InformaLista

O Informativo da lista “Educação Ambiental”

No. 14 – 09 de julho de 2001

Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)

Os textos não passaram por revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.


Cidadania Ecológica

Pastor Bertholdo Weber*, da UPAN - União Protetora do Ambiente Natural (São Leopoldo, RS)

A participação e o exercício da cidadania, com empenho e responsabilidade, são fundamentais na construção de uma nova sociedade, mais justa e em harmonia com o ambiente. Para isto, é urgente descobrir novas formas de organizar as relações entre sociedade e natureza, e também um novo estilo de vida que respeite todas as criaturas que, segundo São Francisco de Assis, são nossas irmãs. Queremos contribuir para melhorar a qualidade de vida através da construção de um ambiente saudável, que possa ser desfrutado por nossa geração e também pelas futuras. Vivemos hoje sob a hegemonia de um modelo de desenvolvimento baseado em relações econômicas que privilegiam o mercado, que usa a natureza e os seres humanos como recursos e fonte de renda. Contra este modelo injusto e excludente afirmamos que todos os seres, animados ou inanimados, possuem um valor existencial intrínseco que transcende valores utilitários.

Por isso, a todos deve ser garantida a vida, a preservação e a continuidade. Já chega deste antropocentrismo exacerbado. O ser humano tem a missão de administrar responsavelmente o ambiente natural, não dominá-lo e destruí-lo com sua sede insaciável de possuir e de consumir. Apesar do quadro ecológico ser extremamente inquietante, existem, graças a Deus, cada vez mais pessoas e entidades que têm a consciência de que uma mudança é necessária, e possível. Para tanto, algumas atitudes são essenciais:  Utilização mais racional e responsável dos recursos da natureza, que não são inesgotáveis; respeito à vida em todas as suas formas; reconstrução daquilo que foi destruído; medidas preventivas.

Há quem julgue que já chegamos a um nível tal de degradação que o retorno é praticamente impossível. Comprometidos com a proteção da vida na terra, reconhecemos o papel central da educação ambiental, do processo educativo permanente e transformador para uma sustentabilidade eqüitativa, baseada no respeito a todas as formas de vida. Por trás do drama ecológico e dos sinais inequívocos de destruição do ambiente, existe uma questão mais profunda, que é a  ética, o modo de ser, de posicionar-se e de relacionar-se, em todos os níveis. E como a deterioração do natureza aponta para uma deterioração das relações humanas, é compreensível que a mudança de postura ética passa pela justiça.

A crise ecológica revela uma crise ética em nossos dias, uma crise de valores, uma crise de relações humanas, e de convivência com as demais criaturas. Daí a importância da educação ambiental para a responsabilidade e o respeito à vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam  relações de interdependência e diversidade. A educação ambiental deve gerar, com urgência, mudanças na qualidade de vida e maior consciência de conduta pessoal, bem como harmonia entre os seres humanos.

A Terra está ferida. Em alguns sentidos, ela está quase ferida de morte. O mar, os rios e os lagos estão contaminados. O ar está poluído. O desmatamento cria novos desertos. Temos pouco tempo para agir, pouco tempo para salvar a Terra, antes que se torne um planeta onde a vida não conseguirá existir. Essa é uma tarefa de governos? Sim. Mas é também uma tarefa de cada um de nós. Você pode, e deve, fazer sua parte. Afinal, a Terra é nossa moradia, nossa casa comum. Nela vivemos e nela viverão nossos filhos. Não é justo entregar a eles um casa em ruínas. O futuro do planeta está em nossas mãos.

* Doutor Honoris Causa e membro do Conselho Diretor da Upan

http://www.agirazul.com.br/weber.htm


GESTÃO AMBIENTAL
OS INSTRUMENTOS BÁSICOS PARA A GESTÃO AMBIENTAL DE TERRITÓRIOS E DE UNIDADES PRODUTIVAS

GESTÃO AMBIENTAL DE TERRITÓRIOS

 

MARCOS CONCEITUAIS PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Qualquer reflexão sobre a sustentabilidade ambiental determina, obrigatoriamente, a necessidade de que sejam estabelecidos alguns marcos conceituais, através dos quais a discussão se balizará. O primeiro marco refere-se ao próprio conceito de sustentabilidade ambiental que, com certeza, varia em função da ótica que se deseja imprimir à discussão e das lentes utilizadas pelo agente da discussão, ou seja, as áreas do conhecimento mais próximas do analista que aborda o tema.

A sustentabilidade ambiental pode ser entendida como um atributo da entidade Espaço Territorial. Esse atributo, primeiramente, reflete um processo dinâmico e aleatório de transações de energia e matéria entre todos os componentes de um espaço territorial, realizado por necessidade e acaso. Mas para que o espaço territorial tenha capacidade de oferecer suporte ao desempenho e à existência de seus componentes elementares - ou fatores ambientais constituintes - é fundamental que possua quatro propriedades básicas, a saber:

  • Suporte de energia ambiental - detenha e coloque em disponibilidade uma quantidade de energia suficiente, materializada sob as mais diversas formas (física, química, biológica, social, econômica, política, tecnológica, cultural e afetiva) e através dos mais diversos agentes, que o permita responder às demandas dos fatores ambientais que constituem os sistemas ecológicos (ou ecossistemas) nele inscritos;

  • Suporte às relações ambientais - ofereça condições para que os fatores ambientais básicos ocorrentes (ar, água, solo, fauna, flora e homem) não tenham o seu potencial primitivo de demandas ambientais inibido ou desfuncionalizado;

  • Suporte ao desempenho ambiental - ofereça condições para que os fatores ambientais básicos exercitem e realizem, por necessidade e acaso, seus potenciais intrínsecos de relações ambientais;

  • Suporte à evolução no ambiente - apresente um quadro dinâmico de relações ambientais, dotado de estabilidade, no qual seus componentes elementares, integrados em sistemas ecológicos, encontram meios e condições para realizar suas autocapacidades, expressas pela adaptação, pela autoorganização e pela autosuperação;

Considerando estas propriedades que fundamentam conceitualmente a sustentabilidade ambiental de territórios, é possível observar a sua total compatibilidade com a escala de satisfação das necessidades humanas anteriormente apresentada. Significa dizer que, resguardadas a natureza e a amplitude das necessidades, (i) o homem e os demais fatores ambientais são igualmente contemplados por um ambiente que detenha sustentabilidade ambiental e (ii) todos os fatores ambientais poderão evoluir simultaneamente em seu desempenho e funcionalidade (autosuperação), com efeitos benéficos para si mesmos e para o Espaço Territorial que conformam e no qual interagem.

Pela análise dessas propriedades é possível inferir que a sustentabilidade ambiental é um atributo finito, limitado no tempo e no espaço. Essa limitação está associada à quantidade de coleções de fatores ambientais que, em um intervalo de tempo e em um dado ambiente geograficamente definido, realizam relações ambientais e transacionam energia para satisfação de suas necessidades de cunho físico, químico, biológico, político, econômico, social, tecnológico, cultural e afetivo. Dado um espaço territorial, com características próprias e identificáveis em termos de clima, disponibilidade de água, natureza do solo, feições geomorfológicas e cobertura vegetal, nele sempre haverá um limite para a sua ocupação e uso, em volume e natureza, a partir do qual será excedida a sua capacidade de sustentabilidade ambiental, ou seja, a sua capacidade de resposta. Até então, somente uma variável tem sido capaz de ampliar esse limite, qual seja, o desenvolvimento de processos e mecanismos dotados de tecnologia mais limpa, normalmente requerendo menores quantidades de insumos naturais e gerando menores volumes de efluentes e resíduos sólidos. É esse limite que estabelece o segundo marco conceitual de interesse para a presente discussão e refere-se ao suporte ambiental do espaço territorial. O suporte ambiental ou capacidade de suporte é um fator limitante, também intrínseco ao espaço territorial, que restringe as formas espontâneas e induzidas de seu uso e ocupação. Ou seja, caracterizado o suporte ambiental de uma dada região, é possível identificar a natureza dos fatores ambientais que nela poderão estar presentes sem produzir ameaças à sua sustentabilidade ambiental. Conclui-se, portanto, que o Homem não cria a sustentabilidade ambiental. Pode apenas atuar, a partir de um dado domínio científico e tecnológico, no sentido de não gerar passivos ambientais que ameacem a capacidade de suporte do Espaço Territorial que pretenda ocupar. Assim, a sustentatibilidade ambiental é um dado da questão do uso e da ocupação de territórios que precisa ser identificado, mensurado e avaliado para que possa ser realizado qualquer processo subseqüente de apropriação. O conceito de desenvolvimento sustentado, autosustentado ou sustentável, embora seja redundante (desenvolvimento que não se sustenta não pode ser chamado de desenvolvimento!...), talvez se constitua em uma tentativa de reforçar e demonstrar a possibilidade de compatibilização dos projetos e ações antrópicas com o substrato biofísico sobre o qual se assentam. Desenvolvimento sustentado, por conseguinte, somente é realizado quando é alcançada e garantida a "satisfação dos clientes totais".

O terceiro marco essencial à análise da sustentabilidade ambiental refere-se à correção ecológica. Está associada à figura dos passivos ambientais, elementos redutores da capacidade de suporte dos espaços territoriais. Os passivos ambientais, genericamente, constituem-se nos processos e efeitos adversos, permanentes ou temporários, decorrentes do uso e da ocupação do solo realizados de maneira incorreta. A gestão de organizações e de territórios precisa possuir e oferecer correção ecológica em suas decisões, ações e processos, de modo a buscar o passivo ambiental zero. Para tanto, deve estar fundada sobre atitudes, princípios e compromissos capazes de demonstrar às pessoas (vizinhos, funcionários, clientes, poder público, sociedade, acionistas) os limites e as expectativas da gestão, com relação ao uso, à apropriação e à transformação dos fatores ambientais básicos. De outro lado, os limites da gestão com relação às estruturas de controle e ao consumo de energia de diversas naturezas requerido para garantir resultados benéficos permanentes que impeçam ameaças à sustentabilidade ambiental. Quanto menores forem as estruturas de controle requeridas, menores certamente serão as fragilidades dos processos de gestão concebidos. Quanto menor for o consumo relativo de energia requerido pelos processos de gestão, maiores serão as chances de se constituírem em processos eficazes. É interessante observar o desejo de que haja similaridade do processo de gestão com os processos da estabilidade e da sustentabilidade ambiental. Por se constituírem em sistemas que se organizam e se superam através da necessidade e do acaso, os ecossistemas ganham complexidade na razão inversa de suas necessidades de estruturas de controle exógenas e de seu consumo interno de energia. Inversamente, os processos ortodoxos de gestão consomem grandes quantidades de energia simplesmente para permanecerem de pé e demandam formidáveis estruturas de controle para alcançarem seus resultados. É provável que muitos desses processos sejam totalmente inócuos em termos de resultados reais se deles forem debitados os seus efeitos sombra, ou seja, os desgastes e efeitos indiretos que geram e que tornam outros processos, senão inviáveis, decerto bastante fragilizados.

A correção ecológica em organizações requer a internalização de práticas gerenciais fundadas no planejamento e na gestão ambientais, envolvendo metodologias específicas para os seguintes tratamentos:

  • o desenvolvimento de planos de otimização do desempenho ambiental de organizações;

  • sistemas de gestão ambiental, auditorias ambientais; e

  • a institucionalização da função de gestão da qualidade ambiental, com recursos humanos e técnicos dedicados.

A correção ecológica na gestão territorial, por sua vez, requer (i) uma política nacional para o ambiente compatível com a realidade ambiental a que se destina e livre de lobbies socialmente inoportunos; (ii) a internalização e diversificação da cultura derivada dos processos de gestão em todos os estratos da sociedade, de forma a que se constitua em uma forma de pensar e em um meio socialmente aceito e válido para a solução de problemas. Isto somente é realizável a partir de um amplo conhecimento das realidades sociais de cada estrato, no que tange às suas expectativas de vida, à sua estrutura, às suas necessidades prioritárias e à sua representatividade funcional no contexto do território; (iii) aparato legal objetivo, de rápida aplicação e resultados imediatos, com diplomas legais básicos únicos e válidos para todo o território (estudos de impacto ambiental, planos de otimização do desempenho ambiental de unidades produtivas, auditorias ambientais, sistemas de gestão ambiental e zoneamento ambiental); e, por fim, (iv) estrutura institucional ágil, com reduzidos níveis hierárquicos, de forma a permitir acesso direto entre seus titulares e a comunidade.

Do ponto de vista tecnológico, a correção ecológica na gestão territorial requer ainda a definição e formalização de metodologias e instrumentos relativos ao zoneamento ambiental, a projetos de desenvolvimento (sustentado) e às auditorias ambientais.

É evidente que o tratamento de todas as questões envolvidas na gestão empresarial e territorial com vistas à manutenção ou à reabilitação da sustentabilidade ambiental requer dos indivíduos mais, muito mais, do que o domínio das tecnologias apropriadas. A sensibilidade diante dos fatos e a emoção de descobrir e realizar as soluções apropriadas são os ingredientes que sustentarão as transformações almejadas.

http://www.ksnet.com.br/Intranet_KS/Books/0053_marcos_conceituais.htm


2033, o apocalipse do verde no Rio de Janeiro

Relatório de Desenvolvimento Humano da cidade do Rio de Janeiro, realizado pela ONU, mostra que a cidade perde a cada ano mais vegetação do que pode repor. A previsão da Fundação S.O.S. Mata Atlântica é que, se mantido o ritmo atual de desmatamento atual, em 32 anos o estado terá perdido toda sua área verde. (O Globo, Retratos do Rio, 14/04/01, pág. 3)


ELIO GASPARI

O Benin é logo ali

O pior pedaço deste artigo talvez esteja em outro lugar deste jornal, com a história dos imigrantes do navio Etireno. É o aparecimento de uma nova economia emergente, a da escravidão africana, dos negreiros que vendem gente naquilo que foi e voltou a ser a "costa dos escravos". São barcos que se juntam ao comboio onde já estão os negros cativos do Amistad (com Anthony Hopkins no papel de John Quincy Adams) e os judeus escorraçados do Exodus (com Paul Newmann como o Ari Ben Canaan). Ou ainda a escuna Vecua, na qual traficantes brasileiros abandonaram 300 negros acorrentados depois que uma fragata inglesa os perseguiu num rio do Benin, em 1821. Em dinheiro de hoje, ali uma criança embarcada no porto de Cotonou vale US$ 14 no cais de Port Gentil, no Gabão, e US$ 340 numa plantação de cacau. O Unicef registrou 884 casos de tráfico infantil entre os dois países em 1997. Estima-se que na África haja mais de 100 mil crianças vivendo em condições de cativeiro. O presidente da Sociedade Antiescravista dos EUA acaba de libertar perto de 3.000 jovens e mulheres no Sudão.

