InformaLista

O Informativo da lista “Educação Ambiental”

No. 14 – 09 de julho de 2001

Alguns textos apresentados na Lista de Discussão do Projeto Apoema - Educação Ambiental (Antigo Projeto Vida – Educação Ambiental)

Os textos não passaram por revisão ortográfica, portanto, podem haver erros.


 

O que é Educação Ambiental?

Tanto o ensino formal quanto o não-formal são indispensáveis para se estabelecer a consciência ambiental e se modificar a atitude das pessoas frente aos novos padrões de desenvolvimento.

A Educação Ambiental deve ter caráter interdisciplinar e como objetivo principal preparar o Ser Humano para viver em harmonia com o seu meio ambiente. Para tanto, deve ser entendida como "um processo no curso do qual o indivíduo consegue assimilar os conceitos e interiorizar as atitudes mediante as quais adquire as capacidades e comportamentos que lhe permitem compreender e julgar as relações de interdependência estabelecidas entre a sociedade, com seu modo de produção, sua ideologia e sua estrutura de poder dominante, e seu meio biofísico, assim como para atuar em conseqüência da análise efetuada" (Pedro Cañal, José E. Garcia e Rafael Porlán).

Mas como desenvolver esse trabalho dentro do ensino formal e não formal? Para  Jaume Sureda e Antoni J. Colom deve ocorrer "conjunção e coordenação de três fases ou etapas: educação sobre o meio (em referência explícita aos conteúdos), educação através do meio (incidência metodológica e mediadora) e educação em prol do meio (mensagem axiológica e teleológica)".

Quais seriam portanto os objetivos da Educação Ambiental?

Cobrar consciência. Conseguir que os indivíduos e os grupos constituídos adquiram uma consciência do meio ambiente global e dos problemas a ele relacionados, e mostrar-se sensíveis com respeito a ele.

O saber. Procurar que os indivíduos e grupos constituídos adquiram uma compreensão essencial do meio ambiente global e dos problemas que a ele se refiram, assim como do lugar e papel que desempenha a responsabilidade crítica que o homem deve ter.

O comportamento. Fazer com que os indivíduos e os grupos constituídos adquiram o sentido dos valores sociais, um sentido profundo de interesse para o meio ambiente e a vontade claramente sentida de contribuir com seus atos a sua proteção e a seu melhoramento.

A competência. Fazer com que os indivíduos e os grupos constituídos adquiram a destreza necessária para a solução dos problemas do meio ambiente.

A capacidade de avaliação. Facilitar para que os indivíduos e os grupos constituídos consigam avaliar as medidas e os programas de formação relativos ao meio ambiente, em função de fatores de ordem ecológica, política, econômica, social, estética e educativa.

A participação. Conseguir que os indivíduos e os grupos constituídos se dêem conta de sua responsabilidade e da necessidade de atuar sem demora em matéria de meio ambiente, requerendo a tomada de decisões para resolver os problemas colocados."

http://sites.uol.com.br/sallesm/Oqeedamb/ea.htm


Campus Universitário de Sinop

EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO.

Propomo-nos refletir neste artigo sobre a necessidade de um programa educativo para o trânsito. Devemos compreender em primeiro lugar que ao falarmos em trânsito nos referimos a uma questão básica, que é a defesa da vida, do outro e a própria, em um espaço público. Esta relação envolve necessariamente questões éticas, ou seja, como percebemos e quais os valores que atribuímos à vida.

A primeira afirmação importante na nossa proposição é o fundamento de todo o resto: a vida. Todos nós sabemos que para existirmos há a necessidade de estarmos vivos. Esta é uma condição primeira. Estão certos os que dizem, para morrer basta estar vivo. Criamos com esta afirmação uma contraposição ao sentido essencial da existência, e podemos nos perguntar, por que criamos situações de morte? A morte nos abala e nos choca. A vida porém é reconfortante. Nesse sentido podemos refletir sobre os momentos trágicos que nos assustam e que estão registrados nas absurdas estatísticas de mortes que ocorrem no trânsito.

É evidente que as razões registradas como causas da morte são diversas. No entanto queremos aqui não priorizar as causas, mas refletir sobre a necessidade de um programa educativo. Afirmamos acima, que o trânsito ocorre em um espaço público, na rua e na estrada, portanto deve ser tratado como uma questão pública. Nesse sentido constitui uma responsabilidade dos órgãos e das instituições públicas, apesar de não se limitar à elas. Acreditamos que a sociedade civil tem responsabilidades reivindicatórias e propositivas frente as questões que a afligem.

Podemos indicar que iniciativas de campanhas temporárias, como a que ocorreu em Sinop durante a "Semana do Trânsito", são iniciativas válidas, porém é necessário avaliar que iniciativas desta natureza são resultantes de uma sociedade que não possui preocupações e programas contínuas voltados à educação no trânsito. Fora anunciado que durante este período os acidentes diminuíram. Vamos aceitar esta ilustração sem maiores questionamentos, para visualizar que o fator do chamamento para uma situação determinada tem logo uma correspondência na consciência da coletividade.

É fácil imaginar tal situação. Todo motorista que sair e tiver a sensação de ultrapassar limites, perceberá logo que ele, através do ato de dirigir em alta velocidade, não representa a sua auto-valorização, mas que ele não passa de um "burro", e sua atitude será coletivamente reprovada. Ora se uma semana dá resultados, podemos facilmente imaginar como um processo educativo que comece na idade escolar, com maior intensidade, na vida de todo(a) cidadão(ã), modifique a postura do indivíduo frente ao coletivo.

Queremos aqui defender a seguinte hipótese: a educação para o trânsito aplicado na escola a partir das primeiras sérias iniciais, dará para todos uma consciência do que é de fato um automóvel privado circulando numa vida pública onde está em jogo a vida. Cria-se assim uma concepção de respeitabilidade do espaço público. Toda educação para o trânsito deve estar acompanhada de uma reflexão ética onde se associa o respeito que se deve ter em relação ao outro. A rua é um espaço público e por isso não é permitido nela se fazer o que se quer, porém nela se pode fazer aquilo que o consenso julgar viável, no entanto, somente poderá ser viável e permitido todo ato que não agredir a integridade física e moral do outro.

Porém aqui vai uma ressalva. Ao pensarmos implantar educação para o trânsito nas escolas não estamos nos referindo na criação de mais uma disciplina. Sugerimos que as leis e os conceitos básicos que envolvem a questão do trânsito sejam incorporados nas disciplinas já existentes. Porém, para que isto funcione, não bastam atitudes voluntariosas e iniciativas isoladas de professores, mas é necessário um programa que envolve a preparação de textos didáticos, paradidáticos, a criação de ambiências, além de constantes cursos de instrução dos professores. Estas condições poderão dar eficácia a um programa educativo. Desta forma, o professor de português, por exemplo, ao ensinar a estrutura e as funções da linguagem, poderá, em vez da adotar um texto aleatório, trabalhar a disciplina com um texto e o contexto que reflitam a necessidade e a problemática do seu meio, podendo ser uma das temáticas, a violência no trânsito.

Esta todavia é uma proposta que se estende a longo prazo. Precisamos de uma atitude mais imediata para os motoristas que hoje rodam nas cidades e nas auto-estradas. Para esta situação acreditamos que campanhas contínuas em rádio e televisão, da instalação de placas educativas, além das placas coercitivas do trânsito, possam influenciar na criação de uma consciência coletiva do significado do espaço público e da vida que está em jogo quando alguém infringir as leis, não respeitar e não tiver uma atitude ética perante a vida, isto é, uma postura de valorização da vida e da alteridade.

LAUDEMIR LUIZ ZART
Professor da Unemat - Sinop
Ms. em Sociologia Política - UFSC
E-mail: zart@unemat-net.br

http://www.unemat-net.br/artigos/transito.html


COMO ENTENDER E VIVER O MEIO AMBIENTE?

 

Prof. Dr. Sirio Lopez Velasco

(Mestrado em Educação Ambiental - FURG)

E-mail: decsirio@super.furg.br

 

 

Gostaria de abordar brevemente os seguintes tópicos:

     

  1. A definição de Meio Ambiente e de educação ambiental,

     

     

  2. A abordagem sistêmica das questões sócio-ambientais e sua relação com a " hipótese Gaia",

     

     

  3. A aplicação da abordagem sistêmica a um caso da realidade riograndina: o das dunas do Cassino,

     

     

  4. A concepção sustentável da satisfação das necessidades humanas

     

 

1.

O meio ambiente pode ser definido como o conjunto dos processos bióticos (quer dizer, vivos) e abióticos (quer dizer não-vivos) na esfera terrestre ou no universo por inteiro. Mas é importante se salientar que o conjunto de tais processos não pode ser desvinculado, em especial no que diz respeito ao espaço da Terra, da existência e da ação dos seres humanos, na medida em que elas fazem parte e interferem no conjunto dos processos bióticos e abióticos do planeta. Devemos com efeito notar, não somente que a espécie humana é mais uma espécie fazendo parte do conjunto das espécies vivas da Terra ( apesar das características especiais que nos diferenciam continuamos sendo biológicamente mamíferos, com necessidades e sistemas de alimentação, respiração, reprodução que nos assemelham aos demais mamíferos), mas também que pela nossa ação, multiplicada pelo poder da tecnologia, muitos entes vivos e não vivos tem tido e tem diariamente a sua existência modificada e às vezes até ameaçada. A Declaração Final da Conferência Mundial sobre a Ciência reunida pela Nações Unidas em julho de 1999 na Hungria, depois de salientar os benefícios trazidos pelo trabalho científico-tecnológico, por exemplo nas áreas da saúde, permitindo uma elevação considerável da média da expectativa de vida no planeta (embora hoje na África essa expectativa está caindo dos atuais 59 anos para tão somente 45 !, em decorrência da fome, da AIDS e das guerras) frisou, porém, que tal emprendimento também "contribuiu para a degradação do meio ambiente" e o aumento das "diferenças sociais e a exclusão" (ver o Preámbulo).

Todos sabemos que a chamada "revolução verde" dos anos 70, se permitiu que grandes empresarios e multinacionais agrícolas enriquecessem, acabou não melhorando a distribuição do alimento no mundo, arruinou milhões de pequenos camponeses que foram empurrados pelo éxodo até as periferias miseráveis de grandes cidades, desmatou imensas áreas de florestas antes usadas cuidadosamente por populações tradicionais, e envenenou literalmente o solo e as águas por causa dos efeitos das massiças doses de agrotóxicos utilizadas sempre em quantidade crescente desde então. A propósito de alimentos, vale lembrar que o Dr. Rogério Parentoni, professor de Ecologia do Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Minas Gerais, afirmou recentemente, contrapondo-se à suposta diminuição da fome no mundo pelo aumento de produção agrícola que os transgênicos poderiam acarretar, que tal afirmação só engana os incautos pois no planeta já se produz hoje 3 kg de alimentos por pessoa por dia, não havendo pois falta de comida e sim péssima distribuição da existente (in Muniz, p. 41).

Em decorrência da situação e ação particular da espécie humana no conjunto dos processos planetários vivos e não vivos, a Lei Federal No 9.795, de 27 de abril de 1999, que " institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências" é bastante feliz quando estipula, no seu Capítulo 1, Art. 5º, primeiro parágrafo, que deve-se promover " uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos". Tal enfoque é muito útil para, por exemplo, se resolver se no caso "Bahamas" houve ou não "dano ambiental"; com efeito, uma visão restita e restrictiva de "meio ambiente" levaria a pensar que se em decorrência do despejo da mistura ácida do "Bahamas" no canal do porto de Rio Grande não foi constatada nem uma mortalidade marcante de plantas e animais nem o aumento significativo da presença de metais pesados no fundo do estuário ( que são causantes de envenenamentos nos seres vivos), então poder-se-ia concluir que não teria havido "dano ambiental"; já, se o entendimento do meio ambiente for abrangente, como o pede a Lei supracitada, então, à vista dos enormes prejuízos causados na vida (quer dizer na cultura) de milhares de famílias dependentes da pesca nesse mesmo estuário ao longo de vários meses, embora os ciclos de vegetais, animais e metais pesados não se tenham visto muito alterados por causa do incidente, houve sim importante e grave dano ambiental (que deve ser reparado pelos responsáveis do incidente).

Ainda refletindo sobre o pano de fundo deste caso, a referida lei é muito instrutiva quando pede que os assuntos de relevância sócio-ambiental sejam discutidos e resolvidos com ativa participação de todos os interessados numa tarefa incessante de educação ambiental que a todos nos compromete. [ No caso do "Bahamas", e em outros semelhantes que esperamos não venham a ocorrer (embora a fita "Escândalo no Mar - Navios da vergonha", editada pela Marinha do Brasil em 1994 a partir de reportagem da BBC de Londres, nos levem a temer pelo pior), essa postura participativa significa a incorporação efetiva dos pescadores artesanais e demais grupos dependentes da atividade destes nas decisões relativas às soluções de curto e longo prazos idealizadas para o incidente).

Diz a lei no seu Art. 1º : "Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade".

No seu Art. 5º, dentre os objetivos fundamentais da educação ambiental, destaca a lei, no inciso IV, "o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania".

E o Art. 3º dispõe: "Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:

I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem;

III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação;

V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;

VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais".

Ora, a efetivação dessa tarefa que a todos nos incumbe, passa pela correta compreensão de que no meio ambiente " tudo está ligado a tudo"; tal é o princípio básico do enfoque sistêmico ao qual me referirei brevemente no que segue.

 

2.

"Sistema" vem do grego ( sys-tema ) e significa " conjunto de elementos interligados".

"Ecossistema" significa " uma comunidade de organismos e suas interações ambientais físicas como uma unidade ecológica", sendo que a ecologia (do grego oikos, casa/lar, e logos, razão) foi caracterizada em 1866 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel como " a ciência das relações entre o organismo e o mundo externo circunvizinho" (in Capra 1996, p. 43, citando, respectivamente Maren-Grisebach e Lincoln ).

Falando-se em OVNIS (objetos voadores não identificados) e em possíveis civilizações extra-terrestres é comum se dizer que a humanidade está preocupada em saber se estamos sós no Universo; ora a pergunta já contém um equívoco, porque estamos acompanhados e sempre o estivemos por inúmeros seres vivos e processos não-vivos; mais ainda, dependemos de muitos deles para sobreviver e sem eles simplesmente desapareceriamos da face da Terra. Um exemplo entre muitos: sem o oxigênio produzido pela fotossíntese realizada por microscópicas algas que habitam os mares e pelo conjunto dos vegetais que povoam a terra, simplesmente morreriamos de asfixia; dai que lutar contra a poluição dos mares, o desmatamento, o envenenamento químico do ar, do solo e das águas, ou a desertificação, que poderiam significar, uma ameaça para, respectivamente, a vida daquelas algas e vegetais, seja cuidar da nossa própria respiração, ou seja da nossa sobrevivência. (Não está demais lembrar que agora mesmo e muito perto daqui, em São Paulo, o ar é irrespirável durante muitos dias do ano e causador de graves doenças respiratórias, e a água acaba de ser oficialmente racionada, afetando seriamente a vida de três milhões de pessoas).

Esta "teia da vida" foi magníficamente descrita por um chefe índio do século passado quando em carta enviada ao Presidente dos EEUU dizia: "...ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a Terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos... a Terra não pertence ao homem; o homem pertence à Terra... todas as coisas estão ligdas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo"; e depois de advertir aos brancos que se contaminassem suas camas alguma noite seriam sufocados pelos seus dejetos o velho índio dizia: " Cada pedaço de terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo...Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede". ( "A carta do Che Indígena Seattle", 1854, in Dias, 1993, p. 375-377).

Na moderna ciência ocidental a visão sistêmica tomou força a partir dos anos 60 com a Teoria Geral dos Sistemas proposta por Ludwig von Bertalanffy; ela enfatiza que "tudo está unido a tudo" e que cada organismo não é um sistema estático fechado ao mundo exterior mas sim um processo de intercâmbio com o meio circunvizinho, ou seja, " um sistema aberto num estado quase estacionário...onde materiais ingressam continuamente vindos do meio ambiente exterior e neste são deixados materiais provenientes do organismo" ( Bertalanffy, 1968).

