InformaLista

O Informativo da lista “Educação Ambiental”

No. 16 – 29 de agosto de 2001

Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)

Os textos não passaram por revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.


"A hora em que você precisa fazer alguma coisa é quando ninguém mais quer fazê-la ou quando todos dizem que é impossível."

Eudora Welty


EDUCAÇÃO AMBIENTAL:    A PRODUÇÃO DO SUJEITO
                       E A QUESTÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

 

 

Aloísio Ruscheinsky[1]

           

 

RESUMO

O artigo pretende destacar alguns conceitos e autores que trabalham com a ênfase nos temas da representação social. Cujas contribuições parecem fundamentais para a educação ambiental, partindo do suposto de qualificar os referenciais teóricos neste campo novo de pesquisa e de prática social. Consideramos o momento histórico em que medidas na área de educação ambiental parecem necessárias e urgentes para dar um outro rumo às relações do ser humano com os outros elementos que integram o meio ambiente. A forma como grupos sociais ou setores da sociedade constroem suas representações sociais em torno de temas ambientais, bem como os elementos constitutivos, pode ser o ponto de partida  para o entendimento, a proposição e a eficiência do trabalho pedagógico em educação ambiental. Cabe esclarecer, que se trata de um projeto em andamento, não sendo possível apresentar os resultados por inteiro e as respectivas conclusões.

 

Palavras-chave: representações sociais, sociedade, sujeito

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

O processo de educação ambiental pode ser caracterizado como uma temática emergente, especialmente considerando as preocupações com setores da sociedade de consumo, com os resíduos industriais, com populações de risco, com o limite dos recursos naturais renováveis. Ao que tudo indica, a modificação de valores alicerçados no consumo, do comportamento em face de crescentes riscos ambientais pode ser explicado em termos da representação social.

A formação de recursos humanos para a construção de uma perspectiva de educação ambiental conseqüente requer que se contemple a dimensão subjetiva. Aliás, tomando como referência a origem da palavra (forma + ação) devemos reconhecer a agregação do conteúdo, da compreensão, de visão de mundo e uma forma determinada prática social. Os atores sociais envolvidos com educação ambiental indubitavelmente terão maior garantia de êxito na medida em que souberam relacionar de uma aspectos peculiares e gerais, o subjetivo e o objetivo, o material e o cultural. Da mesma forma, os programas públicos voltados ao meio ambiente terão sua eficiência incrementada com o endosso efetivo dos cidadãos e para cujo intuito o trato das representações sociais parece de suma importância. Com o enfoque e a caracterização das representações sociais pretende-se oferecer uma contribuição à temática da elaboração de programas públicos, que combinem desenvolver aspectos que conjuguem a cidadania e educação ambiental.

A temática da representação social comparece ordinariamente na análise das ciências sociais referindo-se à imagem do social, através da qual os indivíduos elaboram a compreensão do seu universo. As construções do imaginário humano sobre o real exigem repensar de maneira constante o caráter atribuído à relação entre mundo material e simbólico, entre o objetivo e o subjetivo, entre os fatos e a respectiva compreensão.

Na vertente da sociologia das representações sociais, por vezes também denominada de representação coletiva ou consciência coletiva, onde os efeitos sociais se sobrepõem aos indivíduos. A associação entre os indivíduos reflete uma totalidade ou compreensão geral do social que se sobrepõe às partes que o formam. Nesta visão o conhecimento das partes, do particular e do efêmero, ainda não dá acesso imediato às representações sociais, que por sua vez consolidam-se como fenômeno real. No campo da interpretação por certo não há unanimidade de ênfases, pois sob uma perspectiva as representações exercem uma espécie de coerção sobre os indivíduos para agir num sentido determinado e sob outra as representações assumem em seu conteúdo como uma apreensão peculiar dos fenômenos sociais.

A discussões realizadas no campo das ciências sociais a propósito da ênfase nas representações sociais provém desde os clássicos na sociologia. Na origem as investigações encaminhavam-se na compreensão dos universos societários de grupos peculiares, detectando o modo pelo qual os sujeitos se concebem a si mesmos em seus múltiplos relacionamentos. As representações, embora mantendo a especificidade coletiva, só se manifestam através das expressões individuais do agir, pensar, sentir e existir. Possuem uma dupla dimensão: do individual enquanto participação na sua elaboração em conjunto com uma multiplicidade de outros indivíduos e do coletivo como forma de comungar com muitos outros indivíduos as mesmas percepções e cujo resultado escapa ao controle individual.  Para o nosso uso basta reter que o termo se refere a categorias de pensamento, de compreensão e de comportamento através das quais em sociedades determinadas se elabora e se expressa a realidade circundante.

As representações sociais constituem-se a partir de maneiras de pensar, sentir e fazer socialmente estabelecidas, destacando uma pluralidade de ações e similitude de compreensões. Essas perspectivas, uma vez formadas e fundadas, adquirem a capacidade de agregar indivíduos e ao mesmo tempo tornando possível a vivência na sociedade.

 

REVER OS FUNDADORES 

Rever os fundadores das ciências sociais modernas constitui-se uma tarefa fundamental na formação de recursos humanos. Uma vez que, se nem tudo já está presente nos clássicos, entretanto diversos enfoques encontram neles o seu berço e ancoradouro. Sem sombra de dúvida, o nexo entre representação social e a proposta de educação ambiental será uma construção a ser realizada pelos intelectuais e ativistas contemporâneos.

Uma breve referência a afirmações primordiais da obra “as regras do método sociológico” de Durkheim tornam-se ilustrativas da emergência do conceito. “A consciência coletiva é uma síntese sui generis das consciências particulares. Esta síntese tem por efeito produzir todo um mundo de sentimentos, de idéias, de imagens, que uma vez nascidos obedecem às leis que lhe são próprios. (...) As representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a sociedade se representa a si próprio e ao mundo que a rodeia, precisa considerar a natureza da sociedade e não a dos indivíduos. (...) Constituem objeto de estudo tanto quanto as estruturas e as instituições: são todas elas maneiras de agir, pensar e sentir, exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se lhes impõe” (Durkheim, 1978, p. 77, 79, 88).

Segundo o autor, as categorias surgem ligadas aos fatos sociais, sendo que as representações são fatos sociais passíveis de observação e interpretação a partir de um método sociológico. A observação revela que as representações sociais constituem um grupo de fenômenos sociais, reais, dotados de propriedade e formas específicas. Na tendência da sociologia preocupada com as delimitações das funções sociais dos respectivos elementos constitutivos do social há um sério perigo implícito de esquecer a força do que vem a ser o significado da ação coletiva como constitutiva de relações sociais. As representações sociais ou coletivas possuem a sua qualidade móvel que obedece às leis do movimento e ancora-se na dinâmica do social. Na sua lógica própria e funcional amparam-se em aspectos relativos ao consensual e à reificação, ao mesmo tempo, sob a ótica da crítica ao estritamente funcional, abrem-se permanentemente para a prática dos sujeitos sociais que desafiam e, se necessário, transformam o real.

Na compreensão da sociologia marxista a formulação do problema da representação social na vertente funcionalista elimina o pluralismo fundamental da realidade social, em particular as lutas, conflitos, contradições e antagonismos de classe. Segundo Marx, para uma parcela dos filósofos do seu tempo, as mudanças da sociedade adviriam da substituição das “falsas representações”, das quimeras e das ilusões, por pensamentos correspondentes à essência do homem e de seus relacionamentos. Dirá que as representações sociais possuem outro ancoradouro, especialmente pelo enfoque da relação entre base material e construção da cultura.

