" em índios. Entretanto,
o que nos impressionou ao longo do convívio com eles, foi observar uma
verdadeira lição de como se deve viver em sociedade. Nunca vimos dois índios
discutirem, nem um casal se desentender. Entre os índios, o velho é o dono
da história, o homem é o dono da aldeia, e a criança é a dona do mundo.
Diante do que vimos, hoje podemos aquilatar o que não devem eles ter sofrido
ante uma gente desordenada e, por essa razão, os índios nada têm a
comemorar ou festejar.
http://www.comciencia.br/entrevistas/boas.htm
PERFIL DA LEI DE POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Prof. Dr. Sirio Lopez Velasco (FURG/ E-mail: decsirio@super.furg.br)
Todos sabemos que o Brasil é considerado um pais no qual certas leis "pegam" e outras não; isto é suficiente para que tenhamos clareza que no domínio da Educação Ambiental (EA), como em qualquer outro, a lei não é garantia de nenhuma mudança efetiva na ordem das coisas. Mas, ao mesmo tempo, é necessário frisar que a lei é um quadro que pode facilitar e reforçar iniciativas e ações de mudança efetiva. É nesse sentido que considero que a atual Lei (nº 9795 de 27/04/1999) que "dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental" (PNEA,), " e dá outras providências", independentemente das suas limitações, deve ser apreciada como um instrumento útil ao desenvolvimento das atividades de educação ambiental presentes e futuras. Cabe aos agentes destas ações a dupla tarefa simultânea de zelar pelo cumprimento da atual lei e propiciar as alterações que venham a suprir carências da mesma.
No que segue tentarei destacar brevemente alguns tópicos da lei que considero particularmente importantes com vistas: 1) ao esclarecimento de certos conceitos capitais em matéria de EA, 2) das esferas de ação em EA e, 3) dos espaços que daqui para a frente podemos construir fazendo convergir os esforços atuais e futuros em matéria de EA.
1. ALGUNS CONCEITOS-CHAVE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Tenho definido a educação ambiental a partir da concepção freiriana da educação e do horizonte utópico rumo ao qual entendo a humanidade deve orientar a sua caminhada na História.
Lembremos que para Freire educar-se é conscientizar-se, e que "conscientização" significa desvelamento crítico das instâncias de dominação existentes na realidade e transformação dessa mesma realidade rumo a uma sociedade sem opressores nem oprimidos freire 1970 e 1982).
Se ampliamos a perspectiva em abordagem sócio-ambiental então podemos estender o desvelamento crítico ao conjunto das instâncias de dominação e devastação, e a ordem sócio-ambiental visada será aquela na qual os seres humanos se reconciliem fraternalmente entre si e também com o restante da natureza, mediante a prática de um intercâmbio que permita a preservação ou a permanente regeneração da natureza não-humana.
A reconciliação fraternal entre os seres humanos significa a constituição histórico-real do gênero humano, que deixa assim de ser uma simples figura lógico-lingüística, para designar uma única família composta de diversidades, onde os membros cooperam entre si com vistas à plena realização de cada um; isto significa que cada ser humano deve receber do esforço conjunto da família humana tudo aquilo que supra as suas necessidades; o limite destas necessidades é marcado pelo acordo consensual entre os seres humanos e pela exigência de um intercâmbio produtivo sustentável com o restante da natureza. Este último é sinônimo de uma economia preferencialmente baseada em recursos renováveis a escala humana (como no plano energético o são as fontes solar e eólica), capaz de zelar pela permanente redução, reutilização e reciclagem dos resíduos (as "três R") até os limites últimos da tecnologia e da física; além da prática das "três R", é bom frisar que os resíduos, já reduzidos em quantidade, terão que ter ao máximo caráter biodegradável e/ou passar pelos processos de tratamento capazes de eliminar ou pelo menos minimizar os seus efeitos poluentes.
Neste contexto a educação ambiental consiste num mútuo conscientizar-se, feito de reflexão e ação, visando a construção dessa ordem sócio-ambiental sustentável de reconciliação planetária.
A concepção de EA que acabei de expor pressupõe que não é correto reduzirmos o "meio ambiente" ao conjunto das entidades não-humanas.
É com satisfação que registro que, apesar de algumas vacilações, a lei da PNEA filia-se a esta visão não-reducionista.
Com efeito, diz a lei que é princípio básico da EA " a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade"; e isto a escala local, regional, nacional e global (Art. 4).
Para que se perceba o alcance prático desta visão abrangente de "meio ambiente" trago o exemplo dos danos causados pelo navio "Bahamas". Se ficamos com a visão reducionista de "meio ambiente" poder-se-ia concluir que, se por efeito direto da descarga da mistura ácida o "Bahamas" não acarretou a morte de (quantidades consideráveis de) organismos vegetais ou animais, então não foi responsável por "dano ambiental". Mas se considerarmos que o "meio ambiente" envolve de maneira indissolúvel os fatores sociais, psicológicos e físico-não-humanos situados num certo espaço-tempo, e constatamos que durante quase um ano toda uma comunidade de pescadores e comerciantes de frutos do mar foram prejudicados na sua vida em decorrência do incidente do "Bahamas", então chegaremos á conclusão que houve sim importante dano ambiental no referido caso. É bom lembrar que provavelmente este será um dos pontos da polêmica legal que marcará a discussão das ações de ressarcimento dos pescadores artesanais atualmente em curso em relação ao episódio "Bahamas".
1.3 CARÁTER MAIS-QUE DISCIPLINAR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Apesar que a lei é dubitativa quanto aos termos, é bom que fique claro no texto que a EA é uma tarefa mais-que-disciplinar. Esta abordagem leva-nos para o domínio da multi, da inter e da transdisciplinariedade (todos termos que aparecem num ou noutro trecho da lei). Acontece que há divergências quanto a conceitualização destes três termos. A lei consegue dar uma produtiva idéia geral da pretensão mais-que-disciplinar em EA quando no seu Art. 10. estipula que " A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal".