Na mesma época começou a ampla divulgação da chamada "hipótese Gaia", elaborada pelo britânico James Lovelock segundo a qual o nosso planeta poderia ser todo ele considerado como um grande ser vivo. Diz ele: " Em escala local a adaptação é o meio pelo qual os organismos podem chegar a um acordo com meios ambientes desfavoráveis, mas em uma escala planetária, a união entre a vida e seu meio ambiente é tão estreita que a noção de 'adaptação' é inadequada. A evolução das rochas e do ar e a evolução da biota [ quer dizer, do conjunto dos seres vivos] não podem ser separadas" ; e baseado em fatos como a produção da atmosfera terrestre com a sua atual composição de gases pela ação de vegetais e bactérias, composição que por sua vez é de fundamental importância para a regulagem da temperatura da terra e do ciclo da água que uma e outra vez evapora-se para tornar a cair nela, e, em relação de retroalimentação, para a respiração dos seres vivos, Lovelock sintetiza assim a idéia de "Gaia": " Em algum estágio primitivo na história da Terra, antes que a vida existisse, a Terra sólida, a atmosfera e os oceanos ainda se desenvolviam somente pelas leis da Física e da Química. A Terra estava galopando ladeira abaixo, para o estado de estabilidade sem vida de um planeta quase em equilíbrio. [Mas] em algum período especial desse estágio, as células vivas recém-formadas cresceram até que sua presença afetasse o meio ambiente terrestre no sentido de deter o mergulho de cabeça para baixo em direção ao equilíbrio. Naquele instante os seres vivos, as rochas, o ar e os oceanos se fundiram para formar a nova entidade, Gaia"( Lovelock 1998, in Nicholson & Rosen, 1998, p. 89 e 95)

 

3.

À luz desta visão sistêmica é bom que pensemos num caso que nos toca de perto: o das dunas do Cassino. É bom saber que a praia que conhecemos é o resultado de milhares de anos de evolução combinada de vida do oceano, dos continentes, dos rios das bacias hidrográficas da região, dos ventos e da ação de formas de vida microscópicas e macroscópicas, vegetais e animais que ali agem, vivendo e re-criando o ambiente. E que toda essa milenar história foi, está e poderá ser afetada, para bem ou para mal, pela ação de nós, seres humanos.

A formação da paisagem de dunas da região da praia do Cassino insere-se dentro de um vasto cordão de dunas que originam-se na costa catarinense, estendendo-se até o Uruguai.

As correntes marítimas litorâneas transportam grandes quantidades de areia; parte dessa areia é depositada na praia pelas marés altas. A areia acumulada é transportada pelos ventos dominantes para as áreas mais elevadas da praia. A vegetação nativa desempenha então um importante papel na formação e fixação das dunas. São plantas adaptadas às condições ambientais extremas pautadas pelo grau de salinidade, atrito dos grãos e movimentação da areia. A medida que a vegetação pioneira cresce, as dunas ganham volume e altura. Com o passar do tempo, outras plantas colonizam o local mantendo o equilíbrio ecológico e a estabilidade do cordão de dunas litorâneas, as quais se dividem por um lado em embrionárias (menos de 1 m) próximas ao mar, seguindo-se de uma faixa de dunas primárias e secundárias com elevações maiores (ao redor de 10 m), e todo esse sistema é fixado por uma vegetação específica caracterizada pela presença predominante de gramíneas.

A questão da fixação das dunas, que a princípio parece ocasionar transtornos aos veranistas que querem chegar até a praia com seus veículos, tem suas razões de ser. Além de sua beleza paisagística as dunas apresentam uma diversidade biológica ímpar; ali vive uma rica variedade de vegetais (como a margarida-das-dunas e a capotiragua), e animais que incluem mamíferos (como o tuco-tuco e o zorrilho), aves (como o maçarico de colar e a coruja-buraqueira), anfíbios, répteis, crustáceos, e insetos.

Mas as dunas também desempenham importantes funções dentro dos mecanismos regulatórios ambientais que beneficiam os seres humanos que habitam o local de forma permanente ou temporária, funcionando como barreira física natural para barrar a areia transportada pelo vento (que sem a presença das dunas invadiria ruas e construções) e impedir a invasão do mar sobre o balneário quando ocorrem as "ressacas" (com a conseqüente salinização do lençol freático e das fossas sépticas, interrompendo nelas os processos de decomposição natural dos poluentes orgânicos executados por diversos tipos de bactérias).

Uma séria ameaça à sobrevivência das dunas, da vida que elas abrigam e das funções que elas desempenham para benefício dos humanos, reside nas construções irregulares, a extração ilegal de areia, o depósito irregular de lixo, a pastagem do gado sobre a vegetação pioneira, assim como no transito de veículos motorizados que ali praticam questionável "esporte", o que reduz a cobertura vegetal, diminui a biodiversidade e desestabiliza as dunas, resultando em progressiva erosão e transporte massivo da areia pelo vento.

Cabe a nós vencermos essa ameaça com os instrumentos pertinentes, dentre os quais destacam-se o Plano Diretor municipal de Desenvolvimento Integrado que, em consonância com a legislação federal, declara as dunas como área de preservação permanente, e a lei municipal em vigor Nº 5261/98 que define parâmetros claros para fazer com que possamos desfrutar das dunas sem destruí-las, ao tempo que mantém abertos para os carros diversos acessos à praia.

É bom que se saliente que o sistema das dunas, como qualquer outro sistema não pode ser fracionado-interrompido à vontade sem que alterações significativas nele ocorram. É sabido que as áreas de floresta não podem ser atravessadas por vias de comunicação ou interrompidas por construções e lavouras em número indefinido pois isto acarreta a extinção de espécies e, a longo prazo, ameaça a própria sobrevivência da floresta. Da mesma forma é plausível pensar que a interrupção sucessiva e em trechos curtos do cordão de dunas venha a colocar em sério risco as espécies que ali moram e, a médio e longo prazo, a própria existência do cordão e das funcções benéficas que ele desempenha para nós, humanos.

 

4.

 

Esta observação nos leva a concluir de que cuidando das dunas também cuidamos de nós.

Integrando as questões atinentes à economia e à qualidade de vida das pessoas quero finalizar propondo a seguinte tese: precisamos construir uma economia ecológica que satisfaça as necessidades de uma vida boa para os seres humanos sem comprometer de forma irreversível e com perda de diversidade os ciclos bióticos e abióticos do planeta. A essa ordem sócio-ambiental solidária e sustentável dei (Lopez Velasco 2000) o nome de "ecomunitarismo" (que para minha satisfação tem sido retomado por um projeto inovador que realiza importante trabalho sócio-ambiental atualmente na cidade de Pelotas). Nela os seres humanos satisfazem solidariamente às necessidades de realização individual de cada um sem degradar o restante da natureza e adotando na economia o princípio das "Três R" que orienta a reduzir, reutilizar e reciclar os recursos e resíduos, sendo que os primeiros deverão ser, ao máximo possível, renováveis.

No caso das dunas do Cassino esta visão permite perceber que além das funções ambientais e de repercussão social por elas desempenhadas, a sua existência é atrativo turístico a ser preservado; de tal maneira que também neste caso economia, ecologia e melhoria da vida das pessoas não só podem, mas devem caminhar juntas. O ecoturismo, implementado com a devida assessoria científica, a participação comunitária e das organizações ambientalistas e o controle dos órgãos públicos, parece ser para o Cassino e Rio Grande uma proposta económico-ecológica que permite e realiza essa convergência.

 

BIBLIOGRAFIA

 

Bertalanffy, Ludwig von . Teoria Geral dos Sistemas, Vozes, Petrópolis, 1977; ed. orig. 1968.

Capra, Frtjof. A téia da vida, Cultrix, S. Paulo, 1996.

Conferência Mundial sobre a Ciência, Hungria, julho 1999, in http://Sciencenet.com.br

Dias, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas, Gaia, S. Paulo, 1993.

Lei Federal No 9.795, de 27 de abril de 1999.

Lei Municipal (Rio Grande) Nº 5261 de 18 de setembro de 1998.

Lopez Velasco, Sirio. Ética de la Liberación - Vol. III Política socioambiental ecomunitarista , EDGRAF,

Rio Grande, 2000.

Lovelock, James. O que é Gaia?, in Shirley Nicholson & B. Rosen, "A vida oculta de Gaia", Gaia, S. paulo, 1998, p. 73 - 95).

Muniz, Marise, "Transgênicos : um tiro no escuro", in Ciência Hoje, Nº 160, maio 2000, p. 40 - 42.

 

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Endereço do autor:

FURG (DECC)

Campus Carreiros

96500-900 Rio Grande (RS)

Brasil

http://forrester.sf.dfis.furg.br/mea/remea/vol3/vol3n1.htm


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SOMENTE A PAIXÃO LEVARÁ À PRESERVAÇÃO

 

 

Angélica Gois Morales (Aluna do Mestrado em Educação Ambiental)

E-mail: angelbio@zipmail.com.br

 

 

Resumo: A Educação Ambiental preocupada em estabelecer uma nova aliança entre a humanidade e a natureza, busca resgatar e preservar a dignidade humana assim como seus valores. Portanto, a Educação Ambiental como uma ciência integradora , conscientizadora e além de tudo educativa, tende a aliar-se a todo tipo de sensibilização. E quando a atenção volta aos animais, os insetos, por exemplo, que são animais invertebrados, passam desapercebidos por todos nós, sendo vistos, apenas como causadores de doenças e sem nenhuma utilidade. Tento enfatizar neste artigo, a importância dos insetos assim como a contribuição das trilhas em áreas naturais direcionados à sensibilização, resultando na curiosidade, compreensão, estímulo, paixão, e por fim, na preservação.

 

 

 

Palavras – chaves: Educação Ambiental, insetos, atitudes, sensibilização, paixão , preservação e trilhas .

 

 

 

À medida que o século se aproxima do fim, as preocupações com o meio ambiente adquirem suprema importância e a humanidade se vê diante da necessidade de mudanças radicais para garantir a sobrevivência digna das futuras gerações.

Para podermos ser otimistas em relação ao nosso futuro comum, precisamos ajudar a modificar as relações entre a sociedade e a natureza em função de uma ética estendida para incluir o meio ambiente. Com isso se poderá transformar o atual sistema produtivo e consumista em outro melhor, no qual predomine uma sociedade baseada na solidariedade, reciclagem, afetividade e cooperação, visando à justa distribuição de recursos entre todos (Sorrentino et. al. 1995).

A Educação Ambiental surge com a preocupação de estabelecer uma "nova aliança" entre a humanidade e a natureza, que não seja sinônimo de autodestruição (Reigota, 1994), caracterizando-se por incorporar as dimensões socioeconômicas, política, cultural, ecológica e da ética, não podendo se basear em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as condições de cada país, região e comunidade, sob uma perspectiva histórica ( Dias, 1998).

Por esta razão, a importância da Educação Ambiental tem sido muito reforçada. Muitos esforços têm sido feitos para divulgar conceitos ligados ao ambiente, principalmente aqueles ligados à sua importância para o bem estar do homem e a necessidade de sua preservação (Gayford,1994). Também pode ser vista como um novo projeto pedagógico que quer construir uma grande mudança de valores e de posturas educativas; tendo como um dos maiores desafios, aliar-se a educação dos afetos (sensibilização), que forma pessoas conscientes e sensíveis, a uma educação para a cidadania, que forma sujeitos atentos aos problemas socioambientais e capazes de participar nas decisões da sociedade.

Vários estudos feitos, recentemente, têm mostrado como o destino de muitos animais depende de sentimentos subjetivos das pessoas em relação a uma espécie particular. Além disso, os animais estão envolvidos em numerosas funções simbólicas fundamentais nos seres humanos. No entanto, a relação do homem com os animais tem sido pouco estudada, principalmente no que se refere aos invertebrados.

Na Educação Ambiental , quando a atenção volta para os animais, os vertebrados são o foco principal, pois sua extinção é mais fácil de observação. Os invertebrados constituem a grande maioria dos animais, sendo os insetos, o maior grupo. Nas campanhas de preservação ambiental, os invertebrados ( exemplo: insetos ) têm sido pouco citados, e a visão geral dos leigos é de que não possuem utilidade, por isso não precisam ser preservados. As pessoas só conhecem esses animais por causarem doenças e problemas ao homem (Morales,1997).

Os insetos são as criaturas mais bem adaptadas do reino animal e vivem na terra, no ar e nas águas. Encontram-se insetos desde os desertos mais áridos, passando por zonas de florestas, até montanhas nevadas e lagos gelados. Seu tamanho pequeno significa que podem viver em locais pouco amplos e que precisam de pouco alimento. São animais invertebrados, isto é, não apresentam coluna vertebral, e pertencem ao grupo dos artrópodes, tendo um exoesqueleto como proteção.

O corpo de um inseto se encontra subdividido em três partes: cabeça, tórax e abdome, e se diferenciam de outros artrópodes por possuírem 3 pares de pernas. A maioria apresenta dois pares de asas (com exceção da mosca, que apresenta 1 par de asa), o que permite escapar do perigo e procurar alimentos em amplas áreas.

A aranha já não é um inseto, pois possui quatro pares de pernas e apresenta cabeça e tórax fundidos em uma única estrutura. O macaco é um mamífero e não um inseto , pois possui coluna vertebral, como as aves, répteis e anfíbios; e não possui seis pernas e seu corpo também não se divide em segmentos.

Os primeiros a voar foram os insetos, que escapavam dos predadores e podiam procurar alimento em novas áreas. Com o tempo, as asas se tornaram importantes para atrair um companheiro - pelo colorido, pela produção de odores e pelos sons produzidos. Antes do vôo os insetos necessitam "esquentar os motores", por isso, os besouros, como exemplo, abrem e fecham as asas várias vezes, esquentando os músculos para voar.

Quanto aos olhos dos insetos, não se sabe ao certo qual a imagem que vêem. Vários insetos captam odores particulares à longa distância, outros detectam vibrações ou percebem sons inescutáveis para o ser humano.

Em se tratando da alimentação, os insetos ancestrais tinham três pares de peças bucais. Nos atuais, o primeiro par ainda existe. O segundo par, que são as maxilas, é menor e modificado para empurrar a comida para boca ; e o terceiro par, fundiu-se e formou o lábio.

O besouro por exemplo se alimenta de qualquer planta ou animal, vivo ou morto, e serve de comida para aves, lagartos, e pequenos mamíferos. Constitui uma praga para colheita, mas representa um papel importante na natureza, consumindo plantas e animais mortos e os devolvendo como nutrientes para o solo.

Outro exemplo de que todos insetos são importantes são as moscas, que vivem em todos os lugares, sendo úteis exercendo grande importância na polinização de plantas, sendo que, há também aquelas que transportam germes e podem provocar doenças.

Os insetos são essenciais ao equilíbrio da natureza. Abelhas, moscas e borboletas polinizam flores. Vespas e joaninhas destroem lagartas e pulgões das plantas. Vários animais alimentam-se de insetos. A abelha produz o mel e a cera; lagartas de mariposa fabricam seda... Mas, em geral, as pessoas só se dão conta dos insetos quando eles representam uma ameaça ou dano , como há alguns que podem transmitir doenças ao ser humano, aos animais e plantas. E algo que deve se ressaltar é a ocupação desordenada de terras, reduzindo as áreas naturais do mundo, tendo como consequência deste desequilíbrio o desaparecimento de várias espécies de insetos.

Portanto, mais uma vez, enfatizo que a Educação Ambiental é de extrema importância, pois os jovens formam seus pontos de vista acerca do mundo em geral, através da natureza, de sua educação, concepções religiosas, notícias veiculadas pela revista, televisão e jornais. Tudo isso é influenciado pelo meio familiar onde vivem, e pelo seu "meio interno" por onde o medo, a frustração e afeto podem se expressar.