Aqui vai outra história, a da rotina da empulhação. Seguindo-se a denúncia da ministra da Proteção Social do Benin, Ramatou Baba Moussa, aprende-se que se trata de um dos países mais miseráveis do mundo. Já foi uma terra de sete reis que tinham sete minas de ouro. Hoje é tão miserável que, diante dele, o Gabão é um Eldorado. (Alô, alô, FFHH, o Brasil importa cacau produzido por mão-de-obra escrava africana.)

Como no século 18, tudo parece natural. Há miséria na África e nela há famílias que vendem seus filhos. Há traficantes, autoridades cúmplices e negreiros tripulados por gente fora da lei. Assim como a globalização do Renascimento reeducou o Ocidente devolvendo-lhe a escravidão, a de hoje, com a banca global e um novo conceito de mão-de-obra, dá ao mundo os "cidadãos descartáveis".

Quem vê o mundo pelos olhos da miraculosa globalização financeira jamais verá um navio negreiro.

No ano passado o FMI deu um crédito de US$ 9 milhões ao Benin, e o burocrata de plantão informou o seguinte:

"Um sólido crescimento do PIB levou a um aumento da renda "per capita", a inflação continuou moderada, e o desempenho fiscal continuou firme. (...) As autoridades estão determinadas a acelerar a implementação de sua inacabada agenda de reformas estruturais. Paralelamente, asseguram a estabilidade macroeconômica e melhoram as condições sociais do país". Tremenda ekipekonômica deve ter esse país.

A cidade de Cotonou tem um hotel Sheraton, com quadra de tênis e campo de golfe. Em 1514, d. Manuel, o Venturoso, atendeu a um pedido de ajuda do chefe do pedaço. Ele queria um canhão. Em troca, El Rey pediu-lhe que abrisse o comércio de seu reino aos mercadores de Lisboa. A coroa portuguesa informava que não fazia isso por ganância, mas para propagar a fé cristã. O presidente do Benin acaba de ser reeleito. O melhor restaurante de Cotonou chama-se La Caravelle. O melhor banco é o Credit Lyonnais.

Com a palavra a empresa de consultoria Whithouse & Associates:

"A liberalização econômica que começou no início dos anos 90 continua a atrair o apoio e o aplauso da comunidade internacional. Apesar das greves e protestos, o processo de privatização deverá prosseguir em 2001".

No século 15, o rei de Portugal privatizou a coleta de escravos do Benin, concedendo-a a um agente da banca florentina que contratava a compra de negros. A casa bancária desse "signor" Marchionni provavelmente esteve metida no financiamento da expedição de Pedro Álvares Cabral à Índia. Hoje, empresas americanas e suecas contratam a construção de um aeroporto. A Titan vai modernizar o sistema estatal de comunicações do país (6.900 celulares para 350 telefones públicos). A principal rodovia do país ganhará quatro pontos de pedágio. Ninguém diz que faz isso por ganância. É a fé no mercado.

Lendo-se a história do tráfico ressurreto, nada se sabe do suposto sucesso do programa de modernização econômica do Benin. É como se o mundo real da escravatura não fizesse parte da virtualidade financeira. Lendo-se as narrativas do tráfico na "costa do escravos", nada se aprende sobre a interferência das organizações financeiras internacionais na região. São dois mundos separados, que precisam se ignorar para sobreviver.

O Benin não é aqui, mas é logo ali. Noves fora o fato de ter sido o berço dos ascendentes de milhões de brasileiros, o maior potentado do lugar foi um baiano. Chamava-se Francisco Félix de Souza, intitulado Chachá (1754-1849). Era filho de um português com uma índia. Segundo Pierre Verger, foi o maior traficante de escravos de todos os tempos. Teve 2.000 negros, reconheceu 63 filhos e foi dono de pelo menos 36 navios. Pode ter sido um dos homens mais ricos do mundo. Mais informações no esplêndido livro "Agudás - Os "Brasileiros" do Benin", de Milton Guran.

 

 

"ECOLINKS"

 

CENTENAS DE LINKS ECOLÓGICOS SELECIONADOS

http://members.fortunecity.com/consciencia1/ecolinks.html


O jardim dos beija-flores

Bem próximo à janela da sala de reunião, belas rosas se instalavam, embelezando a fria construção de cimento. Todos os dias pela manhã, os beija-flores buscavam, nas entranhas das flores, o seu alimento, propiciando uma visão magnífica. E, do lado de dentro da sala, enquanto os beija-flores se deleitavam, decisões eram tomadas. Os pássaros do lado de fora combinavam perfeitamente com a beleza das plantas e os homens, do lado de dentro, combinavam com a frieza do prédio. Enquanto os beija-flores buscavam o néctar das rosas para poderem viver, os homens buscavam outro néctar, mas o queriam em proporção bem maior.

Tudo dentro da multinacional girava em torno desse néctar. E, ao contrário dos pássaros, ele parecia fazer mal aos homens, porque nunca os satisfazia.

Mecanicamente, trabalhava-se. O ambiente pesado que podia se sentir ao percorrer os corredores daquela firma era, nada mais, nada menos, que as manifestações do sofrimento de muitas pessoas, que padeciam de uma mentalidade doente e ultrapassada. O toque dos funcionários nos teclados dos computadores eram infelizes e soavam como as notas de um pianista que toca a sua última ária. Isso porque o expediente de trabalho era uma morte. Uma morte temporária que acontecia enquanto os funcionários permanecessem naquele ambiente. Então, eles deixavam de viver oito horas por dia, para depois disso, ressuscitar novamente.

As constantes ameaças de demissão e a desconfiança eram barreiras indestrutíveis, e o tratamento impessoal tirava qualquer chance de um maior envolvimento emocional. A tudo isso era atribuída a palavra "profissionalismo".

"Profissional", como o caso de Jonas, o funcionário 97, há trinta anos nesse estado transitório entre a vida e a morte.

Um dia, um beija-flor invadiu a sala de reuniões. Como tal coisa pode ocorrer nessa tão conceituada empresa !? A alegria do lindo pássaro incomodava os altos executivos, que mandaram o faxineiro cortar as flores de perto da janela. E mais uma vez, o funcionário 97 fez o que não queria. Os beija-flores nunca voltaram, mas o único que notou aquilo foi o velho faxineiro, porque todos nunca tinham prestado atenção no show que a natureza apresentava dia a dia. E, enquanto o teclar frenético soa e os espíritos clamam por socorro, a alta diretoria continua cortando os ramos de flores que crescem no âmago dos homens.

http://www.evirt.com.br/folhas/jardim27.htm


Comemorando os dias...

Elaine de Souza*

Outro dia me perguntaram por que é que o homem não tem um dia internacional em sua homenagem, logo pensei: "ora, porque ele nunca fez parte do grupo formado por minorias e não precisa ser lembrado por uma data. Muito pelo contrário, ele é quem sempre foi dominador e reforçou as diferenças. Ele não precisa de um dia de homenagem, pois é o grande e poderoso sempre!"

É claro que nessa idéia impulsiva tem muito de verdade, mas felizmente hoje não é bem assim, afinal as mulheres já mostraram que botam para quebrar sempre que querem. Em 1932, conquistamos o direito de voto no Brasil, em 1963, o espaço, em 1979, o Prêmio Nobel da Paz com a Madre Tereza de Calcutá e em 2000, o posto máximo no Supremo Tribunal Federal Brasileiro. Mas apesar de todas essas conquistas, confesso que sou um pouco avessa a essas comemorações. No último dia 8/3, comemoramos por mais uma vez o Dia Internacional da Mulher - estabelecido em 1911, pela Confederação Internacional da Mulher, em homenagem a 129 mulheres operárias que morreram queimadas numa indústria de tecidos quando participavam de um movimento de reivindicação de jornada de trabalho, em 1857 - mas vejo que comemorar é reforçar as diferenças. O que conseguimos é conquista, o que eles - homens - conseguem é conseqúência, entende?! É verdade que em algum momento, em algum dia, temos de parar para discutir e analisar as atrocidades que ainda acontecem com as mulheres, como a violência doméstica e sexual. Mas é muito desgastante reforçar estígmas de que "a mulher precisa conhecer os seus direitos", "os índios precisam lutar por suas terras", "os carentes precisam ser protegidos". Tudo isso é verdade, mas a maior verdade é que o ser humano, o cidadão, deve conhecer e reconhecer seu direito de ir e vir para, assim, poder fazer suas escolhas. A frase já virou chavão, mas vale ser lembrada: levantar bandeira é fácil, difícil é encontrar caminhos. É verdade também que ter direitos nem sempre é garantia de que poderemos gozar deles, pois, às vezes, as oportunidades são injustas e desiguais. Por outro lado, ser democrático é livrar-se de padrões, é abandonar velhos estígmas. Ficar do lado da mulher ou do homem, do menor delinqüente ou da família vítima de assalto só vai alargar as diferenças. Já dizia o velho autor: "O homem é o lobo do homem". E nesse caso, o que vale é o bom-senso.

É claro que posso ser questionada por isso. É bom senso um pai de família receber R$183,00 por mês? Há bom senso em manter uma família por trás de grades em sua própria casa e os bandidos soltos nas ruas? Há bom senso em ser contra o aborto e a favor da fome? Há bom senso em considerar um jovem de 16 anos apto a votar e inapto a responder criminalmente por seus atos? 

bom senso em fazer contratos que não podem ou são dificilmente cumpridos?

Vivemos numa sociedade contraditória, em que as mulheres batem no peito no dia 8 de março e gritam por seus direitos, mas reafirmam nos bailes da vida que "só um tapinha não dói". E batem num peito projetado e siliconado para ir à caça, muitas vezes, do homem que, mais tarde, a violenta. E que quando se submetem a esculturar o corpo, estão assinando um atestado de mulher-objeto, pronta para o coito e a dominação.

Ao que tudo indica, homens e mulheres estão se perdendo em conceitos tão retrógrados quanto paradoxais.

* Elaine de Souza é jornalista formada pela UNESP e atua na assessoria de

comunicação do HRAC/USP

 


501 Anos de Destruição Ambiental Uma Lição a Ser aprendida

O nível de destruição ambiental a que chegamos nos primeiros 5 séculos de história do Brasil é alarmante e as próximas gerações estarão condenadas a um futuro sombrio se não aprendermos a valorizar e usar de forma racional os recursos naturais. "Muitos problemas ambientais que enfrentamos hoje são resultado da mentalidade herdada dos colonizadores, que acreditavam no mito da natureza infinita e que, por isso, não precisava ser cuidada" Os sucessivos ciclos econômicos como a exploração do pau-brasil, cana e café causaram grandes impactos ambientais. Em termos de biodiversidade, a principal vítima foi a Mata Atlântica: do período colonial aos dias de hoje esse bioma já perdeu 93% de suas florestas, que originalmente cobriam 1,3 milhões de km² ao longo do litoral brasileiro.. Em áreas específicas, como as florestas de Araucária no Sul do país, restam apenas 2% da cobertura original. No século XX, esse padrão destrutivo se repete com a devastação de mais de 50% do Cerrado, em apenas 60 anos e de 15% da Amazônia, em menos de uma geração. A queima de florestas, ainda comum nos dias de hoje, era a prática mais emprega na preparação da terra para o plantio. Em 1711, o jesuíta André Antonil estabeleceu regras para orientar o plantio da cana-de-açúcar: "roça-se, queima-se e alimpa-se, tirando-lhe tudo o que pode servir de embaraço". Neste caso, o "embaraço" era a própria Mata Atlântica, cujas árvores serviam também como lenha para alimentar fornalhas da indústria do açúcar. Na visão de um escritor do século XVIII, essas fornalhas eram "bocas verdadeiramente tragadoras de matos" - calcula-se que para cada quilo de açúcar produzido queimou-se cerca de 15 quilos de lenha. A exuberância, imponência e riqueza da Mata Atlântica marcaram profundamente a imaginação dos europeus e contribuíram para criar uma imagem de terra paradisíaca, onde os recursos naturais pareciam inesgotáveis. A redução da Mata Atlântica a níveis perigosos prova que isso não passava de uma fantasia. No período colonial, a exploração descuidada dos recursos

a como mero potencial econômico para impulsionar a expansão mercantilista das potências européias da época. Essa é um trágica herança que ainda persiste no Brasil contemporâneo. Os períodos que marcaram os ciclos econômicos do Brasil-colônia estão repletos de exemplos de exploração predatória. No final do século XVIII, o crescimento das cidades e da população, resultantes da prosperidade do ciclo da mineração, gerou a necessidade de aumentar a produção de alimentos. Assim teve início a expansão da pecuária extensiva, associada a práticas danosas ao meio ambiente. Os pastos naturais se degradavam com um ou dois ciclos de pastoreio e, ao invés de optar pelo replantio, optava-se por incendiá-los, na expectativa de que o fogo promoveria o crescimento de ervas comestíveis e garantiria a permanência do gado na área; este, por sua vez, era deixado solto, ocupando um espaço territorial bem maior do que seria necessário. Essa prática ainda se aplica, com a pecuária ocupando atualmente uma área gigantesca de quase 200 milhões de hectares e uma produtividade baixíssima, muitas vezes de menos de uma cabeça por hectare. O ciclo do café, no século XIX, também foi marcado pelo descuido com o meio ambiente. O plantio dessa espécie africana, originalmente feito em áreas de sombra, foi cultivado no Brasil em espaços desflorestados da Mata Atlântica. Um testemunha da época afirmava que para cada hectare que se pretendia abrir para a lavoura, de cinco a dez eram destruídos pelo fogo descontrolado. No século XX assistimos à destruição de ecossistemas como o Cerrado e a Amazônia. O Cerrado, como aconteceu com a Mata Atlântica, está sendo visto como um "embaraço que dever ser superado".. Esse bioma vem se tornando um grande fronteira destinada à produção de grãos para exportação. Como caso da Amazônia, no início dos anos 70, apenas 1% da sua cobertura original havia sido destruída. Trinta anos mais tarde, 15% da floresta já haviam desaparecido. "Não devemos simplesmente lamentar, mas aprender com o passado e fazer diferente", diz Garo

das preventivas, ao invés de continuar, literalmente, apagando incêndios". Os dados mostram que existem um enorme potencial pouco explorado: nos Estados Unidos, por exemplo, as 376 áreas protegidas pelo Sistema Nacional de Parques daquele país recebem mais de 270 milhões de visitantes por ano, e geram receita de 10 bilhões de doláres e 200.000 empregos. No Brasil, das 93 unidades federais de conservação, apenas duas são lucrativas, os parques nacionais de Foz do Iguaçu e da Tijuca. A ironia maior é que a Costa Rica, um país 167 vezes menor que o Brasil, soube como aproveitar seus recursos e é hoje o principal destino para o turista estrangeiro que quer conhecer uma floresta tropical.