Na especificação desta idéia geral acredito que a seguinte caracterização, inspirada do documento que estipula a "Estratégia Nacional de EA" em Cuba (ENEA, 1997), encaminha corretamente a discussão e aplicação dos termos antes citados (sem pretender resolver definitivamente a questão, que fica ainda em aberto, na busca do uso dos termos que se achar mais conveniente):
A esta caracterização acrescento que penso que a "transdisciplinariedade" em EA pode ser entendida também, num sentido menos ambicioso que o recém esboçado, como o fato da educação ambiental ter que permear-ligar, como grande "tema transversal", todos os espaços educacionais (na educação formal, todos os conteúdos); para visualizar com clareza o que quero dizer com isto serve a analogia da (nefasta) estrada "trans-amazônica", assim chamada pelo fato de atravessar o espaço amazônico estabelecendo contato entre suas partes.; de maneira análoga a EA está chamada a atravessar-ligar todas as atividades educacionais (e na educação formal todas as disciplinas e conteúdos).
Neste ponto gostaria de salientar que no meu entendimento a lei comete um equívoco quando, defendendo o caráter mais-que-disciplinar da EA parte para a pura e simples proibição da criação de uma disciplina de EA em outro espaço que não seja os dos " cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental".
A esse respeito o Art. 10 diz literalmente: " § 1.o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino; § 2.o Nos cursos de pós-graduação, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica".
Ora, se sabemos que o Brasil é um pais no qual algumas leis "pegam" e outras não, me ocorre que, à luz da mais-que-disciplinariedade da EA na sua melhor acepção, a lei deveria aconselhar a não-criação de uma disciplina específica de EA, mas não deveria vetar a sua criação pois na presença de omissões ou resistências é obvio que é melhor termos pelo menos um espaço garantido de EA na forma de uma disciplina, que não termos nada em absoluto. Isto toma um caráter prático imediato quando pensamos nos espaços que estarão ou não abertos para os alunos que formemos a nível do pós-graduação, no nosso caso, no nosso Mestrado em Educação Ambiental (MEA) da FURG.
2. ESFERAS DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A lei de PNEA combina educação formal e não-formal; assim, embora esquecendo a educação informal que é aquela do dia a dia que acontece pelo simples contato direto ou indireto entre os seres humanos, a lei vêm de fato responsabilizar toda a sociedade, através das mais diversas esferas organizativas, pela educação ambiental.
Diz o artigo Art. 2.o "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da
educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (sublinhado meu, que pauta a responsabilidade de toda a sociedade para com a EA).
E o Art. 3. especifica : " Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito
à educação ambiental, incumbindo: I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação,
recuperação e melhoria do meio ambiente; II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;
IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais ".
[Nota: a) O Art. 205 da Constituição Federal diz " A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho"; já o Art. 225 reza no seu caput: " Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações", e no seu inciso VI estabelece que incumbe ao poder Público " promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente". b) Lembre-se que compõem o Sisnama ( conforme a lei nº 6938 que institui a Política Nacional do meio Ambiente em 31/08/1981, Art. 6): "Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito federal, dos Territórios e Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental". Alguns desses órgãos são os Conselhos de Meio Ambiente a nível federal, estadual e municipal, as Comissões do âmbito legislativo federal, estadual ou municipal voltadas total ou parcialmente ao meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), e, no Rio Grande do Sul, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental ( FEPAM )].
2.1 Na Educação Formal.
A lei deixa muito clara a sua abrangência quando na sua Seção II, Art. 9 diz : " Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando:
I - educação básica:
a) educação infantil;
b) ensino fundamental e
c) ensino médio;
II - educação superior;
III - educação especial;
IV - educação profissional;
V - educação de jovens e adultos.
Como se percebe, e para ficarmos só na esfera das nossas obrigações como universitários, a lei exige que todos os cursos da Universidade (em especial as licenciaturas e pós-grados formadores de professores) revisem os seus currículos para fazer com que o elo transversal da EA os permeie, enriquecendo-os; com efeito, o Art. 11 estipula que: " A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas".
Similar desafio está lançado às escolas, sejam elas do ensino infantil, fundamental, médio, ou técnicas (com responsabilização especial dos atuais cursos de Magistério e/ou dos seus sucessores).
2.2 Na Educação Não-Formal
A abrangência das responsabilidades atribuídas pela lei em matéria de EA não-formal, fica clara, apesar de algumas fraquezas conceituais, na Seção III, Art. 13, ao estipular que " Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente". E continua: " O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em
espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não-governamentais; IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI - a sensibilização ambiental dos agricultores;
VII - o ecoturismo".
Fica por nossa conta a realização incessante das devidas cobranças, em especial pela sua grande repercussão no grande público (inclusive nas próprias crianças, muitas vezes com impacto maior que o conseguido pela Escola), da responsabilidade aqui atribuída à grande imprensa, cuja democratização e colocação sob controle social é uma exigência inadiável com vistas à construção da ordem sócio-ambiental fraterna e sustentável pretendida. Nessa ótica e por exigência da lei haverá de se dobrar a lógica do lucro e encontrar espaços de EA ás 8 da noite, retirando-os do gueto dos surrealistas espaços educativos colocados "espertamente" às 6 da manhã para cumprir assim com a forma mas não com o espírito e o conteúdo do desafio educativo que a todos nos interpela.
De maneira semelhante também terá que ser dobrada a lógica do lucro para que as empresas venham a zelar efetivamente pela saúde e segurança dos trabalhadores e pela preservação ou conservação do meio ambiente não-humano do seu entorno.
3. ESPAÇOS CONVERGENTES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
3.1 Introdução
Uma grande incógnita da lei é a relativa a sua implementação, em especial no que diz respeito aos recursos disponíveis para a efetivação do dispositivo e à cobrança das responsabilidades atribuídas (incluindo aqui o funcionamento do Órgão Gestor previsto na lei).
O fato de que o Presidente da república tenha vetado precisamente o Art. 18 que estipulava : "devem ser destinados a ações em educação ambiental, pelo menos vinte por cento dos recursos arrecadados em função da aplicação de multas decorrentes do descumprimento da legislação ambiental", é um péssimo sinal que faz pensar que, como vêm acontecendo até hoje, os heróicos praticantes da EA deverão continuar a fazer o melhor com quase nada (e às vezes nada mesmo) e, ao mesmo tempo, lutar para que a EA seja efetivamente reconhecida como prioridade através da alocação dos recursos, em especial públicos (saídos dos bolsos de todos nós), que ela merece.
Nesse contexto ganha importância a idéia de criarmos espaços em que todos os projetos e as ações de EA possam convergir para, além do salutar intercâmbio cooperativo que a todos enriquece, somarem forças com vistas à luta pela obtenção de recursos.