“A produção das idéias, das representações, da consciência está diretamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material entre os homens, com a linguagem da vida real. (...) Os homens são produtores de suas representações, de suas idéias, mas os homens reais, ativos tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e por intercâmbios que a ele correspondem” (Marx & Engels, 1984, p.35 e 44). A consciência das relações sociais constitui-se fundamentalmente como um produto social, apresenta-se mediada pelo meio sensível mais próximo, bem como vale-se da conexão limitada com outros indivíduos e coisas fora do indivíduo. Neste sentido, tornou-se famosa e controvertida a afirmação emblemática da vertente marxista, quando afirma que as circunstâncias fazem os homens, mas também os homens fazem as circunstâncias.

Para a perspectiva da sociologia compreensiva e a abordagem fenomenológica o aspecto mais criticado da teoria durkheimiana se refere ao poder de coerção atribuído à sociedade sobre os indivíduos. O cotidiano é dotado de significados e intrincado de estruturas lógicas de relevância para os atores sociais em determinado contexto social. Estes significados consolidados pelos atores podem ser objeto de estudo dos cientistas sociais, com o intuito de auscultar as compreensões e representações do cotidiano. A compreensão do mundo, das relações sociais se dá a partir de um conjunto de experiências próprias e de outros indivíduos, consolidando-se um tecido de significados instituídos pela ação humana (Minayo, 1995). As definições dotadas a partir do cotidiano trazem conseqüências e são de fundamental importância para o tipo de ação social empreendida para manter, modificar e construir relacionamentos situacionais.

Na sociologia compreensiva de Weber a base material e as idéias encontram-se numa relação adequada em que ambas se condicionam ou ambas são condescendentes ante a mútua influência. Trabalha de maneira peculiar as noções de visão de mundo como mentalidade, ação social, concepções, idéias e valores. A representação social ou concepção da ação sobre o real inclui os respectivos juízos de valor e consolida em seus resultados a eficácia das idéias na construção da história.

A partir do estudo sobre as formas de organização político-social, sobre a relevância da vontade política na conformação das relações sociais, Weber aponta para a relativa autonomia do mundo das representações. Em diversas oportunidades somou esforços tentando demonstrar a possibilidade concreta de se estudar a eficácia histórica das idéias. Entretanto alerta para a necessidade de se conhecer em cada caso particular quais os ângulos metodológicos selecionados, quais os fatores e a causalidade que contribuem para configurar determinado fenômeno histórico ou ação social. Cada situação histórica, cada ator social, cada atribuição de significado pode configurar relações peculiares como determinantes para a sua configuração.

 

AÇÃO PEDAGÓGICA E VISÃO DE MUNDO: GRAMSCI

Mais ou menos somos herdeiros de percepções fragmentadas e contraditórias que obtivemos das relações sociais. Gramsci tem trabalhado mais diretamente o campo das representações sociais quando elucida através do tema na abordagem da cultura, ao tratar do senso comum e do bom senso. Todavia, ainda de forma mais específica examina aspectos do assunto ao deslindar as contradições da compreensão do mundo dos setores subalternos, vindo a destacar a freqüente desconexão entre interesses, compreensão dos relacionamentos e prática política. Está fundamentalmente preocupado com a questão pedagógica da construção da hegemonia, rumo no qual considera os efeitos do senso comum, a solidez das crenças, bem como  pretende elucidar o seu valor como potencial ou limitação das mudanças sociais. Os valores, a cultura, as visões de mundo, as idéias são apontados como capazes de produzir normas de conduta por novas relações sociais ou compele, punge e incentiva o conformismo. O senso comum enquanto representação social e mesmo como pensamento fragmentado e contraditório, deve ser considerado na investigação sociológica e recuperado criticamente, uma vez que ele corresponde ao nível de compreensão do mundo e às condições culturais reais de vida.

Na obra concepção dialética da história aponta a abrangência da sua abordagem. “Pela própria concepção de mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente ao de todos os elementos sociais que partilham de um mesmo modo de pensar e agir. Somos conformistas de algum conformismo, somos sempre homens coletivos. Nossa própria personalidade é composta de uma maneira bizarra: nela se encontram elementos dos homens da caverna e princípios da ciência mais moderna e progressista; preconceitos de todas as fases históricas passadas, grosseiramente localistas e intuições de um futuro filosófico” (Gramsci, 1986, p. 12). O autor possui uma nítida preocupação com os elementos que venham a influir na determinação da realidade. Neste sentido, o bom senso pode atingir uma compreensão de ordem diversa daquelas que se atingem por meio da razão ou do conhecimento discursivo ou analítico. A concepção de mundo de uma época é a combinação de diversos elementos, culminando em determinada direção e norma da ação coletiva.

As representações sociais se manifestam num amplo leque de determinações como em palavras e sentimentos, em propostas e ação política, em compreensões e práticas, em propósitos e ilusões. Ao se exercitar o leque apontado confere-se necessariamente um nexo com o processo de institucionalização, portanto, podem e devem ser analisados a partir da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais. A sua medição privilegiada consolida-se através da linguagem enquanto leitura do mundo, ou mediante a prática social e os embates com outros atores. A representação social em Gramsci corresponde à visão de mundo dos diferentes grupos e expressa as contradições e conflitos presentes nas condições em que foram engendradas. Portanto, tanto o “senso comum” como o “bom senso” nas expressões do autor consolidam formas de representação social observáveis, capazes de revelar a situação contraditória da organização em que os atores sociais estão inseridos.

Através do breve percurso acima manifesta-se a amplitude do conceito de representação social. O intento da pesquisa refere-se ao estabelecimento do nexo entre o referido conceito e a questão contemporânea da educação ambiental. Nesta última, por certo, a dimensão subjetiva ocupa um lugar de destaque, uma vez que se faz referência aos sujeitos da ação sobre o meio ambiente, aos atores sociais, à mudança de valores no cotidiano, ao campo por vezes alheio ao institucional.

 

AS DIMENSÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As ações no campo da educação ambiental ressentem-se de qualificação de recursos humanos que deslindem as conexões de uma rede intrincada de percursos e de contradições do real. Deslindar o horizonte da representação social através da qual grupos sociais consolidam a compreensão do real e se conectam com questões do meio ambiente significa desenvolver atividades de pesquisa de relevância para o campo pedagógico. Neste sentido, atividades no campo das questões ambientais, conectadas com a visão de mundo, relacionam-se com a inovação do potencial no campo científico e na esfera da ação social. A maioria da pesquisa ambiental realizada pelas ciências sociais volta-se para as dimensões da preservação, do desenvolvimento sustentável, do consumo e da cidadania com a mediação histórica de movimentos sociais. Considerando-se que as dimensões aludidas fluem para uma convergência, a educação ambiental leva em conta esta conexão, bem como alicerça-se nas modificações culturais em curso, as alterações tecnológicas, o universo da vida urbana e as múltiplas fontes de informação.

A partir de iniciativas em âmbito local ou regional, a educação ambiental constitui-se crescentemente uma realidade que se consolida em termos reais, bem como de maneira substantiva se ampliam os objetivos propostos. A perspectiva educativa pode ser entendida, de um lado como resultante da urgência de alternativas ao desenvolvimento econômico em curso que o ambientalismo vem demonstrando, de outro de uma vontade política munida de múltiplos esforços para consolidar qualidade de vida urbana.