As atitudes das pessoas podem ser influenciadas por muitos fatores como: 1) a abundância do animal, 2) sensação tátil, 3) sensação visual, 4) crença na espiritualidade, 5) idéia de sujeira ou limpeza, 6)crença na fragilidade ou resistência do animal, 7) benefícios ou prejuízos que o animal possa trazer, 8) associação do animal a doenças, 9) desconforto que o animal possa gerar, 10) aparência e 11) conhecimento ou desconhecimento sobre o animal (Morales, 1997).

Há de se trabalhar com a sensibilização do jovem ou criança, partindo da curiosidade, que é o ponto de partida para aprendizagem, que segue com a exploração , que é uma viagem que pode ter várias direções, pois explorar é investigar algo; levando a uma descoberta que é um momento de percepção, e logo em seguida partilhando que é a reflexão e análise sob vários pontos de vista, e conseqüentemente, a paixão que leva à preservação.

Para este tipo de trabalho de sensibilização e interpretação do ciclo da vida, sugiro as trilhas, como meio de interpretação ambiental, sendo uma atividade que aspira relevar os significados e relações pelo uso de objetos originais, através de experiências diretas e por meio ilustrativo, no lugar de simplesmente comunicar informação literalmente (Padua,1997). E para uma maior contribuição ao conhecimento e interpretação do sentido da vida, enfoco o trabalho em áreas naturais durante as quatro estações do ano, em que se pode notar as diferenças dos ciclos , proporcionando contato direto e direcionando à sensibilização, que resulta na curiosidade, compreensão, estímulo, apreciação e por fim, na aprendizagem e preservação.

Como reforça Kellert (1983), a Educação Ambiental necessita mover-se de simplesmente enfatizar a afeição pelos animais por um entendimento ecológico mais amplo das espécies em relação ao seu ambiente natural; e como isso está, em última análise, relacionado a uma sobrevivência mais longa do homem.

A percepção ecológica profunda, como cita Capra (1997), reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza.

Assim, frente a toda problemática ambiental, todo ser humano está sendo chamado a ser um guardião do planeta Terra, cuidando de toda casa, que é a sua própria e conseqüentemente de seus filhos, netos... Portanto, trata-se de uma convocação , e a natureza merece atenção, pois sua beleza é única e uma vez perdida não há volta. Cuide do seu planeta!! E porque não, começando pelos insetos...

 

 

Referências Bibliográficas:

CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix,1997.

 

DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo:Global, 1998.

 

GAYFORD, C. Environmental education 5-16: in service training (INSET) for teachers. Journal of Biological Education, 28 (4): 284-290, 1994.

 

HERMAN, M.H.; PASSINEAU, J.F.; SCHIMPF, A.l.; TREUER, P. Orientando a Criança para Amar a Terra. São Paulo: Augustus, 1997.

 

KELLERT, S. R. Affective, cognitive, and evaluative perceptions of animals. Human Behavior and Environment Advances in Theory and Research, 6: 241-267, 1983.

 

MORALES, A . G. ; SILVA, V. C. ; SILVA, Fº N. Estudo Comparativo das atitudes de estudantes de Assis, SP, frente aos animais invertebrados. Resumo da IV Jornada de Educação: página 2, 1997.

 

PADUA, S. M. & TABANEZ, M. F. (orgs). Educação Ambiental: Caminhos trilhados no Brasil. Brasília: IPE, 1997.

 

REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Ed. Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1994.

 

SORRENTINO, M. ; TRAJBER, R.; BRAGA, T. Cadernos do III Fórum de Educação Ambiental. São Paulo: Gaia, 1995.

http://forrester.sf.dfis.furg.br/mea/remea/vol3/vol3n3.htm


43 maneiras de ser ecologicamente correto

Este é um espaço onde aprende-se pequenos toques, que ajudam muito a nosso planeta. Não esqueça, Faça sua parte !!!

1-Jamais jogue lixo no chão.
2-Somente jogue no lixo aquilo que nao pode se reutilizado ou reciclado.
3-Prefira embalagens retornáveis.
4-Ao redigir use papel dos dois lados.
5-Edite texto na tela do computador e evite impressões desnecessárias.
6-Não piche monumentos e paredes.
7-Embrulhe materiais cortantes antes de colocá-los no lixo para evitar acidentes com os garis.
8-Não queime o lixo.
9-Matenha limpos os parques e praças da cidade.
10-Nao jogue lixo em lotes vagos, encostas, bueiros, canaletas e córregos.
11-Ao construir ou reformar, leve o entulho aos locais apropriados.
12-Nao deixe material de construçao e entulhos espalhados no passeio.
13-Respeite os dias e horários de coleta de lixo.
14-Nao jogue lixo pelas janelas dos veículos.
15-Acondicione corretamente o seu lixo.
16-Plante uma árvore.
17-Cuide das áreas verdes de seu bairro.
18-Mantenha seu lote limpo, murado e com passeio.
19-Apague a luz sempre que sair de um recinto. Evite desperdício de energia elétrica sempre. Se possível instale receptor de energia solar em casa.
20-Separe vidro, papel, metal e plástico e leve esse material aos locais de entrega voluntária de coleta seletiva, caso exista usina de reciclagem.
21-Evite excesso de embalagens, principalmente as de plástico.
22-Adiquira produtos reciclados, recicláveis, reutilizáveis e que possam ser consertados.
23-Evite os descartáveis.
24-Na hora da comprar pense sempre no supérfluo, no desperdício e no tamanho que o seu lixo vai ficar.
25-Restos de comida,cascas de frutas e legumes e folhas de podas podem virar adubo para suas plantas.
26-Mantenha limpa as calçadas em frente à sua casa ou estabelecimento comercia.l
27-Cuide para que as bocas de lobo não fiquem entupidas com lixo.
28-Não demore no banho, não durma com a televisão ligada. Economize energia
29-Evite lavar constantemente o carro.
30-Evite comprar móveis de madeira, mas caso nao resista, tenha somente móveis de madeiras reflorestadas ou com o selo de garantia de extração legalizada.
31-Separe as pilhas recarregáveis ou nao, além das baterias, principalmente as de celulares e coloque em recipientes metálicos devolvendo quando possível as distribuidoras de sua cidade.
32-Quando for construir evite gastar o mínimo de cimento, aproveitando áreas com terra para plantar.
33-Evite fumar, principalmente em locais fechados.
34-Quando sair à noite, evite lugares muito iluminados. Nao se esqueca que existe tambem a poluiçao luminosa.
35-Recuse aerosóis ou qualquer produto que contenha CFC. Esse gás destrói a camada de ozônio que protege a terra dos raios ultra violetas, radiações responsáveis pelo câncer de pele.
36-Opte por remédios caseiros.
37-Denuncie aos orgãos competentes que existem em sua cidade, empresas ou pessoas que estejam emitindo poluição, seja ela sólida, líquida, gasosa, visual ou sonora, sem o mínimo controle.
38-Prefira alimentos cultivados sem agrotóxicos: Mais saudáveis, não poluem o solo e a água.
39-Se for necessário utilizar algum tipo de agrotóxico em sua propriedade, opte pelos agrotóxicos naturais, como o fumo. Caso não seja possível, procure se proteger da forma indicada.
40-Vote em candidatos sérios que tenham um plano de governo direcionado para o meio ambiente.
41-Exija do prefeito a instalação de uma usina de reciclagem em sua cidade. A usina, além de contribuir para o meio ambiente, emprega pessoas, educa a população e consegue lucros com a venda dos plásticos, dos papéis, das latas, dos humus proveniente da compostagem do lixo orgânico, etc.
42-Abrace uma árvore, ande descalço, sinta a força da terrra!!!
43-Olhe, admire e respeite a mãe natureza.

http://www.alerta.org.br/


Pensamento Ecológico
apresenta:
José Augusto Pádua
em
As Origens Esquecidas do

Pensamento Ecológico Brasileiro

Tese de historiador demonstra que destruição ambiental
atiçava reflexões de intelectuais desde o período colonial.

É bem conhecida a importância da natureza e da territorialidade, tanto em termos objetivos quanto subjetivos, no processo de construção do fenômeno histórico-cultural que chamamos de "Brasil". Também sabemos do caráter ambientalmente destrutivo dos modelos de produção aqui implantados desde o início da colonização européia. Nos diferentes setores da economia, tais como na agricultura, na pecuária, na mineração e na caça, a dominância das práticas predatórias foi absoluta. Durante mais de quatro séculos a lavoura brasileira fundou-se praticamente em um único método: a queima da floresta tropical. As cinzas desta rica biomassa garantiam uma certa fertilidade durante dois ou três anos, após o que restava apenas um solo exaurido e degradado. Os senhores da terra reivindicavam então a posse de mais sesmarias, alegando que os solos estavam "cansados", e repetiam adiante o mesmo circulo vicioso de novas queimadas e novas requisições. As raízes da concentração fundiária no Brasil, como se vê, tem muito mais a ver com a problemática ecológica do que normalmente se supõe.

A julgar pela literatura internacional sobre a história do pensamento ecológico, no entanto, parece que os brasileiros não foram capazes de perceber as conseqüências do que estava ocorrendo. Nestes livros não encontramos qualquer menção à existência de pensadores brasileiros preocupados com a destruição ambiental ao longo destes séculos. Também na memória cultural do país, pelo menos nas últimas décadas, a existência de pensadores deste tipo é praticamente ignorada. A visão convencional toma a discussão ecológica como um fenômeno recente no cenário nacional, originando-se basicamente da importação de idéias e preocupações elaboradas nos países industriais avançados. Com base neste tipo de imagem, até hoje há quem defenda a tese de que a discussão ecológica é artificial e "fora do lugar" na realidade brasileira.

Nos últimos anos venho realizando um esforço de arqueologia intelectual que subverte completamente o quadro que acabou de ser descrito. A parte inicial desta pesquisa foi defendida como tese de doutorado no final do ano passado, sob o título de "A Degradação do Berço Esplêndido : Um Estudo sobre a Tradição Original da Ecologia Política Brasileira – 1786/1888". Neste trabalho, de forma bastante exaustiva, procurei demonstrar a antigüidade do debate ecológico no Brasil. Levantei cerca de 150 textos de época, produzidos por quase quarenta autores, onde se discute com consistência vários dos temas que ainda hoje nos ocupam, tais como a destruição das florestas, a erosão dos solos, o desequilíbrio climático, o secamento de rios e fontes e a extinção de espécies animais e vegetais. A discussão mais sistemática sobre estes problemas, até onde eu consegui investigar, começou nas últimas décadas do século XVIII. Naquela época, no contexto da Universidade de Coimbra e da Academia das Ciências de Lisboa, um pequeno grupo de intelectuais brasileiros e portugueses começou a refletir seriamente sobre a questão da insustentabilidade ecológica, como hoje diríamos, da economia implantada no Brasil. O principal mentor deste grupo foi o naturalista italo-português Domingos Vandelli, que já em 1789 afirmava que a agricultura praticada no país seria com o tempo "muito prejudicial", já que a fertilidade produzida pela queima dos "antiquíssimos bosques" não era permanente. Seu aluno José Moraes Navarro, escrevendo em Paracatu (MG) no ano de 1799, chegou a observar que muitas vilas e fazendas coloniais estavam sendo abandonadas, porque os agricultores "depois de reduzirem a cinza todas as árvores, depois de privarem a terra da sua mais vigorosa substância" não conseguiam mais produzir em um solo degradado e ocupado por ervas daninhas. Outro membro do grupo, José Vieira Couto, acusava os lavradores brasileiros, na mesma Minas Gerais de 1799, de praticarem uma " agricultura bárbara" , que "com o machado em uma mão e o tição em outra" espalhava pela terra "incêndio e desolação".

Analises deste tipo começaram a ser produzidas em diferentes regiões do país, promovidas por pensadores que chocavam-se com a realidade do Brasil após voltar de seus estudos superiores em Portugal. Entre eles é possível mencionar, além dos já citados, Manoel Arruda da Câmara, Manoel Ferreira da Câmara, Baltazar da Silva Lisboa, Antônio Veloso de Oliveira e João Maciel da Costa. O nome mais conhecido deste grupo inicial, sem dúvida alguma, foi o de José Bonifácio de Andrada e Silva, apesar de poucos conhecerem hoje em dia os seus escritos ecológico-políticos. A crítica ambiental destes autores caracterizava-se por ser essencialmente política. O problema central estava nas ameaças que a degradação do território colocava para a sobrevivência e o desenvolvimento do Brasil. Mesmo antes da idéia da independência impor-se de forma explícita, vários intelectuais e políticos começaram a defender a necessidade de um real desenvolvimento para esta região, que não poderia ocorrer enquanto ela estivesse dominadas por relações de produção e tecnologias atrasadas e rudimentares. Este domínio destruía o principal trunfo com que o país poderia contar para o seu futuro : a enorme riqueza natural do território.

Com base nesta premissa, os autores mencionados começaram a criticar duramente a queima das florestas, o desperdício das lenhas, o desnudamento das encostas, a ausência de técnicas de adubação e proteção do solo, a intervenção desastrada sobre os cursos d’água, o desconhecimento e desinteresse pela biodiversidade local, a concentração e improdutividade da terra, a dizimação dos índios (e de seus conhecimentos sobre o meio natural) e assim por diante. Os mais lúcidos chegaram a colocar o dedo na ferida principal, afirmando que o cuidado ambiental e o progresso sócio-econômico seriam impossíveis enquanto vigorasse o trabalho escravo. Tratava-se, portanto, de uma ecologia progressista e modernizadora, que entendia a destruição ambiental como resultado do arcaísmo colonial, defendendo o desenvolvimento social e tecnológico como o caminho para a sustentabilidade. Era, além disso, uma reflexão ecológica fundada no ideal iluminista do progresso e da razão, passando quase sempre ao largo das visões românticas da natureza.

Este progressismo tecnológico pode soar ingênuo aos olhos atuais. Alguns autores chegavam a defender a tese, por exemplo, de que a industrialização reduziria os problemas ambientais. É importante ressaltar, porém, que o enfoque essencial por eles adotado permanece extremamente valido. Trata-se de tomar as questões ambientais no contexto mais amplo do modelo de sociedade, pensando a mudança na relação com a terra como um componente básico da reconstrução nacional, da busca positiva por um outro tipo de país. Através da obra destes autores, e de muitos outros que deram continuidade ao debate ecológico-político brasileiro até o final do século XIX - como Francisco Freire Alemão, Guilherme Capanema, Emílio da Silva Maia, Tomás Pompeu Brasil, Nicolau Moreira, Joaquim Nabuco e André Rebouças - é possível reconstituir a origem de muitos dos problemas ambientais com os quais hoje nos defrontamos. Recuperando esta tradição intelectual, por outro lado, é possível perceber que a discussão ecológica possui uma identidade profunda na cultura e na política do Brasil. Não é recente a crítica do modelo predatório e iníquo que dominou, e ainda domina, a ocupação social do nosso território. Também não é recente a busca por alternativas que sejam ecologicamente sustentáveis e socialmente benéficas. Esta busca ainda hoje constitui um grande desafio para a cidadania brasileira.

José Augusto Pádua é coordenador do projeto " Brasil Sustentável e Democrático", sediado na FASE. e-mail: padua@ax.apc.org

http://www.infolink.com.br/~peco/padu05.htm


O PENSAMENTO ECOLÓGICO:
DA ECOLOGIA NATURAL AO ECOLOGISMO

        Para entender o desenvolvimento do pensamento ecológico e a maneira como ele chegou ao seu atual nível de abrangência, é necessário partir da constatação de que o campo da ecologia não é um bloco homogêneo e compacto do pensamento. Não é homogêneo porque nele vamos encontrar os mais variados pontos de vista e posições políticas, e não é compacto porque em seu interior existem diferentes áreas do pensamento, dotadas de certa autonomia e voltadas para objetos e preocupações específicos. Podemos dizer que, grosso modo, existem no quadro do atual pensamento ecológico pelo menos quatro grandes áreas, que poderíamos denominar Ecologia Natural, Ecologia Social, Conservacionismo e Ecologismo. As duas primeiras de caráter mais teórico-científico e as duas últimas voltadas para objetivos mais práticos de atuação social. Essas áreas, cuja existência distinta nem sempre é percebida com suficiente clareza, foram surgindo de maneira informal à medida que a reflexão ecológica se desenvolvia historicamente, expandindo seu campo de alcance.