Até Mais

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Ética Ambiental

- Paradigma ou Conduta Profissional -

Artigo escrito por Hidejal N.Santos Jr., Engenheiro de Meio Ambiente da HTO Consultoria Produtos e Serviços Ltda.

Ética, na essência da palavra, significa o modo de ser, o caráter do homem, ou melhor, a sua relação intersocial com seus parâmetros de vida. A conduta de cada ser humano no meio social se traduz no campo da moral, refletindo diretamente no comportamento de cada um.

Os filósofos dos primeiros séculos, Sócrates e Platão e, mais tarde os seus discípulos, refletiram sobre a Ética e concluíram que ela é ligada à política, é racionalista e se explica pela virtude, cujo objetivo é o bem – o homem é um animal político e social, usa a Ética, refletida na razão e na virtude, para alcançar a felicidade.

Percorrendo esta linha do tempo, na era do Cristianismo vamos encontrar uma Ética definida como um conjunto de verdades, mandamentos e condutas revelados de Deus e seguido pelos homens – era o comportamento moral tomando rumos teológicos, subordinando a filosofia.

Vamos agora dar um salto no tempo, notar um crescimento espantoso da humanidade e com ela nasce e evolui a passos largos a tecnologia: a medicina surge com novas técnicas, resultando numa queda dos índices de mortalidade, alterando o binômio nascimento – morte e superlotando o planeta. O descontrole da produção alimentar e a degradação da cultura, vem mundializando a fome e a pobreza.

Em meio a esta visão ecocêntrica, surge a Ética Ambiental como uma nova relação de consciência entre o homem e a natureza: o ser humano faz parte da natureza e não é o seu dono, não a tem para serví-lo, mas para que ele sobreviva em harmonia com os demais seres. Nesta nova concepção o homem passa a se preocupar com suas ações e como conseqüência passa a praticar ações coerentes com a natureza.

Com esta nova linha de pensamento, podemos definir Ética Ambiental como uma conduta de comportamento do ser humano com a natureza, cuja base está na conscientização ambiental e no compromisso preservacionista, onde o objetivo é a conservação da vida global. O desafio desta nova ética está no aparecimento de um compromisso pessoal que se desenvolve pelo próprio indivíduo, dentro dele, é Ético e não Legal. Não se trata de uma obrigação legal, mas moral e ética, que posiciona o homem frente à natureza e se reflete em ações éticas, que sem dúvida trarão resultados favoráveis à preservação ambiental e conseqüentemente à melhoria da qualidade de vida.

O fenômeno da globalização obriga a se criar e adaptar regras de aceitação internacional, gerando uma onda de normalização ao redor do mundo, onde a ISO-9000 foi o marco, que posteriormente culminou na ISO-14000, em conseqüência à Conferência Rio-92, tornando-se um pré-requisito de qualidade ambiental na guerra da competitividade e da onda preservacionista, porém positiva, pois exige o esforço de inovação na implantação de tecnologias limpas.

Concluíndo, podemos enfatizar que a Ética Ambiental cria uma nova ordem mundial alicerçada em valores extrasociais humanos, embasado cientificamente na relação do homem com a natureza, desenvolvendo uma humanidade consciente de que é parte viva da Terra, e como tal tem o dever de desenvolver uma nova conduta comportamental, em todos os segmentos da sociedade, notadamente o setor empresarial e industrial, como peças fundamentais neste novo paradigma do século 21: a ética ambiental.

http://www.saude.inf.br/etica.htm


Genética e Ambiente


Francisco M. Salzano

Doutor em Ciências, Professor Titular, Departamento de Genética, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS

As características biológicas de nosso meio ambiente são brevemente
descritas, bem como as posições éticas que procuram relacionar o Homo sapiens
com nossos companheiros do universo. A seguir, faz-se uma revisão da legislação brasíleira de
proteção ao meio ambiente. Após um breve histórico sobre o desenvolvimento da genética ao longo do
século, são identificadas três áreas de contato entre esta ciência e problemas vinculados ao meio ambiente.
Estas áreas estão relacionadas com projetos de conservação, de monitoramento da poluição e de aplicações
tecnológicas. São indicadas as medidas cautelares estabelecidas pelos países desenvolvidos com relação
à liberação, no ambiente, de organismos modificados por meio da engenharia genética, e
mencionadas tentativas atualmente em curso, no Brasíl e em outros países, visando
harmonizar desenuolvimento com conservação.

UNITERMOS - Genética, ética ambiental, biotecnologia

Um patrimônio a preservar

Quanto vale um metro cúbico de ar, ou de água, ou de biodiversidade? Esta foi a pergunta feita recentemente por conhecido pasquisador brasíleiro (1). Evidentemente, é impossível estabelecer-se um valor exato. Entretanto, adiciona ele, enquanto o preço de um grama de ouro está calculado em cerca de 12 dólares, o de um grama de clorofila bruta é de 700 dólares, e o de clorofila purificada é de aproximadamente 20 mil dólares. Já o preço do beta e do alfa-caroteno varia entre 3 mil e 6 mil dólares.

Consideremos, de maneira específica, a biodiversidade (2). Calcula-se que, até o presente, tenham sido descritas cerca de 1,4 milhão de espécies de plantas, animais e microrganismos. A diversidade terrestre e dos habitats de água doce é maior do que a marinha. Os elementos mais numerosos são as plantas com flores (220 mil espécies) e seus parceiros coevolucionários, os insetos (750 mil espécies). Mas a diversidade conhecida é apenas uma fração da diversidade total. É possível que o número total de espécies do planeta situe-se em cerca de 100 milhões.

Certos grupos taxonômicos apresentam hiperdiversidade, e o mesmo é verdadeiro com relação a certos habitais e áreas geográficas. Por exemplo, no Peru, em um único hectare foram encontradas 300 espécies de árvores, enquanto em toda a América do Norte só foram descritas 700 dessas espécies (2).

Em todo o mundo, o Brasíl ocupa a primeira posição com relação ao número total de espécies. Dos 1,4 milhões de organismos já mencionados, 10% vivem em território brasíleiro. A extensão das florestas tropicais brasíleiras é de longe a maior do planeta: são mais de 3,57 milhões de km2, representando 30% das florestas tropicais existentes (3). No país da megadiversidade, é natural que deva haver uma preocupação marcante com relação à preservação desta variabilidade.

Assim mesmo, pode-se perguntar por que devemos nos preocupar com a manutenção dessa diversidade? Ehrlich e Wilson (2) enumeram pelo menos três razões básicas. A primeira é ética e estética.. Como o Homo sapiens é a espécie dominante na terra, temos a responsabilidade moral de proteger os nossos companheiros do universo. É notório, também, que a observação e a convivência com os mesmos geram sentimentos estéticos e gratificantes..

A segunda razão é que a partir dessa diversidade a humanidade já obteve enormes beneficios econômicos na forma de alimentos, remédios e produtos industriais, e potencialmente pode ganhar ainda muito mais. Assim, apenas uma porção minúscula das espécies vegetais foi investigada quanto ao seu valor farmacêutico; e embora tenhamos usado cerca de sete mil espécies como alimento, pelo menos um número diversas vezes maior de espécies apresenta partes comestíveis.

Por último, há toda uma gama de serviços que são prestados pelos ecossistemas naturais, os quais envolvem a estabilidade de climas, águas, solos e nutrientes. Nesse caso, a biodiversidade fornece um papel crítico numa escala tão grande - e a interação entre as diversas formas de vida é tão intrincada -que não é possível estabelecer-se a dispensabilidade mesmo dos organismos mais simples.

Ética e meio ambiente

Como se explica que possamos alimentar um astronauta no espaço e confeccionar instrumentos de morte caríssimos, mas sejamos incapazes de dar de comer e de vacinar crianças do Nordeste brasileiro ou da periferia das grandes cidades? A resposta a esta pergunta é que, apesar de nossa competência em ciência e tecnologia, padecemos de uma trágica incompetência tanto em ética como em política. E se somos incompetentes em ética, talvez a pior contaminação ambiental seja, então, a de índole mental (4).

A história da relação entre oHomo sapiens e a natureza é tão antiga quanto nossa própria espécie, e tem sido naturalmente muito influenciada pelo desenvolvimento de um atributo essencialmente humano: a cultura. Evidentemente, a ação do homem sobre o meio ambiente era muito menos destruidora quando o meio de subsistência baseava-se na caça e na recoleta do que nos estágios posteriores, com o desenvolvimento da agricultura em larga escala e a posterior industrialização. A influência da religião não deve também ser menosprezada. White (5), por exemplo, descreveu o cristianismo, em sua forma ocidental, como ''a religião mais antropocêntrica que o mundo já viu". Thomas (6), por sua vez, fornece uma excelente revisão das mudanças de atitude dos homens com relação às plantas e animais, ocorridas na Inglaterra entre os anos 1500 e 1800, que, no entanto, podem ser extrapoladas para outros países.

Leis (7) contextualiza a ética ecológica em um quadro de quatro entradas, definidas pelas relações dos seres humanos tanto com a sociedade como com a natureza. Em ambos os casos, os princípios de inclusão e exclusão definiriam duas posições polares: antropocentrismo/biocentrismo (nas relações homem-sociedade) e comunitarismo/individualismo (nas relações homem-natureza). Combinando esses dois tipos de relações feríamos as seguintes tendências: a) antropocentrismo/individualismo: alfa; b) antropocentrismo/comunitarismo: beta; c) biocentrismo/comunitarismo: delta; d) biocentrismo/ individualismo: gama.

A posição alfa tem raízes éticas históricas (John Locke, por exemplo). Em alguns aspectos ela tem conseguido evitar muitos sofrimentos aos seres humanos, através do reconhecimento dos direitos individuais. Por outro lado, com a prosperidade econômica, foram desenvolvidos em nome do progresso comportamentos desapiedados. Segundo Shrader-Frechette (4), a descrição que Oscar Wilde fez dos cínicos também se aplica aos individualistas tecnocratas: são pessoas que sabem o preço de tudo e o valor de nada.

A tendência beta, embora mantendo uma orientação antropocêntrica, prefere a cooperação à competição dentro da sociedade. Essa visão mais comunitária recebe às vezes o nome de ecologia social. A ênfase, nesse caso, situa-se na harmonização das relações sociais, pois só por meio dela poderia ser alcançada uma boa interação homem-natureza.

A vertente deita preconiza fraternidade e igualdade de aplicação tanto na sociedade como na natureza. Leis (7) relaciona-a com uma cosmovisão pré-moderna, pela sua reivindicação do caráter sagrado de todos e cada um dos seres deste mundo.

Finalmente, a tendência gama maximiza o bem-estar ambiental, mesmo em oposição ao bem-estar humano. Seríamos apenas uma espécie a mais, caracterizada por extrema insensibilidade e ignorância com relação ao meio ambiente. Nesse sentido, são rechaçados o hiperconsumismo, os valores econômicos neoclássicos e o individualismo tecnocráfico. O perigo dessa posição seria a adesão à chamada "ética do bote salva-vidas". Segundo Garrett Hardin,ospaisesdesenvolvidos seriam como botes salva-vidas abarrotados, e os subdesenvolvidos semelhantes a grupos de pessoas que estão se afogando. Os ocupantes dos botes não deveriam ajudar os que se esforçam a subir a bordo, porque isto faria com que as embarcações soçobrassem. Condusão: o problema ambiental teria prioridade sobre os dos países pobres. O mesmo autor (8) argumenta que o problema populacional não é técnico, e que deve ser estabelecido algum tipo de coerção para resolvê-lo.

Qual das posições seria a mais correta? Schrader-Frechette (4) sugere que a saída do dilema deveria ocorrer por meio de uma ordem ética de prioridades, na seguinte seqüência: 1. Obrigação de reconhecer os direitos humanos importantes; 2. Obrigação de proteger os interesses ambientais; 3. Obrigação de reconhecer os direitos humanos secundários. A verdade, no entanto, é que todos os direitos humanos básicos pressupõem um meio ambiente saudável. O que se deve fazer é separar as noções de necessidade, melhoria e luxo. Seria eticamente incorreto consumir artigos de luxo, se ao mesmo tempo não se faz nada para ajudar os outros a satisfazerem suas necessidades básicas.

Legislação brasíleira protetora

Há abundante legislação brasíleira protetora do meio ambiente. Machado (9) revisou e comentou sua totalidade até 1982 e, mais recentemente, examinou a relativa à proteção às águas (10).

A Constituição de 1988 tem um capítulo especial sobre o meio ambiente, constituído pelo artigo 225. O parágrafo 1°, inciso II deste artigo específica que incumbe ao Poder Público "preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as atividades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético"; e o inciso V, que cabe ao mesmo Poder Público "controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente". Outros documentos legais que devem ser mencionados são: (a) o Decreto Legislativo n°.2, de 3 de fevereiro de 1994, que aprova a Convenção sobre diversidade Biológica, assinada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro no período de 5 a 14 de junho de 1992; (b) a Lei n°. 8.974, de 5 de novembro de 1995, que regulamenta os incisos II e V do parágrafo 1°. do artigo 225 da Constituição Federal; (c) o Decreto n°.152, que regulamenta a Lei n°.8.974 e estabelece a estrutura da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança; e (d) a Lei n°. 9.279, de 14 de maio de 1996, intitulada Lei de Patentes.

Além disso, encontra-se em discussão, no Senado, um projeto de lei que dispõe sobre os instrumentos de controle do acesso aos recursos genéticos do pais e dá outras providências, de autoria da senadora Marina Silva; e, na Câmara dos Deputados, outro projeto de lei sobre a utilização científica de animais, do deputado Sérgio Arouca. Esse último talvez venha a receber um substitutivo, elaborado por representantes de várias sociedades científicas, e que seria encaminhado pela deputada Vanessa Felippe.

