InformaLista

O Informativo da lista “Educação Ambiental”

No. 15 – 29 de julho de 2001

Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)

Os textos não passaram por revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.


A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO SGA

 

A comunicação no SGA (Sistema de Gestão Ambiental) é um fator estratégico importante para uma organização principalmente quando se trata de atividades industriais, que são automaticamente associadas à idéia de poluição efetiva e degradação do meio ambiente pela comunidade desinformada. Basta ver o exemplo das famosas “listas negras” ambientais: até prova em contrário, as organizações que têm a infelicidade de ser incluídas nessas listas carregam o estigma de destruidoras do meio ambiente e inimigas da comunidade, passando desapercebido o fato de já terem iniciado ações concretas no sentido da implantação de um sistema de gestão ambiental, da minimização de seus impactos ambientais e da recuperação de danos que eventualmente possam ter causado.

Apesar de já ter sido iniciado um movimento global direcionado para o desenvolvimento sustentável, a educação ambiental está ainda ensaiando os primeiros e decisivos passos - principalmente nos países emergentes, onde a burocracia, o desinteresse e a desinformação da grande maioria da população ainda dificultam, de um lado, a implementação de ações de preservação ambiental (como exemplos concretos citamos o descarte de toda a sorte de lixo em cursos d’água pela população, a queima de lixo e pneus a céu aberto, a demora na análise / concessão de licenciamentos ambientais, a insuficiência de recursos tecnológicos, humanos e financeiros dos órgãos de fiscalização ambiental etc.) e, de outro, alimentam um preconceito radical, injustificado e extremamente danoso para as organizações supostamente “insensíveis às questões ambientais”, aproveitado por pessoas menos escrupulosas como meio eficiente de manipular a opinião pública em benefício próprio.

É importantíssimo, então, que as organizações passem a adotar a estratégia de comunicar periodicamente ao seu pessoal, às comunidades onde se acham inseridas e ao público em geral todas as suas ações na área ambiental, por mínimas que sejam, buscando informar e cativar a opinião pública.

No caso específico dos empregados, a organização deve reconhecer que são um de seus principais instrumentos de marketing e, mais do que isso, que só através deles poderá ter uma gestão ambiental eficiente e voltada para a melhoria contínua. Assim, a comunicação interna sobre a gestão ambiental da organização reveste-se de particular importância, considerando sua função de incutir em cada empregado o senso da responsabilidade ambiental e torná-lo co-responsável tanto pelo desempenho ambiental da organização como pela manutenção / melhoria de sua imagem.

 

Em outras palavras, cada empregado deve sentir-se orgulhosamente importante - fundamental, mesmo - para os objetivos ambientais de sua organização; e o despertar e a contínua alimentação desse sentimento são conseguidos com informação constante (“a organização considera-me peça-chave para o SGA, pois sempre me mantém atualizado sobre sua situação ambiental e sobre como devo proceder para ajudá-la”).

Não se deve esquecer o papel fundamental da alta administração e das chefias de todos os níveis, cujo exemplo e determinação no sentido de manter comportamento e práticas ambientalmente corretas são imprescindíveis para a motivação do time.

A estratégia de comunicação e informação pode e deve ser executada através de todos os meios disponíveis - institucionais, mídia, informativos para sindicatos e associações comunitárias, palestras em outras organizações, associações e instituições de ensino, marketing, divulgação em seminários e workshops, organização de visitas de familiares de empregados, de instituições de ensino, da imprensa.. Enfim, a criatividade não tem limites e deve ser exercida pela organização do modo que lhe for mais adequado e conveniente para atingir os objetivos de informação e aquisição do respeito da opinião pública; estas terão, como conseqüência natural, a melhoria da imagem e até da própria competitividade, pois, atualmente, as organizações consideradas amigas do meio ambiente têm cada vez melhor trânsito e maiores facilidades junto aos órgãos da Administração Pública e às instituições financeiras oficiais, além de tratamento diferenciado pelos órgãos de fiscalização ambiental (em casos de acidentes com danos ao meio ambiente, a própria lei de crimes ambientais considera como atenuantes as ações que o causador do dano tenha tomado visando a preservação / melhoria ambiental).

Um último ponto a ser considerado sobre a importância da comunicação para o SGA é o relacionamento inter-empresarial. As organizações, independentemente de seus ramos de atividades, sempre têm muito a aprender umas com as outras.

Nenhuma organização evolui sozinha, sem troca de informações e dados; portanto, são fundamentais as ações no sentido de “benchmarkings”, participações em seminários / grupos de trabalho específicos e manutenção do melhor relacionamento possível com outras organizações, sejam ou não do mesmo ramo de atividades, fornecedoras, clientes e, até mesmo, concorrentes - salvaguardadas, é claro, aquelas informações e dados de caráter sigiloso e pertinentes exclusivamente aos processos produtivo e comercial. Ou seja, ações, dados e informações que digam respeito exclusivamente à preservação e melhoria contínua do meio ambiente não devem ser omitidos ou “guardados a sete chaves” - ao contrário, devem ser divulgados, analisados, discutidos, sempre com o objetivo maior do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... Afinal de contas, este é o princípio e o fim de qualquer sistema de gestão ambiental!

Eymard de Meira Breda – Eng. Químico – Consultor e Auditor Ambiental

eymard@verdegaia.com.br; eymardmb@net.em.com.br.

VERDE GAIA CONSULTORIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL – www.verdegaia.com.br


Ecolinks - Links Ecológicos

http://ecolinks.vila.bol.com.br/

INFORMA

Amigas e amigos,

O projeto Brasil Sustentável e Democrático, juntamente com o Departamento de Sociologia da UFF, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, a Comissão de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores e o Centro de Ecologia e Saúde do Trabalhador da Fundação Oswaldo Cruz, está planejando organizar um encontro sobre Justiça Ambiental no segundo semestrec deste ano.

O termo "Justiça Ambiental" começou a ser utilizado nos anos setenta por movimentos sociais norte-americanos, mas vem ganhando crescente expressão internacional. Uma constatação básica esteve na origem do conceito: os depósitos de lixo químico perigoso, assim como as atividades fortemente poluentes e/ou degradadoras do lugar onde se vive, não se localizam de forma aleatória no território norte-americano. Elas são colocadas, preferencialmente, nos espaços habitados por comunidades pobres, especialmente por etnias marginalizadas como os negros, os chicanos e os índios. Essa constatação gerou um clamor pela aproximação entre as lutas por justiça social e por qualidade ambiental, unidas na idéia de justiça ambiental. Em anexo encontra-se um texto de Henri Acserald que explica bem a idéia.

Um dos pesquisadores que mais tem se dedicado à essa idéia, Robert Bullard, definiu o objetivo do movimento por justiça ambiental da seguinte maneira: a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, origem ou renda, no que diz respeito à elaboração, desenvolvimento, implementação e reforço de políticas, leis e regulações ambientais. Entendendo-se por tratamento justo que nenhum grupo de pessoas, incluindo-se aí grupos étnicos, raciais ou de classe, deva suportar uma parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas resultantes das operações dos agentes privados ou públicos.

Consideramos que essa é uma luta fundamental e promissora, para além das suas origens específicas. Na verdade, com diferentes designações, há muito tempo que movimentos por justiça ambiental vem ocorrendo no mundo. A resistência das comunidades ambientalmente agredidas, Assim como as lutas por melhores condições de vida, tem manifestado um fenômeno que alguns chamam de ambientalismo popular. O conceito de justiça ambiental, que pode e deve ser ampliado politicamente, tem o potencial de servir como referencial para uma renovação e uma aproximação conceitual dessas lutas.

No caso do Brasil, esse potencial é enorme. Sabemos que nosso país é extremamente justo em termos de distribuição de renda e acesso aos recursos naturais. Temos uma elite especialmente egoísta e insensível, que defende com unhas e dentes os seus interesses e lucros, inclusive lançando mão freqüentemente da ilegalidade e da violência. O sentido de cidadania e de direitos, por outro lado,ainda encontra pequeno espaço em nossa sociedade, apesar da luta valorosa de tantos movimentos e pessoas em favor de um país mais justo e decente. Tudo isso se reflete no campo ambiental, como podemos ver a toda hora. O desprezo pelo espaço comum e pelo meio ambiente se confunde com o desprezo pelas pessoas e comunidades. Os constantes vazamentos e acidentes na industria petrolífera, a morte de rios,lagos e baias, as doenças e mortes causadas pelo uso agrotóxicos e outros poluentes, a expulsão das comunidades tradicionais pela destruição dos seus locais de vida e trabalho, tudo isso, e muito mais, configura uma situação constante de injustiça ambiental no Brasil, que se associa com a injustiça social e econômica.

Achamos que o ambientalismo brasileiro tem um grande potencial para se renovar e expandir o seu alcance social na medida em que se associe e se solidarize com as massas pobres e marginalizadas, que vem se mobilizando em favor dos seus direitos. Os movimentos sindicais, sociais e populares, entre outros, também podem renovar e ampliar o alcance da sua luta se nela incorporarem a dimensão da justiça ambiental, o direito a uma vida digna e um ambiente saudável. Todas essas lutas, na verdade, representam uma só e mesma luta pela democracia, pelo bem comum e pela sustentabilidade.

A idéia do encontro ou seminário é debater e trocar idéias, experiências e exemplos concretos no campo da injustiça e da justiça ambiental. Estamos querendo mapear os casos onde comunidades pobres e marginalizadas estão sendo violadas em seus direitos ambientais. Queremos difundir os casos existentes de luta e mobilização para outras regiões e comunidades, para que possam servir de exemplo. Queremos convidar os ambientalistas a agir em favor da justiça e os ativistas sociais a agir em favor do ambiente comum.

Queremos, portanto, saber do interesse de grupos e pessoas em participar de um encontro com o esse. Gostaríamos também de perguntar sobre exemplos de injustiça ambiental, nas diferentes regiões, que pudessem ser mencionados e discutidos nessa lista e no seminário. Talvez a justiça ambiental possa dar um novo sentido ao programa do Fórum, aproximando-o dos outros movimentos em favor dos direitos de cidadania.

Contamos com a participação e as mensagens de vocês para avaliarmos o potencial de interesse pelo tema.

Cordialmente,

José Augusto Pádua e Jean Pierre Leroy

Projeto Brasil Sustentável e Democrático

 


Subject: Coluna Ecos Urbanos 6/05/01

 

CARROS CAROS DEMAIS

Dirigir um carro é o ato mais poluidor que um cidadão normal pode cometer. Do escapamento do seu carro sai um coquetel de poluentes que inclui Óxidos de nitrogênio, Monóxido e Dióxido de Carbono, enfim, um verdadeiro coquetel Molotoff indo direto do seu escapamento para o nariz de todos os que moram na sua cidade.

Os poluentes do escapamento do seu carro  

O óxido de nitrogênio, por exemplo, causa o aumento do Ozônio. O mesmo Ozônio da camada furada que está deixando passar a radiação ultra-violeta que causa câncer de pele.  

Então é bom que o seu carro produza um elemento que aumente o Ozônio?

Não, porque lá em cima, a 40km de altura, ele impede a entrada de radiação, mas aqui em baixo ele ataca suas vias respiratórias, porque ele é um agente oxidante fortíssimo.

Gente que respira ar com muito ozônio gasta um dinheirão com o pneumonologista. A coisa toda fica pior no Inverno, nos dias claros. É que esta transformação de Óxido de Nitrogênio em Ozônio depende de luz. Os médicos têm recomendado para as pessoas mais sensíveis que evitem as áreas abertas nas grandes cidades, onde existe bastante poluição e luz juntas.

O monóxido de carbono é outra razão para você deixar seu carro em casa. Ele é resultado de uma queima incompleta dos hidrocarbonetos da gasolina ou diesel. Quando você respira monóxido de carbono, ao invés de levar oxigênio para o seu pulmão, você está levando um elemento que rouba o oxigênio do seu sangue. Para não deixar os químicos bravos, eu vou dizer que o monóxido de carbono rouba o oxigênio, na medida em que se liga com ele, e esta ligação é tão forte que não permite que o oxigênio cumpra sua função nos pulmões.

E por fim tem o dióxido de carbono, que não é tão ruim para nós diretamente, mas que é um dos gases que forma o efeito estufa, aquele que vai descongelar a calota polar e lhe deixar com os pé molhados.

O Presidente americano meteu a bucha ni nóis

Falando em efeito estufa, na semana passada o Presidente americano meteu a bucha ni nóis (mais uma vez) com as seguintes palavras:

- Nós somos o maior poluidor do mundo, mas se for preciso, vamos poluir ainda mais para evitar uma recessão nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos se negaram a assinar o protocolo do Kyoto que reduziria a emissão de gases na atmosfera.

E não só os Estados Unidos são o pior poluidor, como também estão ficando piores. O consumo médio dos carros americanos subiu entre 1978 e 2000. A razão é que os americanos passaram a comprar estas caminhonetes fora de estrada grandes e pesadas. É engraçado isto. De noite você vê anunciando as caminhonetes andando em meio a florestas e cachoeiras na televisão americana. De dia, elas estão paradas em um congestionamento exalando os gases que exatamente vão criar problemas para as florestas e cachoeiras. E pior do que isto, dentro destas caminhonetes estão seres humanos estressados para ganhar dinheiro para pagar a caminhonete que os leva até o emprego maldito que os faz pagar a caminhonete e assim por diante.

Não esqueçamos que o atual presidente dos Estados Unidos não foi o vencedor das últimas eleições. Ele foi o quase perdedor. Portanto, ele expressa o pensamento da metade da população americana. Não da maioria.

A maior parte dos americanos que eu conheço são preocupados com isto e utilizam transporte coletivo sempre que esta alternativa existe, e até invejam que no Brasil, a maior parte dos veículos novos são pequenos com motores de 1000cc.

Liberte-se do seu carro

A solução para o problema do carro em grandes cidades é mais complicada, mas para nós é simples. Você sabe quantos quilômetros precisa para cruzar uma cidade como Londrina, com quase 500.000 habitantes ?Sete quilômetros. Isto quer dizer uma hora de caminhada. Eu garanto que todos seus problemas podem ser resolvidos dentro de uma distância até menor que esta. Ande mais, encha o pneu da sua bicicleta, regule seu carro, evite o congestionamento das e seis e quinze, .enfim liberte-se do seu automóvel, este ótimo servo e péssimo senhor.