3.2 A Sociedade de Educação Ambiental: rumo à SBEA
É com este entendimento que saudamos a criação da Sociedade de Educação Ambiental do Brasil (SEAB), organizada em encontro ocorrido no Rio de Janeiro em meados de 1999 e que tem como sua primeira presidente uma profissional formada pelo Mestrado em Educação Ambiental da FURG, a professora Jara Fontoura da Silveira.
Propomos a idéia da criação de uma seccional Sul da SEAB, capaz de nuclear a todo interessado ( que este faça parte ou não de uma instituição de ensino, uma ONG ou qualquer organização social), reunindo inicialmente voluntários de Rio Grande e Pelotas; a esta seccional caberia organizar pelo menos um grande evento regional anual no qual todos os interessados pudessem discutir, para mútuo enriquecimento, a teoria e a metodologia da EA, e trocar experiências em EA, tanto a nível da educação formal quanto da não-formal e informal.
Esta seccional poderia também trabalhar no sentido da criação de uma Sociedade Gaúcha de Educação Ambiental e, ainda, colaborar para que a SEAB possa pleitear sua filiação à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) (como qualquer outra sociedade científica com representação nacional).
Em todos esses níveis associativos lutar-se-ia pela ocupação dos espaços que à EA lhe são devidos na política educacional, científico-tecnológica e social do Brasil ( incluindo-se aqui o espaço da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação, ANPED).
BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1970.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982.
MINISTERIO DE CIENCIA, TECONOLOGÍA Y MEDIO AMBIENTE. Estrategia nacional de
Educación Ambiental, Ed. Centro de Información, Divulgación y Educación Ambiental
(CIDEA), La Habana, 1997.
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Prof. Dr. Sirio Lopez Velasco
FURG (DECC) - Campus Carreiros - 96500-900 Rio Grande (RS)
Fone : 0532-336624 - FAX: 0532-336652
E-mail: decsirio@super.furg.br
Século XXI, século da espiritualidade? Leonardo Boff
|
Desafios Ecológicos do Fim do Milênio
|
SATO, Michèle. Educação ambiental na Agenda 21 e na Carta da Terra. Anais "Simpósio Gaúcho de Educação Ambiental". Erechim: URI, agosto de 2000, 53-64.
Educação Ambiental na Agenda 21 e na Carta da Terra
Michèle Sato
Em tom menor, a estiagem já abriu o inverno e |
uma pálida paródia, |
tomou |
conta dos Cosmus |
floridos na jardineira dessa janela |
essa de onde |
os passantes |
podem ver o coleóptero inominado |
atravessando |
a escrivaninha. |
Acidentes |
geográficos |
tatuam o vasto relevo, |
compõe a trama onde |
todos os insetos se debatem. |
As pétalas caídas |
sob o vaso, |
as chaves, |
a carteira, |
pequenos objetos. |
Esses servos silentes |
contemplam o ruído, |
sons esgarçando-se no vento. |
O cálice agora vazio, |
um cartão postal |
afogado no maço de correspondência, |
detalhes. |
Inanimados concedem |
um epíteto ao minúsculo besouro. |
E assim nesse mar de endereços, |
os élitros resplandecentes, |
alheios a qualquer taxonomia, |
prosseguem cursivamente. |
(assombrado por In
finito, Circuitos fechados, In petto, José Bruma, 2000 |
As paixões humanas
Ao abrirmos os jornais, ao ouvir notícias em TV ou rádios, surpreendemo-nos com as inúmeras informações criminosas que circulam pela humanidade. Neste momento, parece que esquecemos da emoção, deixamos de lado a poesia, o coleóptero e o Cosmus florido (BRUMA, 2000), fechando os corações para os ruídos, e vacinamo-nos no dia-a-dia, para criar mecanismos de defesa e evitar o sofrimento, ou simplesmente porque estamos tão habituad@s com a violência do mundo, que aquela notícia ruim acaba se tornando "mais uma" entre tantas outras. E alhei@s à tudo, seguimos cursivamente, deixando adormecido o lado poeta que nos confere a beleza da vida...
Não temos a pretensão de reverter este quadro neste simples texto de algumas páginas. Mas se o espaço e o tempo permitir, gostaríamos de abrir brechas para um pequeno diálogo sobre os caminhos da humanidade. Assim como estes fatos ruins noticiados quotidianamente, milhões de eventos acontecessem pelo mundo afora. Há encontros, todavia, que marcam e podem até determinar o curso da história. Talvez não a história da humanidade como um todo, mas a história de nossas vidas... E assim, acreditamos que quando moldando-nos à uma nova proposta, engajamos em mudanças globais, pois quando mudamos um pedaço do mundo, mudamos, também, o mundo.
Propor uma transformação nas manchetes, ou tentar mudar o mundo sem mudar a nós mesmos, parece perder a significação. Durante a II Guerra Mundial, um dos principais jornais da Inglaterra - "The London Times", ousou a primeira página totalmente em branco, como protesto às ações bélicas de Churchil. Quiçá algum dia possamos ver uma página em branco na Folha de São Paulo, um branco pela paz, um manifesto contra o massacre testemunhado diariamente pela Nação Brasileira. Ousar uma mudança significa conhecermo-nos primeiro. Resgatando o pensar Socratiano, pensamos que o renascer na consciência de si mesmo, que além de restaurar dúvidas, atinge campos pessoais da moral e da conduta, devem servir de alicerces às instituições políticas.
Se é verdade que nos circunscrevemos na linha da vida e da morte de um círculo dinâmico, não há como não comprometer com esta identidade e existência humana, posta fora de nós em mundo, que por suas injunções com a natureza e cultura, implicam em questões de responsabilidade individual e coletiva (PASSOS & SATO, no prelo). Este é, sem dúvida, o maior desafio da Educação Ambiental (EA).