        A Ecologia Natural, que foi a primeira a surgir, é a área do pensamento ecológico que se dedica a estudar o funcionamento dos sistemas naturais (florestas, oceanos etc.), procurando entender as leis que regem a dinâmica de vida da natureza. Para estudar essa dinâmica, a Ecologia Natural, apesar de estar ligada principalmente ao campo da biologia, se vale de elementos de várias outras ciências como a Química, a Física, a Geologia etc. A Ecologia Social, por outro lado, nasceu a partir do momento em que a reflexão ecológica deixou os múltiplos aspectos da relação entre os homens e o meio ambiente, especialmente a forma pela qual a ação humana costuma incidir destrutivamente sobre a natureza. Essa área do pensamento ecológico, portanto, se aproxima mais intimamente do campo das ciências sociais e humanas. A terceira grande área do pensamento ecológico – o Conservacionismo – nasceu justamente da percepção da destrutividade ambiental da ação humana. Ela é de natureza mais prática e engloba o conjunto das idéias e estratégias de ação voltadas para a luta em favor da conservação da natureza e da preservação dos recursos naturais. Esse tipo de preocupação deu origem aos inúmeros grupos e entidades que formam o amplo movimento existente hoje em dia em defesa do ambiente natural. Por fim, temos o fenômeno ainda recente, mas cada vez mais importante, do surgimento de uma nova área do pensamento ecológico, denominado Ecologismo, que vem se constituindo como um projeto político de transformação social, calcado em princípios ecológicos e no ideal de uma sociedade não opressiva e comunitária. A idéia central do Ecologismo é de que a resolução da atual crise ecológica não poderá ser concretizada apenas com medidas parciais de conservação ambiental, mas sim através de uma ampla mudança na economia, na cultura e na própria maneira de os homens se relacionarem entre si e com a natureza. Essas idéias têm sido defendidas em alguns países pelos chamados "Partidos Verdes", cujo crescimento eleitoral, especialmente na Alemanha e França, tem sido notável.

        Pelo que foi dito acima podemos perceber que dificilmente uma outra palavra terá tido expansão tão grande no seu uso social quanto a palavra Ecologia. Em pouco mais de um século ela saiu do campo restrito da Biologia, penetrou no espaço das ciências sociais, passou a denominar um amplo movimento social organizado em torno da questão da proteção ambiental e chegou, por fim, a ser usada para designar toda uma nova corrente política. A rapidez dessa evolução gerou uma razoável confusão aos olhos do grande público, que vê discursos de natureza bastante diversa serem formulados em nome da mesma palavra Ecologia. Que relação pode haver, por exemplo, entre um deputado "verde" na Alemanha, propondo coisas como a liberação sexual e a democratização dos meios de comunicação, e um conservador biólogo americano que se dedica a escrever um trabalho sobre o papel das bactérias na fixação do nitrogênio? Tanto um como o outro, entretanto, se dizem inseridos no campo da Ecologia. A chave para não nos confundirmos diante desse fato está justamente na percepção do amplo universo em que se movimenta o uso da palavra Ecologia.

LAGO, Antônio & PÁDUA, José Augusto. O que é Ecologia. 8. Ed. São Paulo, Brasiliense. P.13-6
 

PERGUNTAS: 
 
1) Divida o texto em introdução, desenvolvimento e conclusão. Justifique sua divisão.

2) Como se relacionam a introdução e o desenvolvimento? O que há de semelhante e de diferente entre esses dois momentos do texto?

3) Como se relaciona a conclusão com as outras duas partes do texto? O que ela tem de semelhante e de diferente em relação à introdução ao desenvolvimento?

4) Qual a orientação adotada pelos autores para expor as quatro grandes áreas do pensamento ecológico? Em que parte do texto essa orientação foi explicitada?

5) Esquematize o texto, respeitando a divisão em parágrafos feita pelos autores.

6) "Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de modo geral e conciso a idéia-núcleo do parágrafo". Indique e comente os tópicos frasais presentes no texto.

7) É possível captar a posição pessoal dos autores diante do que apresentam? Comente.

8) Transcreva cinco expressões que possuam valores argumentativos e comente cada um deles.

9) Você julga o texto que acaba de ler bem-sucedido? Por quê?

 http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/generos_textuais/dissertacao/ecologia1.htm


AS ÁRVORES SIMBOLIZAM A PRIMAVERA.
ESPETÁCULO DE LUZ, CORES E MUITA BELEZA.
MAS E A “ECO-INCONSCIÊNCIA”?!  

Edgard Rocha Filho
     
SETEMBRO é o mês em que se comemora a chegada da PRIMAVERA. E é o mês das ÁRVORES, sendo o seu dia o 22 de setembro. A ÁRVORE merece festa, apoio, carinho, tratamento como se dá a uma mãe. Pelos filhos bem-aventurados, é claro...
Porque nem todos podem ser considerados assim. Existe o que denominamos de uma “inconsciência ecológica” em muitas pessoas. O que muita gente faz é comportamento de ser não pensante, de inconsciência no pior sentido... Aquela eco/alienação maldosa, cruel, de querer destruir tudo o que está à sua volta, de deixar apenas a areia, o cimento, o concreto. E pior é que isso não acontece com os incultos, com os sem diploma, com os sem instrução. Nada disso. Acontece também com os letrados, com os doutores, com os donos do poder econômico. Diríamos que essa inconsciência é bem rasteira, do tipo que derruba árvores porque as folhas podem sujar a piscina, quando no verão... Ou porque as árvores derrubam folhas muito pequenininhas, “difíceis de limpar”... Ou porque atrapalham a entrada do carro na garagem... Argumentos que as secretarias estaduais e municipais, órgãos ambientais, enfim, estão acostumados a ouvir, no quotidiano de todos os dias. Mas há aqueles que as defendem, que brigam se houver maus tratos!... Que fique testemunhada a revolta da população com os serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica, que a pretexto de “liberação da fiação”, acabam destruindo o pouco que resta da arborização urbana nas cidades. 

E não adianta argumentos técnico-científicos, no sentido de esclarecer que a árvore é absolutamente indispensável ao equilíbrio da vida natural do planeta, dos ecossistemas, enfim imprescindível para a nossa sobrevivência. É incrível como esses argumentos entram nos ouvidos de muitos como se fosse sermão de padre ou de pastor, conselho de pais, entra por um ouvido sai por outro, não penetra no raciocínio, na reflexão, na maturidade dessas pessoas, não as acordam para a necessidade de preservação... 

Mas vamos sempre repetir, sempre falar, sempre gritar... É preciso que assim seja ou não teremos resultados com a urgência que o mundo necessita. Vamos lembrar, caros leitores e aprender sempre e reaprendendo quantas vezes necessário for: o homem, como as plantas e os animais, é um ser vivo e a vida tem sua base em determinada reação química - a fotossíntese - somente processada em organismos vegetais. Assim, toda a energia que anima o vôo das aves, o nadar dos peixes, a veloz corrida dos herbívoros, o salto mortífero dos carnívoros, as contrações da mão humana e as pulsações do cérebro, repousam na energia solar, captada pelas plantas verdes, seja nas atuais, seja no acervo do passado conservado sob a forma de energia fóssil do carvão e do petróleo. 

As árvores são plantas lenhosas, mais altas que os arbustos, com caules lineares e verticais que se desenvolvem para formar troncos, que passam a sustentar galhos e folhas, que formam as copas. Podem viver até centenas de anos. Nas florestas, as árvores exercem importante papel. São responsáveis pela sobrevivência de ecossistemas complexos, realizam a fotossíntese e transformam o gás carbônico em oxigênio, fatores imprescindíveis à vida. 

E nas cidades, o que fazem as árvores? Elas purificam o ar pela fixação em suas folhas da poeira que a chuva conduz para o solo; proporcionam sombra e conforto térmico; reduzem a velocidade do vento; conservam a umidade do solo e do ar e influem no balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo; amortecem os ruídos; abrigam e alimentam a fauna, equilibrando cadeias alimentares e diminuindo pragas; embelezam a paisagem. 

Árvores integrantes de culturas e de povos distantes foram incorporadas aos costumes e às paisagens do Brasil. Espécies frutíferas e ornamentais de diversas origens encontram-se em pomares, na arborização urbana, nos parques e nos jardins, como a mangueira, a jaca, várias figueiras da Índia - entre elas a falsa-seringueira -, o flamboyant de Madagascar, e os eucaliptos e pinus cultivados em áreas de reflorestamento homogêneo para fim industrial. 

A árvore é um dos mais fortes símbolos das diversas culturas da humanidade, ela representa a vida em constante evolução, a ascensão ao Paraíso, a união dos elementos, a ligação entre os três níveis do COSMO (-subsolo/subterrâneo/inferno-,- solo/superfície/Terra -, - atmosfera/céu/Paraíso) e o eixo do mundo, em torno do qual o Universo está organizado. 

Árvore-Mãe

A imagem da Árvore-Mãe, freqüente em inúmeras culturas, tem significado duplo. Em primeiro nível simboliza a Mãe Terra, princípio feminino que alimenta a vida; em nível mais profundo, representa a energia vital e invisível que repousa no seio da Terra e é fecundada pela energia masculina do vento, da chuva e do Sol. Na pré-história as árvores eram adoradas como divindades e algumas vezes consideradas a personificação de poderes naturais malignos como os trovões, os raios e as tempestades. 

Se apaziguadas pela adoração, as árvores divinas garantiriam fertilidade aos homens e aos animais, abundância nas colheitas, sucesso no comércio e nas guerras. 

Com o crescimento do Cristianismo, os ritos de adoração diminuíram. As árvores passaram a ser utilizadas como um suprimento na alimentação, como combustível, na construção de cidades e de embarcações, na fabricação de implementos agrícolas, e matéria-prima para suprir as necessidades diárias. 

A partir do início deste século, algumas espécies de árvores começaram a desaparecer. Apesar da existência de leis de proteção ambiental, ainda não foi possível impedir a redução das espécies florestais no mundo inteiro. Hoje sabemos o quanto é necessário preservar os ecossistemas naturais e começar a recuperar os já desfeitos. Mas ainda não podemos nos alegrar: a luta para manter o equilíbrio ambiental é incessante. 

O que a árvore faz à mãe-natureza, a sua importância no equilíbrio da vida e do planeta ainda não está na consciência de todos os cidadãos. Infelizmente. É preciso que essa consciência seja adquirida sem o sacrifício de enfrentarmos num futuro próximo a completa desertificação do mundo. Mas é preciso que façamos todos os dias um pouco. E que fiquemos ao lado dela (a árvore) e lutemos por sua preservação, de todas as formas possíveis. E que façamos nascer novas árvores, ajudando-as a crescer. Com isso estamos fazendo um grande auxílio ao mundo, a nós mesmos e às futuras gerações. Façamos festas à Primavera e meditemos firmemente que a ÁRVORE é essencial à vida e que é dela que os seres que habitam a Terra tiram o alimento, a morada, as substâncias químicas, a proteção dos mananciais, a preservação do solo e a sombra. 

Árvore da vida 

Vivia no Jardim do Éden, tinha por seiva o orvalho celeste e simbolizava a harmonia perfeita. Trazia em seus galhos doze frutos como representação das recompensas do desenvolvimento espiritual, entre as quais a sabedoria, o amor, a verdade e a beleza. Defendidos com cuidado, esses frutos eram as manifestações do Sol e conferiam imortalidade àqueles que os consumissem.

Árvore-pai
 
Potente símbolo da fecundidade, essa árvore representa a energia masculina que impregna e vivifica a Terra, submetida ao ciclo eterno da morte e do renascimento. Algumas vezes chamada de Homem-Verde, esta figura é relativamente freqüente nas culturas ocidentais, onde assume múltiplas aparências, como Pan, o deus grego. 

Árvore do conhecimento 

No Jardim do Éden a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal era um símbolo da dualidade. Depois de sucumbir à tentação de comer o fruto da árvore, Adão e Eva foram rechaçados por Deus e expulsos do Paraíso. A serpente, enrolada ao redor do seu tronco, e que representa a Tentação, também é um símbolo muito antigo da energia vital.

(Edgard Rocha Filho é advogado e ambientalista)

http://www.ecolnews.com.br/arvores.htm


Aprendendo com as mãos na massa

Racionalizar o uso da água e deixar de tratar rios, lagos e represas como latas de lixo, só se aprende por experiência prática.

Campinas - Neste Dia Mundial da Água (22 de março), mais uma vez, a divulgação de estatísticas e números de todos os tipos enfatizou o quanto o brasileiro é rico em recursos hídricos e quanto desperdiça esta riqueza. Torneiras abertas, vazamentos na rede de distribuição, falta de gestão dos mananciais, assoreamentos de rios e reservatórios, poluição por esgotos, pelo excesso de lixo jogado in natura, por resíduos industriais e químicos agrícolas são velhos conhecidos na mídia, temas sempre relembrados quando há escassez e fala-se em racionamento.

Conhecer todos estes dados é importante, mas não suficiente para operar as mudanças de comportamento necessárias. Para alterar hábitos é preciso mais do que sentir culpa em relação ao bilhão de pessoas, que padece de sede no resto do mundo e tem de caminhar pelo menos 3 horas diárias só para buscar água. É preciso sentir sede ou, pelo menos, aprender o que significa carregar a água que se usa. E aprender com as mãos na massa, uma chance que a imensa facilidade da água encanada tirou do dia a dia da população, transferindo para os bastidores das empresas distribuidoras a consciência de quanto custa e quanto trabalho dá levar a água até a torneira.

Um exemplo emblemático é o de uma escola de Atibaia (Centro de Educação Física e Infantil, CEFI), no interior paulista, onde a diretora pedagógica, Ivelise Pires de Camargo, propôs a uma classe de 3a série do ensino fundamental a contagem de garrafas de água utilizadas na lavagem da quadra da escola. A idéia surgiu de um material de educação ambiental, elaborado pela organização não governamental SuperEco, associada a uma necessidade real da escola.

Com pouco espaço para o recreio, a escola utiliza a quadra para o intervalo das crianças. A quadra costumava ficar suja de restos de lanche e lixo e necessitava de duas lavagens por dia, antes da prática de esportes. Depois de encher, carregar e contar o grande número de garrafas necessárias para uma lavagem e constatar, com as mãos na massa, o desperdício de água, as crianças mudaram seu comportamento e deixaram de jogar lixo no chão.

O cuidado em evitar o desperdício também foi com os alunos para casa: eles aprenderam a ler suas contas de água, tornaram-se fiscais dos pais e até desenvolveram um joguinho de computador para ensinar os pais a economizar.

Experiências semelhantes seriam fundamentais para mostrar à população, que vive às margens dos rios, o que significa usá-los como latas de lixo, seja para se livrar de uma simples latinha de refrigerante após o consumo ou para despejar caminhões de lixo e entulho nas margens ou dentro do rios. As águas dos rios tem o grande defeito de esconder ou levar para longe dos olhos o lixo jogado. Dá a impressão que o problema está resolvido, quando, na verdade, é aí que ele começa.

O lixo na água não se degrada nem desaparece. Latas, vidros, pneus e entulhos permanecem no fundo, causando problemas para a fauna aquática. Plásticos, panos e madeiras amontoam-se na superfície, sujando a paisagem e entupindo estações de tratamento. Os restos orgânicos facilitam a proliferação de agentes patogênicos (causadores de doenças). Os resíduos químicos - de produtos de limpeza, solventes, tintas, agrotóxicos, inseticidas caseiros, efluentes industriais - contaminam a água e passam incólumes pelos tratamentos normalmente feitos.