Os ecologistas, a direita e a esquerda

Entre os ecologistas há grupos reacionários (tachados de direitistas) que de fato se opõem ao desenvolvimento. Há também outros que são progressistas (tachados de esquerdistas) e que desejam um progresso mais compatível com as reconhecidas limitações do ecossistema
Por José Goldemberg

A última coisa que se pode dizer do escritor e cientista político francês Guy Sorman — um dos ideólogos do liberalismo nos dias correntes — é que ele não se esforça por ser politicamente correto. Em contundente entrevista a este jornal, Sorman exprime sua opinião sobre os grandes temas que motivam hoje os ecologistas: organismos geneticamente modificados (transgênicos), clonagem de animais, efeito estufa, energia nuclear e o futuro da Amazônia.
  Em relação a todos eles o escritor francês ataca de forma contundente as posições adotadas pelos ecologistas, acusando-os, no fundo, de anticapitalistas e neomarxistas, disfarçando essas convicções numa roupagem ecológica.
  Para Sorman, os ecologistas — ao se opor à modificação genética — negam aos países em desenvolvimento a oportunidade de superar a subnutrição e a fome, uma vez que os organismos modificados poderiam ser mais produtivos e mais resistentes a pragas que os atuais. As razões dos ecologistas são as de que as grandes multinacionais são as empresas responsáveis pelo desenvolvimento de novos organismos e se opor ao uso desses organismos significa se opor ao capitalismo, como fez o ativista francês Bové no Rio Grande do Sul ao invadir e ajudar a destruir uma área experimental da Monsanto. Nesse ponto, Sorman tem razão, sobretudo porque o uso de transgênicos está numa fase de testes e impedi-los significa se opor ao progresso científico e tecnológico. Seria mais preciso, contudo, chamá-los de obscurantistas do que de neomarxistas.
  No que se refere à clonagem de animais — e eventualmente de seres humanos —, Sorman possivelmente também tem razão, embora os ecologistas não tenham posição muito definida sobre o tema. O problema aqui é de natureza ética e moral e não político, e a sociedade, como um todo, terá que decidir o que fazer com o conhecimento científico que permita a clonagem quando ela for conseguida, o que não parece estar muito próximo. Essa é uma área em que as crenças religiosas terão papel preponderante. Algo desse tipo já aconteceu na Holanda, onde a eutanásia foi legalizada, dentro de certos limites.
  Em compensação, em duas outras áreas o cientista político francês está claramente equivocado: energia nuclear e efeito estufa.
  Argumenta ele que a oposição dos ecologistas à energia nuclear tem razões políticas e não científicas. Tais razões seriam as seguintes: energia nuclear, como outras grandes obras de infra-estrutura, só é possível numa sociedade estruturada, centralizada e policiada, enquanto que os ecologistas prefeririam uma sociedade descentralizada e despoliciada. Esse pode ser de fato o ponto de vista de alguns ecologistas muito próximos das idéias anarquistas que proliferaram no fim do século 19 na Rússia imperial e na Itália. Contudo, muitos outros ecologistas e muitos cientistas não se opõem à energia nuclear por motivos políticos, mas porque são conscientes dos novos riscos que trouxe à vida do planeta como ficou amplamente evidenciado pelo acidente de Chernobyl.
  Quanto ao efeito estufa, Sorman argumenta que os que querem limitar as emissões de dióxido de carbono pretendem, na realidade, incriminar os Estados Unidos, que são os maiores emissores do mundo, devido ao seu elevado uso de carvão e petróleo. Essa não é a motivação real dos que defendem a limitação do uso de combustíveis fósseis. A evidência científica de que os gases do efeito estufa (não só CO2 mas metano e outros) estão causando o aquecimento da Terra é inquestionável e não está apenas baseada em modelos matemáticos duvidosos. Além disso, há alternativas para o uso dos combustíveis fósseis e os ecologistas mais sérios desejam soluções não exclusivamente direcionadas para substituir as emissões dos Estados Unidos, mas também aquelas emissões originárias na China e outros países em desenvolvimento mediante novas tecnologias, que são a onda do futuro.
  Finalmente, no que se refere à Amazônia, Sorman repete alguns dos chavões usuais sem realmente compreender o problema. Ele acusa os ecologistas de reacionários por não desejarem o desenvolvimento daquela área, o que poderia levar à destruição da floresta. Sucede, porém, que tanto os ‘‘preservacionistas’’ (que querem manter a floresta intocada) como os ‘‘desenvolvimentistas’’ primários (que querem destruí-la e substituí-la por atividades agropastoris) estão equivocados. A verdade é que o ecossistema da Amazônia é tão frágil que, destruída a floresta, o solo não se prestaria a uma agricultura ou pecuária rentável por longo tempo. O que cabe fazer é procurar atividades sustentáveis — e se elas não forem possíveis —, preservar grandes áreas da Amazônia com suas florestas que protegem o clima em outras regiões. Caso ela seja destruída, seria lançada na atmosfera enorme quantidade de carbono, já que a floresta é um imenso reservatório desse material.
  Para concluir, o que se pode dizer é que as idéias de Sorman são pelo menos simplistas: ecologia não é um disfarce dos marxistas. Houve até uma tentativa anterior de desqualificar e instrumentalizar o movimento ecológico que foi feita pelo presidente Nixon para esvaziar o movimento contra a guerra do Vietnã. E o presidente Nixon não poderia ser classificado como um marxista.
  Entre os ecologistas há grupos reacionários (tachados de direitistas) que de fato se opõem ao desenvolvimento. Há também outros que são progressistas (tachados de esquerdistas) e que desejam um progresso mais compatível com as reconhecidas limitações do ecossistema em que vivemos. Provavelmente precisamos de ambos.


JOSÉ GOLDEMBERG FOI SECRETÁRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO GOVERNO FEDERAL

http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-05-11/mat_37797.htm


"A verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas em escapar

às idéias antigas".

Autor: John Maynard Keynes.


A devastação da Amazônia está apenas começando

Partes entrevistou, por e-mail, Rodolfo Salm, biólogo e pesquisador do Projeto Pinkaiti. Rodolfo explica o que é o projeto e afirma que "o grande desafio é convencer as pessoas de que a floresta deve ser preservada a todo custo". O biólogo Rodolfo está redigindo sua tese de doutorado sobre a ecologia de palmeiras da grande porte da região Amazônia a ser apresentada a Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia (UK).

O que é precisamente o projeto Pinkaiti? Como surgiu, o que propõe e quais os resultados obtidos?

O Projeto Pinkaití é uma criação dos índios Kayapo. O índio Paulo Paiacan, prevendo a destruição das populações de mogno na floresta, decidiu junto com
lideranças da aldeia Aukre que nenhuma árvore de mogno seria cortada em uma parte substancial de seu território, que então seria reservada para estudos
e a preservação da espécie.

Em 1988, discutiam-se planos para construção de uma série de hidroelétricas ao longo do Rio Xingu, que inundariam o território de Aukre e a floresta do
Pinkaití. Paiacan liderou a mobilização dos indígenas que, com apoio do que é hoje o Instituto Socioambiental (ISA), conseguiram suspender o projeto.

Projeto de hidroelétricas que agora volta a nos ameaçar dentre outros do Avança Brasil.

No famoso encontro dos povos indígenas de Altamira, movimento chave para barrar as hidroelétricas do Xingú, Paiacan conheceu Barbara Zímmerman, a atual diretora do nosso projeto. Bárbara, junto com os Kayapo, demarcaram
uma extensa área nas margens do rio Pinkaití. Nela, com o apoio da Conservation International do Brasil, construíram a base de pesquisas do nosso projeto. Desde então, uma série de estudantes e pesquisadores brasileiros e estrangeiros, de várias áreas como ecologia, antropologia e cinema tem freqüentado o Pinkaití.

A nossa meta é o fomento de um debate intenso e profundo dos problemas de conservação da Amazônia, envolvendo os povos indígenas, a sociedade brasileira e a comunidade internacional. Hoje, já podemos dizer que estamos começando a organizar este debate. Fizemos algumas palestras e exposições, conseguimos trazer os índios do Aukre para falar a estudantes de São Paulo e Belo Horizonte. Temos também uma lista de discussão, associada a uma página na Internet, onde membros de universidades, instituições governamentais,
imprensa e ONGs discutem a preservação da Amazônia.

Os trabalhos da base de pesquisas também estão progredindo. Sabemos um bocado mais sobre a ecologia da floresta do Pinkaití que quando esta base
foi criada. A base de pesquisas é estratégica para o estudo das florestas tropicais. Isso porque, enquanto em vastas áreas da Amazônia o impacto do homem sobre a mata é profundo, cortando árvores e levando animais à extinção, a floresta do Pinkaití é extremamente preservada.

Nesta área, nunca houve corte de madeira para fins comerciais. Os kayapo também decidiram abrir mão de caçar na floresta do Pinkaití, que tem alta
densidade de mamíferos de grande porte. Mesmo animais muito vulneráveis à caça como antas, ariranhas, queixadas, e araras azuis são freqüentemente encontrados no Pinkaití.

Na sua visão qual deve ser o papel do povo da Amazônia diante do processo de globalização?

A Terra vive hoje uma crise global de perda de biodiversidade. A destruição de espécies em larga escala e a deterioração generalizada de ecossistemas é o processo mais relevante de nossa época. Eric Hobsbawn, escrevendo sobre o século XX, concluiu que destruição da biodiversidade terá conseqüências mais profundas que qualquer mudança tecnológica ou cultural que a humanidade
possa estar vivendo. Como as florestas tropicais são os ecossistemas terrestres de mais alta biodiversidade e Amazônia é o último grande bloco de florestas com chances de sobreviver a este século, o papel do povo da Amazônia é evidentemente o de zelar pela preservação desta floresta.

É possível um programa de desenvolvimento sustentável na Amazônia e em que condições?

Não gosto do termo "desenvolvimento sustentável". Ele não diz nada apesar de ser amplamente utilizado, geralmente para confundir pessoas de boa fé e
enfeitar projetos que nada tem de sustentável. Agora, quanto a possibilidade de se viver na região Amazônica sem a destruição da floresta sim, isso é
possível. O homem fez isso por 12.000 anos, desde que ocupou a região, e foi somente a partir da metade do século XX que a devastação da floresta em larga escala começou. É claro que as formas de faze-lo não são simples. A população da região Amazônica está explodindo, impulsionada por imigrantes que não sabem como conviver com a floresta e novas cidades estão pipocando ao longo de toda a bacia. Mas também temos novas possibilidades para preservação.

Quais os desafios da luta pela preservação da Amazônia?

O grande desafio é convencer as pessoas de que a floresta deve ser preservada a todo custo. A imediata reação é a pergunta: e as pessoas que
vivem nela? E é justamente pelas pessoas que vivem nela que a floresta Amazônica deve ser preservada. Não existe nenhuma incompatibilidade entre
qualidade de vida, definida como saúde e felicidade, seja lá como possamos medi-la, e a preservação da floresta. Muito pelo contrário, enquanto se vive muito bem nas áreas onde há floresta, a vida é dura nas áreas onde ela foi destruída.
A manutenção da floresta também pode nos render uma série de novos benefícios. Por exemplo: somente para não fazer nada, apenas guardando o
carbono que esta na mata para amenizar o efeito estufa, o Brasil poderia ganhar de 2 a 5 bilhões de dólares por ano. Dinheiro que poderia ser investido na saúde e na educação do povo que viveria apenas de cuidar da floresta. É claro que esse é somente o valor que nos foi oferecido por guardar o carbono. Se falarmos na água doce, na riqueza genética, na beleza da região, podemos pechinchar muito mais. Mas para isso temos que querer preservar, coisa que o estado brasileiro não quer.

O desmatamento tem um efeito devastador na Amazônia. Em que ritmo esta devastação tem caminhado?

A devastação da Amazônia está apenas começando. A bacia Amazônica ainda é um mundo verde. Hoje, mais de 80% da floresta ainda está de pé a as grandes áreas devastadas se concentram em regiões tradicionalmente ocupadas como a foz do Amazonas e no entorno de estradas, construídas nas últimas décadas. Apesar deste quadro positivo, a situação da floresta é dramática. Uma rede de estradas está se formando ao longo de toda a Bacia Amazônica, abrindo pela primeira vez acesso a vastas áreas em seu coração. Quem quiser entender
o efeito de uma estrada sobre a floresta basta olhar o rasgo vermelho dividindo a floresta Amazônica, criado pela rodovia Belém - Brasília. Graças a ela, o sul do Pará é hoje a área onde mais se derrubam florestas no mundo.

Para visualizar o processo basta pensar numa casa de madeira queimando, com fogo por todos os lugares, mas com 80% ainda intacta. É claro, o fogo apenas começou! É essa a nossa situação, e o povo brasileiro, que é o morador, está muito tranqüilo, afinal, 80% da Amazônia ainda não está queimando.

É viável o ecoturismo na Amazônia?

Sim, é viável. É claro que se o ecoturismo vai ser bom ou ruim para a mata e as pessoas que nela vivem, vai depender de como estes projetos são pensados.
Nós estamos discutimos planos para ter turistas visitando o Pinkaití e a aldeia Aukre.
É claro que o turismo não pode ser a única solução para uma região gigantesca como a Amazônia, mas tem que ser considerado. Se esses projetos vão ser bons ou ruins vai depender de uma série de coisas. Até o do impacto dos turistas sobre a vida das comunidades pode ser um problema grave. É por
isso que muita gente ligada ao Pinkaití é contra o turismo na área e nós ainda estamos somente discutindo. Todos concordamos que os Kayapo precisam de dinheiro e que a beleza de seu
território preservado tem potencial turístico, mas é uma questão delicada.

Não dá para pensar na Amazônia como uma Disneylandia e achar que isso vai ser bom. Muita gente acha que o ecoturismo é a solução de todos os
problemas, mas não é.

Turistas americanos e europeus vão à África ver gorilas, crentes que estão passeando e ainda por cima salvando o planeta. Acontece que de noite tomam banho quente, esquentado com a lenha a mata onde moravam os gorilas. Não é o
chamado "consumo verde" que vai salvar o planeta.

Qual o futuro da região?

Acho melhor pensar que não sei. Se nada de extraordinário acontecer logo, o futuro vai ser terrível. Enquanto na mata virgem se vive o paraíso, as áreas desmatadas são verdadeiros infernos. Infernos de calor, fumaça, miséria, doença e violência. Se a floresta Amazônica inteira queimar, como é provável que aconteça logo, toda a região viverá esse drama. Um dos índios que discursou semana passada na câmara dos deputados disse: " Os brancos vivem da alma dos índios, destruída da mata e destruídos os índios, os brancos vão se destruir, e depois virá a guerra". Mas o futuro da região Amazônica ainda está em nossas mãos, aguardando decisão.

http://www.partes.com.br/entrevista_rodolfo.asp


Remetemos algumas dicas de sites:

 

Terapia de Vidas Passadas e Hipnose

http://t-v-p.vila.bol.com.br/

Análise dos sonhos

http://regismesquita.tripod.com/indice.html

Terapia Floral

http://www.rsmo.hpg.com.br/

Consciência On-line

http://members.fortunecity.com/consciencia1/index.html

Jesus Cristo, perguntas e resposta sobre a vida dele

http://sites.uol.com.br/regismesquita/jesus.htm

Mensagens

http://members.fortunecity.com/consciencia1/mensagem.html


Um convite ao vôo

 Eduardo Galeano
 
 Milênio vai, milênio vem, a ocasião é propícia para que os oradores de inflamado verbo discursem sobre os destinos da humanidade e para que os porta-vozes da ira de Deus anunciem o fim do mundo e o aniquilamento geral, enquanto o tempo, de boca fechada, continua sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério.
 
 Verdade seja dita, não há quem resista: numa data assim, por mais arbitrária que seja, qualquer um sente a tentação de perguntar-se como  será o tempo que será. E vá-se lá saber como será. Temos uma única certeza: no século vinte e um, se ainda estivermos aqui, todos nós seremos gente do século passado e, pior ainda, do milênio passado.
 
 Embora não possamos adivinhar o tempo que será, temos, sim, o direito de imaginar o que queremos que seja. Em 1948 e em 1976 as Nações Unidas
 proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a
 exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível:
 
 o ar estará livre do veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões;  nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães;
as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor; o televisor deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa; as pessoas trabalharão para viver, ao invés de viver para trabalhar; será incorporado aos códigos penais da estupidez, cometido por aqueles que vivem para ter e para ganhar, ao invés de viver apenas por viver, como
 canta o pássaro sem saber que canta e brinca a criança sem saber que  brinca;
 
 em nenhum país serão presos os jovens que se negarem a prestar o serviço militar, mas irão para a cadeia os que desejarem presta-lo;
 
 os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à qualidade de coisas;
 
 os cozinheiros não acreditarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas;
 
 os historiadores não acreditarão que os países gostam de ser invadidos;
 
 os políticos não acreditarão que os pobres gostam de comer promessas;
 
 ninguém acreditará que a solenidade é uma virtude e ninguém levará a sério aquele que não for capaz de deixar de ser sério;
 
 a morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e nem por  fortalecimento nem por fortuna o canalha será formado em virtuoso cavalheiro;
 
 ninguém será considerado herói ou pascácio por fazer o que acha justo em lugar de fazer o que mais lhe convém;
 
 o mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria não terá outro remédio senão declarar-se em falência;
 
 a comida não será uma mercadoria e nem a comunicação um negócio, porque a
 comida e a comunicação são direitos humanos;
 
 ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão;
 
 os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá meninos de rua;

 os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro, porque não haverá meninos ricos;

 a educação não será um privilégio de quem possa pagá-la;

 a polícia não será o terror de quem não possa comprá-la;

 a justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas,tornarão a unir-se, bem juntinhas, ombro contra ombro;

uma mulher, negra, será presidente do Brasil, e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América; e uma mulher índia governará a Guatemala e outra o Peru;

 na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental,porque se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória;

 a Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés e o sexto mandamento ordenará que se festeje o corpo; 

 a Igreja também ditará outro mandamento, do qual Deus se esqueceu: " Amarás a natureza, da qual fazes parte", serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma; 

 os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperam de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar; 

 seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo; 

 a perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses; 

 mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.