Assim, refletir nossa condição pessoal nos obriga a pensar na nossa relação com @ outr@. É neste refletir que devemos perceber que nossa solidariedade, moral e paixões também determinam a qualidade do nosso pensar, inseridos na reflexão da limitação, mas ao mesmo tempo da potencialidade, da contribuição individual que tod@s são capazes de oferecer à construção do coletivo. Temos lido muitos trabalhos em EA, e infelizmente algumas pessoas utilizam o romantismo como sinônimo de ingenuidade. Não raro, encontramos textos que atribuem o valor "romântico" da limitação da EA em suas esferas meramente ecológicas. Tal reducionismo nos parece ser inadequado, mas o romantismo confere uma beleza inimaginável ao nosso pensamento crítico. No campo da arte, é possível verificar a criticidade em obras como Guernica, de Pablo Picasso, e de todo movimento cubista que marcou uma era de revoluções, não somente na Espanha, mas nas esferas internacionais. A modernidade pode ter conferido espaços à intelectualidade, ao cientificismo exagerado e ao poder absoluto da produção dos conhecimentos. Mas certamente a Pós-Modernidade representa esta ruptura, abrindo os horizontes para caminharmos em espaços mais amplos, onde a racionalidade pode ser temperada com a emoção. Ou como já dizia GRANGER (1994), escarnecer a ciência externalista e enaltecer a racionalidade interna. Ultrapassar as barreiras do "landscape", e mergulharmos no nosso "inscape" (SATO, 1997). E sem medo de ser piegas (FREIRE & SHOR, 1986), é confortante poder falar sobre a solidariedade e a ternura numa era marcada pelas desigualdades sociais. E seguimos trilhamos o caminho, apostando na utopia como marco de nossas transformações.
Inserir a discussão da Educação Ambiental (EA) neste contexto não é uma
tarefa simples. Pensamos ser desafiador porque sua complexidade nos apontam
diversos caminhos, e lembrando-nos daquela famosa canção latino americana, não
há caminhos a ser seguidos, os caminhos são construídos durante nosso
caminhar. Esta situação de desconforto pode ser agravada quando inserimos sua
interlocução com a Agenda 21 e a Carta da Terra, dois movimentos
internacionais que, na nossa compreensão, jamais se esgotariam num simples
texto. Todavia, arriscaremos a introduzir uma abordagem menos densa, diluindo os
capítulos e os princípios em forma incessante de sensibilidade, na busca de
uma visão que aceite a diversidade, seja ela biológica ou cultural, como a
maior riqueza que confere a beleza da própria Terra. Acreditamos na felicidade,
pois o ser humano é livre para abrir suas brechas e entregar-se às paixões.
Vislumbramos, assim, oferecer uma perspectiva menos memorizativa, mas mais criativa na elaboração de políticas internacionais que assegurem a EA no cotidiano, no nosso "pensar e agir globalmente", uma vez superada a ruptura espacial e temporal. Inserimo-nos nas dobras da vida, que nos oferecem amplitudes para sermos mais atrevid@s, de caminhar na simplicidade, sem perder a complexidade. Debater a EA no Brasil é, portanto, inseri-la nos patamares internacionais, dentro dos grandes movimentos hoje existentes. Neste cenário, parece ser inevitável remeter esta discussão aos dois grandes movimentos mundiais: A Carta da Terra e a Agenda 21.
A Agenda 21
Palco de controvérsias e num momento de "desfiles de autoridades", a Eco-92 trouxe seu momento histórico, ao abrir para o mundo a possibilidade de erradicar a miséria com a incorporação da preocupação ambiental. Todavia, nossos satélites, que oferecem a dimensão de uma Terra azul, com porções de mares e nuvens, negligenciam as atividades humanas que insistem em modificar sua cor. As mudanças globais estão intensas e o risco de uma explosão nuclear, além de outras realidades desconhecidas e temidas, ameaçam cada vez mais esta esfera que mantém a vida como própria essência de existência. Esta informação sobre a natureza e a extensão do que muit@s chamaram de "conquistas" da ciência, parece realmente ser, na proporção das aptidões de cada cultura e cada ser, o interesse de tod@s (GRANGER, 1994).
(Re)Iniciamos, assim, a discussão de um nova
ciência, talvez uma ciência no plural - ciências, que possibilitem a integração
dos sistemas sociais com os sistemas biogeofísicos. Ciências conscientes (MORIN,
1996), que traduzam o sentido da emoção nos jogos políticos onde se travam os
dissonantes acordes da cultura de um lado, e a natureza de outro.
Assim, a Agenda 21 nasce de um debate importante no processo de compreensão do
futuro da humanidade e do planeta, além de proporcionar instrumentação para
os grandes desafios das nações. A ênfase acentuada é na instrumentação
intelectual, nos esforços dos governantes e nos segmentos de toda a sociedade
para uma melhor compreensão dos fluxo globais (SATO & SANTOS, 1999).
Todavia, há que se considerar a ideologia dominante, por trás de um discurso homegenizador na nova ordem mundial - o desenvolvimento sustentável. A criação deste adjetivo ao desenvolvimento não seria fruto do medo do efeito "bumerangue" (SAUVÉ, 1996), dos países chamados "ricos", com medo que a miséria humana lançada no, geograficamente imposto, hemisfério sul, retornasse ao norte? Não haveria aí, uma visão sombria de que a necessidade de "preservação" - e não de conservação, asseguraria uma vida mais feliz? Talvez devêssemos perguntar a quem beneficiaríamos com esta preservação a todo custo. Poderíamos realmente equacionar o grau de liberdade e felicidade de um@ american@ com um@ maçambican@, por exemplo? Parece-nos, que o processo da globalização trouxe a sonhada unificação pela fome e pelos desastres ecológicos, ao invés de alcançarmos as desejáveis condições de vida. "A co-produção global de um colapso ambiental pressupõe uma co-responsabilidade transnacional solidária. É difícil, portanto, enveredar por esta ou aquela linha de abordagem da educação ambiental sem os riscos da contaminação de velados interesses e ideologias fragmentárias do pensamento liberal" (MATA, 2000).
Há que se considerar, entretanto, que a Agenda 21 traz a sua valiosa colaboração para uma interlocução mundial, e que através das ações e reflexões dos Governos e da Sociedade, busquem a necessidade de mudanças para os cuidados com a Terra. Didaticamente dividida em 40 capítulos, a EA parece ser o elo de ligação entre todos eles, aparecendo como bandeira de luta e patamares de esperanças em todo o texto da Agenda 21.
Com 27 princípios e 4 seções, a palavra "educação" é a 5ª mais citada em todo o documento. Suas propostas e estratégias buscam uma aliança global, num exercício constante de avanços e recuos, de movimentos coloridos que almejam um caleidoscópio junto ao azul do mundo. Infelizmente, seu conteúdo é imenso e impossibilita que tod@s conheçam o documento em sua íntegra. Tentando corroborar com a idéia e a importância de sua divulgação, SATO & SANTOS (1999) tentaram oferecer sua sinopse, ilustrando as idéias centrais e possibilitando a compreensão dos princípios gerais da Agenda 21. Uma idéia que pode ser compreendida como limiar da limitação, mas um esforço de possibilitar mais visibilidade ao documento, como um referencial em nossas ações cotidianas.