Considerando a crise social enunciada pelo movimento ecológico qualquer projeto de desenvolvimento regional em consonância com o esgotamento, a renovação e a preservação de recursos naturais deverá contemplar a dimensão da educação ambiental com o propósito de inscreve-se na representação social. Esta necessidade encontra-se amparada devido aos crescentes riscos implicados no modo de vida que se referencia tanto pela crescente descarte de resíduos não degradáveis, quanto pela aplicação dos resultados auferidos pelo desenvolvimento tecnológico. A sociedade de consumo que referencia valores e perspectivas de melhoria do nível de vida, conduz-se ao mesmo tempo a produzir progressivamente resíduos que venham a afetar de forma mais ou menos permanente as futuras gerações. Neste campo as incertezas perpassam a avaliação sobre a perspectiva dos riscos ambientais e sociais, realizada pelos diversos campos do conhecimento.

Para contornar a problemática da formação de recursos humanos consideramos da maior relevância a investigação que relacione meio ambiente e representações sociais. A formação política, em vista da ação a propósito do meio ambiente, pode ser toda tentativa de elaborar dentro de movimentos sociais, setores qualificados e grupos específicos perspectivas que contribuam para a emergência da crítica ao contexto histórico de degradação ambiental, à sociedade de risco. As representações podem ser confirmadas ou alteradas numa ação conseqüente na ótica da educação ambiental, concomitante visando envolver setores sociais na perspectiva da cidadania. A elaboração do conhecimento de tal forma a nutrir um patamar de consciência social adquire a capacidade de explicitar a luta pela meio ambiente mais adequado à dignidade humana na dimensão da disputa entre forças sociais.

A educação ambiental, de cunho cultural e político, relaciona-se diretamente com a construção da consistência ideológica das posições assumidas pelos setores sociais e os movimentos ecológicos, bem como das estratégias adotadas para captar adesão aos princípios ambientais. Tal consistência inclui uma dimensão histórica que abrange uma avaliação do processo político, do desenvolvimento social e as possibilidades de sua subsistência enquanto sujeitos neste processo. A emergência, a formação e a consistência de sujeitos sociais voltados para as questões ambientais rima com a consolidação de dimensões fundamentais da cidadania.

O espaço que a questão ambiental tem obtido nos meios de comunicação parece distante e bem mais volumosa do que os resultados visualizados pelas mobilizações em prol de um projeto de educação ambiental direcionado ao conjunto da população afetada ou produtora dos efeitos ambientais. Neste particular cabe reconhecer as determinações históricas e se paradoxalmente ninguém educa ninguém, de forma semelhante pode-se endossar que ninguém se forma e cria vitalidade por si mesmo, senão em diálogo ou confronto com outros atores sociais.

O processo de educação, para reconhecer as alterações ambientais como pertencentes à esfera política, apresenta parâmetros amplos e não parece conectar-se de maneira uniforme em todas as parcelas da população que constróem uma retórica sobre a temática. Por isso convém centrar a atenção sobre as formas de como será possível desenvolver um programa de educação voltada para o meio ambiente e visualizar os prováveis elementos que deveriam ser contemplados na sua constituição tendo como ponto de referência a representação social.

 

BIBLIOGRAFIA

ABRIC, Jean-Claude. Pratiques sociales et représentations. Paris: PUF, 1994.

DURKHEIM, Emil. As regras do método sociológico. Coleção Pensadores. São Paulo: Abril, 1978.

GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.

HOGAN, D.J. & VIEIRA, P. F. (Org). Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustentável. Campinas: Unicamp, 1992.

JODELET, Denise (org). Les représentations sociales. Paris: PUF, 1989.

MARX, K. & ENGELS, F. Ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1984.

MINAYO, Maria C de Souza. O conceito de representação social dentro da sociologia clássica, in GUARESCHI, P. & JOVCHELOVITCH, S. (org) Textos em representação social. Petrópolis: Vozes 1995.

REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.

VIEIRA, Paulo F. & MAIMON, Dália. As ciências sociais e a questão ambiental: rumo à intercisciplinaridade. Rio de Janeiro: APED; Belém: UFPa, 1993.

 


[1]  Professor do Mestrado de Educação Ambiental na FURG, Rio Grande. Doutor em sociologia pela USP. E-mail  deccar@super.furg.br

 

http://forrester.sf.dfis.furg.br/mea/remea/vol4c/aloisio.htm


-    Holismo  e  Educação  Ambiental

 

1.   Educar para a Cidadania Planetária

 

Esse é um dos desafios da Ecopedagogia. Para nós, sustentam Gutiérrez e Prado [1999], educar é “impregnar de sentido” as práticas, os atos cotidianos. Nisso, a atuação do educador tem a dimensão ética do seu “quefazer”. A ética nesse sentido, é a própria essência do seu quefazer, e não apenas mais uma coisa mais um conteúdo, disciplina ou conhecimento a acrescentar no “quefazer” educativo.

 

“Educar-se é impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana “Francisco Gutiérrez o cidadão crítico e consciente, para Gutiérrez, é o que compreende, se interessa, reclama e exige seus direitos ambientais aos setores sociais correspondentes, e que também individualmente exerce sua própria responsabilidade ambiental.

 

A cidadania ambiental compreende as obrigações éticas que temos e que nos vinculam à sociedade como aos recursos naturais do planeta, tendo em perspectiva, desenvolvimento sustentável, cita Gutiérrez.

 

A comissão da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente criou um programa chamado Cidadania Ambiental Global, tido a partir da necessidade de contar com um cidadão comprometido com uma profunda mudança de conceitos, valores, e mentalidade sobre o Meio Ambiente, para promover a compreensão dos direitos e responsabilidades cidadão referentes ao meio ambiente no intuito de mobilizar ações voluntárias em todo os níveis sociais. O programa sustenta que a formação de uma cidadania ambiental é um componente importante e estratégico do processo de construção da democracia.

 

“Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo, de fato, é só isso que o tem mudado”.

Margaret Mead

[Apud Gutiérrez  op.cit.]

 

 

Os educadores devem fortalecer o papel estratégico na formação de crianças e jovens, incorporando valores humanistas e ambientais.

 

“Cidadania planetária é uma expressão que abarca um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos, e demonstra uma NOVA PERCEPÇÃO da Terra, como uma única comunidade”.

 

A cidadania planetária reconhece a indissociabilidade da civilização planetária e da Ecologia. A Terra é “Gaia”, um super organismo “vivo” e em evolução , isto é,  precisa ser tratado como um ser vivo e inteligente.

 

Alícia Barcena, [apud Gutiérrez, 1999 p.13], diz que no movimento ecológico o local e o global se interligam, por isso a cidadania ambiental e planetária. Ex. a floresta amazônica derrubada, não é apenas um fato local, é um atentado à cidadania planetária.

 

Leonardo Boff, [apud Gutiérrez,1999], declarou que: 

 

“Meu novo paradigma é a Terra vista pelos astronautas: os homens vistos como única comunidade”.

 

Educar para a cidadania planetária supõe o reconhecimento de uma comunidade global, de uma sociedade civil planetária; que precisa que se trabalhe pedagogicamente a partir da vida, do dia a dia, do cotidiano, a partir das necessidades e interesses das pessoas.

 

[1]Moacir Gadotti, na apresentação do livro de [2]Francisco Gutiérrez [1999], ressalta que esse autor considera que educar para a cidadania planetária supõe o desenvolvimento de novas capacidades, tais como:  “vibrar emocionalmente”, “inter-conectar-se”, e “pensar em totalidade”.

 

É nesse sentido que a Ecopedagogia é a pedagogia que promove a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana. É uma pedagogia democrática e solidária, porque, encontramos nela, sentido ao caminhar, e não apenas observando o caminho.