 

http://www.partes.com.br/reflexao10.html


Uma reflexão sobre educação ambiental como instrumento-chave para o desenvolvimento sustentável.

A Educação Ambiental, cada vez mais investigada, discutida, redimensionada, recentemente encontra-se mergulhada num processo ininterrupto que a compartimenta em vários seguimentos e revela novos conceitos em suas variadas formas. Esta afirmação traz em seu contexto uma rápida reflexão a todos os estudiosos das questões que envolvem o homem e suas relações com o meio ambiente, objetivando uma convivência equilibrada, conseqüentemente sustentável.

Em décadas passadas, mais precisamente 60 e 70, o homem manifestou efetivo interesse no binômio “degradação e preservação da natureza”, dando início a grandes eventos que produziram e ainda produzem importantes documentos, tais como, tratados, acordos, relatórios, agendas, todos de cunho nacional e internacional. Este significativo avanço não só apontou caminhos e soluções, mas indicou falhas e outras percepções até então ignoradas. Durante este período criou-se um arsenal de instrumentos no afã de subsidiar e sistematizar a incipiente batalha que apenas emergia. A educação ambiental provinda de correntes filosóficas e pragmáticas materializou-se em sua potencialidade como um instrumento capaz de modificar o comportamento humano e introduzir inusitadas concepções de um mundo mais consciente e preocupado com seu próprio destino e das gerações futuras. Tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento têm sua preocupação voltada a questões econômicas e através de posturas ortodoxas ou não tentam provar a superioridade do setor econômico em detrimento aos demais problemas sociais que solapam todo o planeta. Não seria uma posição politicamente equivocada? Enfim, este tema suscita discussões demagógicas e bastante prolixas. Esta concepção tem sofrido uma notória mudança, pois a valor ambiental, por excelência cultural, implica necessariamente no atrelamento com o desenvolvimento econômico, uma vez que a Constituição Federal através de seu artigo 225, traz claramente a noção de valor relacionado à problemática ambiental, evidenciando a importância da relação da sociedade com a natureza. Os benefícios conquistados com o desenvolvimento se refletem de forma invertida na sociedade mundial através da má distribuição da renda per capta, ocasionando graves problemas sociais. Conseqüentemente, esta realidade projeta-se numa grande diferenciação de classes sociais, onde a imensa maioria formada pela base piramidal menos abastada e cada vez mais distanciada das oportunidades, torna-se vítima em potencial dessa cruel situação. Esta potencialidade relaciona-se principalmente com a ignorância adquirida pela falta de uma educação voltada para os valores de cidadania. Como exercer essa cidadania se não se sabe o verdadeiro sentido da palavra? A educação, como valor maior de uma sociedade, mostra sua preocupação com os valores que envolvem as questões ambientais. As Leis de Diretrizes e Bases e os Parâmetros Curriculares Nacionais provocam polêmica em torno da discussão dos temas neles abordados através dos diferentes atores envolvidos no ensino formal. Essa celeuma além de debater os pontos obscuros, incompletos e evasivos propicia um exercício muito importante para o resgate cultural e social através da mobilização, seja individual ou coletiva, pontual ou difusa. O precioso crescimento resultante das experiências práticas transforma-se no indicador de uma nova concepção de educação. A educação ambiental em toda a sua amplitude, isto é, nos modos formal, não-formal e informal depõe a favor das tendências emergentes que preconizam a importância da educação ambiental como instrumento-chave sem destacar os méritos aos demais instrumentos que integram a gestão educacional. Conceituar, criar novas metodologias, discutir leis, produzir trabalhos técnicos e científicos, discordar ou concordar com pontos de vista, esse aparato traz uma preponderante mas, muitas vezes, desapercebida percepção e dimensão dos novos rumos que a educação aponta, a partir da necessidade em preservar o meio ambiente da ação degradante e dos inesperados impactos e seus imensuráveis malefícios ao planeta. Diante dos prejuízos causados à natureza, podemos concluir que a relativa proteção que a legislação ambiental destina a ela é, na maioria das vezes, insuficiente e ineficaz. Os danos causados são de impossível reparação, pois aquilo que é destruído pode demorar milhares de anos para se recompor. Espécies que foram extintas jamais voltarão a existir. A destruição de ecossistemas pode representar um desequilíbrio irremediável ao sistema. A verdadeira eficiência se traduz na aplicação da educação ambiental em todos os níveis do ensino visando a disseminação de uma cultura estruturada em princípios de eqüidade social e sustentabilidade ambiental. Informar não é o bastante, porém a conscientização, através de práticas de sensibilização e estímulo, mostra-se como uma imprescindível aliada na transformação de comportamentos e valores. Este pensamento se completa a partir de ações educativas eficazes que induzam à uma ação positiva e conjugada de esforços. Autor: Marco Antonio Bertini Pesquisador em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental EESC/CRHEA/USP

http://www.ecopress.org.br/eco_detalhes.php3?id_jornal=2&id_noticia=3917


Uma análise crítica da reciclagem como
atividade em Educação Ambiental

Eva Pereira Nascimento

Um dos temas mais populares em Educação Ambiental é o da Reciclagem. Pequenas oficinas tem sido montadas para que os alunos possam aprender os rudimentos do processo de reciclagem do papel, professores de Educação Artística põem a mão na massa para mostrar aos alunos como materiais velhos podem ganhar nova vida, forma e utilidade .

As vantagens econômicas e sociais da separação e coleta seletiva do lixo são claramente apontadas, enquanto os estudantes entusiasticamente envolvem-se em gincanas e concursos para a coleta de material reciclável. Parece não haver dúvida de que produzimos e consumimos mais do que a biosfera pode suportar , mantendo o seu equilíbrio ecológico. Qual é a origem dos nossos hábitos de consumo desenfreado? De que modo começou esse processo desgastante e desequilibrador?

Revolução Industrial e Sociedade de Consumo

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, no século XVIII , trouxe em seu bojo novos conceitos, como o da linha de montagem , possibilitando a estruturação do sistema capitalista do século XX e abrindo espaço para um novo mercado de consumo, como nunca antes visto. Na linha de montagem cada máquina usava um molde da peça ou parte da peça que se queria produzir e passou-se a produzir em série , por um conjunto de operários, o que antes era feito lentamente pelo artesão. Ao mesmo tempo que se eliminou a relação artesanal entre o produto e seu produtor, gerou-se um novo problema econômico. Pela primeira vez, os sistemas de produção representados pelas novas indústrias eram capazes de produzir mais do que o consumidor necessitava. Que fazer com essa nova capacidade de produção ociosa?

Criar novas necessidades e portanto ampliar os mercados consumidores. Eis a resposta! Nasce então uma nova fórmula de sustentação desse processo : através da propaganda são continuamente geradas novas necessidades que são supridas pela indústria, comércio ou serviços. É a poderosa sociedade de consumo firmemente estabelecida na sociedade moderna .1

Assim, ao comprar um eletrodoméstico, ficamos satisfeitos com ele, até que a propaganda crie em nós a necessidade de um modelo mais moderno ou com um novo design. Dessa mesma forma nos sentimos em relação a roupas, sapatos e muitos outros itens de consumo.

A conseqüência mais imediata desse tipo de comportamento é a grande quantidade de produtos que acabamos comprando e jogando fora . E agora, que fazer com tanto lixo e fatores poluentes?

Reciclagem: um produto da sociedade de consumo

Programas de reciclagem, aí está a solução! Começam a surgir os programas de reciclagem de vidro, metal , certos tipos de papel, plástico, de cujos sucessos temos notícia em situações bastante específicas, principalmente a partir da década de 90. As escolas também se interessaram pelo tema e multiplicaram-se os projetos de Educação Ambiental, cujo tema é a reciclagem. Embora os educadores realizem o seu trabalho conscientizando os alunos sobre a necessidade de separação do lixo e a adoção de processos de reciclagem, uma grande parte desse esforço acaba perdido, já que uma imensa parcela das prefeituras brasileiras, incluindo as metrópoles não recicla o seu lixo e as empresas só se interessam por determinados tipos de matérias-prima. O lixo separado pelos alunos ou seus pais e amigos , volta a ser melancolicamente misturado pelos lixeiros , enquanto que o interesse por reciclagem acaba adquirindo uma conotação de hobby ou de atividade artística .

A própria atividade de reciclagem pode ser encarada como uma das conseqüências da sociedade de consumo atual, onde o excessivo uso dos recursos naturais e a enorme quantidade de lixo produzido passam a não ser encarados , inclusive pelos educadores, como um grave problema , desde que se pense em reciclagem.

Entretanto, é evidente que solução não está na reciclagem, pelo menos a curto prazo, mas sim, em uma reflexão crítica sobre os nossos hábitos de consumo, tema esse que não é absolutamente popular nas escolas ou na sociedade em geral. Por quê?

Viver uma vida mais simples parece sempre um receita apropriada para os outros e não para nós mesmos . Afinal de contas, se o nosso salário não serve para nos prover uma vida cada vez mais confortável, apoiada nos novos inventos eletrônicos, alimentos industrializados , móveis especialmente projetados e roupas que estejam de acordo com a imagem que queremos vender, para que servirá todo o nosso esforço? Não será mais confortável acalmar as nossas consciências consumistas participando de um programa de reciclagem, mesmo que temporário e fictício, do que atacar e modificar nossos arraigados hábitos de consumo irresponsável?

Educadores Adventistas e a Sociedade de Consumo

Como educadores adventistas temos orientações bastante consistentes sobre esse tema. Desde o Gênesis, verificamos que o domínio do homem sobre a natureza, conferido pelo próprio Deus , trouxe consigo a responsabilidade do cultivo e guarda de toda essa riqueza (Gen. 2: 15). O rompimento da íntima relação do homem com o seu Criador não alterou as nossas responsabilidades, embora tivessem mudado, de modo terrível, os resultados de nossa relação com a natureza (Rom. 8: 19-22) . Se o plano da redenção restaura a imagem de Deus na humanidade caída , esta restauração não deveria manifestar-se também em nossa relação com a natureza e os cada vez mais limitados recursos naturais de que aqui dispomos ?2 O Senhor mesmo nos adverte quanto ao juízo que aguarda os inconseqüentes destruidores da terra ( Ap. 11:18 ).

Também Ellen White nos relembra de que os bens que manuseamos não são nossos e que perder de vista esse fato certamente nos trará más conseqüências .3 De modo mais específico ela continua : " Todo o estudante precisa compreender a relação entre a maneira simples de viver e a norma elevada no pensar. " 4

É fundamental que nós educadores compreendamos que a grave crise ambiental por que passamos está fundamentada em nosso estilo de vida , onde uma pequena parcela da humanidade ( incluindo a nós mesmos ) consome uma quantidade excessiva de recursos naturais produzindo desperdício , artigos inúteis e mesmo nefastos à qualidade de vida.5 Um programa de Educação Ambiental consistente deve ter por objetivo alcançar um novo estilo de vida , mais coerente com o momento que vivemos.

De modo semelhante, a Conferencia Geral do Adventistas do 70 Dia declara que a Igreja como grupo, advoga a adoção de um estilo de vida simples e saudável e estimula os seus membros a não participarem da espiral de consumismo desenfreado, resultando no acúmulo de bens, produtos e produção de lixo .6

É claro que a reciclagem enquanto atividade em Educação Ambiental tem o seu lugar e valor e estará sempre presente nos currículos escolares. Deve , entretanto se fazer preceder por um sério programa de reavaliação dos nossos comportamentos de consumo, de maneira que a comunidade envolvida, professores e alunos, parentes e amigos, percebam cada vez mais claramente o impacto de cada uma das suas escolhas individuais.

Refletindo sobre os nossos hábitos de consumo: atividades práticas

Um projeto de sensibilização e conscientização sobre o impacto de nosso comportamento de consumo pode partir de duas perguntas básicas:

     

  1. Por quê e de que modo eu ou minha família escolhemos :

     

     

  1. alimentos que costumamos comer ( não deixe de incluir os salgadinhos, guloseimas, comida de fast-foods, etc.)

     

     

  2. produtos de higiene pessoal ( papel higiênico, sabonete, shampoo, cremes, perfumes, etc.)

     

     

  3. produtos de limpeza doméstica ( detergentes, limpa-vidros, água sanitária, sapólio, sabão em pó ou líquido, produtos para limpeza pesada , etc.)

     

     

  4. roupas e sapatos

     

     

  5. modo de transporte ( carro, ônibus, bicicleta, a pé )

     

     

  6. atividades de lazer

     

 

     

  1. Quais são os impactos ou efeitos ambientais que essas escolhas acarretam?

     

 

 

Fatores como o custo dos produtos escolhidos , se são ou não biodegradáveis, recicláveis ou reciclados, a maneira como são embalados, se podem ser considerados necessários ou supérfluos, devem ser discutidos por todo o grupo , incluindo o professor.

Alunos dos últimos anos da escola fundamental ou do ensino médio podem elaborar o gráfico do Eco-Consumidor no qual a ordenada mostra a freqüência com que um determinado produto é utilizado e a abscissa contém a lista dos itens consumidos. Para um melhor efeito visual pode-se agrupar os produtos ambientalmente amigáveis do lado direito do gráfico e os ambientalmente agressivos do lado esquerdo , como ilustra a figura abaixo.

 

 

Gráfico do Eco - Consumidor

D- o produto é usado diariamente

Freqüência de consumo F- o produto é usado freqüentemente

R- o produto é usado raramente

 


 

D

( produtos ambientalmente (produtos ambientalmente amigáveis)

 


 

agressivos) F

 


 

R

 


 

1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tipos de produtos consumidos

 

 

O gráfico do Eco-Consumidor deve ser elaborado individualmente, um gráfico para os diferentes tipos de alimentos, outro gráfico para roupas e outros itens de vestuário, um terceiro gráfico para os vários produtos de limpeza e assim por diante. Então, por exemplo , o gráfico referente a tipos de alimentos poderia incluir categorias como:

     

  1. Alimentos e bebidas enlatados

     

     

  2. Alimentos ou bebidas industrializados

     

     

  3. Alimentos e bebidas que utilizam embalagens plásticas ou tetrapack

     

     

  4. Refrigerantes

     

     

  5. Balas e chicletes

     

     

  6. Frutas cruas

     

     

  7. Vegetais não cozidos

     

     

  8. Alimentos simples preparados em casa

     

     

  9. Lanches para o intervalo escolar feitos em casa

     

A análise dos gráficos deve ser seguida por propostas concretas para mudanças de comportamento de consumo, com escolhas ambientalmente mais amigáveis. Essa discussão pode seguir o roteiro sugestivo que se segue:

     

  1. O que eu aprendi sobre as minhas escolhas como consumidor e os efeitos dessas escolhas sobre o ambiente?

     

     

  2. Que escolhas eu planejo seriamente mudar?

     

     

  3. Como eu pretendo alterar os meus hábitos?

     

     

  4. Existem alguns produtos sem os quais acho que eu ou a minha família não podemos ficar? Por quê?

     

     

  5. Viver um estilo de vida ambientalmente responsável implica restrição de escolhas?

     

     

  6. É possível viver uma vida de baixo impacto ambiental ( ou ambientalmente responsável ) nos dias de hoje e em meu grupo ? Explique? 7

     

     

    O professor pode participar dessa atividade em pé de igualdade com os seus alunos, discutindo com eles algumas de suas escolhas ou mudanças que pretende realizar. Com certeza o Espírito Santo estará ao nosso lado , nos inspirando e nos dando poder para alcançar mudanças em nosso valores como consumidores, e em nossos estilos de vida.