É surpreendente o número de pessoas convivendo com o lixo no rio mais próximo e, muitas vezes, bebendo a água contaminada por agentes, sem se dar conta disso. É uma questão de informação, de falta de educação ou de falta de opção, costuma-se repetir. Mas também de falta de vínculos com a própria vida e cultura.

Os ianomâmis, um dos povos mais primitivos dentre os indígenas brasileiros, têm regras estritas de utilização dos rios, que rezam o aproveitamento das águas limpas para beber, em pontos distantes de onde são jogados os restos. Uma regra básica que, no entanto, soa como impossível nas grandes metrópoles "civilizadas".

É evidente que o tipo e, sobretudo, a quantidade de lixo produzido por pequenos grupos de índios nômades nem se compara com as montanhas de dejetos jogados nas águas que atravessam uma cidade como São Paulo. Mas é por isso mesmo é que as mudanças de hábitos se fazem mais urgentes nas zonas urbanas. O lixo e o desperdício tornam-se gigantes incontroláveis quando alimentados pela ignorância.

Liana John  

http://www.estadao.com.br/ciencia/colunas/ecos/2001/mar/22/136.htm


Recebi o texto abaixo do Prof. José Moya, Coordenador da Federacion de

Organizaciones Y juntas ambientalista da Venezuela e repasso a todas as

listas e redes de que participo. Em nome desta Federação propõe uma

campanha para que não se use o termo "meio ambiente" na América Latina,

segundo eles, um grave erro gramatical e semântico. Creio que um bom

tema para discussão de nossas listas para ver se não ficamos quase só na

informação..

Abaixo do texto segue cópia do e-mail completo, para entender o contexto

da campanha que eles propõem, e para o devido retorno.

Fernando Guerra

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

“MEIO Ambiente” não existe. O Ambiente é um TODO e assim deve ser

tratado

Há muito tempo que, na Ibero-América nos impuseram o vocábulo “meio ou

médio ambiente” para traduzir “ENVIRONMENT” para o português e espanhol.

Isto é um contra-senso e grave erro de gramática que encerra uma

incongruência lingüística com deficiência de conteúdo; portanto, seguir

usando tal vocábulo é afiançar este desvio idiomático e aumentar a

confusão generalizada que predomina em toda instância social.

Em português ou espanhol, não se deve dizer nem escrever “meio ambiente”

ou “medio ambiente” porque é uma redundância que media e desvirtua o

conceito AMBIENTE. Isto se comprova ao unirmos tal vocábulo a outras

palavras para fixar definições, dando lugar a frases gramaticalmente

ambíguas e que não definem nada: educação meio ambiental, problema meio

ambiental, impacto... etc, que já não se usam. Por que temos de aplicar

“meio ambiente”, se não é correto? A palavra “MEIO” identifica

SUBSTRATO: solo, água, ar, que bem conjugadas com outras definem

AMBIENTE.

Alguns justificam a vigência deste vocábulo, argumentando que: 1)

organismo das Nações Unidas o adotaram em suas siglas: PNUMA, CNUMAD etc

e afirmam que isto não é fácil de substituir; 2) em inglês, a palavra

“environment” está arraigada; 3) “meio ambiente” define expressamente os

assuntos naturais etc, etc. Estes argumentos são fracos, porque a

denominação ou sigla dos organismo não definem a evolução idiomática e,

ainda que o inglês prevaleça no mundo, não pode ser usado para cunhar

palavras de outros idiomas.

A palavra ENVIRONMENT é mais aplicada, ainda que AMBIENT tem tradução

acertada em espanhol, e por isso deve ser mais usada. É absurdo afirmar

que o AMBIENTE está formado somente por componentes naturais, quando é a

conjugação de elementos biológicos, químicos, físicos e sócio-culturais

que interatuam sobre cada ser, definindo sua vida; portanto, e com base

nesse conceito atualizado, AMBIENTE é um TODO global e integrado, cujos

elementos se combinam inter-dependentemente, formando uma unidade

indissolúvel.

“Meio ambiente” não existe, ainda quando as ações desenvolvimentistas

tenham afetado quase a metade do planeta. Foi por isso que, desde a

“Cúpula da Terra” (rio 92) iniciamos esta campanha na Ibero-América,

para não usar mais tal vocábulo. Não é tarefa fácil e, portanto, devemos

aprofundar ações contra correntes tradicionais, que afirmam que se trata

de um assunto de SEMANTICA. Sim, mas mais ainda, é um problema de

profundo CONTEUDO. Felizmente, já vários organismos revisaram sua

denominação, outros atualizaram publicações e até se corrigiram leis.

Aqueles que não aceitam este critério, e seguem avalizando tal vício

gramatical, ajudam pouco a conseguir o Desenvolvimento Ambientalmente

Sustentável: CONCEITO simples, preciso e de fácil assimilação que se

explica por si só, porque é um verdadeiro modelo que parte de definições

concretas para propiciar mudanças de atitude e alcançar o nível

requerido de CULTURA, em função de aproveitar responsavelmente espaços e

recursos naturais, com distribuição eqüitativa de seus benefícios e sem

menosprezo à proteção do AMBIENTE, que é a única forma de não colocar em

risco o futuro das novas gerações.

Profesor José Moya: Coordinador de Comunicación y Relaciones

Institucionales

Phone-FAXs: (582)4314437 y 4317005 (E-mail: forja@reacciun.ve).

Favor retransmitir esta folha a escritórios, editoriais, jornalistas e

tradutores.

Tradução: Maria do Carmo Zinato – mariacz@ces.fau.edu

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


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O BICHO
Manuel Bandeira
 
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

 

AS CIDADES CONTÍNUAS 1

Ítalo Calvino

        A cidade de Leônia refaz a si própria todos os dias: a população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados da embalagem, veste roupões novíssimos, extrai das mais avançadas geladeiras latas ainda intactas, escutando as últimas lengalengas do último modelo de rádio.

        Nas calçadas, envoltos em límpidos plásticos, os restos da Leônia de ontem aguardam a carroça do lixeiro. Não só tubos retorcidos de pasta de dente, lâmpadas queimadas, jornais, recipientes, materiais de embalagem, mas também aquecedores, enciclopédias, pianos, aparelhos de jantar de porcelana: mais do que pelas coisas que todos os dias são fabricadas vendidas compradas, a opulência de Leônia se mede pelas coisas que todos os dias são jogadas fora para dar lugar às novas. Tanto que se pergunta se a verdadeira paixão de Leônia é de fato, como dizem, o prazer das coisas novas e diferentes, e não o ato de expelir, de afastar de si, expurgar uma impureza recorrente. O certo é que os lixeiros são acolhidos como anjos e a sua tarefa de remover os restos da existência do dia anterior é circundada de um respeito silencioso, como um rito que inspira a devoção, ou talvez apenas porque, uma vez que as coisas são jogadas fora, ninguém mais quer pensar nelas.

        Ninguém se pergunta para onde os lixeiros levam os seus carregamentos: para fora da cidade, sem dúvida; mas todos os anos a cidade se expande e os depósitos de lixo devem recuar para mais longe; a imponência dos tributos aumenta e os impostos elevam-se, estratificam-se, estendem-se por um perímetro mais amplo. Acrescente-se que, quanto mais Leônia se supera na arte de fabricar novos materiais, mais substancioso torna-se o lixo, resistindo ao tempo, às intempéries, à fermentação e à combustão. É uma fortaleza de rebotalhos indestrutíveis que circunda Leônia, domina-a de todos os lados como uma cadeia de montanhas.

        O resultado é o seguinte: quanto mais Leônia expele, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de se tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se integralmente em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de anteontem e de todos os dias e anos e lustros.

        A imundície de Leônia pouco a pouco invadiria o mundo se o imenso depósito de lixo não fosse comprimido do lado de lá de sua cumeeira, por depósitos de lixo de outras cidades que também repelem para longe montanhas de detritos. Talvez o mundo inteiro, além dos confins de Leônia, seja recoberto por crateras de imundície, cada uma com uma metrópole no centro em interrupta erupção. Os confins entre cidades desconhecidas e inimigas são bastiões infectados em que os detritos de uma e de outra escoram-se reciprocamente, superam-se, misturam-se.

        Quanto mais cresce em altura, maior é a ameaça de desmoronamento: basta que um vasilhame, um pneu velho, um garrafão de vinho se precipitem do lado de Leônia e uma avalanche de sapatos desemparelhados, calendários de anos decorridos e flores secas afundem a cidade no passado que em vão tentava repelir, misturado com o das cidades limítrofes, finalmente eliminada – um cataclismo irá aplainar a sórdida cadeia montanhosa, cancelar qualquer vestígio da metrópole sempre vestida de novo. Já nas cidades vizinhas estão prontos os rolos compressores para aplainar o solo, estender-se no novo território, alargar-se, afastar os novos depósitos de lixo.

 
 

LIXO

Luís Fernando Veríssimo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

 

UMA CARNIÇA
Charles Baudelaire
Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos
Numa bela manhã radiante:
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos,
Uma carniça repugnante.
As pernas para cima, qual mulher lasciva,
A transpirar miasmas e humores,
Eis que as abria desleixada e repulsiva,
O ventre prenhe de livores.
Ardia o sol naquela pútrida torpeza,
Como a cozê-la em rubra pira
E para ao cêntuplo volver à Natureza
Tudo o que ali ela reunira.
E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que sobre a relva escassa
Chegaste quase a sucumbir.
Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço,
Dali saíam negros bandos
De larvas, a escorrer como um líquido grosso
Por entre esses trapos nefandos.
E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga,
Ou esguichava a borbulhar,
Como se o corpo, a estremecer de forma vaga,
Vivesse a se multiplicar.
E esse mundo emitia uma bulha esquisita,
Como vento ou água corrente,
Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita
E à joeira deita novamente.
As formas fluíam como um sonho além da vista,
Um frouxo esboço em agonia,
Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista
Apenas de memória um dia.
Por trás das rochas irrequieta, uma cadela
Em nós fixava o olho zangado,
Aguardando o momento de reaver àquela
Náusea carniça o seu bocado.
- Pois hás de ser como essa infâmia apodrecida,
Essa medonha corrupção,
Estrela de meus olhos, sol de minha vida,
Tu, meu anjo e minha paixão!
Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,
Após a benção derradeira,
Quando, sob a erva e as florações da natureza,
Tornares afinal à poeira.
Então, querida, dize à carne que se arruína,
Ao verme que te beija o rosto,
Que eu preservei a forma e a substância divina
De meu amor já decomposto!

http://www.logos.g12.br/trabalhos/medio/ambiente/ciencias.htm


Meditações sobre a desordem
por Goffredo Telles Jr.
(*)

Abstract - Bibliografia

Resumo: A ordem total do Cosmos. Um equívoco. A desordem é sempre ordem: a desordem no comportamento humano. O pecado. A ausência de uma certa ordem é presença de outra ordem. Tudo está sempre em ordem. A ordem na convicção dos governantes. A desordem: flatus vocis.

Palavras-chave: ordem - desordem - natureza - comportamento humano - pecado - ordem dos governantes

Um dia, o Presidente do Tribunal de São Paulo solicitou-me duas palestras de "preparação para a Páscoa da família forense", a serem proferidas em sessão pública, no Palácio da Justiça, na Sala do Conselho Superior da Magistratura.

Inspirando-me na ebulição política então reinante, sugeri que meus pronunciamentos, nas vésperas da Páscoa, fossem a expressão oral de uma meditação sobre "A Ordem e a Desordem".

E, de fato, nos dias marcados, dissertei sobre o tema proposto.

Lembro-me de que o primeiro pronunciamento foi dedicado ao conceito da ordem, nos mesmos termos com que tal noção se acha consagrada na Filosofia clássica. Recordo, porém, que o segundo, dedicado ao conceito da desordem, exigiu de mim uma abordagem nova, na linha do pensamento bergsoniano. A matéria, a meu ver, merecia meditação séria, por parte de todos quantos quisessem tratar, com profundidade, dos problemas da vida, inclusive da vida política de nosso País.

Depois de haver relembrado a definição da ordem - "disposição conveniente dos seres para a consecução de um fim comum" -, demonstrei que toda existência dos vivos e dos não-vivos, do vegetal, do animal, do homem, e também das sensações, das imagens, das idéias; enfim, todo ser existente resulta de uma disposição certa de seres, isto é, de um arranjo conveniente dos elementos de que ele é constituído.

Logo - disse eu -, todo ser existente resulta da ordem em que se acham os seres de que ele se compõe, e estes seres também resultam da ordem em que se acham os seres de que eles se compõem. E estes, por sua vez ...

O próprio Universo, tido como conjunto de todas as coisas existentes, só pode ser considerado como um todo ordenado.

A Filosofia ensina - lembrei - que o Universo é a diversidade das coisas harmonicamente ordenadas, dentro da unidade do todo.

Os gregos chamavam o Universo de "cosmos", palavra que significa ordem; não o chamavam de caos, palavra que significa ausência de ordem.

Mas observei que, na infinita paisagem do Universo, quaisquer olhos desprevenidos vão divisar áreas de sombra. Nem tudo, ao que parece, é ordem no mundo. A desordem também existe. O comportamento desregrado, a prática do mal, a injustiça, o sofrimento, a dor, todas essas coisas são fatos ocorrentes, e fatos contrários ao que se considera ordem. Mesmo no Mundo Físico, flagrantes violações da ordem cósmica parecem acontecer às vezes, como, por exemplo, as que se manifestam no indeterminismo cinemático dos quanta, verificado na intimidade profunda da matéria; e as que se revelam na entropia crescente em sistemas isolados, ou seja, na delegação qualitativa da energia, verificada em tais sistemas, contrariando o princípio universal da conservação da energia.

Então - disse eu -, uma inevitável pergunta se coloca diante da inteligência humana. Se o conjunto de todos os seres está submetido à ordem universal, como explicar a existência do que é contrário à ordem, ou seja, a existência da desordem?

Como explicar, por exemplo, o pecado?

O problema da existência da desordem só pode ser resolvido se for colocado em seus devidos termos. De fato, ele não passa de um pseudoproblema. É um problema fundado num equívoco.

A desordem - afirmei - não é o contrário da ordem, como se costuma pensar. Ela é, isto sim, uma ordem contrária a outra ordem.

Desordem, em verdade, é apenas um nome: é o nome dado à ordem não desejada, não querida, não procurada. Ou o nome dado à ordem que não deve ser desejada, nem querida, nem procurada. É o nome da ordem que desagrada, desgosta, decepciona, prejudica, infelicita, desola. Às vezes, é o nome da ordem que causa arrependimento. Mas a desordem é sempre uma ordem, eis o que precisa ficar bem claro.

A desordem se pode verificar - expliquei - tanto no mundo da natureza física, como no mundo do comportamento humano.


(*) Professor Emérito da USP, Prof. Titular do Departamento de Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da USP, autor de O Direito Quântico e Ética: Do Mundo da Célula ao Mundo da Cultura, entre outros livros. Autor da Carta aos Brasileiros.

http://www.imaginario.com.br/artigo/a0031_a0060/a0049.shtml


CONSUMO "VERDE", DEMOCRACIA ECOLÓGICA E CIDADANIA:

POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO?

 

Fátima Portilho


RESUMO

Com a industrialização, a concentração populacional urbana e o incentivo ao consumo como características básicas da sociedade moderna, os problemas sociais e ambientais se agravam. No processo de "ecologização da sociedade", diversos segmentos sociais vão, aos poucos, inserindo-se no movimento ecológico, motivados por diferentes fatores, abrangendo diversidades ideológicas e partindo de diferentes lugares, com diferentes ideologias a orientar seus discursos e suas práticas. A partir da composição do movimento ecológico como um movimento "complexo-multissetorial", o apelo do ambientalismo original para reduzir os padrões de consumo vem se transformando numa falsa questão, seja pelo progresso tecnológico, seja pela modificação do consumo através do "consumo verde" ou, ainda, pelas novas formas de exercício da cidadania através do consumo. O presente artigo procura destacar e relacionar dois importantes debates que surgiram na atualidade dentro dos meios ambientalizados: (1) o embate entre a redução ou modificação do consumo e (2) a possibilidade de uma democracia ecológica. Como questão central, procuramos discutir a possibilidade real de exercício da cidadania através do consumo seja ele "verde" ou não. Como conclusão inicial para esta análise, o consumo só seria verdadeiramente "verde" se permitisse uma interferência democrática nas políticas produtivas.