 

Os ecologistas tem argumentado que quem sofre com os efeitos da degradação ambiental são os mais pobres, que não podem proteger-se, fugir da poluição urbana para casas de campo, que moraram em ribanceiras que despencam - tipo ao pé de serras e montanhas, embaixo de linhas de alta tensão, em charcos e lugares alagadiços, etc.

 

As pessoas e o planeta, então serão, para ele, salvas no mesmo projeto de futuro da humanidade, e, essas são tarefas indissociáveis.

 

O lançamento de , “Ecopedagogia”, é mais um volume da série “guia da Escola cidadã, e com o tema da cidadania planetária dá continuidade ao trabalho que o Instituto Paulo Freire tem feito em torno da “carta da Terra” que na ECO 92 foi lavrada, sob os dizeres:

 

Carta da Terra - ECO 92:

 

“A terra é uma só nação, e os seres humanos, seus cidadãos”.

 

 

Para Gadotti, conseguir isso depende de um processo educativo.

 

O referencial teórico da Ecopedagogia é:

 

- “Mais que uma lógica racional, hierarquia e dominante, requeremos uma lógica relacional, flexível, intuitiva e processual.”

- “A harmonia Ambiental supõe tolerância, respeito, igualdade social, cultural, de gênero e aceitação da biodiversidade.”

 

Os anciões e sacerdotes indígenas de [3]“Amerika reunidos”, em novembro de 1995, na Guatemala declararam:

 

“A humanidade encontra-se na mais importante  encruzilhada de sua História como espécie.  É tempo de proteger a harmonia ambiental de nosso mundo”.

Gutiérrez [1999]

 

Rompemos o equilíbrio natural, e, se não o recuperarmos com urgência, arcaremos com as suas conseqüências: estamos jogando com a sobrevivência de nossa espécie!

 

A vida dos indígenas, dos maias, assim como a de muitos outros povos antigos, são testemunhas históricas da consciência planetária: sua vida cotidiana, seu trabalho, celebrações, sua visão da divindade e da morte, e sua produção artística e científica  o comprovam.  Desde tempos ancestrais, vivem a dimensão cósmica que hoje nós ansiamos.

 

“precisamos falar com a Terra, compreendê-la, experimentá-la. E participar de seu futuro, ser parte integrante dela mesma. Temos que chegar à consciência plena de estar vivendo planetariamente”.

Gutiérrez[1999]

 

Como conseqüência de que a Terra é nosso planeta, chegamos à comprovação diária de que temos de viver e conviver em e com a Terra, como disse  [4] Morin.

 

A questão ecológica é tratada no âmbito da ética e da espiritualidade na Educação Holística.  Sob esse enfoque tem sido chamada de ecologia profunda; conceito ainda muito novo para a maioria dos educadores ambientais. Cardoso apud Capra 1993:11,  diferencia o ambientalismo superficial da ecologia profunda. Essa não só estuda a natureza física, mas também envolve o homem em suas dimensões sociais e psíquicas. 

 

Uma das especificidades da educação holística é que ela tem como preocupação fundamental o futuro da humanidade e de todas as outras formas de vida do planeta Terra  [p. 47].

 

A nova Educação deve fazer eco com as angústias e com as esperanças dos homens nesse final de século, por isso,  precisa obrigatoriamente, dar amplo espaço  à Educação Ambiental dentro da perspectiva da “ecologia profunda”.

 

 

 

2.   Os PCNs e a Educação Ambiental no  Ensino Fundamental.

 

 

PCNs e Ciências no Ensino Fundamental: O ensino de Ciência na Educação Infantil e nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental, tem sido incrementado, ultimamente, apesar de haver algumas linhas de pesquisa contrárias a isso, de modo que cabe aqui a pergunta:  Porque ensinar Ciências na Escola Fundamental ?

 

Fumagalli, Laura, apud Weissmann, Hilda Didática das Ciências Naturais, defende o ensino de Ciências no Ensino Fundamental porque:

 

- É direito das crianças aprender Ciências;

- É dever social da escola Fundamental distribuir conhecimentos científicos ao conjunto da população;

- O conhecimento científico tem valor social.

 

Existem temas já consagrados, como água, poluição, energia, máquinas, culinária, etc., que podem ser abordados relacionando-se com os aspectos sócio-culturais, e são facilmente relacionáveis à Educação Ambiental.

 

 

 

2.1   “Ecologia do Corpo”

 

 

Tópico dos  PCNs: Ser Humano e Saúde: Os conteúdos do bloco temático dos PCNs  [Ser Humano e Saúde] para o ensino de Ciências nas séries iniciais, podem ser abordadas juntamente com os temas transversais, pois permitem muitas inter-relações.

 

 

Os PCNs colocam ainda, nesse documento sobre ser humano e saúde que se enfatize a mudança de hábitos culturais e comportamentos que favoreçam a saúde. 

 

Condena, inclusive, o grande hábito brasileiro da automedicação, o jogar lixo em terrenos baldios, o descuido com a higiene pessoal e a discriminação de pessoas por diferenças culturais raciais, recomendando que esses temas sejam trabalhados na escola.

 

 

Quanto ao SER HUMANO E SAÚDE, a concepção que orienta a abordagem do tema é a que interage com o ambiente, devendo ser visto como um todo dinamicamente articulado, onde cada sistema, aparelho, serve para a manutenção do organismo todo. É justamente o relacionamento entre as diversas funções no corpo humano que assegura a integridade do corpo e forma sua totalidade.

 

 

As interações com o meio ambiente e a satisfação ou não das necessidades biológicas, afetivas, sociais e culturais formam os registros no corpo humano.. Por isso se diz que o corpo reflete a história de vida da pessoa. É importante para a criança, associar o conhecimento sobre o corpo humano com um melhor conhecimento de seu próprio corpo, com a necessária atitude de respeito e apreço pelo seu próprio corpo e pelas diferenças individuais. Essa é uma idéia que anima a noção de “Ecologia do Corpo”. A carência nutricional, afetiva e social, por exemplo, interferem na arquitetura e no funcionamento do corpo humano, marcando-o.  Cada corpo é único, mas também tem padrões estruturais comuns que identificam a espécie. Há necessidades básicas gerais e individuais.

 

 

Incluímos em nosso trabalho os seguintes comentários sobre alimentação e os PCNs, porque julgamos ser esse um tema de importância relevante na educação e é concernente ao tema Ambiental que estudamos nessa pesquisa, pela perspectiva holística de nossa abordagem.

 

É louvável a orientação que os parâmetros curriculares nacionais estão colocando sobre alimentação.  A alimentação é uma necessidade biológica. Todos têm necessidade de consumir substâncias alimentares PURAS fundamentais à construção e ao desenvolvimento do corpo.

 

Hoje porém, é a mídia que tem se incumbido de ditar a alimentação, pela propaganda. É muito importante ficar alerta às ciladas que a propaganda prega. O consumo é o objetivo principal, ainda que haja o comprometimento da saúde da população. As pesquisas trazem dados alarmantes. O problema de coleosterol alto, por exemplo, não é mais só dos adultos, mas também das crianças. E não se trata de casos esporádicos!...  O motivo é o consumo de sanduíches e doces no lugar de refeições com verduras, cereais e legumes.

 

 

O desenvolvimento de uma consciência alimentar vital, física, biológica e crítica no aspecto mental/intelectual, é necessário. É essencial o estabelecimento de uma cultura contra o desperdício de alimentos, o aproveitamento das partes comumente desperdiçadas, de plantio coletivo de hortas e árvores frutíferas, etc.