O Brasíl tem 104 áreas territoriais protegidas por legislação federal, o que representa cerca de 2% de sua extensão total. São 28 parques nacionais, 15 reservas biológicas,35 estações ecológicas,15 florestas nacionais e 11 áreas de proteção ambiental, totalizando 16.996.315 hectares. A esse sistema podem ser adicionadas, pelo menos, 210 unidades de conservação estaduais, a maioria situada nas regiões Sul e Sudeste. Note-se que outros países que também têm alta biodiversidade apresentam maior proporção de áreas protegidas (como o Equador, por exemplo, com 38,4% de seu território; ou a Indonésia, com 7,5%) (3).

O problema que existe com relação às áreas de preservação ambiental brasíleiras é o da fiscalização insuficiente. O número de fiscais do Instituto Brasíleiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) está muito aquém do necessário. A superintendência do IBAMA no Amazonas, por exemplo, tem apenas 54 funcionários, a maioria dos quais não está diretamente envolvida em tarefas de fiscalização. Mesmo que todos se dedicassem exclusivamente a essa tarefa, ter-se-ia não mais do que um fiscal para cada três milhões de hectares! (3).

A revolução genética

O nosso século será lembrado por muitos eventos políticos e históricos, tais como o surgimento e queda dos países comunistas, os campos de concentração nazistas e o holocausto, o fim dos impérios coloniais e a independência de muitas nações. Porém, o que talvez melhor irá caracterizá-lo será o significativo desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Mais especificamente, existe uma área da biologia, a genética, que surgiu exatamente no início do século - com a redescoberta das leis de Mendel (Johann Gregor Mendel, 1822-1884)- e que, ao longo dos anos, iria influenciar praticamente todos os ramos da biologia e penetrar no dia-a-dia de todos nós.

A primeira terça parte do século correspondeu ao período mendeliano-morganiano (Thomas Hunt Morgan, 1866-1945) e envolveu, principalmente, a busca de mutações em uma grande variedade de animais e plantas, e o estudo de sua herança. Na verdade, a palavra gene, para indicar a unidade da hereditariedade biológica, foi criada em 1909. Seguiram-se pesquisas sobre a localização dos genes, e o primeiro mapa genético foi publicado em 1913.

A partir da década de 30, houve uma ampliação dessas investigações para o nível bioquímico, e a extensão da análise genética a microrganismos. O ano de 1944 foi marcado pela demonstração, efetuada por Avery, MacLeod e McCarty, que o material genético era o DNA (ácido desoxirribonucléico), e em 1956 a estrutura dessa molécula foi esclarecida por Watson e Crick.

Os anos que se seguiram têm sido de progresso vertiginoso. Demonstrou-se como circuitos regulatórios modulam a expressão gênica; identificou-se o produto primário do gene, o RNA; elucidou-se o código genético; realizou-se a síntese química do gene; houve o fantástico desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante, que transformou completamente as possibilidades de análise genética de organismos multicelulares; foi realizada a montagem de organismos transgênicos (com a transposição experimental de genes de uma espécie para outra, distantemente relacionada); foram descobertos os oncogenes (responsáveis pelo desencadeamento do processo tumoral) e os antioncogenes; houve a invasão da medicina e da agricultura por métodos e conceitos genéticos; testemunhou-se o desenvolvimento da biotecnologia; e, finalmente, foi montado o projeto de sequenciamento total de vários genomas, inclusive o da espécie humana (11). Outros detalhes sobre a revolução genética podem ser encontrados em Bernardi (12) e Chambers (13).

Genética e meio ambiente

Um resumo sobre as relações entre a genética e o meio ambiente é fornecido na Tabela 1. Pode-se visualizar três áreas de contato: conservação, monitoramento da poluição e aplicações tecnológicas.

Tabela 1 - Relações entre a genética e problemas vinculados ao meio ambiente

  1. Área de contato: Conservação (14)
    1.1  Nível de variabilidade intra e interespecífica
    1.2. Tamanho populacional mínimo efetivo
    1.3. Taxa máxima de evolução sustentável
    1.4. Efeito das reduções populacionais
    1.5. Genes delatórios na população ancestral
    1.6. Novas mutações deletérios na população isolada
    1.7. Taxas de mutação elevadas
    1.8. Aumento populacional a partir de indivíduos manados em cativeiro
  2. Área de contato: Monitoramento da poluição (15,16)
    2.1. Ambientes a serem monitorados
        2.1.1. Ar
        2.1.2. Água
        2.1.3. Solo
    2.2. Tipos de agentes indutores
        2.2.1. Radiações
        2.2.2. Substâncias químicas
    2.3. Métodos de detecção
        2.3.1. Organismos
            2.3.1.1. Humanos
            2.3.1.2. Outros
            2.3.1.3. Microrganisrnos
        2.3.2. Cultura de células
    2.4. Indicadores
        2.4.1. Mutações gênicas
        2.4.2. Aberrações cromossômicas
  3. Área de contato: Aplicações tecnológicas (17,18)
    3.1. Fermentações
    3.2. Cultura de tecidos
    3.3. Produtos (nas áreas de química inorgânica e orgânica, de energia, mineração, agricultura, de alimentos, de uso médico/veterinário/fermacêutico, forense, e nos serviços de saúde pública)

Atualmente, não há dúvidas de que o conhecimento genético adequado de um organismo é muito importante para sua preservação. Na Tabela 1 estão indicados oito itens relacionados a essa interação. A palavra-chave, com relação a todos eles, é variabilidade. Deve-se ter uma idéia muito clara sobre a natureza da mesma na espécie ou grupo de espécies sob consideração, tanto na que ocorre dentro como entre populações. Além disso, são importantes informações sobre o tamanho populacional e sua variação entre gerações. Reduções no número de indivíduos pode condicionar diminuição na variabilidade (com concomitante perda da plasticidade adaptativa - capacidade de resistir a predadores e parasítas) ou até extinção. Por outro lado, o simples aumento artificial da população, pela adição de indivíduos criados em cativeiro, muitas vezes não basta, eis que tais indivíduos não estão adaptados à vida livre. Mudanças muito drásticas no ambiente podem ter efeitos desastrosos para certas espécies e taxas de mutação elevadas podem condicionar cargas genéticas insustentáveis (pela demasíada elevação na freqüência de genes deletérios).

No caso do monitoramento da poluição pode-se considerar questões relativas ao ambiente a ser estudado, os tipos de agentes indutores, os métodos de detecção e os indicadores a serem avaliados. O enfoque, naturalmente, irá variar com o ambiente que está sendo objeto de investigação. Por exemplo, no estudo da qualidade da água são utilizados peixas e planárias, que não podem ser empregados para o monitoramento dos outros ambientes. Organismos fossorais são importantes no estudo dos solos, mas não no que se refere ao ar. O dano causado pelas radiações pode ser diferente do induzido por substâncias químicas, e os diferentes métodos de detecção e seus indicadores têm eficiência variável.

A área das aplicações tecnológicas da genética ampliou-se de maneira fantástica nos últimos anos, não sendo exagero afirmar-se que nossa existência está sendo marcadamente influenciada por produtos e serviços vinculados, de alguma maneira, à genética. As aplicações estão presentes na indústria, na agricultura, na produção de alimentos e nos remédios desenvolvidos para assegurar o bem-estar de humanos e de nossos animais domésticos.. As possibilidades de utilização de microrganismos especialmente modificados por engenharia genética vão desde a recuperação e lixiviação de minérios até ao controle da poluição (por meio da degradação dos elementos poluentes).

Medidas cautelares

É óbvio que as técnicas de engenharia genética, por sua capacidade de alterar o patrimônio hereditário de qualquer organismo, envolvem um risco. Dessa maneira, foram montados nos países desenvolvidos esquemas de segurança que têm evoluído ao longo dos anos.

As primeiras medidas envolveram o desenvolvimento de normas para evitar que os organismos criados por engenharia genética fossem liberados acidentalmente no ambiente. Os laboratórios foram classificados de acordo com o tipo de pesquisa que realizavam, e foram estabelecidas normas rigidas de confinamento. A partir da montagem de microrganismos incapazes de se desenvolverem em ambiente diferente das condições de laboratório, no entanto, tais normas foram liberalizadas.

No que se refere à emissão de certificados de aprovação de ensaios clínicos e de produtos farmacêuticos e de diagnóstico, a maioria dos países do hemisfério norte segue os princípios adotados pela agência americana FDA (Food and Drug Administration). Esses são liberados levando-se em conta as características do produto e não a tecnologia de recombinação genética utilizada. As principais exceções são a Alemanha e o Japão, onde esses processos são considerados.

A partir de meados dos anos 80, a agenda de biossegurança voltou-se para a introdução, no meio ambiente, de protótipos vegetais e organismos engenheirados de interesse agropecuário. Nesse caso, cada país adotou normas específicas para o procedimento de testes com plantas transgênicas e de avaliação dos riscos eventuais para o meio ambiente. Apesar de, desde 1987, já terem sido realizados cerca de mil testes de campo para o estudo de novas plantas, microrganismos e vacinas animais, ainda não há consenso sobre o que seriam, nesses casos, o regulamento ou os procedimentos ideais (19).

Os anos 90 se caracterizam pela possibilidade de inicio do cultivo em grande escala e do lançamento, no mercado, de produtos de plantas transgênicas. Há discussões sobre as medidas que devem ser tomadas a respeito, exemplificadas com as que se formaram a respeito da liberação da variedade de tomate "Flavr Savr", da Calgene Inc. (20).

No caso do Brasíl, a Lei n°.8.974, de 5 de janeiro de 1995, restringe as atividades e projetos de ensino e pesquisa, bem como a aplicação tecnológica de organismos modificados por engenharia genética, a entidades de direito público e privado. Tais entidades deverão criar comissões internas de biossegurança, que serão fiscalizadas por uma comissão central, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, (CTN Bio), vinculada à Secretaria Executiva do Ministério da Ciência e Tecnologia, e cuja constituição foi determinada pelo Decreto n°. 1.752, de 20 de dezembro de 1995. São 17 membros, dos quais oito são especialistas de notório saber científico e técnico, e os outros representantes de ministérios, órgãos de defesa do consumidor, do setor empresarial e de entidades de proteção à saúde do trabalhador.

A lei proibiu: (a) a manipulação genética de células germinais humanas; (b) a intervenção em material genético humano in vivo, exceto para o tratamento de defeitos genéticos, respeitando-se princípios éticos tais como o princípio de autonomia e o de beneficiência, com a aprovação prévia da CTNBio; e (c) a produção, armazenamento ou manipulacão de embriões humanos destinados a servirem como material biológico disponível.

Proteção ou destruição?

Conhecimento é poder. O espetacular desenvolvimento da ciência e da tecnologia que estamos testemunhando no presente século tornam mais agudos do que nunca os problemas éticos vinculados à preservação do meio ambiente. Um dos nossos deveres é 0 de legar às gerações futuras condições iguais ou melhores do que as que temos agora. Pessoas e entidades vêm trabalhando ativamente para este fim. Por exemplo, periodicamente são publicadas listas de espécies em perigo de extinção (21,22). Estão em curso, também, muitas tentativas, no Brasíl e no mundo, de conciliar o desenvolvimento com a conservação (23,24,25). E existe toda uma ciência, a Ecologia Humana, preocupada com esses problemas (26). Confiemos, portanto, na aptidão humana de escolher o caminho certo, combinando capacidade científica e tecnológica com maior felicidade para todos.

Abstract - Genetics and Environment

The biological characteristics of our environment are briefly described, as are the ethical positions which try to relate the Homo sapiens with our colleagues in the universe. A review of Brazilian legislation regarding environmental protection then follows. After a brief history on the development of genetics throughout the century, three areas of contact between this science and problems linked to the environment are then identified. These areas are related to conservation projects, the monitoring of pollution and technological applications. The cautionary measures established by the developed nations concerning the releasíng, into the environment, of organisms modified by means of genetic engineering are disclosed and also mentioned are the attempts currently underway, in Brazil and in other nations, to harmonize development with conservation.

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Endereço para correspondência:

Departamento de Genética
Instituto de Biociências
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Caixa Postal 15053
91501-970 Porto Alegre - RS

http://www.cfm.org.br/revista/bio2v5/geneticaambiente.htm


Áreas Verdes Urbanas

CONCEITOS E DEFINIÇÕES

 

Existe uma dificuldade com relação aos diferentes termos utilizados sobre as áreas verdes urbanas. Similaridades e diferenciações entre termos como áreas livres, espaços abertos, áreas verdes, sistemas de lazer, praças, parques urbanos, unidades de conservação em área urbana, arborização urbana e tantos outros, confundem os profissionais que trabalham nessa área. Esse problema existe nos níveis de pesquisa, ensino, planejamento e gestão dessas áreas, e conseqüentemente, nos veículos de comunicação. Nesse sentido foi desenvolvido um trabalho por Lima et all ( 1994 ), na tentativa de definir esses termos, através de consultas a profissionais que trabalham nessa área e a experiência do grupo que desenvolveu o trabalho. A seguir seguem algumas definições retiradas desse trabalho:

     

  1. Espaço Livre: trata-se do conceito mais abrangente, integrando os demais e contrapondo-se ao espaço construído, em áreas urbanas. Assim, a Floresta Amazônica não se inclui nessa categoria; já a Floresta da Tijuca, localizada dentro da cidade do Rio de Janeiro, é um espaço livre.

     

     

  2. Área Verde: onde há o predomínio de vegetação arbórea, englobando as praças, os jardins públicos e os parques urbanos. Os canteiros centrais de avenidas e os trevos e rotatórias de vias públicas, que exercem apenas funções estéticas e ecológicas, devem, também, conceituar-se como área verde. Entretanto, as árvores que acompanham o leito das vias públicas, não devem ser consideradas como tal, pois as calçadas são impermeabilizadas.

     

     

  3. Parque Urbano: é uma área verde, com função ecológica, estética e de lazer, entretanto com uma extenção maior que as praças e jardins públicos.

     

     

  4. Praça: como área verde, tem a função principal de lazer. Uma praça, inclusive, pode não ser uma área verde, quando não tem vegetação e encontra-se impermeabilizada ( exemplo, a Praça da Sé em São Paulo). No caso de ter vegetação é considerada Jardim.