    Referências Bibliográficas

    1. HELENE, M.E.M. e HELENE, A.F. Eu consumo , tu consomes ... in Ecologia em debate/ Marcia Kupstas ( org. ) – São Paulo: Moderna, 1997. ( Coleção debate na escola )

    2. SAÉZ, E.V. Ecologia y conservacionismo en la escuela secundaria adventista . 210 Seminário sobre Integração de Fé e Ensino, Universidade Adventista de Bolívia, Janeiro de 1998

    3. WHITE, E.G. Educação .5a ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira , 1977.p.139.

    4. WHITE, E.G. Educação .5a ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira , 1977.p. 202.

    5. REIGOTA., M. O que é Educação Ambiental . São Paulo : Brasiliense, 1994.( Coleção Primeiros Passos)

    6. POSITION STATEMENT of the GENERAL CONFERENCE of SEVENTH-DAY ADVENTIST http://www.adventist.org/GC/Presidential/GC%20Position%20Sate.../GCPS-Environment.ht ( 19/02/99)

  7. Science and the E nvironment : a learning tool Http://www.cais.com/publish/voyage.htm#homeport

http://www.gepedea.hpg.com.br/principal.htm


Crise Ecológica Moderna :Uma revisão
sobre paradigmas em Educação Ambiental

(ECOLOGICAL CRYSIS: A REVIEW OF ENVIRONMENTAL EDUCATION PARADIGMS)

 

EVA PEREIRA NASCIMENTO

Doutora em Biologia, Docente do Centro Universitário Adventista de São Paulo

 

 

RESUMO

A grave crise ecológica que vivemos tem sido identificada com uma crise de valores da sociedade atual, cujas raízes estão associadas à ética antropocêntrica e utilitarista desenvolvida a partir do Humanismo. A Revolução Industrial e a estruturação do sistema capitalista do século XX intensificou o processo de alienação do ser humano em relação à natureza. Tal processo ainda se reflete nas interações entre sociedade, escola e ambiente. A Educação Ambiental nasceu, no início da década de 70, com o objetivo de inserir nos processos educativos temas que discutam e promovam a melhoria do ambiente e da qualidade de vida. Com base nessa finalidade, muitos dos programas de Educação Ambiental tem sido fundamentados em propostas catastrofistas, holistas ou arcaístas. A compreensão histórica da relação ser humano/natureza pode melhorar o entendimento do inter-relacionamento entre práticas culturais e ambiente, produzindo narrativas biorregionais, as quais certamente tornar-se-ão instrumentos fundamentais no desenvolvimento de relações sócio-ambientais mais pacíficas.

 

ABSTRACT

The ecological crysis has been identified as a value crysis of modern society . The roots of this crysis are associated to the anthropocentic ethics developed with emphasis since Humanism. Industrial Revolution and the twentieth century capitalism structure intensified the alienation process between human beings and nature. This process is still reflected in relations between society, school and enviroment. The aim of Environmental Education is to bring to educational process specific issues to discuss and promote environment and life quality improvment. In order to achieve this aim, many Environmental Education programs have been based on catastrophic , holistic or other kind of paradigms. Historic comprehension on human beings/nature relations can improve the understanding about the cultural practices and environment relations. This process will produce bioregional narratives, that can be used as important tools for transforming socio-enviornmental relations.

 

 

 

Ética e Crise Ambiental

A degradação ambiental está historicamente relacionada à ética antropocêntrica, que rege o nosso próprio conceito de modernidade. De acordo com esse sistema de valores, o Homem seria o centro de todas as coisas, a razão pela qual o mundo existe (VERNIER, 1992, p.7). A influência desse código de valores tomou um grande impulso a partir do humanismo. A transição entre o mundo medieval e o moderno se fez com o surgimento de uma nova ordem de idéias, incluindo o desenvolvimento da ciência, que trouxe transformações radicais à idéia aristotélica de natureza animada, colorida, cheia de sons, cheiros e qualidades. No novo paradigma mecanicista, a natureza passa a ser comparada a um relógio, funcionando mecanicamente e de modo matematicamente descritível. Elegendo a dúvida como método de raciocínio, Descartes (1596 – 1650) propõe a razão como a ferramenta ideal para que o ser humano pudesse estabelecer suas verdades irrefutáveis. De posse da razão, o homem transforma a natureza em seu objeto de estudo. Separando-se dela, recebe, legitimado pelo racionalismo cartesiano, o poder de dominá-la, sujeitá-la e utilizá-la como nunca dantes. É na base desse dualismo homem/natureza que encontramos a gênese filosófica da crise ecológica moderna. A distinção entre sujeito (homem) e objeto (natureza), que legitimou todo o procedimento metodológico das ciências naturais, causou também o distanciamento entre esse sujeito e seu objeto. O cartesianismo adicionado a uma equivocada visão do cristianismo, conjugaram-se para lançar as bases de uma ética onde os homens seriam os senhores e possuidores da natureza. Sobre essa ética se edificaria toda a educação moderna. O individualismo renascentista se faria acompanhar pelo pragmatismo, fundamentado numa ética utilitarista, onde a natureza é considerada apenas quanto ao valor do seu uso (GRUN, 1996, p. 23-32) .

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, possibilitou a estruturação do sistema capitalista do século XX e abriu espaço para um novo mercado de consumo, intensificando o processo de separação do homem e seu ambiente. Durante esse período, o desenvolvimento das ciências anunciava uma natureza, que posava cada vez mais inócua, como uma fotografia (GRUN, 1996, p. 23-58).

Em 1863, Thomas Huxley revela-se preocupado com esse dualismo ao escrever sobre as interdependências entre os seres humanos e os demais seres vivos, em seu ensaio Evidências sobre o Lugar do Homem na Natureza. No ano seguinte, George P. Marsh apresentou um exame detalhado da ação do homem sobre os recursos naturais, chamando a atenção para o desequilíbrio ecológico como uma das causas do declínio de civilizações antigas e alertando as sociedade modernas sobre o mesmo perigo (DIAS, 1998, p.20).

Entretanto, durante muito tempo, teve-se o sentimento de que a natureza, com seu formidável poder depurador, seria capaz de digerir e neutralizar as agressões antrópicas, ao mesmo tempo que se esperava do desenvolvimento da ciência uma resposta para os problemas ambientais causados pelo progresso. O reducionismo, conseqüente do racionalismo cartesiano, e as incríveis quantidades de informações oriundas de cada especialidade científica, não aumentaram a consciência sobre o funcionamento integrado do planeta. Ao invés disso, deixavam entrever a impossibilidade da reunião de todas essas informações para o conhecimento dos interações do planeta com os sistemas culturais e econômicos da humanidade (VERNIER, 1992, p.7).

Temos verificado que a mera compilação de dados, quase nunca resolve problemas, pois a velocidade de surgimento de novos problemas tende a ser maior do que a velocidade com que equacionamos e resolvemos os problemas anteriores (LEVI, 1995, p.35) .

A emergência da crise ambiental como preocupação explícita no âmbito da educação foi precedida de um processo de "ecologização das sociedades ". Worster identifica o ano de 1945 como o marco simbólico do início desse processo. A explosão das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nakasaki trouxe ao homem a consciência da real possibilidade de destruição completa do planeta. Ironicamente a bomba plantava as primeiras sementes do ambientalismo contemporâneo (GRUN, 1996,p.15), impondo a idéia de limite às ações humanas sobre o ambiente ( TOURAINE, 1976).

O final da década de 60 fez-se acompanhar do surgimento de problemas sócio-ambientais gravemente ameaçadores à sobrevivência da vida na Terra. Vários dos problemas ambientais como a poluição do ar e a erosão dos solos começaram a transcender fronteiras nacionais, gerando preocupações regionais ou mesmo mundiais. Esses novos problemas não pareciam mais passíveis de solução por projetos educativos ou científicos isolados.

Questionamentos sobre os modelos de desenvolvimento global foram sistematizados, em 1968, por um relatório encomendado pelo Clube de Roma. Em 1972, o Clube publicou o relatório The Limits of Growth, denunciando que o crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento e possivelmente a um colapso. Meses depois, realizava-se, na Suécia, a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano, reconhecendo a necessidade do desenvolvimento da Educação Ambiental como elemento crítico no combate à crise ambiental no mundo.

Mais de uma quarto de século já passou desde então, e podemos dizer que os temas relacionados ao meio ambiente já fazem parte da consciência pública. Já adquirimos consciência sobre a finitude e insuficiência dos recursos naturais para a alimentação das insuportáveis demandas e consumo da população humana. No entanto, sociedades ocidentais tem tolerado, ou mesmo incentivado, comportamentos de desinteresse consciente ou inconsciente, quanto à utilidade de se mudar o que quer que seja, a menos que estas mudanças garantam prazer e poder imediatos. Dentro dessa ética, os indivíduos só vivem e são responsáveis pelas suas próprias vidas . Ao mesmo tempo, uma imensa maioria simplesmente nem percebe o que acontece, mesmo sofrendo as conseqüências desse modelo feroz. Ficou evidente que nossa civilização é insustentável, se mantidos os nossos atuais sistemas de valores. Tal diagnóstico tornou-nos cientes de que ações ecologicamente responsáveis devem estar diretamente relacionadas a mudanças de valores. Essa mudança constitui, efetivamente, um problema de educação de complexa resolução (VIEIRA, 1995, p. 27).

É dentro desse contexto que surge a Educação Ambiental, como uma nova maneira de encarar o papel do ser humano no mundo, como uma nova proposta para o gerenciamento racional e criterioso deste binômio interdependente : economia/ambiente. A questão atual, entretanto , não está mais no fato de que a Educação Ambiental é indispensável, mas, no tipo de Educação Ambiental que será realmente capaz de estimular uma mudança de valores e comportamentos.

Vários autores como GRÜN (1996), LEVI (1995), CASCINO(1999) , entre outros, estabelecem que a principal tarefa da Educação Ambiental é promover o retorno dos valores que regem o agir humano em sua relação harmoniosa com a natureza, reprimidos pela fragmentação do conhecimento que caracteriza nossos sistemas culturais. CARVALHO ( 1998, p. 123) salienta que a educação ambiental seria diferente das demais educações por estar voltada para o meio ambiente e ser o produto da internalização da temática específica dos movimentos ecológicos pelos demais atores da sociedade civil, como a própria escola. Para SORRENTINO (1995, p. 17), o objetivo geral da educação ambiental seria o de contribuir para a conservação da biodiversidade, para a auto-realização individual e comunitária e para a autogestão política e econômica, através de processos educativos que promovam a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida.

A Carta de Belgrado, de 1975, declara que a meta da Educação Ambiental é desenvolver um cidadão consciente do ambiente total, preocupado com os problemas associados a esse ambiente, e que tenha o conhecimento, atitudes, motivações, envolvimento e habilidades para trabalhar individual e coletivamente em busca de soluções para resolver os problemas atuais e prevenir os futuros. Que país não precisa de um cidadão como esse (SÃO PAULO, 1997) ? Mas como formá-lo ?

Educação, Escola e Meio ambiente

As relações entre educação, escola e meio ambiente tem repetido as relações historicamente manifestas entre sociedade, ciência e o ambiente global. Até algumas décadas atrás, o ensino de ciências era predominantemente fundamentado pela uma ética antropocêntrica, utilizando e conceituando o ambiente unicamente como fonte de recursos naturais disponíveis para o homem. Vem daí expressões tais como "animais nocivos", "plantas úteis", "águas necessárias à população ", "importância do solo para o homem" e outros antropocentrismos ( WORTMANN et al., 1987). No Brasil, se poderia ouvir o professor solicitando que os alunos decorassem os nomes dos afluentes do Rio Amazonas, enfatizando a importância daqueles cujos entornos são fontes de maiores riquezas para o homem, pela presença de minérios, madeira , e demais produtos da região. Na outra face do mesmo racionalismo cartesiano, muitos professores de ciências naturais insistem em associar o conceito de natureza aos ecossistemas naturais intocados, impondo um viés naturalista ao currículo escolar. Esse viés evita a observação e análise dos fatores de transformação ou de degradação, gerados pelo progresso. As visitas escolares são direcionadas a ambientes como florestas, matas, costões rochosos , enquanto que os ambientes em transformação, muito mias próximos da realidade do aluno, são flagrantemente ignorados. Ao trabalhar com a geografia física, por exemplo, o professor abordaria o relevo, o clima, a vegetação, e a hidrografia como partes do mundo natural, chegando até a identificar ecossistemas ou biomas , desde que totalmente desvinculados das relações sociais. O relevo transformado pelo homem, os canais urbanos , os parques e áreas verdes da cidade, os lençóis freáticos contaminados, os esgotos a céu aberto das favelas , o próprio processo de especulação imobiliária, a favelização, nem de longe seriam abordados( SANSOLO e MAZOCHI, 1995, p. 156). Ao visitar um terreno baldio, um professor de ciências do ensino fundamental fixaria a sua atenção sobre as plantas e animais que habitam esse local, podendo até trabalhar o conceito de cadeia alimentar, desde que o terreno se mantivesse totalmente alheio ao restante do ambiente, do qual ele faz parte.

Atrelada aos recentes eventos mundiais sobre ecologia, ocorridos a partir da década de 70, veio a reestruturação do conceito de ambiente, evidenciando as relações recíprocas entre natureza e sociedade, enfatizando a dupla integração do homem com a natureza e a sociedade, mostrando como influenciamos e somos influenciados pelo ambiente. Tais avanços, em conjunto com a popularização dos temas ecológicos, têm gerado pressão sobre os autores de livros didáticos de modo que palavras como "ecologia" e "meio ambiente" começaram a aparecer com mais freqüência nos livros-textos, embora freqüentemente associadas explícita ou implicitamente aos padrões culturais reforçadores da ética antropocêntrica (BOWERS e FLINDERS, 1996, p.45). A própria fragmentação do ensino universitário de ciências torna muito difícil a transposição dos conceitos de reciprocidade homem-natureza aos livros didáticos e às atividades propostas como sendo de Educação Ambiental.

Tratando das estruturas conceituais dos currículos, cujas bases são, em sua maioria, cartesianistas, GRUN ( 1996, p.44) refere-se à existência de um observador, que vê a natureza como quem olha para uma fotografia. Desse modo, o sujeito autônomo, educador ou educando, está fora de qualquer tipo de meio ambiente, e portanto não é responsável por ele, ou, de modo paradoxal, pode se apossar completamente dele para usufruí-lo, gastá-lo, do modo que melhor lhe convier. Assim, podemos verificar que a mesma cisão cartesiana entre natureza e cultura que está nas bases da educação moderna, também constitui-se num dos principais entraves para a promoção de uma Educação Ambiental realmente profícua, originando uma situação que o mesmo autor denomina de pedagogia redundante. Segundo esse conceito, o discurso para preservação da natureza incluiria, imperceptivelmente, os mesmos elementos responsáveis pela sua degradação, assim como a autonomia da razão, objetificação da natureza, ética utilitarista e antropocêntrica, cisão entre natureza e cultura, etc. tornando impossível qualquer mudança eficaz ( GRUN, 1996, p. 55 e 56).

Tais dificuldades, presentes em todos os níveis de educação têm interferido na qualidade dos programas e atividades de Educação Ambiental realizados pelas escolas, assim como na efetividade dos resultados obtidos. Portanto, embora seja fato que as demandas e ações de Educação Ambiental venham aumentando nas escolas, também é real a necessidade de revisarmos os nossos valores, conceitos e estratégias no planejamento de atividades nessa área, de modo que os resultados obtidos possam ser medidos em termos de mudanças de atitudes e comportamentos.