A Carta da Terra
Similarmente, a Carta da Terra também oferece este compromisso. Todavia, resgata as mudanças individuais como prioridade para a mudança global (GORBATCHEV, 1999). Quando a Organizações da Nações Unidas (ONU) foi criada, em 1945, havia a preocupação com a paz, com os direitos humanos e um desenvolvimento social mais eqüitativo. Os rumos tomados podem mostrar contradições, mas a concepção da Carta da Terra (CT), ali implícita, passou por um longo período de gestação, dando seus primeiros sinais de vida durante a Eco-92, juntamente com a construção da Agenda 21. ROCKEFELLER (2000) nos lembra que a especial ênfase da CT reside nos desafios ambientais, mas o movimento reconhece a visão ética da paz e dos direitos humanos como partes indivisíveis para o desenvolvimento da humanidade.
A Conferência Internacional da Carta da Terra realizou-se em Cuiabá, em 1998. A Carta produzida trazia valores espirituais fortes, com negligência ao lado científico da produção dos conhecimentos. Se a Modernidade falhou nos seus excessos científicos, talvez tenhamos errado ao fazer o movimento inverso. Todavia, a Carta é considerada como um "rascunho (draft)", exatamente para que não se perca os movimentos de construção/destruição da Terra. E nestes movimentos, novas versões foram elaboradas. Particularmente para a América latina, os avanços foram significativos. Incluímos itens importantes à nossa história, como a criação de um fundo internacional para o combate à fome e à miséria, a taxação do capital internacional, a taxação do capital das indústrias bélicas, a efetivação adequada das políticas de transferência de tecnologia e a renegociação da dívida externa, além do respeito à todas as formas de vida (MALDONADO, 2000). Nossas ações, neste sentido, são importantes para obtermos a aprovação da ONU, e conferir a chancela em 2002 como uma Carta da Terra.
Assim como na Agenda 21, a EA também aparece implícita nos princípios gerais da CT, enfatizando a participação de pessoas de todas as raças, credos, culturas e conhecimentos. A articulação central ancora-se no sentido ético das ações humanas para a manutenção da biosfera, ampliando os espaços para as ciências (em especial à Ecologia), e à Filosofia, além de outras expressões como as culturas, religiões ou movimentos sociais. Não é uma proposta generalista, uma vez que identifica a importância da diversidade, da construção individual que desenha os campos ontológicos coletivos. É, sobremaneira, uma tentativa de resgatar a manutenção da biosfera como palavra de ordem no nosso cotidiano.
Ela possui 16 princípios gerais orientados pelo respeito e cuidados com as comunidades de vida; da integridade ecológica; da justiça social e econômica; e da democracia pela paz e não violência. Das diversas experiências realizadas pelo mundo, e a EA é sublinhada como uma alavanca nos processos de sensibilização e internalização da CT. Seguramente, a construção da CT é um constante exercício de diálogo entre tod@s aquel@s que possuem esperanças para resgatar o valor intrínseco da Terra.
A liberdade na Educação Ambiental
Talvez seja neste "diálogo" que esteja a importância da EA. Um trabalho coletivo, com envolvimento de todos os setores da sociedade não representa nenhuma facilidade. Para FOUCAULT (1982), as relações entre grupos ou indivíduos traz o mecanismo de poder, não na mera competitividade ou na defesa dos territórios, mas na presença de um conjunto de ações que induzem às outras ações. A era da "globalização" exige novas formas de ultrapassagem para a liberdade do pensamento. A libertação, todavia, caracteriza-se pela superação das fronteiras do pensamento, mesmo que sempre haja diferentes opiniões.
Sem a pretensão de oferecer uma explicação ecológica aos fenômenos interdisciplinares, mas considerando que a realidade antropossocial é multidimensional e sempre possui uma dimensão social e biológica (MORIN, 1996), gostaríamos de fazer algumas reflexões "ecofilosóficas" (SATO, 1997).
Nos estudos dos ecossistemas, os vegetais constituem-se, na maioria das vezes, o essencial da biomassa dos seres vivos e imprimem à paisagem seu aspecto característico. "A passagem de uma biocenose à outra pode fazer-se mais ou menos violentamente. Em todos os casos, existe uma zona de transição (ecótono), que pode ser muito extensa ou somente alguns metros. Nelas, a biodiversidade é mais rica e mais abundante que nas biocenoses adjacentes, cujas espécies se misturam oferecendo um ingrediente mais rico sob o ponto de vista ecológico" (ODUM, 1977). Esse efeito é conhecido pelo nome de "efeito de borda". Entretanto, esse efeito apresenta desarmonia, em função dos processos de reciclagem de nutrientes, dos gastos de energia para a manutenção das relações tróficas, das adaptações dos seres vivos e das competições das espécies, entre outros fatores.
Os recentes estudos têm demonstrado que a suposição do desequilíbrio, ao invés do equilíbrio, tem maior valor analítico-ecológico. Similarmente, PRIGOGINE & STENGERS (1986 apud REIGOTA, 1996) descobriram que a "irreversibilidade dos sistemas físicos em desequilíbrio tem um papel construtivo na natureza, pois lhe permite a reorganização e a auto-organização espontânea. Portanto, a irreversibilidade e a instabilidade são fontes criadoras de novas formas de organização". Assim, a natureza não é passiva nem simplificada, ela é complexa e múltipla.
Segundo esses autores, embora o ecótono seja uma zona conflitante, com desarmonias, é onde a biodiversidade é mais rica e tem alto potencial ecológico, pois contém, em um mesmo espaço, elementos de um ecossistema misturado com o outro. Ao buscarmos o significado da palavra "ecótono" nos dicionários filosóficos gregos, vamos encontrar o seguinte significado: prefixo "oikos", de casa e o sufixo "tónos", que significa tensão (PETERS, 1974). Em outras palavras, o ecótono é "a casa da tensão". Os estóicos explicavam a tensão em vários níveis, a tensão no pneuma é o ar que respiramos, centro vital da nossa capacidade de conhecer, e num estágio superior, é a tensão que se manifesta na capacidade de crescimento. Esse "crescer" parece estar relacionado, tanto do ponto de vista biológico, como sob a perspectiva do crescimento científico.
Num estudo sobre a aproximação do pensamento filosófico de Heidegger e Foucault, FIGUEIREDO (1995) considera que nossa relação com a verdade, que nos permite reconhecermos como sujeitos dos acontecimentos, exige também uma relação no campo do poder, onde somos sujeitos capazes de agir sobre @s outr@s. Nessa dimensão, ele propõe a simbologia de uma "casa", onde é necessário assumir a existência da ética.