 

UNITERMOS: Meio ambiente, democracia ecológica, cidadania, consumo verde, produção e consumo

 

1. INTRODUÇÃO

A partir da Revolução Industrial e, posteriormente, com o incremento do modelo de produção em série, cresce a produção de materiais artificiais e sintéticos e intensifica-se o uso de energia não renovável, principalmente o carvão, em substituição à energia animal, humana e eólica, provocando, entre outras coisas, uma redistribuição espacial da população. Num curto espaço de tempo, observou-se, no mundo ocidental, uma grande migração do campo para os meios urbanos em processo de industrialização. Estas cidades, além de portos para a chegada do carvão e comercialização dos produtos eram, também, centros de produção e consumo. Como conseqüência, inicia-se uma grande mudança no pensamento econômico e as relações de mercado passam a ser estabelecidas pela lei da oferta e da procura. Somando-se à criação do mercado enquanto instituição, cria-se, na própria história e desenvolvimento do capitalismo, o mito do mercado que, por estar tão presente no cotidiano, se constitui na própria "razão", adquirindo vitalidade e categoria de verdade absoluta1. De mito, o mercado passou também a ser um mistério que, etimologicamente, quer dizer que só é acessível aos iniciados (Cavalcanti & Cavalcanti, 1994). Ciência e técnica passam a ocupar um lugar central na sociedade, pois a técnica torna possível reduzir os custos de produção e, ao mesmo tempo, aumentar a quantidade de produtos. As mercadorias produzidas precisam, no entanto, encontrar compradores. Aos poucos, a principal tarefa da indústria passa a ser, menos a produção das mercadorias, do que a produção de demandas para estas mercadorias. Verifica-se, então, uma explosão do consumo, que surge como modo ativo de relação das pessoas com os objetos, com a coletividade e com o mundo, servindo de base ao nosso sistema cultural. Os objetos não estão mais relacionados exclusivamente à sua utilidade, e sim ao prestígio simbolizado por sua posse.

Com a industrialização, a concentração populacional urbana e o incentivo ao consumo como características básicas da sociedade moderna, os problemas sociais e ambientais se agravam. Podemos enfocar a problemática ambiental, basicamente, com uma análise que se concentre desde o "berço", ou seja, a extração de recursos naturais para a indústria, até o "túmulo", a dificuldade de gerenciamento dos resíduos gerados após o consumo, passando pelos processos de produção, armazenamento, transporte, comércio, consumo e descarte.

Com o crescimento das pressões humanas sobre o meio ambiente e a interferência direta na qualidade de vida dos povos, sobretudo a partir da década de 50 deste século, cresce o chamado "movimento ambientalista".

Como conseqüência da crescente legitimação da temática ambiental, diferentes segmentos da sociedade, incorporam e reelaboram, em diferentes ritmos e graus, o ideário ambientalista. De acordo com Viola & Leis (1992), este processo de "ecologização da sociedade" é uma tendência histórica da sociedade ocidental e nenhum país estará imune a ele, embora a evolução da consciência ambiental dependa das particularidades de cada país. Dentro deste processo, até a década de 50 as preocupações ambientais estavam restritas aos meios científicos, tanto em sua vertente preservacionista quanto, mais tarde, em sua vertente conservacionista2. As preocupações estavam, portanto, voltadas para a preservação das espécies e do meio natural. Enquanto isso, o questionamento da ordem social e política estava por conta apenas dos movimentos socialistas e operários. A partir da década de 60 emergem, com a contra-cultura, uma série de movimentos sociais trazendo, não só a crítica ao modelo dominante de produção, mas também ao modo de vida. Surgem, então, os movimentos das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos pacifistas e, entre eles, os movimentos ecológicos3.

Novos segmentos vão, aos poucos, inserindo-se no movimento ecológico, motivados por diferentes fatores, conforme afirma Leis (1992) que identifica, em cada década, um novo segmento aderindo às preocupações ambientais. Assim, se na década de 50 estas preocupações estavam restritas aos meios científicos e na década de 60 surgem os movimentos sociais, através das ONG's, a partir da década de 70 entra em cena o ecologismo dos políticos. Mais recentemente, a partir da década de 80, principia o ecologismo dos setores econômicos, e, na década de 90, a partir de um novo contexto econômico internacional e da globalização da economia, surge o ambientalismo empresarial, com sua inserção já sedimentada.

A entrada de diferentes setores modifica profundamente a "cara" dos movimentos ambientalistas que ganham, a partir de então, a definição de um movimento "complexo-multissetorial" (Viola & Leis, 1992). O crescimento e institucionalização da chamada "comunidade ambiental" é notório. A dinâmica de ambientalização da sociedade brasileira mostra, de acordo com pesquisa realizada por Crespo et al. (1998), a existência de três níveis: um núcleo orgânico, formado pela militância explícita, um setor periférico com acentuada sensibilização e, finalmente, um setor difuso e afastado dos debates e práticas dos grupos ambientalistas. Esta mudança de rumo do movimento ecológico acaba por trazer novos embates entre os diversos setores agora "ambientalizados". A aparente homogeneização contida no adjetivo "ambiental" pode nos fazer crer que este é um movimento único, buscando os mesmos fins e utilizando, para tanto, os mesmos meios4. Um movimento social com a amplitude do movimento ecológico5, entretanto, é, necessariamente heterogêneo e abrange diversidades ideológicas, pois surge de diferentes lugares, com diferentes ideologias a orientar seus discursos e suas práticas.

O setor empresarial aparece, então, como ambientalista somente a partir da década de 80, quando começa a abandonar sua imagem de vilão da ecologia e a adotar uma imagem de "amigo do verde" (Layrargues, 1998). Até então, preservar o meio ambiente significava, para o empresariado, investimentos financeiros sem retorno, reduzindo a competitividade da empresa frente ao mercado. Meio ambiente e desenvolvimento apareciam como realidades antagônicas, e se acreditava que para haver crescimento econômico, deveria haver, necessariamente, poluição e esgotamento de recursos naturais. Ecologia era entendida como um freio ao crescimento e só deveria ser levada em conta quando o país atingisse o pleno desenvolvimento econômico. Vale lembrar que o Brasil, ao não contabilizar os custos ambientais no processo produtivo, ao contrário de outros países que já na década de 60 e 70 possuíam pesadas restrições ambientais, acabou possuindo vantagens competitivas no mercado internacional. Assim, além das vantagens da mão-de-obra barata e dos subsídios aos investimentos estrangeiros, o país tinha como política a permissividade em exaurir os recursos naturais e, ao mesmo tempo, poluir o meio ambiente. Houve, com isto, uma migração de indústrias poluidoras dos países do norte para os países do sul, na busca destes "benefícios" competitivos6.

Na década de 80, porém, em grande parte como resultado do crescimento das pressões populares e governamentais, se inicia o que Layrargues (1998) chama de "apropriação ideológica", em que o setor empresarial se apropria de parte do ideário ecológico, se auto-intitulando o principal segmento capaz de levar adiante o projeto de uma sociedade ambientalmente sustentável.

Assim, enquanto os paradigmas vigentes nas sociedades industrializadas de consumo são apontados, pelos grupos ambientalistas originais, como a causa primeira da problemática ambiental7, o setor empresarial postula exatamente o contrário, ou seja, que o mercado e o capital serão capazes de resolver todos os constrangimentos ambientais, dentro do atual e hegemônico modelo de desenvolvimento econômico, sobretudo através da competitividade empresarial que estimularia o uso de tecnologias limpas, o desenvolvimento de produtos "verdes" e "ecologicamente corretos" e a visão de meio ambiente como nova possibilidade de negócio. A conscientização ecológica e a conseqüente pressão exercida pelos consumidores que buscam produtos "verdes" também são apontadas como exemplos de auto-regulação do mercado, assumindo, quase que "naturalmente", os constrangimentos ambientais8. Paradoxalmente, se para alguns a civilização industrial tecnológica de consumo é apontada como determinante da crise ambiental, para outros, esta é justamente a solução9.

O presente artigo pretende destacar e relacionar dois importantes debates que surgiram na atualidade dentro dos meios ambientalizados: o embate entre a redução ou modificação do consumo e a possibilidade de uma democracia ambiental.

2. REDUÇÃO OU MODIFICAÇÃO DO CONSUMO?

O discurso ecológico original10, iniciado com os movimentos de contestação do estilo de vida industrial e urbano, identifica a ideologia do consumismo, base do modelo capitalista, como um dos pilares da atual crise ambiental. Assim, ultrapassadas as correntes preservacionistas e conservacionistas do movimento ecológico original, o chamado socioambientalismo rompe radicalmente com as proposições anteriores e aponta os insustentáveis padrões de produção e consumo como um dos temas mais recorrentes na análise da situação ambiental. A preocupação com a escassez e o esgotamento dos recursos naturais passa a substituir a preocupação com a extinção de determinadas espécies representantes da vida selvagem, inaugurando uma nova fase no movimento ambientalista. Esta mudança de rumo aponta para a consideração do longo prazo e dos direitos das gerações futuras, contrariando o imediatismo ditado pelo sistema de produção.

Assim, diante da perspectiva do esgotamento dos recursos naturais surge a necessidade de estabelecer limites à ação humana, parecendo representar, inicialmente, um freio ao sistema de produção. O relatório publicado pelo Clube de Roma, em 1972, por exemplo, apontava a necessidade de limitação dos padrões de crescimento econômico sob pena de uma catástrofe mundial11.

O discurso ecológico original incorpora, em seus debates e proposições, a necessidade tanto de mudança dos padrões de produção quanto de redução do consumo. Documentos recentemente produzidos, como o Tratado sobre Consumo e Estilo de Vida (Fórum Global, 1992) e a Agenda 21 (Nações Unidas, 1997), ressaltam e exemplificam estas proposições:

Os mais sérios problemas globais de desenvolvimento e meio ambiente que o mundo enfrenta decorrem de uma ordem econômica mundial caracterizada pela produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos recursos naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes entre as nações, bem como dentro delas. Não mais podemos tolerar tal situação, que nos levou além dos limites da capacidade de sustento da Terra, e na qual vinte por cento das pessoas consomem oitenta por cento dos recursos mundiais. Devemos lutar para equilibrar a sustentabilidade ecológica eqüitativamente, entre os países e dentro dos mesmos. (...) O sistema econômico deve ser estruturado à parte da produção e consumo de bens supérfluos para minorias, para concentrar-se na produção de bens que atendam às necessidades humanas básicas para todas as pessoas.(...) O consumo e produção globais devem ser freados para se ajustarem à capacidade de recuperação da Terra. (...) A redução do consumo deve ter prioridade sobre a reutilização e reciclagem de produtos. (Fórum Global,1992 – grifos meus) Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos países industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios. (...) É preciso adotar medidas que atendam aos seguintes objetivos amplos: (a) promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam às necessidades básicas da humanidade; (b) desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo e da forma de se implementar padrões de consumo mais sustentáveis. (Nações Unidas, 1997, p.39-40 – grifos meus)

Os padrões de produção devem ser modificados, de um lado, através da substituição de matérias primas e matrizes energéticas e, de outro, combatendo o desperdício, a obsolescência planejada dos produtos e sua descartabilidade. Já os padrões de consumo, segundo o discurso ecológico original, devem ser drasticamente reduzidos, estabelecendo-se, não apenas um piso mas também um teto de consumo, especialmente referindo-se ao consumo ostentatório das sociedades afluentes existentes tanto nos países de primeiro, quanto nos de terceiro mundo.

Vilão e culpado de todos os males, o consumo, ou melhor, o consumismo, passa a ser denunciado, ao mesmo tempo em que se recupera as críticas a seu caráter alienante e artificial que alimenta a indústria e não as necessidades dos seres humanos12.

Na contramão da racionalidade ecológica, contudo, a racionalidade econômica nega a necessidade da imposição de limites, afirmando, até mesmo, que a percepção da possibilidade de esgotamento dos recursos naturais pode funcionar como uma mola propulsora do desenvolvimento tecnológico, oferecendo soluções através da substituição de matérias primas e matrizes energéticas (Paehlke, 1989). O Relatório Brundtland (CMMAD, 1978), por exemplo, ao enfatizar a poluição da pobreza, propõe elevar o piso de consumo da população mundial, mas omite a poluição da riqueza e a necessidade de se estabelecer também um teto de consumo. Neste sentido, não haveria necessidade do norte participar do esforço de redução do consumo, tornando o sul responsável pela poluição (por causa da pobreza) e, conseqüentemente, pelo ônus da sua resolução (Layrargues, 1997; McCormick, 1992; Herculano, 1992).

Este debate entre os ambientalistas dos diferentes setores apresenta contradições. O que se pretende, no ambientalismo original, é a redução do consumo, particularmente o consumo ostentatório das elites dominantes, tanto dos países do norte quanto dos países do sul. Mas o discurso ecológico oficial, carregado pela ideologia da racionalidade econômica e ameaçado pela proposta de redução do consumo, passa a substituí-la pela modificação dos padrões de consumo, através da invenção semântica do "consumidor verde". Trata-se, nesta perspectiva, não de consumir menos, mas de consumir diferente. Deixando de enfocar aspectos como a descartabilidade, a obsolescência planejada e a redução do consumo, enfatiza a reciclagem, o uso de tecnologias limpas, a redução do desperdício e o incremento de um mercado consumidor verde.

Assim, o binômio tecnologia limpa / consumidor verde representa a forma de enfrentamento do problema ambiental pelo ecocapitalismo13, dando continuidade à racionalidade econômica e à ideologia dominante da sociedade industrial de consumo. O consumo verde, ao contrário de promover um enfrentamento da questão da esgotabilidade dos recursos naturais, atende à continuidade dos privilégios da sociedade afluente.

Com esta nova argumentação, o apelo do ambientalismo original para reduzir os padrões de consumo vem se transformando numa falsa questão, seja (a) pelo progresso tecnológico, seja (b) pela modificação do consumo através do "consumo verde" ou, ainda, (c) pelas novas formas de exercício da cidadania através do consumo.

Com o crescente progresso tecnológico as matrizes energéticas e de matéria prima vêm sendo modificadas de tal forma que a preocupação com a finitude de certos recursos naturais deixaria, num futuro breve, de limitar o sistema de produção. O uso de tecnologias limpas e a implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) ocasionaria uma espécie de modernização ecológica nas indústrias14. Neste sentido a sociedade poderia prescindir da necessidade de reduzir os atuais padrões de consumo, apontada pelos ambientalistas.

O uso de tecnologias limpas e a modernização ecológica nas indústrias dependeria, de acordo com a OECD (1997) de três fatores: lideranças empresariais para disseminar esta nova perspectiva, políticas governamentais para acelerá-la e, finalmente o que mais nos interessa neste momento, ou seja, a consolidação de um "consumidor verde" para exercer pressões sobre o sistema de produção.

Assim, as pressões exercidas por um suposto "consumidor verde", de acordo com o discurso ecológico oficial, também anulariam a necessidade da redução do consumo. O consumidor verde pode ser definido como aquele que, além da variável qualidade/preço, inclui, em seu "poder" de escolha, a variável ambiental. Ele seria a mola propulsora para o uso e desenvolvimento de tecnologias limpas, utilizadas apenas caso houvesse exigências do consumidor, através das preferências na hora da compra e dos boicotes aos produtos que não forem "amigos do verde". Neste sentido, o consumidor é responsabilizado, através de sua atitude individual, pelas mudanças nas matrizes energéticas e tecnológicas do sistema de produção.