     

     

  5. Arborização Urbana: diz respeito aos elementos vegetais de porte arbóreo, dentro da cidade. Nesse enfoque, as árvores plantadas em calçadas, fazem parte da arborização urbana, porém, não integram o sistema de áreas verdes.

     

     

  6. Área Livre e Área Aberta: são termos que devem ter sua utilização evitada, pela imprecisão na sua aplicação.

     

     

  7. Espaço Aberto: traduzido erroneamente e ao pé da letra do termo inglês "open space". Deve ser evitada sua utilização, preferindo-se o uso do termo espaço livre.


A CIDADE COMO UM ECOSSISTEMA E AS ALTERAÇÕES AMBIENTAIS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO

 

As cidades, assim como o meio natural, possuem entrada, tocas e saída de matéria e energia. Nesse sentido, pode ser considerada como um ecossistema. A Ecologia Urbana é a área do conhecimento responsável pelo estudo das cidades sob a ótica ecológica.

No entanto, o meio urbano não é nem um pouco auto-sustentável. Há uma grande quantidade de consumo de recursos naturais provenientes de outros sistemas, como os naturais, os semi-naturais e os agrários. Por exemplo, a água que consumimos, os alimentos que comemos, são provenientes, originariamente, fora das cidades. Tudo para abastecer uma única espécie dominante que vive nas áreas urbanas, o homem. Os rejeitos da utilização de bens e produtos são uma grande fonte de poluição para o próprio ambiente das cidades, seu entorno e até mesmo de áreas mais distantes. A ciclagem ou reciclagem desses rejeitos ainda é insignificante. A poluição atmosférica por gases e partículas, a contaminação das águas pelos esgotos urbanos e industriais, o lixo e entulho gerados são os principais exemplos desse rejeitos.

Em suma, somos uma espécie que consome bastante recursos naturais, desperdiça muitos bens e produtos e polui bastante o ambiente que co-habitamos com outros seres vivos.

A urbanização em maior ou menor escala provoca alterações no ambiente das cidades. Essas alterações ocorrem no micro-clima e atmosfera das cidades, no ciclo hidrológico, no relevo, na vegetação e na fauna .

A atmosfera se torna mais poluida e aquecida, devido: .presença de material particulado ( poeira, fuligem ); .liberação de gases ( CO2, CO, e outros), provenientes de veículos, indústrias e construções, provocando nuvens produzidoras de sombra; .umidade relativa menor do que no meio natural e agrário e ; .temperaturas mais altas devido o aquecimento de grandes áreas concretadas e escassez de vegetação e corpos d’água.

O ciclo das águas é alterado pela impermeabilização do solo, onde a água pluvial escorre por galerias e sistemas de drenagem, tornando essa água imprópria para uso. Os cursos d’água são retificados, não respeitando a existência e necessidade das matas ciliares. Assim as águas atingem os fundos de vale rapidamente e, não tendo condições de vazão suficiente, causam as enchentes. Além disso, as águas carregam para os rios materiais, como terra, lixo, entulho que contribuem com o assoreamento dos mesmos.

O maior problema com relação ao relevo são os cortes e aterros de grandes extenções, causando compactação e erosão dos solos.

A vegetação natural é quase totalmente dizimada e substituida por ruderais ou por plantas exóticas, muitas vezes com pequena função ecológica.

A fauna original é totalmente dizimada em função da destruição de seu habitat natural. Algumas espécies de animais se sobressaem nas cidades, devido as condições favoráveis que encontram para o seu aumento populacional e ausência de seus predadores naturais, provocando um desequilíbrio inigualável nas cadeias alimentares. Baratas, ratos, pombos, pardais, escorpiões, formigas, cupins, pernilongos, são os principais exemplos de animais urbanos. Muitos deles vetores de doenças e indesejáveis devido a sua grande população.


AS DIFERENTES FUNÇÕES DAS ÁREAS VERDES URBANAS

 

As áreas verdes urbanas proporcionam melhorias no ambiente excessivamente impactado das cidades e benefícios para os habitantes das mesmas.

A função ecológica deve-se ao fato da presença da vegetação, do solo não impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas áreas, promovendo melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo.

A função social está intimamente relacionada com a possibilidade de lazer que essas áreas oferecem à população. Com relação à este aspecto, deve-se considerar a necessidade de hierarquização, segundo as tipologias e categorias de espaços livres, tema que será abordado a seguir.

A função estética diz respeito à diversificação da paisagem construida e o embelezamento da cidade. Com relação a este aspecto deve ser ressaltado a importância da vegetação.

A função educativa está relacionada com a possibilidade imensa que essas áreas oferecem como ambiente para o desenvolvimento de atividades extra-classe e de programas de educação ambiental.

A função psicológica ocorre, quando as pessoas em contato com os elementos naturais dessas áreas, relaxam, funcionando como anti-estresse. Este aspecto está relacionado com o exercício do lazer e da recreação nas áreas verdes.

No entanto, a serventia das áreas verdes nas cidades está intimamente relacionada com a quantidade, a qualidade e a distribuição das mesmas dentro da malha urbana. Com relação à quantidade, a seguir estaremos discutindo a questão do índice de áreas verdes públicas e outros índices que mensuram a quantidade de vegetação nas cidades. Com relação à qualidade e distribuição, pretende-se abordar a questão da hierarquização dos espaços livres e aspectos relacionados à manutenção, conservação e planejamento dessas áreas.



ÍNDICES

 

Na realidade pode-se falar em diferentes índices para expressar o verde nas cidades.

O índice de áreas verdes é aquele que expressa a quantidade de espaços livres de uso público, em Km2 ou m2, pela quantidade de habitantes que vive em uma determinada cidade. Então, neste cômputo, entram as praças, os parques e os cemitérios, ou seja, aqueles espaços cujo acesso da população é livre. Vale salientar que dever-se-ia trabalhar com um primeiro valor que é em função da quantidade total das áreas existentes e um segundo, recalculado, que expresse quantas dessas áreas estão sendo realmente utilizadas, após uma avaliação do seu estado de uso e conservação. Este índice se refere àquelas áreas verdes que desempenham todas as funções descritas no item anterior. No entanto, está intimamente ligado à função de lazer que desempenham ou que podem desempenhar.

Outro índice que pode ser gerado é o índice de cobertura vegetal em área urbana. Para obtenção desse índice é necessário o mapeamento de toda cobertura vegetal de um bairro ou cidade e posteriormente quantificado em m2 ou Km2.Conhecendo-se a área total estudada, também em m2 ou km2, chega-se posteriormente à porcentagem de cobertura vegetal que existe naquele bairro ou cidade. Se mapearmos somente as árvores, então esse índice expressará somente a cobertura vegetal de porte arbóreo. Nucci (1996), em sua tese de doutorado, fez esse levamento para o Distrito de Santa Cecília, na cidade de São Paulo. Neste trabalho o autor mapeou as "manchas de verde", obteve o valor em m2 e depois dividiu pela população residente naquele bairro, chegando a um índice que ele denominou índice de verde por habitante. Neste caso ele considerou todo o verde existente no bairro, independente de ser área pública ou particular e não se preocupando, neste caso, com o acesso da população a essas áreas. Em seguida o autor diferenciou as áreas verdes públicas das particulares e obteve também o índice de áreas verdes.

Oliveira (1997), em sua dissertação de mestrado, fez um levantamento das áreas públicas de São Carlos e obteve dois índices diferentes. O primeiro, denominado percentual de áreas verdes (PVA), foi estimado para grandes áreas da cidade que o autor chamou de unidades de gerenciamento. Neste índice entraram todas as áreas verdes públicas da cidade, independentemente da sua acessibilidade à população. Diferentes valores foram obtidos para as diferentes unidades de gerenciamento. Em seguida, o autor calculou o índice de áreas verdes (IAV), considerando somente aquelas áreas verdes públicas de acesso livre para a população. Neste caso os índices foram obtidos para setores da cidade. Também chegou ao índice de áreas verdes para a cidade como um todo. O valor obtido foi de 2,65 m2/hab. Segundo o autor este último índice é um indicador de qualidade de vida da população, expressando a oferta de área verde "per capta".

"Ainda em relação aos índices é importante comentar que está difundida e arraigada no Brasil a assertiva de que a ONU, ou a OMS, ou a FAO, considerariam ideal que cada cidade dispusesse de 12m2 de área verde/habitante. Nas pesquisas, por carta, que fizemos junto à essas Organizações, foi constatado que esse índice não é conhecido, como não o é, entre as faculdades de paisagismo da República Federal da Alemanha. Somos levados a supor, depois de termos realizado muitos estudos, que esse índice se refira, tão somente às necessidades de parque de bairro e distritais/setoriais, já que são os que, dentro da malha urbana, devem ser sempre públicos e oferecem possibilidade de lazer ao ar livre" (Cavalheiro & Del Picchia, 1992).

A falta de uma definição amplamente aceita sobre o termo "áreas verdes" e as diferentes metodologias utilizadas para obtenção dos índices , dificulta a comparação dos dados obtidos para diferentes cidades brasileiras e destas com cidades estrangeiras.

Estes índices carregam consigo apenas uma informação quantitativa geral, não expressando como essas áreas verdes se encontram, como estão sendo utilizadas e nem a distribuição das mesmas dentro da cidade. Imagine que podemos ter um alto índice de áreas verdes em uma determinada cidade, mas quando vamos observar onde estão localizadas essas áreas, constatamos que a grande maioria delas estão nos bairros de classe de alta renda. Soma-se a isto, o fato de que as pessoas mais pobres, onde há uma carência maior dessas áreas, não possuem acesso a clubes de lazer particulares e seus quintais internos são pequenos ou mesmo inexistentes, tendo muitas vezes que praticar esporte ou desenvolver algum tipo de recreação nas ruas do seu bairro.


HIERARQUIZAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES

 

Os espaços livres de construção são classificados segundo:

     

  1. Tipologia ( baseado em Gröening, 1976 apud Escada, 1987 ), em:

     

Particulares: jardins, quintais, chácaras;

Potencialmente coletivos: clubes, escolas, fábricas, universidades;

Públicos: praças, parques, cemitérios.

b) Categoria e Disponibilidade, veja Tabela 01.

Segundo Cavalheiro & Del Picchia (1992), os valores contidos na Tabela devem servir como indicações quanto à capacidade de suporte para visitação, a quantidade de equipamentos que possam conter e à maximização de sua manutenção.

Os parques de vizinhança, segundo Escada (1992), são de uso localizado, pois são planejados para servir à uma unidade de vizinhança ou de habitação, substituindo as ruas e os quintais de casas das cidades menores. São espaços com tamanho reduzido, que devem abrigar alguns tipos de equipamentos ligados à recreação, vegetação e distar entre 100 e 1.000 m das residências ou do trabalho.

Os parques de bairro são de maiores dimensões, devendo conter uma gama maior de equipamentos de lazer. Podem desempenhar função paisagística e ambiental, se dotados de vegetação, espaços livres de impermeabilização e águas superficiais.

Os parques distritais são espaços livres de grandes dimensões. Segundo Birkholz, 1983 apud Escada, 1992 são áreas de bosques que contém elementos naturais de grande significado, tais como montanhas, cachoeiras, florestas, etc. Devem ser concebidos e equipados para permitir acampamentos, possuir trilhas para passeios a pé e a cavalo, locais de banho, natação, esporte e outros.

Os parques metropolitanos também são espaços livres de grandes dimensões, devendo possuir os espaços e equipamentos de lazer citados para os parques distritais. A diferença maior com estes é sua inserção em áreas metropolitanas, servindo como um espaço público para habitantes de diferentes cidades próximas. Os dois maiores exemplos são o Central Park de Nova York e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

 

MANUTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DAS ÁREAS VERDES

 

A disponibilidade de espaços para recreação e prática de esporte nas cidades não depende exclusivamente da existência de áreas para o desenvolvimento dessas atividades. A conservação e manutenção de todos elementos que compõem uma praça ou um parque devem merecer atenção continuada dos orgãos públicos que gerenciam essas áreas e da população que as utilizam. O uso público de uma área verde está intimamente ligado à manutenção, conservação e segurança que esta área recebe.

Todo elemento natural constituinte de uma área verde, principalmente a vegetação deve ser manejada constantemente. Alguns tipos de manejo são citados a seguir:

Também deve ser levado em consideração, na fase de planejamento de uma área verde, a preocupação com espécies que dão maior demanda de manutenção e altos custos de implantação, como as capinas de gramas exóticas. Em grandes parques é possível utilizar como substrato as herbáceas existentes na própria área. À medida que as árvores crescem, essas invasoras tendem a desaparecer dos espaços sombreados. Posteriormente, pode-se pensar em gramar os espaços expostos ao sol pleno ou mesmo manter a vegetação existente.

Com relação aos equipamentos de lazer e a todo mobiliário urbanoque faz parte da área verde, deve-se reparar todo dano existente e paralelamente, desenvolver campanha educativa aos usuários para uso adequado e proteção dos mesmos. Um banco quebrado ou uma luminária que não funcione é motivo suficiente para reprodução desses e de outros tipos de danos.

Permanecer tranqüilo em uma praça, hoje em dia, é algo difícil de acontecer. Na maioria das vezes não nos sentimos seguros. O que dá segurança em uma área verde na cidade é o seu uso constante pela população e uma guarda municipal que seja mais educativa que punitiva. Esse uso ocorrerá se a praça estiver dotada de iluminação eficiente, equipamentos funcionando, gramados capinados, árvores de copas altas e muitos outros ítens relacionados à conservação e manutenção dos elementos existentes na área.

PLANEJAMENTO E LEGISLAÇÃO

 

O Código de Áreas Verdes e Arborização Urbana de uma cidade é o instrumento legal e de gerenciamento mais importante que pode existir para assegurar a existência de espaços que desempenhem funções de melhorias do ambiente urbano e da qualidade de vida dos seus habitantes.

Com relação ao planejamento, deve-se pensar primeiro na cidade como um todo, propondo a existência e funcionalidade de um sistema municipal de áreas verdes ou de espaços livres, considerando a densidade populacional dos bairros ou setores da cidade e o potencial natural das áreas existentes.