A "casa da tensão", onde os atores e as atrizes sociais tentam uma ação interdisciplinar, pode ser explicada como um estágio de desenvolvimento, com rupturas da homeostase, onde as multiplicidades do poder entram em choque, mas que o próprio sistema vai tentar constituir uma unidade superior de conhecimento, porque vai acumular os diversos saberes. E, é claro, porque os conhecimentos estão sob a conduta ética e crítica dos grupos envolvidos, numa relação de reciprocidade que permite que cada um possa edificar a morada.
A atitude crítica do elenco, durante o desenvolvimento dos trabalhos, não pressupõe a existência de um sujeito plenamente consciente de si. "Ela não é um ordem de um juízo que sobrevoa a realidade histórica do alto de uma posição ideal de verdade, mas ela mostra claramente de que longe de transcender o presente, se inscreve nas dobras dos jogos de poder" (FOUCAULT, 1982).
Infelizmente, a EA tem sido considerada como uma ilha natural dentro de um continente cultural. No trabalho coletivo, é bom ter me mente de que deveremos ultrapassar a racionalidade dividida, buscando construir uma ponte que possa unificar a ilha ao continente, mesmo com rupturas, inseguranças e resistências. Certamente, haverá jogos de poder, mas fundamentalmente, devemos resgatar o respeito à postura ética que permitirá a força do trabalho. É nesta ousadia de tentar um caminho dialógico no mosaico de saberes - na maioria das vezes nem expressa, mas profundamente internalizada - que os conhecimentos adquiridos possibilitarão uma nova dimensão da EA.
Acreditamos, assim, que a EA possibilite o ato de liberdade, inserido na derivação da estrutura ontoantropológica e implicando o compromisso com a existência e o percorrido (PASSOS & SATO, no prelo). É na liberdade, pois, que plasmamos o rosto de quem o segue: seja para perda de si mesmo, por moldar-se às estruturas homogenizadoras na alienação, seja o de humanizar-se, pelo risco de protagonizar um caminho para si e para a humanidade. Talvez assim, sejamos capazes de despertar nosso lado poeta, ousando uma melodia com diversas notas musicais, que a cada regente diferente, será capaz de nos libertar para acreditar na utopia.
BIBLIOGRAFIA
BRUMA, José. In petto, 2000
(poema).
FIGUEIREDO, Luiz C. Foucault e Heidegger. In Tempo Social - Revista de
Sociologia, v. 7, n. 1 e 2, 136 - 149, 1995.
FOUCAULT, Michel. Subject and power. In DREYFUSS, H. & RABINOW, P. Beyond
Structuralism and Hermeneutics. Bringhton: The Harvester Press, 1982.
FREIRE, Paulo & SHOR, Ira. Medo e Ousadia. São Paulo: Paz e
Terra, 1986, 224 p.
GORBATCHEV, Mikhail. Earth Charter Online Forum. In http://www.earthforum.org
[download] 30 November, 1999.
GRANGER, Gilles-Gaston. A Ciência e as Ciências. Tradução de
R. L. Ferreira. São Paulo: UNESP, 1994, 122p.
MALDONADO, Carlos Alberto. Informes sobre Hague. In Reunião da Carta da
Terra. Cuiabá: Carta da Terra, julho, 2000 (comunicação oral).
MATA, Speranza F. Educação para o meio: por um ambientalismo político.
http://www.cfch.ufrj.br/jor_p4/educusp2/speranza.html [capturado] 08 junho,
2000.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. São Paulo: Bertrand
Brasil, 1996.
ODUM, Eugene P. The emergence of ecology as a new integrative discipline. In
Science, n. 195, 1289 - 1293, 1977.
PASSOS, Luiz Augusto & SATO, Michèle. Currículo e educação ambiental. In
SAUVÉ, L. et al. (Orgs.) Monografia EDAMAZ. Montréal: UQÀM
& CIRADE, Projeto EDAMAZ, no prelo.
PETERS, F.E. Termos Filosóficos Gregos: Um Léxico Histórico.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1974.
REIGOTA, Marcos. Por uma filosofia da educação ambiental (244 - 256). In PAVAN,
C. (Coord.) Uma Estratégia Latino-americana para a Amazônia.
Brasília: MAM, São Paulo: Memorial, 1996.
ROCKEFELLER, Steven. What is the Earth Charter? Hague: Earth
Charter Meeting, 2000 (personal communication).
SATO, Michèle. Educação Para o Ambiente Amazônico. São
Carlos: Tese de Doutorado, PPG-ERN/UFSCar, 1997, 245 p.
SATO, Michèle & SANTOS, José Eduardo. Agenda 21 em Sinopse.
São Carlos: UFSCar, 1999, 57p.
SAUVÉ, Lucie. Environmental education and sustainable development: further
appraisal. In Canadian Journal of Environmental Education, v.1,
n.1, 7-34, 1996.
http://www.cartadaterra.org.br/novidades.htm
DIREITO AMBIENTAL
Ética ambiental
Reflexões
sobre a ética tradicional
A
palavra ética vem do grego ETHOS que significa: modo de ser, caráter enquanto
forma de vida do homem. Ética é a forma de proceder ou de se comportar do ser
humano no seu meu social, sendo portanto uma relação intersocial do homem, e
seus parâmetros são as condutas aceitas no meio social, e tem raízes no fato
da moral como sistema de regulamentação das relações intersociais humanas,
assentando-se em um modo de comportamento.
Portanto, a ética é uma ciência da moral e pode ser definida como: a teoria
ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade ( Adolfo Sanches
Vasquez, Ética, ed. Civilização Brasileira, 14ª edição.1993 ).
Podemos, também, dividi-la em:
- ética normativa
que são as recomendações;
- ética teórica quando
explica a natureza da moral relacionada às necessidades sociais.
Enquanto teoria a ética estuda e investiga o comportamento moral dos homens,
tendo seu valor como teoria naquilo que explica e não no fato que recomenda ou
prescreve. Atualmente, ante as correntes intuitivas, positivas e analíticas,
a ética foi reduzida a análise da linguagem moral, abstraindo-se as questões
morais ( conf.o citado autor ).