Complementando esta lógica, vale destacar que o consumo tem sido visto como o lugar, por excelência, de exercício da cidadania. Canclini (1996) ressalta que as mudanças na maneira de consumir vêm alterando as formas de se exercer a cidadania, surgindo uma cumplicidade entre consumo e cidadania. Vale lembrar os códigos de defesa do consumidor e as associações de consumidores de determinados produtos (Rios et al., 1994). Assim, consumir torna-se sinônimo de participar, uma vez que as pessoas atualmente não mais se organizam em torno de processos produtivos ou políticos, mas, ao contrário, em torno de consumos simbólicos; manifestam-se não mais apenas como comunidades lingüísticas ou políticas, mas principalmente como "conjunto de pessoas que compartilham gosto e pactos de leitura em relação a certos bens (gastronômicos, desportivos, musicais), os quais lhes fornecem identidades comuns" (Canclini,1996, p.261). O consumo assume uma conotação de dever e obrigação cívica, em que a cidadania passa a ser exercitada através dele. Do consumidor são exigidos papéis cada vez mais variados: da obrigação cívica à participação política através desta nova forma de exercício dos seus direitos e deveres da cidadania.

Vale acrescentar, ainda, que o discurso ambientalista de redução do consumo pode ser analisado como uma meganarrativa, distante da realidade cotidiana onde nem os próprios "ambientalistas" conseguem reduzir, ou mesmo modificar, suas formas pessoais de consumir15. Confirmando esta hipótese, Baudrillard (1995) acredita que o anticonsumo pode ser, no fundo, metaconsumo. Não se pode apresentar o indivíduo como pura vítima passiva do sistema, mas, ao contrário, observar a lógica social da diferenciação e os processos distintivos de classe, fundamentais na dinâmica da estrutura social. Dentro desta lógica, o consumo funda-se, não em função da satisfação de necessidades individuais e harmoniosas, mas como atividade social, já que as necessidades se organizam segundo uma procura social objetiva por sinais e por diferenciação. Neste caso, o mesmo sistema de diferenciação social através do consumo pode assumir a forma de recusa ao consumo e à ostentação. Este é o caso de uma pessoa rica que abre mão do consumo perdulário, pois conserva o privilégio de passar da ostentação para a discrição, ou seja, de modificar a forma de consumir ou modificar os padrões de consumo. O consumo "ecologicamente correto" parece não ser para todos16.

Além disso, os apelos de redução do consumo, parecem desconsiderá-lo enquanto fenômeno social: os objetos consumidos funcionam como signo que distingue ou filia o indivíduo a um determinado grupo social, através de um processo de diferenciação estatutária que o insere na sociedade (Baudrillard, 1995). Assim, o desejo de diferenciação e a obediência a um código são vividos pelo consumidor como liberdade e direito de escolha. A única escolha, no entanto, já se encontra formalizada em função dos bens disponíveis e oferecidos pelo mercado. A escolha consiste em variar os bens em função da sua posição na escala hierárquica, aceitando o estilo de vida de determinada sociedade e desmentindo a teoria da autonomia e soberania do consumidor.

Ainda segundo Baudrillard (1995), os objetos consumidos não estão ligados a uma função ou necessidade definida. Se a satisfação fosse a satisfação da necessidade "de tal objeto", esta estaria em contínua mobilidade. A necessidade não é, no entanto, a necessidade "de tal objeto", mas a necessidade de diferença. Nunca existirá, portanto, satisfação completa ou definição da necessidade, induzindo no consumidor uma "insatisfação definitiva". Da mesma forma que o significado do diferencial se move, ou se modifica, também a necessidade e o desejo se moverão. O que está em jogo não é, portanto, a lógica individual da satisfação das necessidades, mas a lógica individual da diferenciação. A utilidade dos bens consumidos está ligada, portanto, à diferenciação social, que faz surgir, conforme Dupuy (1980), uma espécie de geração "espontânea" de demanda: considerando que os bens distinguem e denotam um status social e uma posição na sociedade, o valor e a possibilidade distintiva dos bens diminui quando cresce o número de pessoas que os possui ou os consome. Quando determinado bem está ao alcance de todos perde, portanto, seu valor significativo, fazendo com que novos bens passem a ser eleitos como possibilidade de distinção. A divulgação e o marketing ganham, com isso, grande importância, fazendo surgir inovações nos objetos para que, novamente, a distância social seja restituída.

O campo do consumo é, então, um campo social estruturado em que as necessidades e os bens transitam da elite para as outras categorias sociais. Assim, as necessidades e sua possibilidade de suprimento estão sempre atrasadas nas classes médias e inferiores com relação às classes superiores, dentro de uma espécie de segregação. Não existe, portanto, uma "massa de consumidores" e as necessidades não emergem espontaneamente, mas sim a partir de uma "seleção" das elites que buscam a distância e a diferenciação através dos signos do consumo.

Numa sociedade de concentração industrial urbana, a exigência de diferenciação cresce mais depressa que a produtividade material. Assim, se a concentração industrial gera o aumento de bens, a concentração urbana gera o aumento das necessidades. As aspirações movidas pela necessidade de diferenciação e de estatuto, tendem a adiantar-se em relação aos bens disponíveis e às possibilidades concretas de consumo. O sistema industrial, se por um lado pressupõe o crescimento das necessidades, por outro pressupõe o excedente das necessidades17, isto é, o sistema gera um desequilíbrio entre bens e necessidades e tende a um aumento vertiginoso deste desequilíbrio. Este aumento, por sua vez, produz um estado de crise latente. Concentração industrial e concentração urbana são fatos contemporâneos, mas a concentração urbana e, por conseqüência, a necessidade de diferenciação andam mais rápido que a produção, causando uma espécie de alienação urbana. Assim, enquanto a produção de bens segue o ritmo da produtividade industrial, a produção de necessidades segue a lógica da diferenciação social.

O consumo, conforme já foi dito, passa a ser encarado não como um direito ou um prazer, mas como um dever do cidadão. A tradicional obrigação de trabalho e produção vem sendo substituída pela obrigação de felicidade, de prazer e de consumo18. O indivíduo passa a servir ao sistema industrial, não mais exclusivamente pelo fornecimento de sua força de trabalho mas, principalmente, pela capacidade de consumo dos bens produzidos, numa espécie de responsabilidade social de consumir. O consumo assume uma conotação de obrigação cívica e o indivíduo, além de ser treinado para tal atividade19, é transformado em uma espécie de "consumidor universal" (Canclini, 1996).

O consumo funciona como um miraculoso dispositivo de objetos e sinais para atrair a felicidade, referência absoluta que equivale, talvez, à própria salvação. Baudrillard (1995) acredita que o mito da felicidade tornou-se mensurável (através do bem-estar dos objetos, do conforto e dos signos). Paralelamente, se exclui da sociedade de consumo a felicidade enquanto fruição total e interior, que não precisa de signos e provas para manifestá-la. Assim, a felicidade se distancia da "festa coletiva", fundando-se nos princípios individualistas garantidos pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que reconhece, para cada indivíduo, o direito à "felicidade". Mas se as condutas do consumo são, aparentemente, orientadas e dirigidas para o prazer, correspondem, na realidade, a um desvio do desejo, já que o consumo não acontece em função do prazer, mas sim em função da produção. Esta função não é individual, mas coletiva e imediata. Contrariando a hipótese de que o consumo se define como voltado exclusivamente ao prazer, Baudrillard diz que o sistema de consumo se estabelece a partir da recusa da fruição, ou recusa do prazer, que deixa de aparecer como finalidade, como autônomo.

A crítica ecológica ao modo de produção da sociedade industrial identifica, no progresso tecnológico, a exacerbação da heteronomia, em detrimento da autonomia20, base para a constituição da sociedade democrática. La Rovere (1992) destaca que o progresso tecnológico permite o desenvolvimento das sociedades humanas, mas por uma lado, o excessivo uso e a mitificação da tecnologia traria um resultado oposto e contra-producente. O autor ressalta a necessidade do estabelecimento de critérios de controle e participação democrática da sociedade nas opções tecnológicas. Além disso, o progresso tecnológico, ao prometer a eficiência energética, acaba por escamotear a necessidade de mudanças nos paradigmas da sociedade industrial, pautada na desigualdade social, no consumismo e no desperdício.

O "consumidor verde" tem sido apontado pelo ambientalismo empresarial brasileiro21 como uma importante forma de regulação do mercado, muito embora diversos autores (Dadd & Carothers, 1991; Cairncross, 1992; Maimom, 1995) chamam a atenção para o fato de ser este um mecanismo fraco e volúvel. Vale lembrar que, no caso brasileiro, apenas 20% da população é de fato consumidora, tendo apenas um papel marginal que não substitui a necessária regulação estatal. Pesquisa realizada em 1992, ano em que a preocupação ambiental no país aumentou consideravelmente por causa da realização da UNCED, apontou que apenas 18% dos brasileiros considerariam incorporar, em suas compras, o componente ambiental, contra 50% de alemães que se manifestaram desta maneira (Viladarga, 1992).

Assim, contrariando a meganarrativa dos ambientalistas originais que propõem a redução do consumo, surge a proposta de modificação dos padrões de consumo, colocando este como o lugar, por excelência, de exercício da cidadania e da pressão por mudanças tecnológicas.

3. DEMOCRACIA AMBIENTAL E CIDADANIA: ÉTICA INDIVIDUAL OU ÉTICA COLETIVA?

A sociedade, vista como uma rede de relações entre as pessoas, suas funções e suas instituições, faz emergir responsabilidades e respectividades, ou seja, aquilo que "diz respeito a uns e a outros" (Boff, 1996, p.83). Ligada ao mundo das responsabilidades e das excelências, a ética tem nítido caráter utópico, já que as práticas são boas ou más na medida em que se aproximam ou se afastam do utópico. Canclini (1996) acredita que a utopia faz parte da vida social enquanto "dispusermos de uma certa emancipação, ou ao menos tivermos vontade de que a emancipação e a renovação do real continuem fazendo parte da vida social" (p.263-264). Neste sentido, dentre as diversas formas de organização da sociedade, a democracia tem sido vista como a que mais se aproxima do utópico, pois o que interessa a todos deve poder ser pensado, discutido e decidido por todos, construindo-se a noção de bem comum.

Dentre as várias formas históricas de exercício da democracia, podemos destacar a democracia direta, a representativa, a participativa22 e, finalmente, a democracia como valor universal. Esta última resulta do exercício bem articulado da democracia participativa, promovendo uma cultura democrática, valor a ser vivido, não só na política, mas no cotidiano. Respeita o valor singular de cada pessoa, impedindo que as diferenças naturais e históricas sejam tratadas como desigualdades (Boff, 1996).

A partir da composição dos movimentos ecológicos com outros movimentos sociais, a questão ambiental ultrapassa o preservacionismo e o conservacionismo, englobando aspectos da qualidade de vida. Ao se definir meio ambiente como bens da natureza não passíveis de apropriação privada e de cujo acesso ninguém pode ser excluído (ar, silêncio, água potável, alimento, espaço etc.), já que deles depende a vida das populações e dos diversos grupos sociais, estes bens passam a ser objeto de diferentes interesses e disputas, resultando em diferentes propostas de uso, muitas vezes conflitantes. Os movimentos pacifistas e anti-nucleares da década de 60 já ressaltavam que o acesso justo de todas as nações aos recursos naturais é uma condição indispensável para se atingir a paz permanente, fazendo surgir a noção de democracia ambiental (Herculano, 1992; Morrison, 1995).

Meio ambiente passa, então, a ser compreendido e constituído como problema social e os problemas ambientais, como conflitos socioambientais (Fucks, 1992; Carvalho & Scotto, 1995). Diferentes setores do movimento ambientalista se vêem articulados com as lutas democráticas, buscando a implantação de um modelo de cidadania que inclua, além dos direitos políticos, os direitos a um meio ambiente saudável e equilibrado.

Baudrillard (1995) ressalta que o "direito ao meio ambiente" – novidade nos direitos "conquistados" – assim como o direito à saúde, ao espaço, ao lazer etc. deve ser compreendido a partir do momento em que já não há mais saúde, espaço e lazer para todos. Desta forma, surgem novos direitos sociais que, como "slogans", servem como sinais distintivos e de privilégios de classe: "o direito ao ar puro significa a perda do ar puro, sua transformação em mercadoria e sua redistribuição de forma desigual" (p.57).

Ao se enfatizar a dimensão ambiental das lutas pela democracia e pela cidadania, vislumbram-se as possibilidades e as dificuldades de articulação entre elas. Carvalho & Scotto (1995) ressaltam que estas articulações não se dão sem o surgimento de conflitos. De um lado, as questões ligadas à preservação ambiental podem ser vistas como limitadoras dos ritmos de desenvolvimento e da geração de empregos, enquanto que, por outro lado, as lutas ambientais tendem a ser fragmentadas e dissociadas das lutas sociais.

Assim, a disputa pelo acesso, pelo controle e pela gestão dos recursos naturais de forma democrática caracteriza-se na luta pela implantação de um modelo de Ecodemocracia (Carvalho e Scotto, 1995), de democracia ecológico-social (Boff, 1996) ou de democracia ecológica (Morrison, 1995), utilizadas neste trabalho como sinônimos ou variações subjacentes ao mesmo conceito.

Para Boff (1996), uma democracia ecológico-social é uma nova forma de vivência democrática, tanto como valor universal, quanto como forma de organização da sociedade. Pressupõe a superação do antropocentrismo, bastante arraigado na cultura ocidental, reforçado que foi pela interpretação hegemônica da tradição religiosa judaico-cristã. Pressupõe a superação da concepção dominante de ciência desenvolvida na Revolução Científica por Descartes, Galileu, Newton e Bacon, na qual saber é poder e poder é dominar, colocando todos os seres à disposição do uso humano.

Ainda para Boff (1996), uma democracia ecológico-social aceita em seu seio, como cidadãos, não apenas os seres humanos, mas todos os seres vivos:

Todos os seres são também cidadãos, sujeitos de direitos, de serem respeitados como outros em sua alteridade, em sua existência, em sua vida, em sua comunhão conosco e com o nosso destino e em seu futuro, que pode até independer de nós. (p.90)

A reflexão ecológica tem ajudado a entender que o ser humano é parte da natureza e da biosfera, ressaltando valores como a alteridade, a reciprocidade e a complementaridade. Assim, através da alteridade, é possível reconhecer o outro com um valor em si mesmo e que, se existe, deve continuar a existir, reforçando a responsabilidade ética do ser humano perante os outros homens e as outras espécies. Através da reciprocidade e complementaridade, fica claro que o equilíbrio ecológico pressupõe que os seres são recíprocos e se complementam, pois nada nem ninguém se basta a si mesmo. Necessitamo-nos mutuamente.

Uma democracia ecológica, portanto, relaciona a injustiça social com uma espécie de "injustiça ecológica", pois o ser humano mais agredido é o pobre; seu acesso aos bens naturais indispensáveis à vida, vem sendo distorcido pelas relações não democráticas de distribuição, controle e gestão destes bens. Entende que deve ser estabelecida uma solidariedade generacional ou diacrônica com as futuras gerações, além da solidariedade sincrônica com as gerações presentes23.

De forma análoga, Morrison (1995) também acredita na possibilidade de um caminho ecológico e democrático, valorizando as escolhas individuais e sociais cotidianas para, inicialmente, limitar e, finalmente, transformar a civilização industrial numa civilização ecológica.

Mas a busca de uma democracia ecológica pressupõe, antes de tudo, a recuperação do cidadão, entendido aqui como aquele que tem consciência de pertencer à coletividade e de possuir identidade (individual e coletiva) e direitos civis, políticos e sociais. Pressupõe a busca por um modelo cívico autônomo, não subordinado ao modelo econômico, partindo do cidadão para a economia e não o contrário (Santos, 1998; Cavalcanti & Cavalcanti, 1994).