As preocupações da sociedade civil têm sido traduzidas em um forte consenso de que alguma coisa precisa ser urgentemente feita para interferir nos processos de degradação ambiental . A educação ( ambiental) deveria, então, responder a esse quadro de perplexidade educando os cidadãos para valorizar a integridade ambiental. Mas parece que não é isso o que está acontecendo, ou pelo menos, não acontece na velocidade necessária para evitar outras catástrofes.

Educação Ambiental e Catastrofismo

É justamente na análise ou projeção das catástrofes que vemos embasados um grande número de programas de Educação Ambiental, inseridos em uma tendência, a qual podemos denominar catastrofista.

Cientistas e educadores têm utilizado os estudos ecológicos e suas projeções catastróficas como motivação para a geração ou o aperfeiçoamento de uma consciência e comportamentos ambientalmente amigáveis. Analisando a conjuntura socio-política na qual se insere o movimento ambientalista ALPHANDERY, BITOUN E DUPONT (1992, p. 15) caracterizaram o medo como uma das expressões mais manifestas da ecologia , no final do segundo milênio. Utilizando o sofisticado aparato científico atualmente disponível, é possível descrever um quadro assustador sobre as possibilidades do futuro do homem na Terra. Educadores ambientais, como ORR (1992) e CAPRA (1993), têm defendido que qualquer mudança de atitudes dos estudantes em relação ao meio ambiente estaria condicionada ao conhecimento da situação real desse ambiente. De modo paradoxal, esse mesmo tipo de discurso tem alimentado uma forma de pensar sobre os problemas ambientais que LASCH (1986) denominou como sobrevivencialismo, caracterizado pela ênfase na questão da sobrevivência, não da espécie humana ou do planeta, mas do indivíduo. O apelo à catástrofe, claramente expresso em títulos de livros como "Earth at a crossroads" (HARTMUT,1998) ou "Avant que nature meure" (DORST,1971) , acaba produzindo um pessimismo cínico que pode ser sintetizado do modo proposto por GRUN (1996, p. 88) a seguir:

     

  1. As coisas estão realmente ruins .

     

     

  2. Qualquer atitude política que eu venha tomar parece irrelevante frente à catástrofe iminente.

     

     

  3. Assim o melhor mesmo é não fazer nada e se entregar a uma celebração do aqui e agora.

     

 

Essa é uma atitude que pode ser facilmente identificável nos estudantes das grandes metrópoles brasileiras, inseridos em ambientes bastante degradados e submetidos ao clamor catastrofista da mídia.

ORLANDI ( 1996, p. 40) alerta que não se educa com ameaças e que o investimento antecipado no perigo, como acontece no caso do discurso de educação ambiental catastrofista, não é pedagogicamente eficaz. A catástrofe produziria uma argumentação dividida entre dois tipos de argumentos:

     

  1. argumentos de perdição, segundo os quais, o sistema de desenvolvimento econômico seria o monstro, o culpado;

     

     

  2. argumentos de salvação, que se resultam porventura em ações, são em sua maioria ações de caráter imediatista, de pouco ou nenhum impacto ambiental.

     

Educação Ambiental e Holismo

Por outro lado, o mesmo medo produzido pelo catastrofismo tem guiado muitos educadores ambientais de encontro ao que tem sido denominado como o novo paradigma para a Educação Ambiental, o holismo. Sendo o modelo cartesiano de interpretação da realidade, reducionista, fragmentário, sem vida e mecânico, a nova norma apresenta-se complexa, holística, viva e orgânica (GRUN,1996, p. 63). É o nascimento do holismo como palavra de ordem da maior parte dos discursos sobre Educação Ambiental, intuitivamente usado como uma oposição ao fragmentalismo cartesiano. Esse conceito foi historicamente resgatado dos gregos, para os quais a natureza continha uma consciência garantidora da ordem e a regularidade do universo. Os seres humanos sentiam-se interconcectados a uma inteligência e ordem cósmicas. Foi inevitável portanto, que o misticismo tenha se imiscuído na esteira das novas idéias holistas.

Partindo do pressuposto de uma natureza divinizada, muitos programas de Educação Ambiental estão embasados em conceitos panteístas e práticas místicas, com o objetivo de facilitar o encontro do indivíduo com a divindade presente na natureza e nele próprio.

Uma outra característica dos programas de Educação Ambiental fundamentadas em ideais holistas é a nostalgia pelo passado, como uma resposta à dicotomia Homem/Natureza proposta pelo cartesianismo (GRUN, 1996, p. 71). É esse, muitas vezes, o contexto dos programas que propõem um contato direto, ou melhor um retorno à natureza. Ao sacralizar a natureza (lembremo-nos, por exemplo, do termo santuário ecológico), e glamorizar as ecologias, mitologias e cosmologias de povos primitivos, tais propostas continuam inseridas dentro de um paradigma dualista, onde, desta vez, o homem assume uma posição de subserviência à Natureza (GRUN, 1996, p.72 e 74). BREDARIOL (1998, p. 71) associa essa linha de pensamento à ecologia profunda, uma vertente ecologista que aparece a partir da década de 60, segundo a qual a vida, em qualquer das suas formas, tem valores intrínsecos independentes do utilitarismo, o que levaria a uma quase adoração do mundo natural.

Filmes dirigidos ao público infantil assim como, Tarzan e Pocahontas, têm participado da deificação da natureza ou de culturas primitivas, trazendo como moral da estória a comparação entre a cultura ocidental, cheia de vícios e maus interesses, e as culturas primitivas, boas e ecologicamente corretas.

Educação Ambiental e Arcaísmo

A valorização dos povos e culturas tradicionais ( DIEGUES, 1994, p. 12), algumas vezes denominados primitivos, tem sido canalizado numa tendência dos programas de Educação Ambiental, segundo a qual, somente uma volta aos valores e práticas características dessas etnias, pode trazer de volta a harmonia entre sociedade e natureza, tendência que GRUN (1996) identifica como arcaísmo.

DIEGUES (1994, p.11) identifica no século XIX as raízes do pensamento naturalista de proteção a natureza, segundo o qual seria preciso criar ilhas de natureza selvagem, afastadas da sociedade moderna, através dos quais realizar-se-ia a reprodução do mito do paraíso perdido, lugar e modo de vida desejado pelo homem depois de sua expulsão do Éden.

Entretanto, como a volta ao passado é fisicamente e politicamente impossível, tais propostas têm a virtude da manutenção do satus quo, ou seja, nenhum comportamento realmente importante é modificado. Têm, ainda, a virtude de gerar um desejo de desacoplamento aos problemas presentes, de modo que se prefira abandonar, deixar para trás a nossa desagradável condição presente. Esse desacoplamento poderia se tornar realidade, tanto através de um retorno ao modo de vida primitivo, quanto através das viagens e colonizações espaciais (GRUN, 1996, p.92), com a vantagem de deixar para trás o nosso momento histórico-social , acompanhado dos graves e insolúveis problemas, como a miséria, a fome, epidemias, concentração de renda, super-utilização dos recursos naturais, etc.. Ainda mais, a solução dos problemas ambientais passa a conviver na mesma esfera que muitos dos mitos culturais: desejável mas impossível.

História e Educação Ambiental

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, sugerem que a Educação Ambiental deve remeter o aluno à reflexão sobre os problemas que afetem a sua vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Essa reflexão deveria proporcionar oportunidades para que o aluno possa rever valores e mudar comportamentos referentes à sua realidade local e global. Apesar de tais orientações, as práticas em Educação Ambiental , fundamentadas no catastrofismo, holismo, ou arcaísmo, não tem produzido resultados eficientes, em termos de mudança de atitude.

Embora a Educação Ambiental seja proposta, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais como tema transversal, é mais comum que, dentro de sala de aula, apareça travestida como unidade de estudo da disciplina de ciências, ou mais especificamente, biologia. Por sua ligação com a ecologia, o trabalho em Educação Ambiental acaba sendo confundido com conteúdos de ecologia, que, como ciência que é, propõe conhecimento científico, mas não discute valores e seus impactos sobre atitudes e comportamentos. Qualquer outra abordagem interdisciplinar acaba, na maioria das vezes, ocorrendo de modo superficial ou mesmo forçado. Privilegiam-se, então, os eventos pontuais, como a comemoração do Dia da Árvore, ou da Semana do Meio Ambiente, uma gincana de coleta de material de reciclagem, ao invés de um trabalho de planejamento, de modo que os temas de Educação Ambiental permeiem todo o currículo escolar.

Grun( 1996, p. 107 e108) sugere que uma compreensão histórica pode melhorar o entendimento do inter-relacionamento entre práticas culturais e ambiente. O estudo de diferentes aspectos do desenvolvimento cultural como arte, política, religião, tecnologia e práticas econômicas, influenciadas que foram pelas características dos ecossistemas locais aos quais estavam vinculados, poderiam produzir narrativas biorregionais, nas quais, o presente, incluindo o presente da crise ecológica, poderia ser reconhecido como um produto histórico-cultural.

Segundo o mesmo autor, a desistoricização das relações entre natureza e sociedade seria fruto da influência cartesiana-newtoniana sobre o currículo educacional, de modo que, mesmo no ensino de história, o ambiente e suas relações com a sociedade são completamente esquecidos. Assim, o ensino de história do Brasil, por exemplo, poderia ser quase uma aula de Educação Ambiental.

PÁDUA (1988) comenta que a história do Brasil, com os seus grandes ciclos – cana-de-açucar, ouro e diamantes, café, etc. oferece oportunidades incomensuráveis de explorar os aspectos éticos das relações entre natureza e sociedade.

Entretanto, esta é uma abordagem quase sempre desconhecida, não só pelos professores de história, mas pelos profissionais da educação, aí incluídos coordenadores pedagógicos, autores de livros didáticos, etc..

Talvez tenha chegado o momento, até por exclusão de outras abordagens, de construir um olhar do homem sobre o ambiente, como fruto de um processo histórico, na tentativa de que se possa edificar uma verdadeira consciência ecológica. Talvez seja necessário desestruturar o ensino de história, como fornecedor de uma linha temporal progressivista, onde o passado é sempre uma etapa vencida, na caminhada do conhecimento científico-tecnológico (GRUN,1996, p. 108). Sem propor uma volta ao passado, talvez esteja no estudo deste passado a chave para possibilitar a discussão sobre os valores que nos trouxeram até onde nos encontramos, abrindo espaço para a discussão de novas escolhas tão necessárias.

Essa proposta torna-se desafiadora, na medida em que questiona a formação dos educadores que trabalham em Educação Ambiental, assim como grande parte do trabalho desenvolvido nesta área. Sobre a pesquisa documental, associada aos vários períodos da história mundial e nacional, repousaria a responsabilidade de trazer à luz esse novo olhar do homem sobre as relações entre sociedade e ambiente, assim como novas propostas educacionais para o tratamento dos problemas ambientais. Sobre o educador (ambiental) repousaria a responsabilidade de construir novas narrativas históricas, locais, regionais, nacionais e globais, de modo que o estudante receba ferramentas para analisar a crise ecológica moderna como um fruto de uma história da qual não como fugir, mas cuja análise pode conter pistas, as respostas ou até mesmo soluções para os problemas tão graves que nos afligem.

Referências Bibliográficas

 

ALPHANDÉRY, P.; BITOUN,P.; DUPONT,Y. O equívoco ecológico: Riscos políticos da inconseqüência. São Paulo: Brasiliense, 1992.

BOWERS, C.A; FLINDERS,D.J. Responsive teaching: An ecological approach to classrooms patterns of language, culture, and thought. Nova York: Teachers College Press, 1991. Apud GRÜN, M. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Campinas, SP: Papirus, 1996, pg. 45.

BREDARIOL, L.V.C. Cidadania e política ambiental. Rio de Janeiro: Record, 1998.

CAPRA, F. What is ecological literacy ? Guide to ecoliteracy. Berkeley: The Elmwood Institute, 1993.

CARVALHO, I. As transformações na cultura e o debate ecológico: desafios políticos para a educação ambiental. In: NOAL, F.O.; REIGOTA, M. BARCELOS, V.H.L. (org) Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC, 1998.

CASCINO, F. Educação ambiental: princípios, história, formação de professores. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1999.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. – 5a ed. - São Paulo: Global, 1998.

DIEGUES, A.C.S. O mito da natureza intocada. São Paulo: NUPAUB – USP, 1994.

DORST, J. Avant que nature meure: por une ecologie politique. Neuchâtel , Swiss: Delachoux & Nestlé S.A., 1971.

GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1992.

GRÜN, M. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Campinas, SP: Papirus, 1996.

HARTMUT, B. Earth at a Crossroads. Cambridge: Cambridge University, 1998.

LASCH, C. O mínimo eu: A sobrevivência psíquica em tempos difíceis. São Paulo: Brasiliense, 1986.

LEVI, F. Compreensão evolutiva dos conceitos em educação e ciência ambiental. In: Cadernos do III fórum de educação ambiental/organização Marcos Sorrentino, RachelTrajber, Tânia Braga. – São Paulo: Gaia, 1995.

ORLANDI, E.P. Enfoque lingüístico/discursivo: o discurso da educação ambiental. In: TRAJBER,R.; MANZOCHI, L.H. ( org.) Avaliando a educação ambiental no Brasil: Materiais impressos. São Paulo: Gaia, 1996.

ORR, D. Ecological literacy and the thansition to a postmodern world. Albany: State University of New York , 1992.

PÁDUA, J.A. A natureza e o projeto nacional; as origens da ecologia política no Brasil. In: Pádua, J.A. (org.) Ecologia e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Iuperj/Espaço e Tempo, 1988.

SANSOLO, D.G., MAZOCHI, L.H. Educação, escola e meio ambiente. In: Cadernos do III fórum de educação ambiental/ organização Marcos Sorrentino, Rachel Trajber, Tânia Braga. – São Paulo: Gaia, 1995.

SÃO PAULO( Estado) . SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Conceitos para se fazer Educação Ambiental. - 2aed. São Paulo, A Secretaria, 1997.

SORRENTINO, M. Formação do educador ambiental: um estudo de caso. São Paulo, FE-USP, 1995 ( doutorado).

TOURAINE, A. Em defesa da sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. Apud BREDARIOL, L.V.C. Cidadania e política ambiental. Rio de Janeiro: Record, 1998, p.50.

VERNIER, J. O meio ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1992.

VIEIRA, J.A. Ética e meio ambiente. In: Cadernos do III fórum de educação ambiental/ organização Marcos Sorrentino, Rachel Trajber, Tânia Braga. – São Paulo: Gaia, 1995.