 

Tem sido lugar comum na nossa cultura isolar o corpo humano das interações com o meio, ou apenas encará-lo como entidade física.  Essa idéia, felizmente vem se modificando, e hoje o corpo não mais é concebido só como máquina, mas como um conjunto de sentimentos, emoções, que, junto com os aspectos físicos formam as dimensões de um corpo todo individual e inseparável.

 

 

Segundo Capra [1982, p. 126],  a medicina científica teve brilhantes  “insights”  dos mecanismos íntimos do corpo humano e desenvolveu tecnologias num impressionante grau de complexidade e sofisticação,  mas apesar desses grandes avanços da  ciência médica, estamos hoje assistindo a uma profunda crise da assistência médica na Europa e América do Norte. O descontentamento é generalizado, por falta de simpatia e solicitude, negligência, imperícia, etc., mas principalmente pela impressionante desproporção entre o custo e a eficácia da medicina moderna.  Apesar do considerável aumento nos gastos com saúde nas últimas décadas, dos pronunciamentos médicos acerca do valor da ciência e tecnologia, a saúde da população não parece ter apresentado melhora significativa. Algumas  doenças, isoladamente, foram erradicadas, mas isso não restabeleceu necessariamente a saúde.   A quantidade em saúde e bem estar físico e mental não pode ser mais importante do que a qualidade, e lamentavelmente o é, na maioria das estatísticas e análises.  

 

O autor cita, ainda nesse capítulo sobre saúde, Lewis Thomas, presidente do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center:  “ Estamos, aproximadamente, com a mesma lista das principais doenças mais comuns com que o país se defrontou em 1950, e embora tenhamos acumulado um notável acervo de informações acerca de algumas delas nesse meio tempo, tal acumulação ainda é insuficiente para permitir a prevenção ou a cura completa de qualquer uma delas”.

 

A falta de  “validade ecológica”, é um  fator que muito contribui para a falta de ética nas ciências de modo geral. As pesquisas são ficticiamente distorcidas em laboratórios em inúmeros casos, ou os dados são manipulados com parcialidade, por interesses financeiros, etc.

 

 

3.   Educação Ambiental  e  Ecologia  Sustentável

 

 

“Ecologia não é caso de polícia. 

Nunca haverá um fiscal para cada empresa que deixe vazar lixo químico irregularmente ou para cada pessoa que jogue lixo na praia.  O desafio é mudar as mentalidades, os comportamentos.  A base é a educação ambiental em toda sua plenitude”.

[5]Minc [1997]

 

O ambiente é uma unidade.  Precisa ser compreendida de forma  inteira.  O conhecimento inter e  transdisciplinar é o que pode melhor assimilar o equilíbrio DINÂMICO inerente do ambiente,  diz  Guimarães [1995].

 

“O mundo é superpovoado e as cidades substituem com seus atrativos artificiais a beleza natural, e o homem corre risco de sufocar-se em seu próprio lixo.  Os lagos e o mar, inevitavelmente poluídos.  O ar está irrespirável em muitas cidades e o lixo urbano e industrial acumula-se por toda parte.  As pragas ceifam os campos agrícolas e os agrotóxicos utilizados para impedir sua proliferação concorrem para o aumento da poluição das águas e o envenenamento da população.”

Gonçalves,1984

[apud Guimarães, 1995. p.12]

 

A idéia de a natureza está aí para servir, ser usada pelo homem é muito arraigada.  Vem desde os primórdios dessa civilização.  Como mudar essa visão antropocentrista, tão enraizada em  nossa mente ?  Como reatar o “nó” que ligava nossos ancestrais à Natureza?  Pela Educação Ambiental poderemos proporcionar esse  “encontro”  do homem com a Natureza novamente.  Isso significa que  toda e qualquer atividade que ajude o educando à  perceber sua relação com o mundo que o cerca, é uma “Educação Ambiental”.

 

 

A mentalidade preservacionista precisa surgir, e só será realidade quando, diz Candau et alli [1996.p.71],  o indivíduo perceber, por ele mesmo, seu papel nesse processo. Fornecer elementos para que ele consiga essa percepção é a tarefa da “Educação Ambiental”.  O conceito de “Viver em harmonia com a Natureza” garante a sobrevivência do homem enquanto espécie e precisa estar embutido na cabeça de todas as pessoas no futuro. E o futuro começa a ser construído agora, dizem os autores deste livro, Tecendo a Cidadania. 

 

 

Baseados em  [6]Neiman, Z. eles dão o seguinte recado:

 

“ Você acaba de se meter numa enrascada. Ou ajuda, com seus conhecimentos a evitar a destruição de nossos ecossistemas ou se torna conivente com ela”.

 

“O que você pode fazer por todos nós?”

 

É comum o sentimento de impotência, ante as questões ambientais, especialmente por parte dos jovens e  crianças.  Mas é importante que se incuta neles que a grandiosidade da questão não nos pode paralisar. Ao contrário, deve nos estimular a agir. Então, Candau et alli,  colocam  que podemos  mostrar ao  aluno, que só o fato dele ter a disposição de começar a respeitar a natureza,  sair plantando árvores, jogar o lixo só nos lugares corretos, tentar reciclar e diminuir seu lixo,  ajudar seus pais não comprarem móveis ou imóveis que destruam o Meio Ambiente, etc., já é um grande trabalho em prol da conservação do Planeta.

 

Alguns povos, até hoje [[7]poucos], se relacionam com a natureza, com seu meio natural, com muito respeito. E outros, que se dizem “mais progressistas” e evoluídos substituíram esse respeito por um “aproveitamento” irracional dos recursos naturais, que nos levou à atual crise ambiental, por saque e apropriação indevida. A magnitude da crise é enorme.

 

A visão desenvolvimentalista, reducionista, estreita, do nosso Planeta Terra desconhece a dimensão ampla do desenvolvimento sustentado, que se fundamenta numa base ecológica, que vai além do sentido das preocupações imediatistas sobre o meio ambiente. E aí Gutiérrez cita que a ecologia pode ser superficial, quando está simplesmente ostentando a bandeira “do verde”, do ambientalismo superficial, ou pode ser ética, “Profunda”, fazendo analogia com as colocações do capítulo inicial deste trabalho, baseado em Cardoso [1995] - quando vai além das preocupações imediatas de proteção ao meio ambiente - que apenas procuram controlar e gerir mais eficientemente os recursos naturais em “benefício do homem”, egocentricamente.

 

O movimento da ecologia de Gutiérrez é centrado na ética, [analogamente à ecologia “profunda” de Cardoso, Capra, Weil, e outros autores]. Há o reconhecimento de quando o equilíbrio ecológico exige uma série de mudanças profundas em nossa percepção do papel que o ser humano deve desempenhar no cenário, no ecossistema planetáro.

 

Para vislumbrar essas possibilidades é preciso revalorizar práticas antigas de nossa realidade cultural e aceitar as [8]“premissas fundamentais sobre a vida e o Universo das antigas tradições religiosas junto às descobertas da física moderna de Einstein, pois ambos se apóiam mutuamente”.


 



[1] DIRETOR GERAL DO INSTITUTO PAULO FREIRE

[2] “Ecopedagogia e Cidadania Planetária”,1999.

[3] Reunião de Anciões e sacerdotes indígenas de Amerika. Guatemala, 14-24.11.95. Fotocópia. In Gutiérrez [1999]

[4] M.R; Morin, Edgar, e Brigittekern, Anne. Terra Pátria.  Barcelona, Kairós, 1993

[5] na contra capa de seu livro Ecologia e Cidadania.  [1997] Ed.  Moderna.

[6] Neiman, Z.  Era Verde ?  Ecossistemas Brasileiros Ameaçados.  Ed. Atual.  Série Meio Ambiente. S.Paulo, 1989, p. 91-98.