Resultado disso é que a moral e a ética perderam significado social, dando-se
hoje em dia importância a obtenção finalista do sucesso pessoal e material a
qualquer custo, ficando assim reduzidas a preceitos delimitadores das relações
profissionais (Códigos Éticos), restando apenas a ética normatizada e
direcionada às profissões, não havendo mais uma ética universal. Passamos
por uma crise ética e moral, faltando uma orientação ética geral.
Como
ciência da moral, a ética como conhecemos, está relegada a um plano
inferior social, deixando de ser uma orientadora do comportamento humano como
dantes, mas uma nova forma de relação ética vem surgindo, como pretendemos
demonstrar, ante a degradação ambiental em larga escala e o
desenvolvimento científico, o qual vem desvendando a origem do homem,
tirando-o do pedestal de espécie superior.
Toda a
sociedade é responsável pela degradação ambiental, pois : o rico polui
com sua atividade industrial, comercial etc; o pobre polui por falta de condições
econômicas de viver condignamente e por falta de informações, já que a
maioria é semi-analfabeta; e o Estado polui por falta de informações ecológicas
de seu administradores, gerando uma política desvinculada dos compromissos com
o meio ambiente.
Somando isso aos novos conhecimentos científicos que concluem que o homem faz
parte da natureza como vemos por exemplo na teoria evolucionista de Darwin, pela
qual a raça humana tem origem no mesmo ancestral dos grandes macacos e evolui
como todos os demais seres viventes, e ainda a Teoria de Gaia de Lovelock para a
qual a Terra, Gaia, é um ser vivo que pulsa em vida plena com todos os
seus seres, incluindo o homem, em igualdade de condições, surgiu a necessidade
do ser humano rever a sua ação predatória e consequentemente seu
comportamento integral, fazendo com que a visão antropocêntrica que rege a
conduta humana, tendo o homem como o centro do universo, comece a perder força.
Ética
antropocêntrica
A ética
antropocêntrica, defendida principalmente por Kant, que orientou e deu base
para as doutrinas posteriores, estuda o comportamento social do homem entre si,
levando-o a condição de espécie superior pela razão, perde campo para uma
nova visão: a visão ecocêntrica.
Ética
ecocêntrica
Esta
nova visão ecocêntrica que podemos definir como o homem centrado em sua casa -
"oikos" = casa em grego, ou seja o homem centrado no tudo ou no
planeta como sua morada, permite o surgimento de uma ética que estuda também o
comportamento do homem em relação à natureza global; com ela o ser humano
passa a entender melhor a sua atuação e responsabilidade para com os demais
seres vivos.
Então,
surge a necessidade desta nova forma de conduta em relação à natureza. Uma
nova concepção filosófica homem-natureza. A ética passa a ser também, neste
caso, um estudo extrasocial e extrapola os limites intersociais do homem,
nascendo assim, uma nova ética diversa da ética tradicional. Surge a ética
ambiental.Com ela nós passamos a ter mais "humildade zoológica", e
consequentemente, passamos a ter um novo entendimento da vida. Mas para que isto
ocorra é necessário que tenhamos uma plena conscientização da problemática
ambiental, caracterizando esta como ter pleno conhecimento de algo e o seu
processo dá-se internamente, refletindo-se nas ações.
Essa
nova filosofia ecocêntrica e a conscientização fazem com que o ser humano
passe a se preocupar com suas ações entendendo que ele faz parte na natureza.
Não é o "dono da Natureza", passa a compreender que a Natureza não
está ali para servi-lo, mas para que ele possa sobreviver em harmonia com os
demais seres. Percebendo isso, o ser humano passará a se preocupar com suas ações,
passará a ter ações coerentes em relação à Natureza e mesmo as suas ações
intersociais passam a ser direcionadas à causa da preservação da vida global.
Então, estará ele desenvolvendo cada vez mais uma “visão holística"
do mundo, ou seja uma visão global.
Essa
nova consciência e visão global trazem a necessidade de desenvolver uma nova
linha de conduta ética com a Natureza, formando uma nova interligação ética:
homem-natureza.
Ética
ambiental: definição
Podemos definir essa Ética Ambiental como a conduta, ou a própria conduta,
comportamental do ser humano em relação à natureza, decorrente da
conscientização ambiental e conseqüente compromisso personalíssimo
preservacionista, tendo como objetivo a conservação da vida global.
Uma
nova relação ética
Com
essa nova ética, diferente da ética tradicional, pautamos toda a sua
vida e assim estaremos agindo sempre com um maior compromisso ético.
Compromisso criado por nós; dentro de nós. Sem nenhuma lei que não seja a
nossa consciência.
Esse
compromisso ético é personalíssimo, de modo que não está adstrito a nenhum
outro compromisso. É um compromisso de todos os conscientes. É um compromisso
da sociedade consciente. É ético não legal. Não se trata de obrigação
legal, mas moral e ética de cada um.
O
compromisso ético reflete-se em ações éticas, isto é, em ações coerentes
com os princípios éticos da pessoa, de modo que as ações impulsionadas por
esta nova ética homem-natureza trarão resultados favoráveis à preservação
ambiental e consequentemente a melhoria da qualidade de vida, ficando assim
criada uma barreira ética protegendo a natureza como um todo.
A ética
ambiental aqui exposta passa a ser o início de uma nova ordem mundial, é uma
nova filosofia de vida do ser humano alicerçada em novos valores extrasociais
humanos. Sua base científica é o estudo da relação homem-natureza,
englobando neste binômio todas as raças humanas e todos os seres existentes,
abrangendo também os inanimados como o solo, o ar e a água. Tudo que existe
tem sua importância e passa a fazer parte desta nova relação ética.
Esta
nova ética ajudará a formar uma humanidade consciente de sua posição perante
a vida no planeta Terra e dará origem a uma nova postura, um novo comportamento
calcado na preservação global da natureza, sendo uma nova esperança de vida.
A
colocação em prática dessa nova forma de comportamento ético propiciará uma
enorme satisfação subjetiva e íntima em cada indivíduo, e consequentemente
da sociedade humana de estar contribuindo com responsabilidade para a preservação
do maior bem que existe que é a Natureza como um todo, e isto nos dará a
esperança de poderemos prolongar a existência de nossa espécie nesse planeta
com condições mais dignas, permitindo que possamos usufruir juntamente com os
demais seres plenamente deste bem que é a vida, só existente por comprovação
científica na nave mãe-Terra.
Uma nova forma
comportamental e uma nova esperança de vida, daí a importância de se
conscientizar todos os segmentos da sociedade para essa nova relação ética.