WORTMANN, M.L. et al. Livros-textos de ciências: uma análise preliminar. Educação & Realidade, v. 12, n. 1, 1987.

http://www.gepedea.hpg.com.br/crise.htm


PENSANDO EM UMA NOVA FORMA DE VIVER:
A ÉTICA DA CONVIVÊNCIA SOLIDÁRIA

(Vanderlei Carbonara)

Vou convidar-lhe agora para fazermos um passeio imaginário por um cenário Histórico. Imagine-se vivendo num feudo medieval, pode ser na França ou na Espanha, em pleno século XII. Imagine-se trabalhando na terra, tendo como instrumentos apenas uma enxada, uma pá, um arado e outros semelhantes. Seu veículo de transporte mais evoluído é uma carroça puxada por cavalo ou bois. Em sua casa não há energia elétrica e, portanto, nenhum aparelho eletrônico. À noite a iluminação depende de um lampião que queima gordura animal. Neste contexto você não possui nenhum artefato de plástico, isopor ou borracha. Até mesmo o papel é algo praticamente inexistente, talvez passe toda sua vida sem saber o que é esse produto. Próximo a sua casa corre um riacho de água cristalina, onde também existe um bosque de árvores centenárias. Poluição é uma palavra que não existe no seu vocabulário, pois os índices são tão baixos que não há motivo para preocupação. Você nunca precisou se preocupar com espécies em extinção ou na separação entre lixo orgânico e inorgânico. Você convive com a natureza tranqüilamente, tirando dela o que precisa para sua sobrevivência.
Vamos mudar o seu contexto: agora você é o senhor deste feudo, vivendo no luxo do castelo. Luxo aqui significa não precisar trabalhar muito, ter jóias, uma moradia maior que aquelas em que habitam seus súditos, tecidos nobres, especiarias para temperar seus alimentos, fartura de carnes.
Agora lhe pergunto: quem vive melhor, o nobre feudal ou o trabalhador do nosso tempo que possui emprego fixo e uma renda mensal que não ultrapassa mil reais?
Você trocaria seu estilo de vida atual para ser um camponês ou um nobre naqueles moldes de vida?
Poucas pessoas do nosso tempo abririam mão da energia elétrica, dos aparelhos eletrônicos, dos automóveis, dos sistemas avançados de comunicação e de todas as tecnologias básicas às quais temos acesso; para viver num tempo mais remoto, onde poderia ter um contato mais direto com a natureza.
No século XII cortar árvores, promover queimadas, jogar lixo na beira do riacho ou caçar animais silvestres não eram considerados atos criminosos, pois não representavam uma ameaça ao meio ambiente. Em nosso tempo precisamos pensar diferente. Precisamos perceber que o nosso meio ambiente está deteriorado e precisa de cuidados para que possa sobreviver. E, da sobrevivência do meio ambiente depende a nossa sobrevivência.




Portanto, se queremos continuar utilizando as tecnologias do nosso tempo, temos que fazer isso de forma racional, num modelo de sociedade sustentável. O grande problema é que muitos seres humanos continuam vendo a natureza como algo indestrutível, como na Idade Média, extraindo tudo dela, sem cuidado. A cada tempo temos que ter uma atitude coerente.
É urgente hoje tratarmos todas as nossas relações com o meio ambiente a partir de novos princípios de valores: a Ética da Ecologia. Ou seja, uma ética de convivência solidária numa sociedade sustentável. Não falo aqui de uma simples preservação de plantas e animais ameaçados de extinção. Quero ir mais longe. Venho tratar de uma postura de viver e conviver com cada ser do meio ambiente. Uma atitude que seja de cuidado, não de aproveitamento. Não somos seres que olham a natureza de fora, mas somos parte desta natureza, deste meio ambiente. Cuidar do meio ambiente é cuidar de si próprio e das gerações vindouras. Nosso planeta não nos pertence, somos nós que pertencemos a ele.
É preciso saber que a água que bebemos está tão mal cuidada, que em poucos anos será um produto raro e caro. É preciso saber que os recursos medicinais tem origem na flora e na fauna. Portanto, sempre que uma espécie é extinta, com ela desaparece para sempre um importante recurso para a saúde. É preciso saber que a camada de ozônio protege a Terra de raios nocivos do sol que derretem geleiras, desertificam o solo e provocam doenças de pele. Portanto, não podemos lançar gases poluentes na atmosfera. É preciso saber que seres vivos geneticamente modificados provocam alterações no processo evolutivo natural, sendo impossível prever uma possível epidemia mortal que disso possa surgir. É preciso saber que o lixo indevidamente depositado provoca inúmeros danos ao meio ambiente, tais como: poluição dos lençóis freáticos, aridez do solo, acúmulo de resíduos não orgânicos por longo período, etc.






Mas não basta saber. É preciso ter consciência e compromisso. O cuidado com o meio ambiente é um gesto de solidariedade. E isso não há lei que imponha a alguém, a solidariedade é uma postura de vida que é adotada por seres maduros e comprometidos com o próximo.
E você, como está vivendo? Busca preservar o meio ambiente para que a sobrevivência do nosso planeta seja possível ser prosperada? Ou age como se ainda vivesse na Idade Média? Não esqueça que da segunda opção está vinculado um modo de vida feudal, para que haja coerência. Sugiro que se assuma uma postura ecológica de se viver.
Sobretudo, nunca se esqueça: O SER HUMANO TAMBÉM É NATUREZA! O ser humano também precisa ser cuidado. Sobretudo, o ser humano pobre, que é discriminado. A nossa sociedade se baseia num modelo de desenvolvimento que não permite a vida plena. Esse desenvolvimento mata a natureza e mata o pobre.
Portanto, ecologia, já não pode ser tratada como uma palavra separada da nossa vida, como uma ciência à parte. Ecologia é uma compreensão ética da vida humana na Terra. Todos nós precisamos ser ecológicos em nosso habitat. Precisamos ser divulgadores dessas idéias.

http://www.carbonara.hpg.com.br/ciencia_e_educacao/5/index_int_5.html


Educação Ambiental: UMA QUESTÃO DE CIDADANIA

 GABRIELA FLORES
O meio ambiente, a ecologia e as questões relacionadas à qualidade de vida cada vez mais fazem parte da pauta de discussões levantadas por diversos setores da sociedade.
A formulação de uma política ambiental adequada às nossas necessidades está sendo viabilizada por intermédio da união do Conselho Nacional de Educação e o Conselho Nacional de Meio Ambiente. Dessa forma, essas duas entidades, que cuidam e primam pela educação, cada uma em sua particularidade, poderão objetivar trabalhos que venham a favorecer os cidadãos e enfatizar seus direitos e deveres perante a natureza e o local que habitam.
A educação ambiental parte de um prisma muito mais abrangente do que se imagina. Esse tema não trata as questões relacionadas ao meio ambiente como certos atos de pessoas que chegam a acorrentar-se na porta de fábricas e indústrias. Vai além dos “eco-chatos”. ela está mais próxima do que se pode pensar. Não se limita a florestas, oceanos, rios, fauna e flora, mas principalmente ao homem, ao lugar aonde mora, suas relações sociais e a qualidade de vida.
O homem é a conseqüência de seus atos. Para preservar e manter um lugar agradável e em equilíbrio com a natureza, não são necessários grandes esforços. Pequenos ajustes e comportamentos no dia-a-dia podem propiciar maior qualidade de vida e um crescimento social equilibrado.
Em Alagoas, o Núcleo de Educação Ambiental (NEA) – e o Centro de Educação (Cedu) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que é composto por professores que trabalham com a questão ambiental nos diversos centros da referida unidade de ensino, desenvolvem atividades com a produção e a sistematização do conhecimento na área, construindo consciências nos grupos acadêmicos e nas comunidades aonde aplicam seus conhecimentos.
Um dos projetos do NEA/Cedu/Ufal está sendo desenvolvido nas cidades alagoanas de Xingó, Piranhas, Delmiro Gouveia, Olho D’Água do Casado e Canindé do São Francisco (Sergipe).
Na etapa inicial foi realizada a capacitação de mais de 170 multiplicadores de educação ambiental. Os voluntários organizaram grupos com as escolas e a comunidade para detectar, por intermédio de oficinas pedagógicas, quais os problemas e necessidades daqueles grupos sociais.
“Com as informações socioam-bientais, será elaborada uma cartilha que servirá de base para dar continuidade aos trabalhos em outros municípios da região”, comentou a Coordenadora do NEA/Cedu/Ufal, Alba Correia. Porém, “apesar de as políticas atuais estarem pouco atentas às questões ambientais e algumas instituições não estarem, ainda, fortalecidas, técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) acompanharam as equipes nos treinamentos, fortalecendo as tarefas realizadas com as comunidades”, afirma Alba.
Para que essa nova forma de ver a comunidade dê bons frutos, “é preciso que as instituições ambientais e educacionais andem juntas. Dessa maneira, é possível buscar a participação consciente do cidadão, pois o meio ambiente é um bem comum do povo e só com a consciência dessa verdade se poderá lutar por sua preservação. Essa atitude é mais uma vertente da educação para a cidadania”, ratifica.
A vivência de cada indivíduo faz dele um conhecedor da natureza em que está situado e a educação ambiental entra como suporte para que sejam conservadas e melhoradas as potencialidades e também resolvidas as carências e deficiências de cada lugar. “Destacar esses problemas e buscar a solução é um desafio muito grande, mas para a Ufal é uma extensão do trabalho junto à comunidade”, diz a coordenadora.
A realidade da população cria novos paradigmas. O modelo de desenvolvimento produz projetos materialistas e  a natureza foi coisificada, ou seja, o homem usou-a como objeto. Essa forma de explorar os bens naturais fez com que hoje nos deparássemos com problemas como a falta de água, doenças que já estavam erradicadas voltarem a causar males à população, o lixo invadir todos os lugares, incluindo rios e mares, e outros males, que fizeram com que fôssemos impedidos de usar esses bens. Por intermédio da educação ambiental é possível criar uma sociedade com maior qualidade de vida e com os retornos que a relação homem-natureza podem trazer de benefício para todos.
Para fortalecer esses conceitos de vida, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) tem temas transversais. Um deles é o Meio Ambiente. Esta nova forma de produção de conhecimento traz novas concepções, onde está inserida a sustentabilidade ambiental e o homem tem um papel importante e definitivo para o sucesso da iniciativa.
Junto a instituições públicas e Organizações não-governamentais (ONGs), está sendo formada a Comissão Interestadual e Institucional de Educação Ambiental . Este é um esforço para juntar as forças e estender a função interdisciplinar da Educação Ambiental.
Segundo Alba, “a conservação do meio ambiente depende da qualidade de vida. Pessoas carentes devastam áreas por necessidade de sobrevivência. O desemprego empurra os indivíduos para a depredação e essa mesma população tem consciência das agressões que comete, mas também tem que viver. Países ricos e pobres discutem a questão ambiental mas as políticas não condizem com o desejo de preservação. Não é o verde pelo verde, mas é o ambiente como um todo. Associações podem reivindicar mas o Estado está longe, por isso é preciso fomentar as ONG’s e lideranças comunitárias para assim cobrar o papel dos líderes diante das questões da cidadania e do bem viver”.

FUNDO DO MAR
O navio oceanográfico francês Thalassa encontra-se no Brasil realizando este mês mais uma campanha de prospecção de recursos pesqueiros nas águas da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), que abrange desde as 12 milhas do mar territorial ao limite das 200 milhas. Até 10 de julho, 20 pesquisadores brasileiros, de diversas universidades federais e estaduais e da Marinha, vão utilizar um dos mais modernos navios de pesquisa do mundo, para realizar o arrasto de grandes profundidades, sondagens de áreas potencialmente arrastáveis e o registro de parâmetros ambientais. A expedição é coordenada pelo Subcomitê de Pesquisas da Região Central do Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva (Revizee), desenvolvido pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e sob a coordenação geral da Secretaria de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O trabalho vai permitir uma avaliação exata do potencial sustentável dos recursos demersais (espécies que vivem no fundo do mar), incluindo peixes e crustáceos. Entre os parâmetros ambientais que as pesquisas vão definir estão os graus da temperatura e salinidade da coluna d’água e do fundo.
LIMPEZA
O Instituto do Meio Ambiente (IMA), a Companhia Beneficiadora de Lixo (Cobel) e diversas prefeituras estarão durante todo o mês de julho realizando um mutirão para limpar cidades alagoanas. O Projeto Alagoas Limpa inicia seus trabalhos nas cidades de Maceió, Maragogi, Marechal Deodoro, Paripueira, Barra de São Miguel e Peba. Além de ensinar as comunidades a reciclar o lixo e fazer a seleção do lixo seco e molhado, também serão realizados trabalhos de educação ambiental para ampliar o conhecimento da população e mostrar a importância de se preservar a natureza e o local onde se vive.
ESTUDO
A Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas do Ministério da Educação deu início à distribuição de novas publicações recomendadas pelo Comitê Nacional de Educação Escolar Indígena, no âmbito do programa de promoção e divulgação de materiais didático-pedagógicos para aquelas escolas. Cada título tem a tiragem de dois mil exemplares, que serão distribuídos aos núcleos de Educação Indígena e parceiros do MEC, responsáveis pela elaboração do material. Cerca de 1.500 escolas deverão receber os títulos.
ZEE
Em palestra durante o seminário que comemora os dez anos do Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) no Brasil, promovido pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do MMA, o gerente do ZEE para o Plano Plurianual (PPA), Luís Camargo, destacou a necessidade de revisão orçamentária para atender o programa. “Precisamos rever também as metas propostas pelo ZEE, além de uma atualização da metodologia adotada até aqui”, prosseguiu.
Camargo informou que, dos R$ 350 milhões previstos no orçamento do Plano Plurianual (PPA) 2000-2003 para o Zoneamento Ecológico-Econômico apenas 0,36% estão destinados ao MMA, responsável pela coordenação do Programa. Todo o restante está distribuído ao Ministério da Integração Nacional e às suas subsidiárias Sudene, Codevasf, Sudam e Dnocs.
SEMI-ÁRIDO
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou o Programa Cisternas Rurais, com a meta de construir 1 milhão de cisternas no semi-árido nordestino. O objetivo é reduzir os efeitos da escassez de água para consumo humano na região. O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, explicou que a idéia surgiu no ano passado, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre Desertificação, realizada no Recife. Segundo ele, a idéia é engenhosa e tem retorno social muito grande. “Essa é uma maneira simples e barata de reduzir o problema crônico de falta de água no semi-árido”, afirmou. Na primeira parte do programa serão desembolsados R$ 800 mil. O dinheiro será utilizado na estruturação do programa e na instalação de cisternas em 500 residências. O programa será executado pela Secretaria de Recursos Hídricos do MMA em parceria com o Unicef e a ONG Diaconia. Num período de cinco anos, o programa deverá beneficiar 6 milhões de pessoas. A cisterna rural é uma alternativa simples e eficaz de armazenamento de água potável, por meio da recuperação de águas das chuvas, captadas a partir dos telhados das casas. A técnica, de baixo custo, tem a vantagem de permitir o armazenamento da água em seu local de uso, reduzindo perdas por transporte e contaminação por manejo inadequado.

http://www.uol.com.br/gazeta-oam/anterior/2000/jul/09/col/turismo/turismo.htm


JORNALISMO ECOLÓGICO

 

Por Gerhard Sardo *

 

            Nas discussões em torno das questões ambientais promovidas em todo mundo, no decorrer destes últimos vinte anos, o papel da Comunicação, enquanto intermediária entre a ciência e a sociedade na divulgação do conhecimento, vem-se colocando em papel de destaque.

            Como parte da Comunicação, os meios de comunicação não têm desempenhado papel adequado enquanto agentes de informação e educação na área ambiental. Em alguns casos, resvalam para aspectos denuncistas, curiosos e sensacionalistas da informação; em outros casos adotam uma forma de tratamento com inteligibilidade e embasamento científico da informação. Esses fatores, mesmo que conjugados, contribuem para que o público receba o esclarecimento devido quanto às questões ambientais: assim eles acabam influindo de forma positiva no processo de tomada de decisão.

            Não pretendo superestimar o papel dos meios de comunicação na compreensão dos problemas ambientais, uma vez que outras fontes concorrem também para a percepção destes problemas.

            Ocorre, no entanto, que, em sociedades bombardeadas pela informação, não se pode minimizar o papel dos meios enquanto veículo de opinião.

            É justamente sobre a importância da função, não só informativa mas também e sobretudo educativa dos meios de comunicação em relação à questão ambiental que repousa o referencial teórico em questão.

            A comunicação viabiliza e expressa diferentes níveis de troca simbólica, do interpessoal ao social, dentro de determinado universo cultural.

            Grande parte das trocas e intercâmbios ocorre a partir da inserção dos indivíduos em instituições e espaços diferentes da vida cotidiana. Os meios de comunicação representam apenas uma parcela desse amplo complexo de interações.