[7]  Poucos:  Observação da autora da pesquisa .

[8] Kuiten brouwer, Joost. Génesis y dinâmica psicossocial de la acumulación en Occidente y sus implicaciones para la justicia socialy los derechos humanos. Santiago de Chile, CEAAL, 1987.

Monografia na íntegra: http://www.nlink.com.br/~luzsaber/ Com arquivos para Download


Ecologia Política e Ecodesenvolvimento

No que se refere à gestão do meio ambiente, as teses liberais e estatistas estão superadas. Resta pensar de agora em diante as formas ecopolíticas de implementação do ecodesenvolvimento.

Desde a Eco-92, fala-se muito em "desenvolvimento sustentável". Há três leituras dominantes desta idéia-força, que em princípio significa a criação de políticas de sustentabilidade ecológica, social e econômica de tal forma que as gerações atuais detenham e revertam o processo de insustentabilidade crescente, garantindo condições de vida digna às gerações futuras, etc.

A primeira leitura dominante é a estatista ou estatocêntrica: segundo este viés, a gestão do meio ambiente é setorial e desconectada das políticas de promoção do crescimento econômico. Trata-se de um enfoque normativista e tecnicista, pelo qual o Estado confunde-se com espaço público e arroga-se o direito de gerir e controlar burocraticamente o território e os ecossistemas. Esta visão está em crise e em processo de confluência com as idéias liberais. A teoria da elite do poder está implícita aqui, destacando a importância das cúpulas do poder executivo, do mercado e das forças armadas.

A segunda leitura dominante é a mercadológica: por este enfoque o empresariado assume a liderança das políticas que visam a sustentabilidade em suas diversas formas. Um grupo de vanguarda (Business Council for Sustainable Development) defende a auto-regulação das empresas como meio de baratear os gastos públicos com a gestão ambiental. O papel do Estado ainda é relevante, mas restrito às políticas setoriais em parceria com o empresariado que, em sua maior parte, mantém-se alheio aos seus deveres socioambientais. A teoria da elite empresarial está subjacente aqui.

A terceira leitura dominante é a comunitária: esta visão emerge dos movimentos sociais e ambientalistas, das ONGs que formam o chamado "terceiro setor". Há neste enfoque uma ênfase à ética na política, à defesa da diversidade cultural e biológica, dos direitos humanos e ambientais, da ampliação da cidadania nos espaços locais, transnacionais e globais. Aqui a concepção de espaço público não-estatal emerge como iniciativa de cidadãos organizados voluntariamente. A teoria pluralista do poder se faz presente, como defesa da democracia.

A ecologia política vai além da política ambiental na medida em que concebe esta como transetorial, ou seja, como política que interliga as diversas políticas setoriais tomando como denominador comum a proposta de ecodesenvolvimento. Esta inclui as diversas leituras dominantes sobre desenvolvimento sustentável, mas redefinindo-as com o objetivo de harmonizá-las. Não se trata apenas de corrigir os desvios do mercado ou combater a poluição, mas de planejar de forma participativa a economia humana em contextos ecossociais. Faz parte do ecodesenvolvimento uma abordagem da teoria dos sistemas pela qual busca-se a inter e a transdisciplinaridade no diagnóstico de impactos ambientais negativos e no uso racional dos ecossistemas. Neste sentido a ecologia política avança no sentido da transmodernidade e do paradigma da complexidade.

Em síntese, a ecologia política é a busca de implementação do ecodesenvolvimento a partir do planejamento participativo e da correlação de forças existentes em cada jurisdição. Não é a tentativa de impor uma teoria do poder sobre as demais. A democracia imposta não se sustenta, já que consiste num processo constante de ampliação da cidadania. Isto implica em considerar a complexa relação de concorrência, antagonismo e complementaridade entre as leituras dominantes do desenvolvimento sustentável.

Assim, cabe avaliar a interdependência conflituosa entre Estado, mercado e terceiro setor. A implementação da Agenda 21, em âmbito local, estadual e nacional, por exemplo, requer a compreensão da correlação de forças políticas nestes três níveis da federação, além da capacidade de ampliar as complementaridades dos atores sociais mais relevantes para que a Agenda 21 e a idéia-força da sustentabilidade não se tornem simples peças de retórica.

A ecologia política também pressupõe certa dose de invenção da política "regional", relativizando-se este termo no sentido de abordar diversos espaços, ainda que ultrapassem as fronteiras políticas convencionais de municípios, estados, nações. Faz sentido um olhar crítico sobre as limitações territoriais da democracia representativa, na medida em que esta pressupõe a manutenção dos princípios antropocêntrico e de soberania nacional. Estes já não são mais realistas e precisam ser relativizados em face dos problemas globais (efeito-estufa, superpopulação, buraco na camada de ozônio, descontrole da saúde pública e da violência, etc). No horizonte da ecologia política está mais do que a implementação de tratados internacionais como o de Kyoto. Faz-se necessária a democratização globalizante no sentido de uma Constituição para a Federação do Planeta Terra, na linha do que vem sendo elaborado desde 1977 pela Assembléia Constituinte Mundial (Áustria), com emendas aprovadas em 1991 (Portugal). (Ainda que pareça completamente utópica, a idéia de um Governo Mundial já tem avançado, com a definição de 19 artigos detalhados em 47 páginas).

Fonte: Sérgio Luís Boeira é Doutor em Ciências Humanas (Sociedade e Meio Ambiente) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor da UNIVALI. slboeira@matrix.com.br

http://www.revistaturismo.com.br/noticias/not72.htm


Nada a comemorar na Semana do Meio Ambiente

06/06/2001

Na Semana Mundial do Meio Ambiente, o Greenpeace denunciou, em Brasília (DF), a falência do governo em preservar os Parques Nacionais Brasileiros. Dados do Greenpeace mostram que, das 45 Unidades de Conservação de uso direto ou indireto existentes no Amazonas, 38 - ou 84% - ainda não foram implementadas. O exemplo mais recente do abandono em que se encontram tais Unidades de Conservação é a extensa destruição do Parque Nacional da Amazônia, documentada por ativistas do Greenpeace nos dias 24 e 25 de maio.

Situado na margem esquerda do Rio Tapajós, no município de Itaituba (PA), o Parque Nacional da Amazônia foi criado em 1974 e tem quase 1 milhão de hectares. Vinte e cinco anos depois de sua criação, a área ainda não foi demarcada e tem apenas dois funcionários - mal equipados - encarregados de sua vigilância.

"O prefeito de Itaituba, Wirland Freire (PMDB-PA), comprou recentemente uma fazenda na fronteira leste do Parque Nacional da Amazônia", disse Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace. "De acordo com o Ibama, nos últimos 30 dias, trabalhadores a mando do Prefeito desmataram, a corte raso, 706 hectares do Parque. Outros 3.000 hectares foram preparados para o desmate, com corte do sub-bosque. Como a madeira não foi retirada do local, o Ibama supõe que o prefeito iria mandar queimar tudo e transformar a área em pastagem para gado".

A primeira denúncia de desmatamento do Parque Nacional da Amazônia foi feito no dia 16 de abril, pela "Linha Verde", um sistema de denúncia telefônica do Ibama. No dia 11 de maio, o vereador Luiz Fernando Sadeck dos Santos encaminhou nova denúncia, acusando diretamente o prefeito pelo desmatamento e afirmando que 80 moto-serras estavam sendo utilizadas no crime ambiental (1). Dez dias depois, agentes do Ibama e da Polícia Militar, chefiados pelo engenheiro florestal Norberto Neves de Souza, foram à área.