©Copyright 1999/2001 by Antônio
Silveira R. dos Santos (Programa Ambiental: A Última Arca de Noé).
Todos os direitos reservados.
Prof. José Roberto Goldim
A Ecologia Profunda foi proposta pelo filósofo norueguês Arne Naess em 1973 como uma resposta a visão dominante sobre o uso dos recursos naturais. Arne Naes se inclui na tradição de pensamento ecológico-filosófico de Henry Thoreau, proposto em Walden, e de Aldo Leopold, na sua Ética da Terra. Denominou de Ecologia Profunda por demonstrar claramente a sua distinção frente ao paradigma dominante. no Brasil, nesta mesma época, o Prof. José Lutzemberger já propunha idéias semelhantes e desencadeava o movimento ecológico brasileiro com a criação da AGAPAN (Associação Gaucha de Proteção ao Ambiente Natural).
O quadro abaixo demonstra, pelo menos em parte, as propostas
de Arne Naess e as suas diferenças frente a visão de mundo predominante.
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Sistematização das propostas feitas pelos grupos de discussão do Seminário da Carta da Terra em Mato Grosso em 30/10/2000.
“Tudo o que existe
e vive deve ser cuidado para continuar a existir. A essência humana reside na
capacidade de tomar este cuidado. Talvez seja este o maior desafio da capacidade
inventiva do ser humano – despertar a sensibilidade e a responsabilidade com
os cuidados da Terra.”
(Leonardo Boff, 1999)
O Seminário Mato-Grossense da Carta da
Terra, realizado no dia 30/10/00 com cerca de 500 participantes, discutiu e
encaminhou algumas reflexões e propostas para a adoção mundial da CT.
Inicialmente, uma grande preocupação foi exposta sobre os caminhos da Carta da
Terra (CT)
– ficará somente no documento ou sua implementação assegurará novas
perspectivas para a manutenção da Terra? Como assegurar a implementação da
CT, num mundo ainda testemunhado por grandes disparidades econômicas e injustiças
sociais? Para que a paz, a democracia, justiça social e econômica e a manutenção
dos sistemas de vida sejam assegurados, o seminário da CT, subdividido em 9
grandes grupos, acredita que os valores e os princípios universais devem
iniciar-se primeiramente no indivíduo, para que através da internalização
destes fundamentos e engajamentos responsáveis, ele seja capaz de participar
num processo coletivo (parcerias globais – indivíduos, organizações não
governamentais, instituições governamentais) considerando o diálogo como
primeira manifestação para o necessário respeito pelos diferentes. Através
da visão integrada e interdependente, a CT deverá ter o compromisso de zelar
pela biosfera (dimensões sociais e biológicas), sublinhando a solidariedade,
ética e paz como princípios essenciais. Neste contexto, a Comissão da Carta
da Terra de Mato Grosso (CT-MT), referendando as propostas feitas durante o
seminário da Carta da Terra, recomenda:
1. Implementar programas de
Educação Ambiental (EA), que sejam construídos conforme as realidades locais,
respeitando a visão integral da biosfera em seus sistemas culturais e naturais.
Diversas estratégias podem ser adotadas, como:
a) Formação (inicial e continuada) de professor@s sobre os princípios da CT e
sua inclusão nos sitemas curriculares (ensinos fundamental, médio, superior e
programas de pós-graduação);
b) Teatro, oficinas, atividades artísticas diversas e debates com jovens e
crianças, promovendo e estimulando a participação d@s mesm@s nas comunidades
(problemática do lixo, saneamento, agricultura orgânica, modelos de
desenvolvimento, estudos dos ecossistemas,
currículo, diversidade, etc.);
c) Campanhas, cartazes e fóruns com as comunidades (respeitando todas as
idades, classes sociais, credos e valores) como associações de bairro,
igrejas, comércio e empresas.
2. Buscar espaços na mídia, tornando os meios de
comunicação sensíveis e participativos com a construção da CT, auxiliando
os processos de formação e educação, além da divulgação e informação
sobre os princípios da CT (utilização de todos os meios, inclusive da
Internet).
3. Reivindicar uma política efetiva aos ambientes rurais
e à agricultura, em especial contra os transgênicos e outras estratégias
duvidosas, incentivando a agricultura orgânica e as práticas alternativas
menos danosas ao ambiente.
4. Criar mecanismos para a implementação de políticas
efetivas para a melhoria dos ambientes urbanos, em especial contra a violência
e modelos insustentáveis de consumo, além da criação de selos verdes às indústrias
e empresas.
5. Respeitar o ambiente local, na sua ampla dimensão
natural e cultural, com cuidados necessários às comunidades, inclusive aos
povos indígenas (valorização da linguagem, símbolos e tradições).
6. Enfatizar a pluralidade de sexos (social e biológica),
popularizando o debate sobre
as relações de gênero;
7. Estimular a criação de mecanismos legais, realmente
efetivos, que possam assegurar os processos de adoção da CT, principalmente
aos representantes governamentais.
A CT-MT acredita, assim, que para vencer o imobilismo testemunhado na sociedade,
é preciso romper com certas estruturas, individuais e coletivas. É preciso,
neste contexto, identificarmo-nos como sujeitos históricos do processo,
reconhecendo nossa participação frente às políticas que determinam as redes
da sociedade. Priorizando a ética, solidariedade e coletivismo como partes
integrantes de qualquer sociedade sustentável, devemos reconhecer o todo e as
suas partes (globalização sem homogeneização), tecendo o diálogo necessário
entre as ciências, as artes e todas as manifestações culturais, fazendo com
que a dicotomia “razão-emoção” seja superada na transição desta
Modernidade tardia, e sobremaneira, nunca separando a sociedade e a natureza
para a construção da cidadania, que assegure um sistema complexo e sustentável
para a manutenção da Terra. Estamos convict@s de que a CT possibilita o ato de
liberdade, inserido na derivação da estrutura ontoantropológica e implicando
o compromisso com a existência e o percorrido. É na liberdade, pois, que
plasmamos o rosto de quem o segue: seja para perda de si mesm@, por moldar-se às
estruturas homogenizadoras na alienação; seja o de humanizar-se, pelo risco de
protagonizar um caminho para si e para a humanidade (Passos e Sato, 2000).
Talvez assim, sejamos capazes de despertar nossa verdadeira cidadania, que nos
liberte para acreditar na utopia.
Michèle Sato - Instituto de Educação -
UFMT
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Projeto Apoema - Educação Ambiental