            Sob a perspectiva cultural, os meios de comunicação sofreram uma revisão quanto a sua atuação nas diferentes sociedades. Acreditava-se que os meios eram instrumentos de manipulação de massas, que recebiam, de forma passiva e unívoca, mensagens veiculadas por um poderoso pólo emissor.

            Embora o domínio da técnica e de conhecimentos garanta o poder das emissoras no mundo da comunicação, leituras diferenciadas oriundas do meio cultural indicam predomínio parcial dos veículos de comunicação sobre o público.

            No que concerne à comunicação, os meios representam apenas uma parcela de todo o processo; não se pode, contudo, minimizar o seu papel enquanto veículo formadores de opinião em sociedades bombardeadas pela informação.

            As constantes transformações que vêm ocorrendo no mundo acarretam uma grande demanda de informação, principalmente a científica, para esclarecimento dos fatos.

            Na área de meio ambiente a informação ganha relevância quando se discute hoje a insustentabilidade dos modos de produção existentes e o estilo de vida consumista.

            O jornalismo ecológico entra nesse processo como intermediário entre autoridades ,cientistas, ambientalistas  e público, divulgando fatos políticos, científicos e tecnológicos através dos meios de comunicação.

            O jornalismo ecológico, ligado a ciência da natureza abrange diversos tipos de audiência. A mais corrente é o público em geral, formado por pessoas de todas as idades e profissões, que recebem informações sem um efeito mais prático. O outro tipo de audiência é mais restrito, de nível cultural mais elevado, que busca a informação em função de determinados objetivos como cultura geral, complementação do ensino ou defesa do meio ambiente, dando uma finalidade mais ativa à informação.

            De maneira geral, o jornalismo ecológico não tem sido concebido para atender a um tipo de expectativa ativa e assim contribuir de fato para a educação, a conscientização ou aprimoramento de certos grupos sociais.

            A função educativa do jornalismo ecológico tem merecido atenção de estudiosos e profissionais da área de comunicação.

            O jornalismo ecológico é mais que a mera divulgação de fatos e informações de natureza ambiental, científica e tecnológica. Ele tem a função que não se esgota com a informação ao público, mas que continua com a importante atividade de contribuir com seu pensamento para a formação da opinião pública.

            A função jornalística em geral contém sempre um componente educativo importante ao mostrar feitos e opiniões através da imprensa, que podem servir de fundamento para idéias e condutas positivas ou negativas da coletividade.

            Desde a década de sessenta  o jornalismo ecológico desempenha função importante na área de educação, num país como o Brasil, cujo ensino de ciências ambientais é precário.             Ele passa a ser uma fonte pela qual os cidadãos passam a ter acesso a informação sobre meio ambiente, ciência e tecnologia.

            Pontos falhos no jornalismo , como: a omissão de informações, a necessidade de um jornalismo mais investigativo, a supercicialidade (ou pseudo-ecologismo) das abordagens e a falta de critérios na escolha de fontes indicam a necessidade de especialização.

            No relatório ambiental preparado pelo governo brasileiro para Eco-92 tudo foi exaustivamente relatado, quem brigou com quem, por que, onde etc, menos o teor do relatório em sí, que não mereceu sequer um resumo.

            A falta de preparo do profissional da área de jornalismo ecológico leva, às vezes, a reprodução do conhecimento produzido em universidades, centros de pesquisa, ou assessorias de imprensa sem questionamentos maiores.

            O saber ambiental não é neutro e ele pode estar a serviço de interesse que não sejam o da coletividade. Tudo isso exige responsabilidade social.

            A devastação do meio ambiente exige posicionamento por parte dos ecologistas, autocrítica de seu trabalho e da forma de engajamento no processo de discussão. Isso precisa ser considerando também pelos jornalistas.

            Nesse aspecto, também, parte significativa da discussão científica e tecnológica produzida é originária dos países mais desenvolvidos, que a colocam a serviço de seus interesses.

            Mesmo diante de todas essas dificuldades, o jornalismo ecológico deve ser reorientado dentro da perspectiva da avaliação social das descobertas científicas e suas aplicações tecnológicas.

            Na área do meio ambiente, o desenvolvimento de movimentos ecológicos criou um campo vasto de exploração jornalística que pode ser aproveitado.

            Atualmente existem duas opções para o jornalismo ecológico: a “crítica” e a “ecológica”. Na opção crítica, o objetivo seria a conscientização do público a respeito das implicações positivas ou negativas de determinadas técnicas ou políticas tecno-científicas. Na opção ecológica, seria privilegiada a crítica de aspectos relacionados com a preservação do meio ambiente, qualidade de vida etc.

            As opções “crítica” e “ecológica” não implicam recusa do desenvolvimento técnico-científico, mas sim, uma discussão em torno da orientação e utilização da ciência e da tecnologia em função de uma avaliação mais complexa de seus possíveis efeitos a curto ou a longo prazo sobre a sociedade e os indivíduos.

            Assim, no momento em que se busca o estreitamento da relação entre o homem e o seu meio ambiente, no caso a cidade, a fim de se começar a resolver os grandes problemas ambientais globais, a discussão de aspectos relacionados à qualidade de vida sob enfoque social é uma opção pertinente ao jornalismo ambiental ou ecológico.

* Gerhard Sardo é jornalista/ambientalista

    E-mail:gerhard.sardo@uol.com.br


A Alma dos Diferentes

 

 

Artur da Távola

 

 

".. Ah, o diferente, esse ser especial!

Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.

Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentar, caso um dia venham, a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição.

O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias, adiadas; esperanças, mortas. Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.

Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porque de quem o agride. Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.

O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual: a inveja do comum; o ódio do mediano. O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.

O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em : "Puxa, fulano, como você é complicado". O que é o embrião de um estilo próprio em : "Você não está vendo como todo mundo faz? "

O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações os quais acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram ( e se transformam) nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham. É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam.

Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito rotiniza. Sofre onde os outros ganham.

Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar. Ele aprendeu a superar riso, deboche, escárnio, e consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.

A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir entender.

Nessas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes.

Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suporta-lo depois."


iscurso de Severn Suzuki na ECO 92 - Rio de Janeiro

Olá, eu sou Severn Suzuki

Represento aqui na ECO, a Organização das Crianças em Defesa do Meio Ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de 12 e 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir. Vanessa Sultie, Morgan Geisler, Michelle Quigg e eu. Foi através de muito empenho e dedicação que conseguimos o dinheiro necessário para virmos de tão longe, para dizer a vocês adultos que, têm que mudar o seu modo de agir.

Ao vir aqui hoje, não preciso disfarçar meu objetivo, estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores.

Estou aqui para falar em nome das gerações que estão pôr vir.

Eu estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos.

Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o Planeta, porque já não têm mais aonde ir.

Não podemos mais permanecer ignorados.

Eu tenho medo de tomar sol, pôr causa dos buracos na camada de ozônio.

Eu tenho medo de respirar este Ar, porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando.

Eu costumava pescar em Vancouver, com meu pai, até que recentemente pescamos um peixe com câncer...e agora temos o conhecimento que animais e plantas estão sendo destruídos e extintos dia após dia...

Eu sempre sonhei em ver grandes manadas de animais selvagens, selvas e florestas tropicais repletas de pássaros e borboletas e hoje eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso...

Vocês se preocuvam com essas coisas quando tinham a minha idade???

 

Tudo isso acontece bem diante dos nossos olhos e mesmo assim continuamos agindo como se tivessemos todo o tempo do mundo e todas as soluções.

Sou apenas uma criança e não tenho todas as soluções, mas quero que saibam, que vocês também não tem...

 

Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de ozônio...

 

Vocês não sabem como salvar os peixes das águas poluídas...

 

Vocês não podem ressuscitar os animais extintos...

 

E vocês não podem recuperar as florestas que um dia existiram e onde hoje é um deserto...

 

SE VOCÊS NÃO PODEM RECUPERAR NADA DISSO,

PÔR FAVOR PAREM DE DESTRUIR !!!

 

Aqui vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos, mas na verdade vocês são mães e pais, irmãos e irmãs, tias e tios e todos também são filhos...

Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas (1.992) e ao todo somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade.

Sou apenas uma criança, mas sei que esses problemas atinge a todos nós e deveríamos agir como se fôssemos um único mundo rumo a um único objetivo. Eu estou com raiva, eu não estou cega, e eu não tenho medo de dizer ao mundo como me sinto.

No meu país geramos tanto desperdício, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora e nós, países do norte, não compartilhamos com os que precisam, mesmo quando temos mais que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las.

No Canadá temos uma vida privilegiada, com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV.

Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas nos contou:

 

"Eu gostaria de ser rica, e se fosse, daria a todas as crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho...".

 

Se uma criança de rua que não tem nada, ainda deseja compartilhar, pôr que nós, que temos tudo, somos ainda tão mesquinhos???

Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha idade e que o lugar onde nascemos faz uma grande diferença. Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio, eu poderia ser uma criança faminta da Somália ou uma vítima da guerra no Oriente Médio ou ainda uma mendiga na Índia...

Sou apenas uma criança mas ainda assim sei que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que lugar maravilhoso que a Terra seria.

Na escola, desde o jardim da infância, vocês nos ensinaram a sermos bem comportados. Vocês nos ensinaram a não brigar com as outras crianças, resolver as coisas da melhor maneira, respeitar os outros, arrumar nossas bagunças, não maltratar outras criaturas, dividir e não sermos mesquinhos...

 

ENTÃO PÔR QUE VOCÊS FAZEM JUSTAMENTE

O QUE NOS ENSINARAM A NÃO FAZER???

 

Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas conferências e para quem vocês estão fazendo isso.

Nos vejam como seus próprios filhos, vocês estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer.

Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos dizendo-lhes "Tudo vai ficar bem, estamos fazendo o melhor que podemos, não é o fim do mundo...", mas não acredito que possam nos dizer isso. Nós estamos em suas listas de prioridades ???

Meu pai sempre diz :

"Você é aquilo que faz, não o que você diz".

Bem, o que vocês fazem, nos faz chorar à noite...

Vocês adultos dizem que nos amam...

Eu desafio vocês, pôr favor façam com que suas ações reflitam as sua palavras...

Obrigada

Estamos fazendo nossa parte...

Mas não depende só de nós...

Espero sinceramente que ao lerem esta mensagem, as pessoas se concientizem, colaborem e ajudem a Mudar !!!

Uma criança de 12 anos veio a ECO 92 e pediu apenas que não destruíssimos o que não podemos reconstruir...

Será tão difícil assim...???

Os Amigos deste grupo já são mais de 130, conscientes quem sabe milhares...

Se formos milhões, tenho a certeza de que conseguiremos...

Colabore você também, juntos podemos tudo...

Texto extraído de http://www.sorria.com.br/campanhas/


O PENSAMENTO ECOLÓGICO:
DA ECOLOGIA NATURAL AO ECOLOGISMO

        Para entender o desenvolvimento do pensamento ecológico e a maneira como ele chegou ao seu atual nível de abrangência, é necessário partir da constatação de que o campo da ecologia não é um bloco homogêneo e compacto do pensamento. Não é homogêneo porque nele vamos encontrar os mais variados pontos de vista e posições políticas, e não é compacto porque em seu interior existem diferentes áreas do pensamento, dotadas de certa autonomia e voltadas para objetos e preocupações específicos. Podemos dizer que, grosso modo, existem no quadro do atual pensamento ecológico pelo menos quatro grandes áreas, que poderíamos denominar Ecologia Natural, Ecologia Social, Conservacionismo e Ecologismo. As duas primeiras de caráter mais teórico-científico e as duas últimas voltadas para objetivos mais práticos de atuação social. Essas áreas, cuja existência distinta nem sempre é percebida com suficiente clareza, foram surgindo de maneira informal à medida que a reflexão ecológica se desenvolvia historicamente, expandindo seu campo de alcance.

        A Ecologia Natural, que foi a primeira a surgir, é a área do pensamento ecológico que se dedica a estudar o funcionamento dos sistemas naturais (florestas, oceanos etc.), procurando entender as leis que regem a dinâmica de vida da natureza. Para estudar essa dinâmica, a Ecologia Natural, apesar de estar ligada principalmente ao campo da biologia, se vale de elementos de várias outras ciências como a Química, a Física, a Geologia etc. A Ecologia Social, por outro lado, nasceu a partir do momento em que a reflexão ecológica deixou os múltiplos aspectos da relação entre os homens e o meio ambiente, especialmente a forma pela qual a ação humana costuma incidir destrutivamente sobre a natureza. Essa área do pensamento ecológico, portanto, se aproxima mais intimamente do campo das ciências sociais e humanas. A terceira grande área do pensamento ecológico – o Conservacionismo – nasceu justamente da percepção da destrutividade ambiental da ação humana. Ela é de natureza mais prática e engloba o conjunto das idéias e estratégias de ação voltadas para a luta em favor da conservação da natureza e da preservação dos recursos naturais. Esse tipo de preocupação deu origem aos inúmeros grupos e entidades que formam o amplo movimento existente hoje em dia em defesa do ambiente natural. Por fim, temos o fenômeno ainda recente, mas cada vez mais importante, do surgimento de uma nova área do pensamento ecológico, denominado Ecologismo, que vem se constituindo como um projeto político de transformação social, calcado em princípios ecológicos e no ideal de uma sociedade não opressiva e comunitária. A idéia central do Ecologismo é de que a resolução da atual crise ecológica não poderá ser concretizada apenas com medidas parciais de conservação ambiental, mas sim através de uma ampla mudança na economia, na cultura e na própria maneira de os homens se relacionarem entre si e com a natureza. Essas idéias têm sido defendidas em alguns países pelos chamados "Partidos Verdes", cujo crescimento eleitoral, especialmente na Alemanha e França, tem sido notável.

        Pelo que foi dito acima podemos perceber que dificilmente uma outra palavra terá tido expansão tão grande no seu uso social quanto a palavra Ecologia. Em pouco mais de um século ela saiu do campo restrito da Biologia, penetrou no espaço das ciências sociais, passou a denominar um amplo movimento social organizado em torno da questão da proteção ambiental e chegou, por fim, a ser usada para designar toda uma nova corrente política. A rapidez dessa evolução gerou uma razoável confusão aos olhos do grande público, que vê discursos de natureza bastante diversa serem formulados em nome da mesma palavra Ecologia. Que relação pode haver, por exemplo, entre um deputado "verde" na Alemanha, propondo coisas como a liberação sexual e a democratização dos meios de comunicação, e um conservador biólogo americano que se dedica a escrever um trabalho sobre o papel das bactérias na fixação do nitrogênio? Tanto um como o outro, entretanto, se dizem inseridos no campo da Ecologia. A chave para não nos confundirmos diante desse fato está justamente na percepção do amplo universo em que se movimenta o uso da palavra Ecologia.

LAGO, Antônio & PÁDUA, José Augusto. O que é Ecologia. 8. Ed. São Paulo, Brasiliense. P.13-6
 

PERGUNTAS: 
 
1) Divida o texto em introdução, desenvolvimento e conclusão. Justifique sua divisão.

2) Como se relacionam a introdução e o desenvolvimento? O que há de semelhante e de diferente entre esses dois momentos do texto?

3) Como se relaciona a conclusão com as outras duas partes do texto? O que ela tem de semelhante e de diferente em relação à introdução ao desenvolvimento?

4) Qual a orientação adotada pelos autores para expor as quatro grandes áreas do pensamento ecológico? Em que parte do texto essa orientação foi explicitada?

5) Esquematize o texto, respeitando a divisão em parágrafos feita pelos autores.

6) "Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de modo geral e conciso a idéia-núcleo do parágrafo". Indique e comente os tópicos frasais presentes no texto.

7) É possível captar a posição pessoal dos autores diante do que apresentam? Comente.

8) Transcreva cinco expressões que possuam valores argumentativos e comente cada um deles.