Para cada bairro ou setor, no planejamento e projeção dos espaços livres ou setor deve-se levar em consideração as faixas etárias predominantes e existentes, a opinião dos moradores e o potencial de cada área. Guzzo (1991), em sua monografia de graduação, desenvolveu um trabalho de planejamento dos espaços livres de uso público para um conjunto habitacional de Ribeirão Preto/SP. Primeiro foi feita uma hierarquização das áreas verdes e sistemas de lazer existentes no Projeto Urbanístico, segundo as categorias existentes na Tabela 01. As áreas foram classificadas em parques de vizinhança, parques de bairro e verde de acompanhamento viário. Posteriormente a população foi consultada através de questionário segundo seus desejos quanto aos elementos que deveriam estar presentes nessas áreas. Posteriormente, o autor observou quais os tipos de lazer que as crianças desenvolviam nas ruas do bairro. Com todas essas informações foi feito dois pré-projetos paisagísticos para uma área categorizada como parque de vizinhança e outra como parque de bairro. Este último, com área superior a 6,0 hectares se transformou em 1995, através de lei municipal, no Parque de Bairro Tom Jobim. Porém, até a presente data, ainda não foi totalmente implantado. Apenas alguns equipamentos esportivos e a arborização externa da área foi implementada.

Ainda com relação à legislação, cita-se a seguir aquelas que devem merecer atenção para quem for desenvolver algum tipo de trabalho com áreas verdes e arborização urbana:

- Lei 7.803/89, alterando a Lei 4.771/65 que estabelece o Código Florestal Brasileiro;

- Lei 6.766/79 que dispõe sobre parcelamento do solo urbano;

- Lei Orgânica do Município e ;

- Plano Diretor do Município e leis complementares, como Código Municipal de Meio Ambiente, Lei Municipal de Parcelamento e Uso do Solo Urbano, Plano Viário Municipal, Lei do Mobiliário Urbano e Lei Municipal de Saneamento.


BIBLIOGRAFIA

 

CAVALHEIRO, F. & DEL PICCHIA, P.C.D. Áreas Verdes: conceitos, objetivos e diretrizes para o planejamento. In: Congresso Brasileiro sobre Arborização Urbana, I, Vitória/ES, 13-18/09/92. Anais I e II. 1992. P.29-35.

ESCADA, M.I.S. Utilização de técnicas de sensoriamento remoto para o planejamento de espaços livres urbanos de uso coletivo. ( Dissertação de Mestrado em Sensoreamento Remoto ) - INPE, São José dos Campos, 1992. 133 p.

GUZZO, P. Propostas para planejamento dos espaços livres de uso público do conjunto habitacional Procópio Ferraz em Ribeirão Preto/SP. ( Monografia de Graduação ) – Instituto de Biociências - Unesp, "Campus" de Rio Claro/SP. 1991. 140 p.

LIMA, A.M.L.P.; CAVALHEIRO, F.; NUCCI, J.C.; SOUZA, M.A.L.B.; FIALHO, N.O ; DEL PICCHIA, P.C.D. Problemas de utilização na Conceituação de termos como espaços livres, áreas verdes e correlatos. In: Congresso Brasileiro sobre Arborização Urbana, II, São Luiz/MA, 18-24/09/94. Anais. p. 539-550.

NUCCI, J.C. Qualidade ambiental e adensamento: um estudo de planejamento da paisagem do Distrito de Santa Cecília ( Município de São Paulo ). ( Tese de Doutorado em Geografia Física ) F.F.L.C.H. - USP, São Paulo, 1996. 229 p.

OLIVEIRA, C.H. Planejamento ambiental na cidade de São Carlos/SP com ênfase nas áreas públicas e áreas verdes: diagnóstico e propostas. (Dissertação de Mestrado ) UFSCar, São Carlos, 1996. 181 p.

 

TEXTO:

Perci Guzzo

http://educar.sc.usp.br/biologia/prociencias/areasverdes_old.html

CRUZADA DE HERÓIS ANÔNIMOS PELO PLANETA
Para o francês Edgar Morin, o desafio pedagógico é evitar a degeneração total
NAPOLEÃO SABÓIA

Correspondente

 

Sejamos modestos, como os heróis do nosso tempo - Ronaldinho e Zidane. Foi com humor e futebol, passando pela Copa do Mundo de 98, que Edgar Morin, o papa das ciências humanas na França, respondeu ao pedido de entrevista do Estado sobre a situação do sistema educativo na sociedade da informação.

 

Ele se diz cético quanto à possibilidade de o ensino virtual, via Internet, substituir com os mesmos resultados o que é ministrado pelo professor de carne e osso. Lamenta que os pais e mestres já não sirvam tanto de modelo para os jovens numa sociedade às voltas com profunda crise de autoridade e dos valores morais. Examina o fato novo que condiciona a violência urbana - o engajamento de adolescentes no crime organizado. Aplaude o advento dos "heróis anônimos" que se consagram às missões humanitárias sob a égide de instituições como a Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteira. E conclui dizendo que a grande causa para a qual a comunidade humana será convocada e terá de usar todo seu talento pedagógico é a que a visa a civilizar e a salvar o planeta.

 

Estado - Segundo as teorias, a humanidade se encontra na Era da Informação em trânsito para a Era do Conhecimento. O que as distinguiria?

 

Edgar Morin - Diria que as duas eras já coexistem num processo contínuo de interação. Para que a informação ganhe um sentido, é preciso organizá-la, situá-la em seu contexto - e disso resulta então o conhecimento. Este já se encontra portanto na informação, mas nem sempre de modo ordenado. Foi a mídia que produziu o conhecimento, por exemplo, sobre o Kosovo cuja existência o grande público ignorava. Agora, dando um desconto nas ilusões, não estamos vivendo propriamente a Era do Conhecimento, singular, mas uma era ou civilização de conhecimentos, plural.

 

Estado - No plural?

 

Morin - Sim, porque o que se verifica na sociedade atual é a produção de conhecimentos fragmentários, em fatias e compartimentados, já que eles emanam de especialistas. O problema é que tal fragmentação - como eu já sublinhei tantas vezes nos meus escritos - torna difícil a necessária contextualização dos conhecimentos, ou seja situar as coisas particulares, as referências locais num conjunto global do qual elas fazem parte.

 

Há que se ver ainda o fato de que a era dos conhecimentos é também uma era das ignorâncias, uma vez que os dossiês são cada vez mais tratados por experts visto a dimensão técnica, científica, econômica dos problemas. Desse modo, o público fica à margem das discussões, a linguagem esotérica dos experts ultrapassa o nível de compreensão dos simples mortais.

 

Uma outra dimensão da quadra histórica que abordamos, refere-se à informatização das sociedades, pela qual a economia e o conjunto das atividades produtivas, rentáveis, ganham uma forma cada vez mais imaterial ao se apropriarem do domínio cognitivo, na biologia por exemplo, o que acarreta mudanças consideráveis.

 

Estado - Como fica a educação no seu sentido mais abrangente ante o predomínio das novas tecnologias da comunicação que propõem o chamado saber em fatias, por meio dos esquemas pontuais de "e-ensino. com"?

 

Morin - A noção de educação num sentido globalizante já está sacrificada dentro do próprio esquema escolar e universitário convencional, que se tornou muito especializado. O saber é servido em fatias, em "puces", os elementos aí contidos não se ligam uns aos outros. Creio, contudo, que as novas tecnologias agravaram a situação nesse terreno.

 

Estado - O Senhor quer dizer a Internet?

 

Morin - Tomemos o caso da Internet, que é qualquer coisa de extremamente ambivalente. Por ela, a pessoa pode pesquisar e reunir conhecimentos que estão dispersos. Portanto, trata-se de um canal que nos permite aceder a diferentes fontes de informação e, por aí mesmo, adquirir uma certa cultura.

 

Agora, é um erro clamoroso pensar que tais suportes eletrônicos, inclusive a videoconferência, vão resolver o problema da educação.

 

O certo é que nada, no processo educativo, poderá substituir a importância do contato pessoal, humano. É por conhecer os alunos em suas individualidades que o professor pode melhor ajudá-los. O computador ou a videoconferência não poderão fazer a mesma coisa. Não dispõem, como o mestre, desses elementos próprios do carisma e da paixão que ocupam lugar essencial no ensino. Em suma, a conversa com o professor é incomparavelmente mais fecunda e espontânea do que o diálogo interativo que você possa estabelecer com um CD-rom. As técnicas podem enriquecer a educação, mas esta não pode ser reduzida à Internet e suportes conexos.

 

Estado - Nessa evolução, qual o aspecto que mais chama sua atenção?

 

Morin - O fato de que o saber se tornou uma mercadoria sob diferentes etiquetas. Hoje, por exemplo, uma universidade americana pode se apresentar ao mercado por intermédio da Internet e tomar o lugar do ensino nacional que se ministra em Paris ou na Bahia. Ao mesmo tempo, assiste-se à mercantilização de tudo. Aquilo que antes não pertencia a ninguém como os genes das plantas, dos vegetais, dos animais e daqui a pouco do próprio homem estão se convertendo em mercadoria. A empresa Monsanto, por exemplo, não contente em vender sementes à base de organismos geneticamente modificados (OGM), quis inserir nas sementes um gene chamado Terminator, que impede as plantas de se reproduzirem e oferecerem novas safras. Com isso, ela permaneceria proprietária do direito de cada reprodução vegetal, o que nunca se tinha visto antes na história mundo.

 

Estado - O que deveria informar, balizar uma educação adequada ao mundo complexo de hoje?

 

Morin - A educação deve imperiosamente reencontrar suas primeiras ambições.

 

O que disse Rousseau ao escrever Emílio, esse clássico sobre a educação de um jovem? "Vou ensiná-lo a viver". Qual é o objetivo da educação? Não é ensinar o jovem a viver fora de casa, isto ele aprende sozinho com a ajuda da família, dos amigos e da escola. Porém, viver é assumir e afrontar nosso destino. Para tanto, é preciso que sejamos preparados, armados o mais possível contra os erros e as ilusões. É por isso que em meu livro (Os Sete Saberes Necessários à Educação), sustento a necessidade de se ensinar não apenas conhecimentos básicos e um certo estoque de certezas, mas também as incertezas das quais a vida é eivada. Nesse aprendizado, temos que integrar à cultura clássica as aquisições fundamentais das ciências que revolucionaram nossa visão do cosmo, da vida e do homem. À luz do que se propunha Rousseau em relação ao jovem Emilio, temos que ensinar às novas gerações a condição humana, quem somos nós. Ora, em lugar algum se ensina mais essa coisa capital. É preciso ainda ensinar a globalização atual, que se incorpora no movimento plenatário iniciado com a descoberta das Américas.

 

Ensinar igualmente que o mundo da informação ficou menor, está dentro da gente. Em suma, temos, doravante, de ensinar aos jovens uma cultura mais do que geral, fundamental, capaz de preparar cada um a afrontar seu destino. E virão depois as especializações.

 

Estado - Fala-se muito que a crise dos atuais modelos de educação se deve ao fato de que os jovens já não encontram nos pais e nos mestres os espelhos em que se miravam as gerações precedentes...

 

Morin - Isto é verdade, em parte, porque os espelhos nem sempre também funcionaram no passado. Houve revoltas de adolescentes na sociedade dos séculos 19 e 20, revoltas que foram, afinal, absorvidas, o modelo de integração à imagem e semelhança do pai acabou se impondo. A representação do pai e da mãe, da autoridade que ambos encarnavam era então muito forte.

 

Essa imagem perdeu seu vigor, hoje. O pai não representa mais uma autoridade geral, ele já não ousa assumi-la e chega mesmo, em muitos casos, a considerá- la contraproducente. A mãe, que agora trabalha, está freqüentemente ausente do circuito familiar. Nessas condições, já não funciona bem o velho esquema pelo qual o adolescente se revoltava contra os pais para depois assumir o papel destes e assegurar a reprodução do modelo.

 

Modelo que é também posto em questão pela multiplicação de divórcios nas sociedades ocidentais. Os filhos de divorciados, hoje, meditam muito antes de se casar, vivem em concubinato primeiro para depois pensar na pretoria.

 

Tal atitude é reveladora da perplexidade, ou mesmo de um certa desordem, reinante no modo de funcionamento da sociedade. É claro que existe um lado fecundo nessa evolução, na medida em que os jovens se sentem mais responsáveis perante a vida.

 

Estado - Qual seria, hoje, a parte de influência dos valores tradicionais no funcionamento das sociedades?

 

Morin - As sociedades funcionam não apenas porque existem as leis, a polícia, mas também porque cada um integrou no espírito um mínimo de regras sociais - não roubar, não matar etc. Quando tais normas são menos interiorizadas, nos setores mais marginalizados da sociedade, as transgressões tendem a se desenvolver. Não se deve, todavia, dramatizar o fenômeno, porque a transgressão, em todas as épocas, foi sempre algo inerente à adolescência. No passado, depois da satisfação íntima por algum ato menos católico, o jovem terminava se reencontrando consigo mesmo e entrando na norma. Hoje, com a generalização das diferentes formas de corrupção nos meios políticos e sociais, a tentação pelas transgressões se tornou, talvez, mais forte entre os jovens. Estamos aí diante de uma crise da autoridade moral, que, afetando a sociedade em seu todo, se repercute no processo de educação. Em conseqüência, o professor perde a autoridade, o prestígio, deixa de ser uma referência exemplar e vê comprometido o objetivo essencial de sua missão, que é o de ajudar os jovens a darem um sentido edificante, digno, ético à existência. Enquanto o professor e a escola não reencontrarem o sentido fundamental de sua missão, a crise perdurará.

 

Estado - As formas de transgressão, hoje, não estariam mais impregnadas de violência do que no passado?

 

Morin - Houve sempre a parte de risco e violência nas transgressões juvenis, como o ilustram, talvez de maneira soft para os padrões de hoje, os filmes de James Dean. Poderíamos, entretanto, com base na história real, evocar o engajamento entusiasta de jovens nas revoluções e atos de resistência pelo mundo afora em todas as épocas. Agora, o que me parece novo e extremamente inquietante é o fato de que grupos de jovens normalmente constituídos nos centros urbanos estão cada vez mais se convertendo em gangues de criminosos.

 

Gangues que têm seus códigos de honra, sistemas de poder, travam lutas mortais pela posse de um território para suas operações ilícitas, desenvolvem uma economia ilegal baseada no roubo e no tráfico de drogas e contra as quais é dificil lutar. Elas constituem outro sintoma da crise moral de nossas sociedades.

 

Estado - Haveria alguma diferença essencial entre a violência registrada no Hemisfério Norte e a violência corrente no Hemisfério Sul?