Santos (1998) ressalta, no entanto, que o crescimento econômico brasileiro, baseado na racionalidade econômica, mantém o modelo político e cívico subjugado ao modelo econômico. Assim, desenvolveu-se um conceito de cidadania distante da consciência de pertencimento em relação à coletividade e, através da valorização do consumo, foi estabelecida uma ética individual que aponta para uma sociedade tecnocrática. Em lugar do cidadão formou-se o consumidor, que aceita ser chamado de usuário, num universo em que alguns são mais cidadãos que outros, dentro de um modelo de cidadania desigual e estratificado. Às massas foi prometido o acesso ao consumo, mas não o acesso e o direito à cidadania.

É comum se encontrar na defesa do acesso ao consumo dos mesmos bens materiais e culturais e mesmos serviços uma forma corretiva para a redução das desigualdades sociais. A ideologia do consumo nos leva a acreditar que o acesso aos mesmos bens nos leva a uma igualdade total24. Esta igualdade, porém, é formal e abstrata, e apenas perante àquele objeto consumido.

Baudrillard (1995) traça um paralelo das sociedades consumidoras ocidentais com o pensamento mágico, afinal, é o pensamento mágico, a mentalidade primitiva25 e a mentalidade sensível ao miraculoso que regem o consumo nas sociedades modernas. Trata-se da crença na omnipotência dos signos, ou seja, a opulência não passa da acumulação dos signos da felicidade. Para o autor, os benefícios do consumo são vividos, na vida cotidiana, como milagre e não como fruto do trabalho e do processo produtivo. Os bens de consumo apresentam-se como bens apreendidos e não como produtos trabalhados, e a profusão de bens apresenta-se como uma graça da natureza, como maná ou benefício dos céus, já que não se revela enquanto produzida e conquistada através de um esforço histórico e social. O jogo é sempre o de ultrapassar as contradições inerentes ao sistema: através da intensificação do volume dos bens surge a ilusão de uma igualização automática através do consumo e do bem-estar para todos.

Assim, o sistema capitalista controla, não só a produção, mas a procura pelo consumo; não só o preço, mas o que se procura por tal preço. Rouba-se, assim, do consumidor o poder de decisão, transferindo-o para a empresa. A adaptação do comportamento do indivíduo às necessidades do produtor é uma característica lógica do sistema, numa espécie de inversão e total ditadura da ordem de produção, ao contrário do que prega o sistema econômico, para o qual é o indivíduo que exerce o poder. É a empresa que controla o comportamento do mercado, dirigindo e configurando as atitudes sociais e as necessidades; impõe os próprios objetivos como objetivos sociais. A liberdade e a soberania do consumidor não passam de mistificação e esta mística é o ponto culminante de uma civilização que se diz "da liberdade", mas que acaba causando danos coletivos como lixo, poluição, degradação socioambiental (Polanyi, 1980) e "desculturação". Os espaços "sagrados" da liberdade individual - lojas e cabines eleitorais - são, também, as formas de manutenção do sistema (Baudrillard, 1995).

Contrariando estas posições, Canclini (1996) ressalta que a partir da degradação da política e da descrença nas instituições sociais, surgem, fortalecidos, outros modos de participação e de identidade cultural. Ressalta que as mudanças tecnológicas e comunicacionais fizeram irromper as massas populares, alterando profundamente a maneira de consumir e as possibilidades e as formas de exercício da cidadania. Para ele, as identidades sociais, aos poucos, passam a se definir pelo consumo, ou seja, dependem daquilo que se possui ou daquilo que se pode chegar a possuir, além da intenção em desfrutar de uma certa "qualidade de vida".

Neste sentido, Canclini (1996) propõe um entendimento do conceito de cidadania não apenas ligada à estrutura formal da sociedade, como os direitos reconhecidos pelos aparelhos estatais para os que nasceram num mesmo território, mas incluindo as práticas sociais e culturais que dão sentido de pertencimento e identidade social, como a atividade de consumo. Propõe, portanto, repensar a cidadania, abrangendo as práticas não consagradas pela ordem jurídica, o papel das subjetividades e, ao mesmo tempo, "entender o lugar relativo destas práticas dentro da ordem democrática" (p.23). Ao propor uma conexão entre cidadania e consumo, o autor percebe este último como atividade social e como uma das dimensões da cidadania, opondo-se à fragmentação desta em cultural, racial, ecológica, de gênero etc.

Desta forma, Canclini (1996) traz para o debate a hipótese de que, ao selecionarmos e nos apropriarmos dos bens (políticos ou de consumo), seguimos uma definição do que consideramos publicamente valioso, bem como os modos de integração e diferenciação social que buscamos. Propõem uma compreensão do consumo e da cidadania de forma conjunta e inseparável, tomados como processos culturais e encarando-os como práticas sociais que dão sentido de pertencimento, evitando a redução do conceito de cidadania apenas à participação política26. Canclini (1996) procura reconhecer que, ao se consumir também se pensa, isto é, se escolhe e se reelabora o sentido social, constituindo-se numa nova maneira de ser cidadão. Da mesma forma, Eigenheer (1993) propõe que se busque, em cada consumidor, o verdadeiro cidadão, no sentido original do termo, ou seja, aquele comprometido com preocupações coletivas mesmo em seus espaços privados de circulação.

Mas sendo assim, porque o acesso ao consumo não vem acompanhado de um exercício global e pleno da cidadania?

É preciso analisar, cuidadosamente, como a apropriação de bens e signos se relaciona com as formas que habitualmente chamamos de participação política. O próprio Canclini (1996) reconhece que na distribuição desigual do acesso aos bens de consumo se mantém a contradição, já que o direito de decidir como são produzidos, distribuídos e utilizados estes bens se restringe, novamente, às elites. Mas haveria uma cumplicidade entre consumo e cidadania, na medida em que os conflitos entre as classes sociais se mantém através da distribuição e apropriação de bens.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os problemas que se colocam são muitos. Pode-se perguntar, inicialmente, sobre a possibilidade do progresso tecnológico dar conta da resolução do problema do esgotamento dos recursos naturais, sem o necessário controle democrático da sociedade sobre as opções tecnológicas. Por outro lado, é possível indagar sobre a existência e atuação de um "consumidor verde" no Brasil e sua possibilidade de regulação do mercado, forçando a adequação ecológica do sistema de produção. Em caso negativo, deveríamos resgatar e fortalecer o papel do Estado de fiscalizador das atividades produtivas e controlador do uso dos recursos naturais, contrariando a hegemonia da tendência neoliberal do Estado mínimo.

Como questão central, no entanto, destacamos a possibilidade ou não de exercício da cidadania através do consumo. Estamos, ao consumir, constituindo uma nova maneira de ser cidadãos ou, ao contrário, o consumo substitui e impede o desenvolvimento de uma cidadania plena? Compreender melhor os vínculos entre consumo e cidadania pode ser um bom começo. Ficam esboçadas, ainda, duas últimas questões: qual o conceito de cidadania pretendida pelo movimento ambientalista original e pode esta ser alcançada através da ética individual do consumo, seja ele "verde" ou não?

A partir destas reflexões, podemos suspeitar que tanto o estímulo ao "consumo verde" (como o lugar de exercício da cidadania e pressão por mudanças tecnológicas), quanto as suas críticas, responsabilizam exclusivamente o consumidor, enquanto atenuam a responsabilização do sistema de produção e reforçam a ética individual em detrimento da ética coletiva.

Neste sentido, tanto o consumo quanto sua denúncia fazem parte da sociedade moderna e tanto a exaltação do consumo, quanto a lamentação de que as necessidades são alienadas e artificiais, alimentam a mesma cultura de massas. A possibilidade de uma cidadania ambiental está associada ao desenvolvimento de uma ética coletiva, substituindo a ética individual hegemônica.

Como conclusão inicial desta análise, podemos dizer que o consumo só seria verdadeiramente "verde" quando realmente ultrapassasse a dimensão individualista e estimulasse e permitisse uma interferência democrática nas políticas produtivas e não apenas nas adequações tecnológicas das indústrias.

ABSTRACT

As a result of industrialization, a greater concentration of population in urban areas and incentives to consume - all basic characteristics of modern industrial society – social and environmental problems have become more severe. The process of "greening society" is taken as a starting point to show that different segments of society become involved in the environmental movement for different reasons, ideological backgrounds and initial starting points, and that they base their theory and practice on different ideologies. As a result of the "complex and multi-sectorial" composition of the present environmental movement, the original aim of environmentalism to reduce our levels of consumption has changed into a false problem, possibly a result of technological progress or the change in consumption patterns resulting from "green consumerism" or by the new ways of exercising citizenship via consumption. The present article aims to differentiate and relate two important debates that have come to light recently in environmental circles: (1) o clash between reduction and change in consumption patterns and (2) the possibility of environmental citizenship. We discuss the possibility of becoming real citizenship via consumption, whether this is "green" or not. The preliminary conclusion of this analysis is that consumption will only truly be "greened" when society is permitted to interfere in productive policy in a democratic manner.

 

KEYWORDS: Environment, Ecological democracy, Citzenship, Green Consumer, Production and consumption REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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1 Cavalcanti & Cavalcanti (1994) lembram que, embora a criação de mitos faça parte da história da Humanidade, sendo um dos seus aspectos mais fascinantes, o mito também pode ser tratado como uma dissimulação ideológica, acobertando interesses de grupos sociais. Neste sentido, torna-se fundamental analisar os mitos da sociedade contemporânea, como o mito do mercado que o associa, por exemplo, à idéia de liberdade, como se liberalismo econômico fosse sinônimo de liberalismo político.

 

2 Enquanto o movimento preservacionista preocupava-se em preservar espécies em perigos de extinção, o movimento conservacionista acrescenta a preocupação quanto à conservação dos habitats dessas espécies ameaçadas, reforçando a visão de utilidade destes ecossistemas para as populações humanas.

3 Cf. Gonçalves, 1989.

4 Cf. Carvalho, 1991; Layrargues, 1998.

5 Ainda existem controvérsias com relação à denominação de movimento ecológico ou ambiental. A exemplo de Crespo & Leitão (1993), adotaremos, neste trabalho, uma ou outra denominação, sem levar em conta as conotações ideológicas que envolvem tal discussão.

6 Cf. Ferreira & Ferreira, 1992; Torres, 1982; Layrargues, 1998.

7 A esse respeito, Cf. o "Tratado Sobre Consumo e Estilo de Vida" aprovado durante o Fórum Global (1992). Cf., ainda, o Capítulo IV da Agenda 21 (Nações Unidas, 1997).

8 Cf. Souza (1993), Tankersley (1994), Fortes (1992), Donaire (1994) e Maimon (1992).

9 Cf. Layrargues, 1998.

10 O discurso ecológico original aqui definido opõe-se a um discurso oficial, produzido tanto pelos meios governamentais quanto, mais recentemente, pelos grupos empresariais que se apropriaram da ideologia ambientalista, atuando no mesmo sentido do ambientalismo governamental. Cf. Carvalho (1991) e Layrargues (1998).

11 Cf. Meadows, 1978. De acordo com a análise de Herculano (1992), o relatório identificava, como raiz da crise ambiental, o crescimento econômico exponencial em contradição com um sistema ambiental finito. Identificava cinco fatores como determinantes e limitadores do crescimento: população, produção agrícola, recursos naturais, produção industrial e poluição. Considerava que, se estas condições não fossem alteradas, o planeta atingiria seu limite de crescimento em cem anos, chamando a atenção para a necessidade urgente de reconhecer os limites do crescimento econômico e populacional, recomendando: redução de 40% no investimento industrial, 20% no investimento agrícola, 40% na taxa de natalidade, transferência de riqueza dos países ricos para os países pobres.

12 Em um trabalho anterior (Portilho, 1997), destacamos a dificuldade de se estabelecer as bases para uma delimitação entre o necessário e o supérfluo.

13 Definido por Dupuy (1980) como a integração dos constrangimentos ecológicos na lógica capitalista.

14 Contrariando esta tendência, Layrargues (1998), acredita que a incorporação da gestão ambiental nas empresas não representa uma mudança paradigmática ou uma conscientização ambiental, mas uma mudança na cultura empresarial provocada pelas transformações políticas e econômicas a partir da globalização da economia.

15 A esse respeito, vale lembrar que, conforme Berger & Luckmann (1983), a vida cotidiana (ou o senso comum) se apresenta como sendo a realidade por excelência, uma vez que há uma correspondência entre os significados de todas as pessoas, referindo-se a um mundo que é comum a muitos homens. Nossa atitude cotidiana, segundo estes autores, é a "atitude da consciência do senso comum precisamente porque se refere a um mundo que é comum a muitos homens. O conhecimento do senso comum é o conhecimento que eu partilho com os outros nas rotinas normais, evidentes da vida cotidiana" (p.40). Desta forma, suspendemos qualquer dúvida com relação a esta realidade e, para contestá-la, é necessário um esforço de transição da atitude natural para a construção teórica. Tal esforço, como assinalam Berger & Luckmann (Op.Cit.), se deve ao fato de que "a consciência sempre volta para a realidade dominante como se voltasse de uma excursão" (p.43).

16 Para exemplificar esta questão, basta citar o já clássico exemplo do papel reciclado, em geral mais caro do que o papel comum.

17 Baudrillard (1995) chama este fenômeno de exercício de reserva das necessidades.

18 Para ilustrar o extremo desta obrigação do prazer, torna-se interessante a reportagem intitulada Enfim, segunda-feira!, em que é analisado o stress proveniente de uma cultura que se obriga à diversão e ao laser dos finais-de-semana. (Revista Isto é, n.º 1447, de 25/06/97, pp.62-63).

19 Basta verificar como as crianças, atualmente, são "treinadas" para o consumo, através de um marketing próprio, afinal, a criança consumidora de hoje, será o adulto consumidor de amanhã. Baudrillard (1995) lembra que a sociedade do consumo é também a sociedade do aprendizado do consumo.

20 Segundo Castoriadis (1982), a autonomia seria, no campo individual, o domínio do consciente sobre o inconsciente, ou seja, a auto-regulação, em oposição à heteronomia, regulação pelo outro (outro aqui também no sentido de inconsciente, o outro em mim). No campo social, a compreensão da autonomia pressupõe que a existência humana é uma existência de muitos, ou seja, é uma existência social e histórica tornando possível a concepção de uma liberdade sobre outra liberdade: "não podemos desejar a autonomia sem desejá-la para todos e sua realização só pode conceber-se plenamente como empreitada coletiva" (p.129).

21 Cf. a pesquisa realizada por Crespo et al. (1998) e, ainda, Vilanova (1994).

22 Na democracia direta a própria sociedade se organiza democraticamente e todos os cidadãos participam diretamente das decisões; na democracia representativa a sociedade se organiza a partir do Estado e os cidadãos elegem seus representantes através do voto, representando-os indiretamente. Numa democracia participativa ou social, além dos representantes eleitos, surgem outras formas de participação e decisão, como os sindicatos, as associações, as igrejas, as universidades etc., ganhando um caráter mais dinâmico e cotidiano. Cf. Boff, 1996.

23 Cf. Sachs (1986), Boff (1996), Morrison (1995) e, ainda, Layrargues (1997).

24 Da mesma forma, a ideologia da escola nos faz acreditar que o acesso à leitura e à escrita nos levará à igualdade total.

25 Mentalidade primitiva definida por Baudrillard (1995) como baseada na crença na omnipotência dos pensamentos.

26 Vale ressaltar os estudos de cidadania dentro da ótica da diversidade e multiculturalismo na globalização da economia e dos meios de comunicação. Cf., além deste autor, Ortiz (1998) e Ianni (1997).

 

Fátima Portilho
Professora do Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro-RJ), Mestre em Ecologia Social (UFRJ/EICOS) e Doutoranda em Ciências Sociais na área Meio ambiente, tecnologia e sociedade (IFCH/Unicamp);
Orientadora: Profª. Drª. Arlete Moysés Rodrigues

Áreas de interesse: educação e gestão ambiental, políticas ambientais, meio ambiente e sustentabilidade, produção/consumo/descarte, representações sociais, conflitos socioambientais

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