9) Você julga o texto que acaba de ler bem-sucedido? Por quê?

http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/generos_textuais/dissertacao/ecologia1.htm


WWI
Worldwatch Insitute

A Mais Acelerada Extinção em Massa
da História da Terra

Por Ed Ayres*

Cientistas acreditam que estamos em meio a uma extinção em massa até mais acelerada do que o colapso ocorrido quando os dinossauros desapareceram, há cerca de 65 milhões de anos.

Sete entre 10 biólogos acreditam que o mundo esteja hoje em meio a mais acelerada extinção em massa de seres vivos nos 4,5 bilhões de anos da história do planeta, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Museu Americano de História Natural e pela empresa de pesquisa Louis Harris.

Isto a torna até mais acelerada do que o colapso ocorrido quando os dinossauros desapareceram, há cerca de 65 milhões de anos. Diferentemente desta e de outras extinções em massa do passado pré-humano, a atual é causada pela atividade humana e não por fenômenos naturais, declaram os cientistas.

Os cientistas consultados classificaram a perda da biodiversidade como um problema ambiental mais grave do que a destruição da camada de ozônio, aquecimento global ou poluição e contaminação. A maioria (70 porcento) revelou acreditar que durante os próximos 30 anos, até um quinto de todas as espécies vivas hoje estará extinto, e um terço dos consultados considerou que metade das espécies da Terra estará morta no mesmo período.

"Esta pesquisa é um alerta dramático às pessoas, governos e instituições sobre a ameaça verdadeiramente descomunal que estamos enfrentando, não apenas à saúde do planeta, mas também ao bem-estar e sobrevivência da própria humanidade – uma ameaça praticamente despercebida pela população em geral," comentou a Presidente do Museu de História Natural, Ellen V. Futter.

A pesquisa Biodiversidade no Próximo Milênio foi dirigida a 400 membros do Instituto Americano de Ciências Biológicas.

Os consultados incluíram especialistas em bioquímica, botânica, biologia conservacionista, entomologia, genética, biologia marinha, biologia molecular, neurociências, fisiologia e outras áreas. Paralelamente, foi realizada uma pesquisa entre 100 professores de ciência de nível médio e secundário da Associação Nacional de Professores de Ciência, e entre 1.000 pessoas da população em geral, para avaliar as diferenças de opinião sobre questões da biodiversidade.

As comparações revelaram que "a população em geral é relativamente desinformada quanto à perda das espécies e às ameaças que ela representa," declarou a porta-voz do Museu, Elizabeth Chapman. A pesquisa também constatou que "embora os professores de ciência tenham uma consciência mais clara do que a população em geral da dimensão e urgência da crise da biodiversidade, mais de 50 porcento deles não acredita que estejamos em meio a uma extinção em massa, e apenas 38 porcento se considera familiarizado com o conceito da biodiversidade."

"Apesar do desconhecimento público do que a perda da biodiversidade representa, os cientistas são de opinião que é crucial agir imediatamente para conter a onda de extinção," declarou Chapman.

"Em sua grande maioria, os cientistas acham que a ameaça da crise da biodiversidade é subestimada por quase todos os segmentos da sociedade: 95 porcento considera que a população em geral subestima a ameaça; 87 porcento pensa que os governos a subestimam; 80 porcento acha que a mídia também o faz; e 58 porcento são de opinião que os educadores não a identificam com precisão."

Tanto os especialistas científicos quanto os professores de ciência admitiram que eles próprios são parte do problema de comunicação.

Setenta porcento dos cientistas e 67 porcento dos professores de ciência declararam não terem divulgado adequadamente informações sobre as conseqüências da crise da biodiversidade. "Não sei de nenhuma geração de cientistas que tenha se defrontado com um desafio maior do que enfrentamos hoje, pois nenhuma outra geração se viu na encruzilhada entre a continuidade da existência da diversidade biológica da Terra e uma catástrofe irrevogável da biota," comentou Michael J. Novacek, Provost Científico do Museu.

*Ed Ayres é Diretor de Redação da Revista World Watch - bimestral, publicada pelo Worldwatch Institute em 30 idiomas (a edição brasileira é publicada pela UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica )

 

 

© WWI-Worldwatch Institute / UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica 2001, todos os direitos reservados. Autorizada a reprodução total ou parcial, citando a fonte e o site www.wwiuma.org.br

  http://www.wwiuma.org.br/ext_emmassa.htm


Antes de o dia partir

O que valeu a pena hoje?

Paulo Mendes Campos, em uma de suas crônicas reunidas no livro O Amor Acaba, diz que devemos nos empenhar em não deixar o dia partir inutilmente. Eu tenho, há anos, isso como lema.

É pieguice, mas antes de dormir, quando o dia que passou está dando o prefixo e saindo do ar, eu penso: o que valeu a pena hoje? Sempre tem alguma coisa. Uma proposta de trabalho. Um telefonema. Um filme. Um corte de cabelo que deu certo. Até uma briga pode ser útil, caso tenha iluminado o que andava ermo dentro da gente.

Já para algumas pessoas, ganhar o dia é ganhar mesmo: ganhar um aumento, ganhar na loteria, ganhar um pedido de casamento, ganhar uma licitação, ganhar uma partida. Mas para quem valoriza apenas as megavitórias, sobram centenas de outros dias em que, aparentemente, nada acontece, e geralmente são essas pessoas que vivem dizendo que a vida não é boa, e seguem cultivando sua angústia existencial com carinho e uísque, mesmo já tendo seu superapartamento, sua bela esposa, seu carro do ano e um salário aditivado.

Nas últimas semanas, meus dias foram salvos por detalhes. Uma segunda-feira valeu por um programa de rádio que fez um tributo aos Beatles e que me arrepiou, me transportou para uma época legal da vida, me fez querer dividir aquele momento com pessoas que são importantes para mim. Na terça, meu dia não foi em vão porque uma pessoa que amo muito recebeu um diagnóstico positivo de uma doença que poderia ser mais séria.

Na quarta, o dia foi ganho porque o aluno de uma escola me pediu para tirar uma foto com ele. Na quinta, uma amiga que eu não via há meses ligou me convidando para almoçar. Na sexta, o dia não partiu inutilmente só por causa de um cachorro quente. E assim correm os dias, presenteando a gente com uma música, um crepúsculo, um instante especial que acaba compensando 24 horas banais.

Claro que tem dias que não servem para nada, dias em que ninguém nos surpreende, o trabalho não rende e as horas se arrastam melancólicas, sem falar naqueles dias em que tudo dá errado: batemos o carro, perdemos um cliente e o encontro da noite é desmarcado. Pois estou pra dizer que até a tristeza pode tornar um dia especial, só que não ficaremos sabendo disso na hora, e sim lá adiante, naquele lugar chamado futuro, onde tudo se justifica. É muita condescendência com o cotidiano, eu sei, mas não deixar o dia de hoje partir inutilmente é o único meio de a gente aguardar com entusiasmo o dia de amanhã.

Martha Medeiros


ENTREVISTA

Educação ambiental na escola e na sociedade

Malba Tahan Barbosa é especialista em Ciências do Ambiente e coordenadora do programa de Educação Ambiental em Ribeirão das Neves. Atualmente elabora uma tese de Mestrado sobre percepção ambiental no Departamento de Geografia da UFMG. Malba, que trabalha há 14 anos com a educação ambiental em escolas, comunidades rurais e grupos indígenas, foi uma das palestrantes do Fórum em Ribeirão das Neves.

Qual é o papel do educador na conscientização ambiental?
Malba: Toda relação educa. Educador é todo mundo. Aqui estão os educadores do ensino formal, da sala de aula. A proposta é que a escola não desenvolva um trabalho de Educação Ambiental que fique dentro de seus muros, ela tem que ir além, trabalhar com a comunidade. E esta deve ser entendida como o local onde o aluno mora e os problemas que ele vive. O papel da escola na gestão da Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Mata é fundamental. Se o professor conseguir trabalhar a Educação Ambiental na sala de aula com conhecimentos que ajudem os alunos a identificar problemas ambientais, compreender esses problemas e agir sobre eles, ele terá conseguido um grande feito. Trabalhar com Educação Ambiental é trabalhar com o social, o econômico, o político e o cultural. Não dá para se trabalhar essas questões separadas.
Qual é a importância da mobilização regional?
Malba: É ela que cria demandas e faz a diferença. Um povo desarticulado, desmobilizado, não cria a demanda, não se organiza em termos de problemas, de questões comuns e interesses comuns. É fácil ele ser desmantelado. Como você acha que está a mobilização da sociedade aqui na região do Ribeirão da Mata? Malba: As pessoas estão discutindo estas questões muito mais do que antes. Este Fórum é um momento histórico. A população do Ribeirão da Mata está sendo convidada a pensar e falar do Ribeirão da Mata. Até há pouco tempo atrás a população não era convidada. O planejamento chagava de cima para baixo e era imposto. Isso ainda acontece muito.
Como você espera que seja abordada a Educação Ambiental?
Malba:
A minha utopia constante é que todo mundo que for falar de educação ambiental consiga fazer as pessoas ficarem pulsando, com prazer e emoção. Falar de educação ambiental é mais do que falar de vida, é falar com vida. A pessoa quando fala do ambiente não só com a técnica, mas com emoção, com conhecimento de causa, ela envolve mais. A esperança é que a educação cause esse encantament

"Meio ambiente não é uma herança que eu ganhei dos meus pais, mas é o presente que eu pedi emprestado aos meus filhos" (Provérbio oriental)

http://www.manuelzao.ufmg.br/jornal/jorn-ulted-912/ed12-entrevista.htm


WWI
Worldwatch Institute

www.wwiuma.org.br

 

 

 

PRESERVAÇÃO DO MEIO-AMBIENTE: FÁBRICA DE EMPREGOS PARA O SÉCULO XXI

 


A economia ambientalmente sustentável já criou aproximadamente 14 milhões de empregos em todo o mundo, com a perspectiva de outros milhões no século XXI,
informa um novo estudo do WWI-Worldwatch Institute, uma organização de pesquisa em Washington.

Muitas novas oportunidades de criação de empregos estão surgindo, desde a reciclagem e refabricação de produtos até a maior eficiência energética e de
materiais e o desenvolvimento de fontes renováveis de energia. A energia eólica já está gerando empregos em ritmo acelerado, inclusive para as funções de
meteorologistas eólicos, engenheiros estruturais, metalúrgicos, mecânicos e operadores de computador.

"Os empregos estarão mais ameaçados onde os padrões ambientais são baixos e onde falta agilidade para inovações em prol de tecnologias mais limpas,"
declarou Michael Renner, autor de Working for the Environment: A Growing Source of Jobs. "Nossa pesquisa revela um potencial imenso para criação de empregos fora das indústrias extrativas, empregos que não dependem do processamento gigantesco de matérias primas em uma só direção, e da transformação de recursos naturais em montanhas de lixo. O desafio para a sociedade é proporcionar uma transição justa para os trabalhadores que perderão seus empregos nos setores de combustíveis fósseis e da mineração."

Parte do crescimento mais acelerado de empregos está ocorrendo no desenvolvimento da eletricidade eólica, dos fotovoltáicos solares e da expansão
da reciclagem e refabricação:

" Em 1999, existiam cerca de 86.000 empregos em todo o mundo na fabricação e instalação de turbinas eólicas, um número que duplicou nos últimos dois anos.
Até 2020, a energia eólica poderá representar 10 porcento de toda a geração de eletricidade e emprego para aproximadamente 1,7 milhões de pessoas.

" A indústria fotovoltáica norte-americana hoje emprega diretamente quase 20.000 pessoas. As empresas européias de energia térmica solar empregam mais de 10.000 pessoas, um número que poderá aumentar em pelo menos 70.000 durante a próxima década, alcançando talvez 250.000 com forte apoio governamental.

" O setor mundial de reciclagem hoje processa mais de 600 milhões de toneladas de materiais anualmente, fatura US$ 160 bilhões por ano e emprega mais de 1,5
milhões de pessoas.

" Nos Estados Unidos, a refabricação já representa US$ 53 bilhões anuais, proporcionando cerca de 480.000 empregos diretos - o dobro do número de
empregos da indústria norte-americana do aço.

" O investimento em energia renovável, o uso mais eficiente de energia e materiais e o desenvolvimento de produtos mais duráveis e reparáveis, criarão
mais empregos do que a continuação de investimentos em indústrias extrativas e combustíveis fósseis," disse Renner. Embora venha a existir menos empregos no
setor extrativista e na indústria manufatureira quando os produtos não se desgastarem rapidamente, haverá maior oportunidades em reparos,
aperfeiçoamento, recuperação e reciclagem de produtos. A refabricação de produtos quando sua vida útil estaria normalmente terminada, proporciona uma
recuperação de 85 porcento, ou mais, do valor agregado - mão-de-obra, energia e materiais incorporados ao produto.

O incremento da eficiência na utilização dos recursos significa que as empresas e as residências economizam uma grande parcela das centenas de bilhões de
dólares que, de outra forma, seriam destinados à compra de combustíveis e materiais. O investimento do valor destes custos evitados em setores mais
ambientalmente benignos da economia, criará mais empregos do que o investimento em indústrias de recursos.

As indústrias que extraem e processam energia e matérias primas estão entre as principais atividades poluidoras do ser humano, e proporcionam apenas um
pequeno e declinante número de empregos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a mineração, os serviços públicos e quatro setores industriais (processamento de
metais primários, papel, refino de petróleo e produtos químicos) representam, conjuntamente, 84 porcento de todos os poluentes tóxicos liberados. Em
comparação, sua força de trabalho representa menos de 3 porcento de todos os empregos do setor privado.

A maioria dos empregos na mineração e extração de madeira está ameaçada, mesmo sem leis ambientais mais rigorosas. O incremento da mecanização e automação reduziu a oferta de empregos - em alguns casos até com aumento contínuo da produção. Por exemplo, de 1980 a 1999, a extração de carvão nos Estados Unidos aumentou em 32 porcento, porém o nível de emprego caiu 66 porcento. Na indústria química da União Européia, a produção cresceu 25 porcento de 1990 a 1998, enquanto os empregos declinaram em 14 porcento.

A criação de empregos é de importância fundamental no mundo em desenvolvimento, onde ocorrerá quase todo o crescimento populacional das décadas futuras. "O problema é que o trabalho humano é muito caro, enquanto os insumos energéticos e de matérias primas têm um custo ínfimo," diz Renner. "As empresas há muito buscam a competitividade através da economia de mão-de-obra. Para se construir uma economia sustentável, precisamos economizar sim, mas em energia e materiais."

A política fiscal pode ser um instrumento poderoso para aumentar a produtividade da energia e dos materiais. Os sistemas fiscais atuais incentivam
o alto uso de recursos e desencorajam a criação de empregos. Uma reforma fiscal, ecologicamente dirigida, reduziria os impostos sobre salários enquanto,
simultaneamente, elevaria os impostos sobre o uso de recursos e a poluição. Este tipo de deslocamento fiscal já se tornou realidade na década de 90, em
vários países europeus, incluindo a Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Reino Unido.

"A perda do emprego devido a regulamentos ambientais tem sido extremamente baixa - menos de um décimo porcento de todas as demissões nos Estados Unidos," disse Renner. "Porém, para construir uma coalizão efetiva com a mão-de-obra, os ambientalistas devem reconhecer que os trabalhadores afetados – principalmente aqueles nos setores de mineração, extração de madeira, combustíveis fósseis e indústrias de chaminé - precisarão de ajuda para se enquadrarem nas novas especializações, tecnologias e meios de vida." Uma política de transição justa envolve o estabelecimento de um fundo para proporcionar renda e benefícios para trabalhadores deslocados que buscam uma nova profissão, apoio educacional para  pagar programas vocacionais e de treinamento, serviços de orientação vocacional e colocação, assistência na procura de novo emprego e medidas para ajudar as comunidades e regiões a diversificarem sua base econômica.

*Michael Renner é pesquisador do Worldwatch Institute

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