 

Morin - A diferença é secundária. No Hemisfério Norte em geral e na França em particular, a violência vem dos conjuntos residenciais ou guetos na periferia das grandes cidades. Guetos que se isolam do resto da sociedade e onde a polícia evitar pôr os pés. Os focos da violência no Brasil estão concentrados, de preferência, nas favelas. A causa fundamental dessa violência no Norte e no Sul é mesma - a marginalização social.

 

Estado - O que pensa da tese de que a crise do ensino nesta era da imagem decorre igualmente do fato de que o apresentador de televisão ou o ator de telenovela são referências bem mais prestigiosas e valorizantes que a o professor?

 

Morin - Partamos do princípio verdadeiro de que nem todo mundo deseja ser artista. A questão tem de ser abordada em diferentes níveis do imaginário.

 

Na adolescência, cada um em geral pode ser galvanizado pelas estrelas do mesmo sexo, que adotamos ou não como modelos, ou pelas estrelas do sexo oposto e com quais confortamos outro tipo de imaginário. A propósito, lembro que, já nos anos 30, um estudo realizado nos Estados Unidos mostrava o quanto as técnicas amorosas em voga, os truques e astúcias de uma paquera na vida real, o jeito de beijar decorriam do mimetismo cinematográfico, daquilo que os jovens tinham visto nos filmes. Ficou mesmo célebre o episódio em torno do filme New York - Miami, com Claudette Colbert e Clark Gable. Este, numa cena, aparecia sem a camiseta de meia que se põe, ainda hoje, por baixo da camisa social ou esporte. Veja, por causa dessa tomada, a venda de camisetas caiu vertiginosamente nos Estados Unidos.

 

O quero dizer, enfim, é que essas pequenas imitações podem até alimentar fantasmas pessoais, mas não traduzem forçosamente um desejo coletivo pela condição de artista.

 

Quanto à televisão com seus apresentadores e tudo, trata-se de uma outra cultura, com suas técnicas, dicas, savoir-faire, crenças e mitos, cultura que invade os espíritos, sem dúvida, mas que não deveria causar esse temor todo aos professores. Estes, porém, em vez de reagir e tentar explicar, ajudar os estudantes a compreenderem a cultura da TV, se entrincheiram nas salas de aulas na posição de quem se acha cercado e ameaçado.

 

Estado - Do que precisa a pessoa para ser um bom educador, hoje ?

 

Morin - Daquilo de que já falava Platão na Antigüidade - do amor, do prazer.

 

Amor do conhecimento, prazer do ensino, da amizade dos alunos. O candidato a educador deve estar consciente de que vai exercer uma profissão que não se funda nas coisas inanimadas, máquinas e objetos, mas sim, nas pessoas e nos saberes, que são, digamos, coisas vivas e fecundas. O resto é secundário.

 

Estado - O sr. costuma dizer que aprecia as telenovelas brasileiras. Elas encerrariam algum valor educativo, trariam elementos capazes de ajudar o jovem a se preparar para afrontar a vida?

 

Morin - Sim, na medida em que elas, com seus elementos melodrámaticos, nos falam de problemas fundamentais da vida - do amor, do ciúme, do erotismo, da ambição, do dinheiro, do golpe baixo, do crime, do acidente, do hospital, da morte. Gosto das novelas e sou em particular um adorador da novela Dona Beija, porque, além da qualidade técnica e romanesca, ela constitui um documento histórico e sociológico extremamente importante.

 

Assim, em vez de jogar pedras nas telenovelas, o educador deveria tentar compreender porque os jovens e os adultos brasileiros - e a sugestão serviria para os demais povos - são de tal forma vidrados nesse tipo de produção audiovisual. De uma compreensão clara desse fenômeno de massa, poder-se-ia chegar a um enfoque mais judicioso dos métodos e opções em matéria de educação.

 

Estado - Como analisa a reflexão corrente entre cientistas sociais de que, no mundo da imagem, a afirmação da identidade e o êxito passam pelo ato de se alcançar visibilidade pública ou notoriedade?

 

Morin - Não há nada de novo capítulo. A única diferença em relação ao passado é a amplificação que a visibilidade ganha, hoje, por causa dos meios audiovisuais. A sede de notoriedade sempre existiu nos artistas, escritores, que realizam uma obra e querem ser reconhecidos. O problema se coloca de outra maneira para a criatura comum, que não fez nenhuma obra. Nem por isso deixa de ser um anseio fundamental, como Hegel bem assinalou no seu estudo sobre o reconhecimento pelo próximo.

 

Diria que numerosos eventos históricos, lutas sociais relevantes se explicam a partir desta busca por reconhecimento pelos humildes. Vale lembrar o caso ainda não resolvido dos camponeses do Nordeste e dos índios da Amazônia que continuam se batendo para se livrar da condição de dominados, de subhomens e ser reconhecidos como iguais pelos outros, do mesmo modo que os escravos dos tempos de Dona Beija. Num outro nível menos drámatico, tomemos a hipótese bem plausível de uma família com numerosos filhos. Se um deles por acaso é discriminado, menos igual aos outros, seu sofrimento poderá ser atroz.

 

Por fim, é certo que muitos jovens gostariam de ser reconhecidos pela imagem que eles compõem para si próprios. Estamos aí diante de um problema de educação, que poderá ser resolvido ou atenuado na medida em que os mestres e os pais intervenham para explicar aos jovens que será falso um mundo moldado a partir das imagens artificiais que eles por ventura fabricarem de si próprios.

 

Estado - De que valores e exemplos os jovens podem se orgulhar hoje?

 

Morin - Os grandes motivos de exaltação nacional deixaram de existir, salvo no futebol com seus campeões que são tomados por heróis, como Ronaldinho, Zidane. Heróis modestos. Há os heróis da mídia, mas há também - e esse é o paradoxo do mundo da imagem - os heróis anônimos, sem cara, que se consagram às obras humanitárias e se acham sob a égide de instituições como Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha...

 

O admirável aí é que você se depara com heróis impessoais, nenhum deles deseja ocupar a cena e virar um personagem, isto, em contraste flagrante com o egocentrismo e o narcisismo galopantes nas sociedades atuais. Trata-se de pessoas imbuídas de autênticos sentimentos cívicos. Temos que aplaudir esses cidadãos do mundo que se dão por missão lutar contra as injustiças e misérias mais gritantes. Eis do que deveríamos ser orgulhosos - da capacidade humana de resistir à crueldade do mundo.

 

Estado - O sr, acredita portanto que a mística das grandes causas e ideais sobreviverá ao aparente declínio das ideologias?

 

Morin - Se você considera a ameaça de catástrofe contida na multiplicação das armas nucleares; se leva em conta o risco de catástrofe ecológica embutido na degradação crescente da biosfera e o fato de que o recrudescimento das antigas doenças como a tuberculose - que eram tidas como erradicadas - se acompanha agora da irrupção de novas enfermidades como a da vaca louca, da aids, de vírus desconhecidos; se avalia a expansão das máfias, dos cartéis da droga, do crime organizado no quadro de uma economia mundial desregulada e pervertida pela mais desenfreada especulação, você verá que uma grande causa convoca, faz apelo a todo o talento pedagógico da comunidade humana - a causa de civilizar e salvar o planeta.

 

http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2001/02/04/cad323.html

 


Amazônia

Internacionalização à vista?

 

Na medida em que a Amazônia ia sendo revelada ao Brasil através dos inúmeros inventários e levantamentos de seus recursos naturais, minerais e energéticos, a década de 80 e 90 assistia à entrada em operação de inúmeros projetos de impacto, no setor de mineração e eletricidade. O projeto Trombetas, pela Companhia Vale do Rio Doce, para exploração da bauxita; da Grande Carajás, para exploração do minério de ferro; da Albrás-Alunorte, em Vila do Conde, para produção de alumina e alumínio metálico; de Tucuruí, no rio Tocantins, para produção de cerca de 4 milhões de quilowatts; e o das hidrelétricas de Balbina, no rio Uatumã, e de Samuel, no rio Jamari.

Esse panorama que contribuiu para a expansão demográfica e da fronteira agrícola, pecuária, mineral e industrial, deu origem, também, às tensões sociais, conflitos de terras, disputas de posse e invasões de áreas indígenas.

A situação engendrou também, pelo atraso de uma política nacional de preservação, o quadro atual caracterizado pela atuação de madeireiras predatórias, poluição fluvial, garimpeiros clandestinos, falsos missionários, contrabando das riquezas da biodiversidade florestal e pelo narcotráfico, favorecido pelos 1600 km de fronteira de uma linha imaginária, com insignificante presença civil ou militar - a fronteira aberta à guerrilha, ao narcotráfico, ao contrabando de armas e à biopirataria.

Esse último tema foi assunto na recente Conferência Ministerial de Defesa das Américas que se encerrou com uma declaração de apoio ao combate às drogas ilícitas e atividades criminosas transfronteiriças. Apesar de não ter sido incluído na pauta do encontro, o polêmico Plano Colômbia de combate ao narcotráfico, com o apoio dos Estados Unidos, foi discutido quando abordados questões de ameaças internacionais à segurança dos países participantes.

A segurança da Amazônia brasileira se encontra na pauta de prioridades do governo brasileiro. Com o agravamento da crise entre o governo e a internacionalização da guerra civil na Colômbia, associada ao narcotráfico, o Brasil intenciona investir até US$ 10 bilhões de dólares na modernização das Forças Armadas, buscando garantir a integridade da Amazônia.

Os efetivos militares no Rio de Janeiro são superiores a 44 mil homens; na continental região amazônica, que se espalha por dois terços do nosso território, apenas 22 mil. A proporção está invertida. De Manaus a Tabatinga são três horas e meia em vôo direto em Boeing. Sete estados do Sul e do Nordeste cabem no Amazonas.

Em março deste ano, uma rede eletrônica de mensagens compartilhadas por um grupo da Internet retratou-se, no meio virtual, por ter veiculado o que depois seria comprovado como boato completamente sem fundamento. O boato versava sobre a existência de mapas escolares norte americanos nos quais a amazônia brasileira seria mostrada como "área de preservação internacional" e destacada do território brasileiro.

No entanto, o governo federal construiu uma possibilidade de internacionalização indireta, sob concessão de gerência ambiental de áreas do território nacional, quando promulgou a Lei 9.985, em 19 de julho deste ano. Por tal lei seriam constituídas Unidades de Conservação Ambiental, de Proteção Integral ou de Uso Sustentado - por decreto lei.

Nas Unidades de Uso Sustentável são fixadas categorais de dimensões continentais: são as chamadas "Áreas de Proteção Ambiental", que de acordo com a própria lei, em seu artigo 15, "área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais, especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas", com o objetivo de "proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais".

Mas a lei, em seu artigo 30, estabelecendo que "as Unidades de Conservação podem vir a ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão", abre, segundo Dr. Luiz Augusto Germani, diretor-jurídico da Sociedade Rural Brasileira, uma condição inconstitucional que possibilita a materialização da até então fantasiosa internacionalização: a de que o poder público possa transferir a uma organização não-governamental, nacional ou internacional, funções exclusivas suas que são sustentáculos da própria soberania sobre tal área.

http://www.comciencia.br/reportagens/amazonia/amaz19.htm

 


A Terra - Ruben Alves

Minhas netas: coisa gostosa é brincar! Brinquedos dão alegria: bonecas, pipas, piões, bolas, petecas, balanços, escorregadores... Os brinquedos podem ser feitos com os mais diferentes materiais: madeira, plástico, metal, pano, papel. Mas há brinquedos que são feitos com algo que a gente não pode nem tocar e nem pegar: brinquedos que são feitos com palavras. Uma piada é feita com palavras.

Piadas são brinquedos porque não servem para nada mas fazem a gente rir! Aquela música "era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada..." é também um brinquedo feito com palavras. Poetas são as pessoas que fazem brinquedos com palavras. Pena que haja muitas pessoas que não saibam brincar com os brinquedos feitos com palavras chamados poemas! É uma pobreza! Eu faço brinquedos com palavras. As coisas que escrevo são brinquedos. Se vocês lêem o que escrevo e gostam é porque vocês estão brincando com o brinquedo de palavras que fiz.

As palavras têm estranhos poderes. Um deles é tornar possível brincar com coisas que não existem. Unicórnios, elefantes voadores, bois que falam, flores que choram, um pé de feijão que cresce até atingir os céus: essas coisas não existem. Mas nas estórias elas existem. Shakespeare, um famoso escritor inglês, escreveu uma das mais lindas estórias de amor jamais escritas: Romeu e Julieta.

Ao ler as palavras que Shakespeare escreveu, Romeu, Julieta e o seu amor ficam vivos muito embora nunca tenham existido. Nunca existiram de verdade, mas existem na alma da gente. A alma é esse estranho lugar onde coisas que nunca existiram existem. No final da estória todo mundo chora...

Outro brinquedo que se faz com palavras se chama História. Estória e História são palavras parecidas mas são muito diferentes. As estórias são feitas com coisas que nunca aconteceram. A História é feita com coisas que aconteceram no passado. Não existem no presente. Mas, pelo poder das palavras, elas se tornam presentes. A História, assim, é um turismo que a gente faz por tempos e espaços que não existem mais.

É isso que temos estado fazendo. Entramos na minha "Máquina do Tempo" e fomos para o passado da minha infância, que não existe mais. Mas, pela magia das palavras, ele está voltando a existir. Prova disso foi a carta da Dina, que publiquei no domingo passado. A Dina, menina de 86 anos, lendo o que escrevi, fez turismo pelo mundo da meninice dela, e ficou triste e alegre...

No nosso turismo pelo mundo das coisas que não existem mais, o mundo da História, nós já visitamos a casa de pau-a-pique, o fogão de lenha, a mina d'água. Hoje vamos andar por um outro lugar. Mas, para chegar lá, vou ter que dar uma volta.

A criancinha, durante o tempo em que está na barriga da mãe, não tem que fazer nada para viver. Não precisa respirar. Não precisa comer. A mãe faz tudo por ela. Mas é só ela sair da barriga da mãe para ela ter que fazer coisas para viver. A primeira coisa que a criança faz ao nascer é respirar. A primeira respiração é o início da vida em que ela terá de fazer coisas para sobreviver.