Souza encontrou não apenas o maior desmatamento já ocorrido em um Parque Nacional, como evidências do envolvimento do prefeito. "Trabalhadores disseram que eram pagos por Wirland Freire", diz o engenheiro florestal no vídeo do Greenpeace. O Ibama já apreendeu 89 foices, limas, correntes de moto-serra, tanques com 400 litros de gasolina para motosserra e meia tonelada de alimentos, comprovando que muita gente trabalhava no desmatamento ilegal (2). O prefeito recebeu duas multas - no valor total de R$ 100 mil.

Segundo Adário, o que acontece no Parque Nacional da Amazônia é uma lamentável demonstração de descaso com a preservação do meio ambiente. "Isso é um crime que envergonha o país, cometido no exato momento em que o governo divulga dados mostrando que o desmatamento na Amazônia está fora de controle (3)."

O Greenpeace entregou, durante a tarde, ao Ministério do Meio Ambiente uma carta com demandas para a proteção das Unidades de Conservação e a documentação do crime ambiental cometido contra o Parque Nacional da Amazônia. O vídeo e as fotos também serão encaminhados à Procuradoria Federal em Santarém, pedindo a adoção de providências legais. A organização ambientalista defende a urgente demarcação do Parque e sua efetiva implementação, o aumento do número de fiscais e a realização de um inventário sócio-econômico das comunidades que vivem no seu entorno. Moradores dessas comunidades poderiam integrar uma brigada comunitária destinada a zelar pela manutenção do parque.

Além dessas medidas específicas, o Greenpeace defende a adoção urgente de um plano efetivo de proteção da Amazônia, que passa não apenas pela criação e implementação de áreas de proteção - tais como parques e reservas e pelo fortalecimento das entidades encarregadas de fiscalização e monitoramento -, mas também pela adoção de um programa nacional de combate ao desmatamento para interromper a destruição da maior floresta tropical do mundo.

 


Lixo é fonte de energia elétrica ecologicamente correta

 

Brasília, 08 (Agência Brasil - ABr) - "Matar dois coelhos com uma cajadada só". Esse ditado popular exemplifica bem o que aconteceria se utilizássemos o lixo para produzir energia elétrica. Dois dos principais problemas da sociedade brasileira hoje, a escassez de energia elétrica e a destinação do lixo, poderiam ser resolvidos com uma ação combinada: o aproveitamento de resíduos para a geração de quilowatts.

A conversão de parte do lixo em energia elétrica não é novidade. Vários países adotam a medida há anos. Entretanto, até julho de 2000, a produção de energia elétrica era monopólio estatal no Brasil. Só agora, com a mudança do modelo institucional do setor elétrico, tornou-se possível a geração de energia elétrica a partir do lixo com a participação da iniciativa privada. "Esse é o momento para implementarmos a energia via lixo", alardeia Sabetai Calderoni, professor da USP, consultor da ONU, autor do livro "Os Bilhões Perdidos no Lixo", em sua 4ª edição, e tido como um dos mais renomados estudiosos em meio ambiente, energia e lixo do país.

A energia elétrica via lixo pode ser obtida de duas formas: pela compostagem da fração orgânica e pela incineração da parte seca. Segundo estudos de Sabetai, a parte orgânica representa cerca de 60% do lixo domiciliar nacional, enquanto a porção seca fica em torno de 30%. Os 10% restantes são rejeitos não aproveitáveis. Numa cidade que gera 350 toneladas/dia de lixo, as 210 t de orgânicos forneceriam cerca de 2,5 MWatts. A fração seca, apesar de menor, produziria 3,5 MW devido ao maior poder calórico de seus componentes: borracha, madeira, plástico, papel. Esses 6MW totais seriam suficientes para abastecer 60 mil residências. Em comparação com outras fontes de energia, uma vantagem do metano é a possibilidade de armazenamento do gás para a geração de energia elétrica no horário de pico, entre 17h00 e 19h00.

Mesmo perdendo na produtividade, o aproveitamento da parte orgânica é uma alternativa ecologicamente mais interessante. Sabetai explica que a compostagem, processo biológico que transforma os resíduos orgânicos em fertilizante e metano, quando feita nos digestores das usinas, não agride o meio ambiente. "É um atenuador de impactos. O lixo depositado em lixões e aterros decompõe-se naturalmente, a céu aberto, o metano liberado é um dos gases responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta, o efeito estufa", acrescenta.

Da parte seca do lixo, o professor considera mais lucrativo separar o alumínio, o aço e o vidro e devolvê-los às indústrias para reciclagem. "Para os outros materiais é interessante fazer uma análise de mercado e verificar o que é mais produtivo, o reaproveitamento ou a incineração para geração de energia", diz ele. A emissão de poluentes como as dioxinas e os furanos, custo ambiental que inviabilizava esse tipo de energia, foi amenizada com a instalação de filtros para a retenção de poluentes. Vale lembrar que as dioxinas e os furanos constam da lista dos "doze sujos", poluentes que tiveram sua emissão limitada em recente Convenção em Estocolmo, Suécia.

Para um aproveitamento racional do lixo urbano, Sabetai criou as Centrais de Reciclagem Integral. Estrutura, que como o nome diz, integra todas as atividades relacionadas ao tratamento do lixo. "As centrais evitam que 90% do lixo vá para os aterros", proclama seu idealizador. Segundo ele, aproximadamente 70 municípios negociam a implementação dessas unidades. Para ser viável, o volume mínimo necessário de resíduos é de 200 t/dia, quantidade produzida por uma cidade com entre 300 e 350 mil habitantes. A potência mínima instalada de 3 MW, instituída pelo governo, também impede a geração de energia com menor quantidade de detrito.

Pelo projeto de Sabetai, as centrais devem começam a agir na fonte. Para cada 300 residências há um responsável pela coleta que instruirá a população sobre a forma correta de separação do lixo. "Onde há coleta seletiva, a triagem é simplificada", justifica o professor. Para esse trabalho junto às pessoas, Sabetai considera os carreteiros e catadores ideais. Desenvolvendo a atividade sob a forma de cooperativa, acredita o pesquisador, esses trabalhadores informais obteriam melhores rendimentos, uma vez que o atravessador será excluído do processo.

Nenhuma central está funcionando. "São necessários pelo menos doze meses para montar toda a estrutura", informa Sabetai. A pleno vapor, ele acredita que os custos dos municípios com o lixo, em média 7% dos recursos totais, poderão se reduzir a zero. Aterros sanitários com maior vida útil; redução do tráfego de caminhões de lixo; diminuição da emissão de poluentes; esses são, segundo o professor, alguns dos benefícios para a cidade com a adoção das centrais. O lixo também produzirá retorno financeiro seja para a prefeitura, seja para as concessionárias, com a venda de quilowatts, fertilizantes e de materiais para reaproveitamento. (Hebert França)

© Todas as matérias poderão ser reproduzidas desde que citada a fonte

http://www.radiobras.gov.br/abrn/c&t/2001/materia_080601_1.htm

 


Água: A Guerra do Futuro

A água mineral será o ouro do século XXI.

Em tempos modernos, numa constatação da ONU, um bilhão e quatrocentos mil pessoas não têm água tratada em casa, originando diversas doenças, como diarréia e esquistossomose. Um terço da população sem condições vivem o stress da água.