Se não respirar, morre. Mas, depois de respirar, a primeira coisa a ser feita para não morrer é comer. Não é preciso ensinar o corpo que é preciso respirar. Ele já nasce sabendo. Não é preciso ensinar o corpo que é preciso comer. Ele já nasce sabendo. Prova disso é a boquinha da criança mamando o vazio, mesmo antes de ter sido apresentada ao seio da mãe.

O ar, não é preciso procurar. Ele está em todo lugar. Mas a comida não está em todo lugar. Está no seio da mãe. É preciso procurar. Vocês já viram aquelas ninhadas de cachorrinhos recém-nascidos, se arrastando, empurrando, lutando para chegar até as tetas da mãe? Por vezes há mais cachorrinhos que tetas e, se não houver quem ajude, os mais fracos morrem de fome. As criancinhas, mais incompetentes que os cachorrinhos, são incapazes de procurar o seio. É preciso que a mãe as ajude.

O leite das mães acaba. Mas a fome não acaba. É preciso, então, encontrar um substituto para o seio. Os bichos e os homens vão então procurar comida na natureza. A natureza é o grande seio de onde tiramos comida.

A fome é a necessidade fundamental que nos move. Vocês não se dão conta disso porque a geladeira está sempre cheia. Se a geladeira estivesse vazia e não houvesse o que comer vocês compreenderiam. A fome dói muito. Os nossos antepassados pré-históricos saíam pelos campos e florestas procurando frutas, ervas e raízes que servissem para comer. Mas, como saber o que é bom para comer? Raízes, há milhares de variedades. Como foi que chegaram a descobrir aquelas que eram boas para comer? É possível que tenham tido enormes indigestões e cólicas, chegando mesmo a morrer, ao experimentar raízes venenosas, como é o caso da mandioca.

Era uma felicidade quando, de repente, descobriam o ninho de alguma ave, cheio de ovos! Ou uma colméia de abelhas, cheia de mel. Era uma festa! Caçar era mais complicado porque os animais não ficam parados como as frutas e as raízes. Eles não são bobos. Não querem virar comida. Eles também querem viver! Era preciso correr atrás deles. Mas os animais são rápidos e os homens são lerdos. E os pássaros, que voam? A inteligência teve de trabalhar para inventar a arte de atirar pedras, de construir arcos e flechas, de armar armadilhas, arapucas, anzóis, redes.

Quando eu era menino eu gostava de fazer arapucas e pegar passarinhos. Não era por maldade. Naquele tempo era preciso. Armando uma arapuca e pegando um passarinho eu me sentia - sem saber - como um caçador pré-histórico ou um indiozinho que consegue flechar seu primeiro pássaro. Com que orgulho ele deveria mostrar o seu feito aos seus pais! Estava ficando grande! Estava se tornando capaz de encontrar alimento.

Mas era uma canseira! Acordar, todo dia, sem saber o que vai comer! "Será que vamos encontrar frutas? Será que vamos encontrar ovos? Será que vamos caçar alguma coisa?" Aí os nossos antepassados perceberam que seria mais fácil ter os bichos presos num cercado e as plantas crescendo num lugar próximo. Assim iniciou-se a domesticação dos animais e a agricultura.

Quem vive de caçar e de colher frutos não pode ficar num mesmo lugar. Tem de ir andando por onde estão as frutas e por onde andam os animais. Assim, não podiam ter casas fixas. Andavam com suas casas nas costas, feito caramujos. Viviam em tendas. Tendo as plantas e os animais num lugar fechado eles podiam construir casas fixas.

Você acorda de manhã. Está com fome. O que é que você faz? É fácil. Vai à geladeira. Está tudo lá dentro. A geladeira é um maravilhoso substituto para o seio da mãe. É o seio da casa! É só abrir a porta e comer. Falta alguma coisa? É só ir no supermercado, grande seio da cidade. Lá tem de tudo. Não é preciso plantar, colher, caçar. Frutas, legumes, ovos, mel, leite, pão, chocolate, manteiga, presunto, mortadela, azeitona, macarrão, lingüiças, carnes, bebidas: está tudo lá. E não só as coisas necessárias para matar a fome. Muitas coisas que comemos sem precisar, sem estar com fome, só por prazer.

O prazer de comer é um perigo. Por causa dele muitas pessoas comem demais e vocês sabem o resultado... Compramos se tivermos dinheiro. Supermercado e geladeira não são seios de mãe. Seio de mãe é gratuito. Geladeiras e supermercados não são. Só come quem pagar... Por isso há muitas pessoas que têm fome - que chegam a morrer de fome (enquanto outros ficam obesos de comer aquilo de que não precisam...)

Lá, no lugar onde vivi, não havia nem geladeira e nem supermercados. Não havia seios prontos. Se a gente quisesse comer tinha de ir atrás da comida, tinha de construir o seio: fazer uma horta, plantar, criar galinhas, patos, perus, porcos, cabritos, bois... Assim, quando se fazia a pergunta "o que vamos comer?" não havia geladeira para ser aberta. A gente tinha de perguntar: o que é que há na terra? Claro: só havia na terra aquilo que havia sido plantado. Feito a fábula da cigarra e da formiga: quem não plantou vai ficar com fome.

A coisa mais importante era a terra. A terra é o seio do mundo. Não é em qualquer terra que as plantas crescem. Era preciso procurar a terra boa. O pessoal que vivia no campo só de olhar para os matos que crescem naturalmente, sem ser plantados, sabia se a terra era boa ou não. Quando a terra era boa eles diziam e ainda dizem, com prazer: "Terra gorda!" Terra que tem muita vida para dar.

Na cidade as pessoas passaram a ter medo da terra, a achar que terra é sujeira. Essa é a razão por que, em muitas casas, os jardins são substituídos por lajotas. Deixam só um buraco bem pequeno no meio, onde plantam um arbusto solitário e triste. A terra mesmo, com sua vida, fica debaixo das lajes que estão sempre limpas... Mas terra não é sujeira. Terra é vida. É na terra que a vida cresce. Na próxima vez que você for ao supermercado, preste atenção: tudo o que está lá veio da terra. Garrafas de vinho?

Veja as parreiras carregadas de uvas! Pão? Veja os campos cobertos de trigo! Carne? Veja ao animais pastando! Iogurte? Vem do leite que vem da vaca que come capim... Macarrão? Vem da farinha que vem do trigo que cresce nos campos... Ovos? Vêm das aves que comem milho que cresce da terra.

Por isso, por compreender que toda vida vem da terra, os homens de há muitos séculos atrás perceberam que ela é sagrada. Sem terra não há vida. Terra, grande mãe, fonte de vida! E houve mesmo religiões que, por ocasião do plantio da terra, faziam grandes celebrações nos campos que terminavam em orgias sexuais.

Pois plantar não é um ato sexual? Faz-se um buraco na terra e, dentro desse buraco, coloca-se uma semente. Assim, durante a semeadura, os casais faziam amor no meio do campo - na esperança de que a terra compreendesse que era isso que estava sendo feito com ela: um ato de amor. Esperando que, desse ato de amor, nascesse a vida!

DICAS:

· Uma boa idéia para as escolas: plantar uma horta! Sei que há muitas que já fazem isso. Não só o prazer de plantar! O prazer de aprender ciência enquanto se planta: física mecânica, presente no uso das ferramentas; química, no uso dos fertilizantes: biologia... Grande e divertida idéia é fazer um minhocário. Saúde. Plantas que curam.


· O grande problema da saúde, no Brasil, não é uma questão de remédios, médicos e hospitais. É uma questão de educação. As pessoas não sabem as coisas do corpo, da natureza, da saúde. Não sabendo, fazem as coisas erradas e ficam doentes.


· Tanto terreno baldio inútil, na cidade. Terreno baldio, onde só cresce mato, à espera de negócios imobiliários, deveria ser penalizado com impostos altos. Terrenos onde houvesse hortas deveriam ser premiados com redução de impostos. Quem faz horta em terreno baldio merece até ter fotografia publicada em jornal!


· Plantar e cuidar de uma horta ou jardim tem um efeito terapêutico. Muita depressão nasce de não se ter o que fazer, não ter do que cuidar. Quem ama um pedaço de terra e cuida dele nunca está sem um objeto de amor. Pois a terra ama quem cuida dela. Meu pai dizia, vendo as plantas, na horta, sob a chuva: "Veja como estão agradecidas!" As plantas agradecem.

Coisa triste: ver o lixo que as pessoas jogam nos jardins públicos: latas de cerveja, garrafas de plástico, maços de cigarro... Já imaginaram? Alguém fazer isso com a sua própria horta? Jogar lixo no seio da própria mãe? Bom seria se houvesse punição forte para quem assim ofendesse a terra!

http://www.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/id110401.htm


OS DEZ MANDAMENTOS DA EMPRESA "VERDE"

    Rogerio R. Ruschela

            Desde que a revista "Time" escolheu o Planeta Terra como "Destaque do Ano", em 1988, e a revista "Fortune" anunciou, em matéria de capa, em 1989, que a "pressão verde sobre os
negócios" seria o megatrend da década de 90, os problemas ambientais deixaram de ser preocupação exclusiva de cientistas e ambientalistas para se transformarem num desafio real para a iniciativa privada.
            Na verdade a "revolução verde" já vinha acontecendo de maneira progressiva e inexorável, modificando comportamentos culturais e sociais, desde a década de 60. A reportagem da "Fortune" funcionou como uma constatação formal do mundo dos negócios sobre a permanência e força da "onda verde", e uma senha para que o empresariado não a subestimasse.

A reação das empresas

           
            A primeira manifestação organizada de nível internacional dos empresários foi a constituição do "Business Council For Sustainable Development", um grupo de trabalho e pressão que participou da ECO´92 com o objetivo de influir nas discussões técnicas e políticas e mostrar à opinião pública as iniciativas que vinham sendo tomadas pelo setor.

Necessidade mercadológica


            Na base destes movimentos empresariais, que hoje se multiplicam em milhares de frentes em praticamente todos os países, estão algumas causas como o fato de que é impossível ignorar a pressão da mobilização pública por atitudes ambientalmente corretas, o recrudescimento da legislação ambiental que se reflete até mesmo no mercado internacional e o comportamento do "consumo verde".
            A criação de "pré-requisitos ambientais" para a exportação de várias categorias de produtos para o Mercado Econômico Europeu, recentemente discutidas na CIMEIRA do Rio de Janeiro, é um exemplo claro das novas regras do jogo. "Selos Verdes", que estão sendo substituídos por sistemas de certificação como a ISO 14.000, estão colocando em maus lençóis exportadores brasileiros, especialmente dos setores têxtil e couro-calçadista, e fazendo o setor de celulose e papel acelerar mudanças em busca de um sistema próprio de certificação de matéria-prima.
            Por outro lado, as empresas que procuram se alinhar, ao invés de brigar com estas pressões, acabam descobrindo ganhos importantes de produtividade e competitividade. Quer dizer: ser uma empresa ambientalmente correta deixou de ser um ato de sensibilidade social para ser uma necessidade institucional e mercadológica urgente.

A educação como base


            A adoção de valores ambientais pela empresa, no entanto, não é um processo simples e não deve ser feita por memorandos, porque se trata de uma mudança cultural, comportamental. Mudar a mentalidade dos dirigentes, colaboradores e até mesmo das comunidades de relacionamento da empresa, requer processos mais sofisticados que extravasem a contingência técnica (como a criação de Comissões Internas de Meio Ambiente, por exemplo) e atinjam o conjunto de valores corporativos da empresa, uma tarefa de todos na empresa.
            Se por um lado um pequeno grupo de ambientalistas "xiitas" pode prejudicar uma empresa - e até mesmo provocar a paralisação de suas atividades, especialmente depois da edição recente da chamada "Lei Ambiental"- a comunidade e os formadores de opinião que estiverem sendo informados das limitações e esforços da empresa poderão ajudá-la de maneira importante. Por isso, a promoção de valores ambientais na empresa deve ser baseada na educação e no diálogo.
            Este processo deve ser planejado de acordo com os recursos, a cultura interna e as especificidades da empresa, e ser organizado na forma de um Programa de Educação Ambiental de médio e longo prazo e que, como qualquer trabalho que objetive mudanças comportamentais, deve começar "de cima para baixo" e "de dentro para fora".
Algumas regras básicas são aplicáveis "filosóficamente" a todas as empresas, como uma espécie de

"Dez Mandamentos":

1 - Avalie e identifique os problemas ambientais potenciais eexistentes em todas as áreas da empresa e não só na fase de produção. Pode-se economizar energia e matérias-primas, reduzir emissões da frota de veículos, promover campanhas de carona e rodízio, reutilizar e reciclar materiais e reduzir hábitos esbanjadores em todo a empresa.

2 - Assuma que as soluções devem ser técnicamente honestas e políticamente desejáveis - investimentos na área ambiental devem ser planejados como aqueles que aumentam os lucros.

3 - Promova mudanças comportamentais de "cima para baixo e de dentro para fora". Os diretores devem dar o exemplo e a empresa só deve divulgar seu esforço depois de ter feito as "lições de casa".

4 - Situe os valores ambientais no contexto da cultura corporativa de maneira irreversível - e zele por eles.

5 - Permita e promova a contribuição dos funcionários. Programas de mudança comportamental precisam ser participativos - como os de reengenharia, por exemplo - e os de caráter ambiental geralmente atraem iniciativas individuais muito rápidamente.

6 - Estenda suas conquistas ambientais a seus fornecedores e parceiros de negócios. No fundo, todos querem mudar, mas alguns podem precisar de ajuda especial, um empurrãozinho.

7 - Ouça a comunidade e trabalhe em conjunto com ela. O "inimigo" é comum a todos e a parceria é a melhor solução.

8 - Entenda educação ambiental como parte da formação básica e indispensável dos funcionários que tomam decisões na empresa - hoje e no futuro.

9 - Tenha paciência e calma com ataques externos agressivos: ambientalistas, lideranças comunitárias e jornalistas também estão aprendendo a conviver com este assunto. Diálogo é sempre o melhor caminho.

10- Prepare-se para a construção de novas relações éticas e estratégicas com o mundo externo Este será um aprendizado dificil e completamente novo.

Rogerio Ruschel é jornalista, Presidente da Ruschel & Associados Marketing
Ecológico, e Vice-Presidente de Planejamento da Propeg Propaganda.
E-mail: rruschel@uol.com.br

http://www.revistaemtempo.com.br/ed_anteriores/ed12/editorial/03.html


Mensagens enviadas até o dia 30.04.01

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