Formada a partir de dois elementos, a água é um composto estável e todos vivemos dela! Recurso considerado, por muitos, praticamente inesgotável, para toda a população mundial, as águas potáveis já são escassas. Diferente da ficção Mad Max, onde houve lutas pelo que restou do petróleo, há o medo de guerras civis através das previsões de disputa pela água, e quem tiver acesso às águas potáveis terão o poder. Hoje, o litro de água é mais caro que o litro da gasolina. Enquanto compramos l'eau minérale da França, é bom lembrar que o Brasil é um dos países mais ricos em recursos no assunto, pois tem mais de 25% em água potável do mundo. Existe a previsão, do Banco Mundial, de escassez de água potável em 2004. Enquanto isso, empresas de grande porte, como a Coca-Cola e a Nestlé, vêm comprando terras com fontes pelo mundo inteiro, inclusive no Brasil. A água mineral será o ouro do século 21.

As águas de consumo público são captadas em lençóis subterrâneos e profundos, ao abrigo da poluição, ou em rios e lagos artificiais ou naturais. O tratamento completo da água comporta a eliminação das matérias em suspensão, coloidais ou não, e dos micropoluentes, compostos julgados perigosos ou desagradáveis mesmo em quantidade reduzida (metais pesados, compostos organoclorados, pesticidas, hidrocarbonetos). É um trabalho mecânico, mas excessivamente delicado no que diz respeito a responsabilidade desta. A agricultura consome muita água do mundo. A falta de água prejudica a agricultura; quando a água é pouca falta comida.

Durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, foi instituído o Dia Mundial da Água, cujo principal objetivo é sensibilizar os países membros da ONU para que explorem de maneira mais racional os recursos de água. É de conhecimento dos governos mundiais que os recursos hídricos estão diminuindo gradativamente. De acordo com dados da ONU e da Comissão Mundial Sobre a Água do Século XXI, cerca de 500 milhões de habitantes de 29 países sofrem, hoje, de escassez de água. E para solucionar este problema no mundo, segundo o Banco Mundial, seriam necessários US$ 800 bilhões durante os próximos dez anos. A ajuda internacional não passa de 10% deste total.

A principio, cada país tem desenvolvido uma estratégia. Israel, por exemplo, sendo um país de pouquíssimos recursos fluviais, tem como missão nacional o aproveitamento adequado dos recursos existentes com as mais altas tecnologias para utilização das chuvas de inverno; reutilização de águas residenciais e industriais purificadas; processo de desalinização; conservação e aumento da pluviosidade; as indústrias redesenham suas instalações, diferente da situação do sucateamento das empresas brasileiras; a agricultura com seus avanços tecnológicos de irrigação, que trazem uma redução significativa da ordem de 20% da perda de água. Israel fornece água para todo o país e também à Jordânia. Neste ano, por exemplo, Israel passou por uma das piores secas dos últimos tempos; a quantidade de água não será suficiente nem para a própria população. Sendo assim, Israel passa pela possibilidade de suspender suas vendas à Jordânia, que será obrigada a comprar de um outro fornecedor mais distante, portanto mais gastos.

O Brasil destinou verbas internacionais para a criação de comitês das bacias, onde, por meio deles, membros da sociedade e dos governos municipais, estaduais e federal buscarão respostas de como deve ser usada a água dos rios. Cheguei a participar, como convidado, de reuniões no início de 1998 para uma das cinco bacias hidrográficas de Minas Gerais, onde a região de Visconde de Mauá está inclusa. A proposta é boa, torcer para que não mamem muito dessas verbas e que não acabe em pizza!

São Paulo, por exemplo, em matéria de água potável, dispõe, por pessoa, menos de um terço do nível mínimo recomendado pelas Nações Unidas. Não dispõe de novos mananciais, seus reservatórios continuam sendo poluídos e é assustador o crescimento de loteamentos clandestinos nas áreas dos mananciais, superpopulando essas importantes regiões, poluindo-as através de esgotos domésticos.

A alternativa mais coerente será racionalizar o consumo, desde o cidadão até a indústria, e investir na preservação dos mananciais, combatendo a ocupação dessas áreas. Por enquanto, dizem os governos que para a melhoria da qualidade das águas estão as obras municipais de saneamento básico, a recuperação dos mananciais e a limpeza de córregos, além de projetos de pesquisa de área. Falando deste jeito sobre projetos a serem realizados pelo governo, recordo-me quando estava no colegial e tive uma aula de filosofia sobre a diferença entre o de fato e de direito.

A verdade é que estamos cada vez mais distantes da água da fonte. Viramos con$umidores dependentes de garrafas e garrafões. Cada vez mais lançam sistemas de filtros e purificadores ultramodernos (um dos últimos, é por osmose reversa). Cientistas, no mundo, desenvolvem e aperfeiçoam técnicas que permitem melhorar o tratamento das águas residuais, salinas e da água potável. Para tratamentos cada vez mais sofisticados, em proporções semelhantes, crescem os ga$tos.

Pequenas atitudes, como desligar a torneira ao escovar os dentes e só utilizá-la para lavar-se, deixar o chuveiro desligado enquanto não toma banho. Se cada um tomar pequenas atitudes e posturas de cidadãos do mundo, transmitindo aos outros, já é um grande primeiro passo. Tem muita coisa para fazer, tanto os cidadãos quanto as indústrias e os governos.

Os dados são alarmantes. O problema é um fato e real, ultrapassa fronteiras, mas enquanto não chegar às torneiras de cada casa o tema águas escassas ainda será para poucos. É uma questão de tempo. Somos, de fato, dependentes da natureza, devemos prestar maior atenção a este assunto, dando importância real na saúde e na sobrevivência de muitos, evitando futuras guerras. Caso contrário... as águas vão rolar...

Uma dica para a saúde: todo dia, ao acordar, tomar em jejum um copo de água em temperatura ambiente.


O "NOSSO" MEIO AMBIENTE

Berenice Gehlen Adams



                    Quando falamos em "nosso meio ambiente" é importante perceber o sentido da palavra "nosso" dentro de um diferente contexto. O sentido da palavra "nosso" não se refere a algo que nos pertence, como uma propriedade (apesar de ser um pronome possessivo), como algum objeto sobre o qual temos posse. Falar em "nosso ambiente" diz respeito à "nossa forma de vida" como um todo.

                    Quando falamos em "nosso meio ambiente" estamos falando da nossa vida, em seu amplo contexto e tudo o que a ela se relaciona. Estamos incluídos neste meio ambiente, pois ele nos perpassa e somos parte dele.

                    Quando falamos que no meio ambiente encontramos tudo o que precisamos para viver, estamos falando de nossas necessidades vitais, pois sem ambiente não é possível existir vida.

                    Portanto, quando falamos em "nosso ambiente" devemos perceber que dele fazemos parte e que o que acontece com o meio ambiente acontece conosco. É como falar em "nosso grupo", "nosso trabalho", "nosso corpo", "nosso universo", como algo do qual fazemos parte e não de algo do qual somos donos ou temos domínio. 

                    Vivemos em um ambiente sócio-político-econômico-cultural que nos coloca em uma posição privilegiada e separada do ambiente natural. Alguns discursos apresentam, em sua essência, que os recursos naturais existem exclusivamente para nos servir e que dele podemos fazer uso para o nosso próprio benefício, sem levar em conta a implicação disto para o meio ambiente. Esta cultura consumista, progressista, dissocia e distancia o ser humano da natureza e do meio ambiente colocando-o sempre no topo, em um pedestal. Somos "endeusados" por nós mesmos. É chegada a hora de perceber que tudo está relacionado entre si. É preciso destronar o ser humano como "rei" do universo. Somos nada, absolutamente nada, sem o nosso meio ambiente. (13.06.2001)


Mensagens enviadas até o dia 19.06.01

Projeto Apoema - Educação Ambiental

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