APRESENTAÇÃO
Projetos são planejamentos detalhados para a concretização de sonhos, que
transformam objetivos e ideais em ações. O Projeto Apoema - Educação
Ambiental é isto, um conjunto de projetos, um conjunto de sonhos planejados há
muito tempo. O projeto existe desde 1992 e foi para a internet em 1999. Em
2003 nasce a empresa Apoema Cultura ambiental para a publicação de livros e
também para apoiar e viabilizar o Projeto Apoema. Em
dezembro de 2007, o Projeto Apoema transforma-se em uma ONG. No final de 2012,
extingue-se como ONG e transforma-se em PROGRAMA DE AÇÃO SÓCIOAMBIENTAL da
Apoema Cultura Ambiental.
Para saber mais,
acesse o arquivo PDF AQUI
TEXTO
Um compromisso pela vida: Educação Ambiental
Por Berenice Gehlen Adams
Texto da Coluna para o Portal EducomVida
Um compromisso pela vida: Educação Ambiental - por Berenice Gehlen Adams -
27/02/2009 15:23
Eu aprendo, tu aprendes, nós aprendemos e mudamos o mundo. É assim,
aprendendo cada vez mais, que nós, humanos, mudamos o ambiente em que
vivemos.Transformamos pedra, madeira, areia, em objetos; plantas e animais em
alimentos, graças ao fogo e aos processos tecnológicos; e é assim que
transformamos o mato em terra árida, os rios em esgotos, o céu azul em
cinza, e seguimos modificando o mundo. Alguns cientistas equiparam essa
transformação aos efeitos devastadores de meteoritos que atingiram a Terra,
antigamente.
Os avanços tecnológicos se apresentam num ritmo inacreditável e podemos não
saber o que se passa na esquina do nosso quarteirão, mas sabemos o que ocorre
do outro lado do mundo, instantaneamente - principalmente se o fato for
catastrófico e interessar a mídia sensacionalista.
Vivemos, pois, diante do contraditório, onde o que parecia certo, está
errado; o que parecia bom, faz mal à saúde do Planeta, e temos que ter um
enorme jogo de cintura para conseguirmos equilibrar tanta contradição dentro
das nossas cabeças. Hoje não é mais possível uma pessoa saber de tudo um
pouco. No máximo sabemos um pouco de quase nada, mas uma aprendizagem
torna-se fundamental, a aprendizagem do sentido da vida. Com tanta informação,
tantos avanços e tantas opções que temos na vida, ela acaba perdendo o
sentido. A depressão tem lugar garantido na vida da maior parte da população
mundial e não escolhe idade, nem sexo e nem condição social. E diante de
tantas atrocidades nos sentimos indefesos, e impotentes, às vezes.
É neste espaço de contradições que precisamos abrir a janela e avistar o
horizonte que a utopia de um mundo melhor nos apresenta, e a esta utopia
devemos nos apegar com unhas e dentes, para que não sejamos imobilizados pela
sensação de pequenez.
Diante destas questões, destaco a importância da Educação Ambiental para
todos: em casa, no trabalho, na escola, na faculdade, nas associações, pois
ela abre novos horizontes, objetivando e oportunizando mudanças de atitudes
nas pessoas. A Educação Ambiental melhora-nos em todos os sentidos, nos
tornando mais fraternos, não somente com o meio ambiente, mas com a gente
também.
A Educação Ambiental deu seus primeiros passos, aqui no Brasil,
principalmente a partir da Eco 92, com a elaboração da Agenda 21, da Carta
da Terra, e do Tratado de Educação Ambiental para Sociedade Sustentável e
Responsabilidade Global, estes últimos elaborados no Fórum Global das ONGs,
evento paralelo à Eco 92. Estes documentos são verdadeiros marcos para a
Educação Ambiental. Em 1999 nasce o Programa Nacional de Educação
Ambiental (PNEA) no Ministério do Meio Ambiente, ao mesmo tempo em que é
votada a Lei Nº 9795/99, que legitima a Educação Ambiental no País. As
primeiras ações governamentais foram estimular a criação de Agendas 21
Escolares, realizar conferências nacionais e regionais de Educação
Ambiental e lançar o Curso Básico de Educação Ambiental, em parceria com a
Universidade de Brasília (UnB), do qual fui aluna. Com a mudança de governo
houve algumas alterações: alguns projetos foram engavetados, como o
"Protetores da Vida", e outros nasceram, como o "Coletivos
Educadores para Territórios Sustentáveis".
Na área empresarial é possível perceber alguns avanços da Educação
Ambiental, todos decorrentes de questões ligadas à imagem das empresas, ou a
pagamentos de multas por problemas ambientais provocados por elas, porém,
estas atividades carecem de aprimoramento, conforme aponta o livro Educação
Ambiental Empresarial no Brasil, organizado pelo Dr. Alexandre Gusmão Pedrini
da UFRJ e editado pela RiMa, em 2008, do qual faço parte com um capítulo
destacando a importância dos aspectos pedagógicos nas atividades de EA nas
empresas.
A Educação Ambiental, portanto, configura-se como uma dimensão nova do
ensino, que está em permanente construção, porém, a sociedade, como um
todo, ainda não conseguiu assimilar essa real dimensão. O professor
Genebaldo Freire Dias indica que a Educação Ambiental formal (em escolas,
tanto públicas quanto privadas) pouco avançou, ao longo dos últimos 15
anos. Ele percebe que muitos professores ainda enfrentam dificuldades para ter
acesso à formação ambiental e aos recursos instrucionais especializados. É
preciso assumir e assimilar essa dimensão maior da Educação Ambiental,
inserindo-a no planejamento dos gestores. Para que ela possa ser uma prática
de ensino plena é preciso mais união, mais ação e maior comprometimento
com as questões ambientais.
Há, portanto, algo imprescindível a ser feito por cada cidadão: assumir o
compromisso de cuidar do planeta. Somente este comprometimento poderá
promover a mudança que queremos e que precisamos, pois, segundo Martin Luther
King, "todos os homens estão presos numa teia inescapável de
mutualidade; entrelaçados num único tecido do destino. O que quer que afete
a um diretamente, afeta a todos indiretamente. Não posso nunca ser o que
deveria ser até que você seja o que deveria ser e você não pode nunca ser
o que deveria ser até que eu seja o que devo ser".
ENTREVISTA Entrevista com Berenice
Gehlen Adams para a Revista Sustentabilidade (RS)
Por Dayane Cunha
Junho/08
RS - O seu site é muito completo. Mesmo assim, gostaria de saber (só para
começar) como anda o projeto neste momento. Quais são seus atuais desafios?
Algum novo projeto?
Berenice - Dayane, para te situar melhor, resumidamente o Projeto Apoema -
Educação Ambiental nasceu a partir da formulação de um livro didático-pedagógico
de Educação Ambiental (EA), em 1993, que foi avaliado e aprovado por órgãos
educacionais competentes (SMED/NH, SEC/RS e MEC/BR) e publicado em 1997. Após
participar de alguns eventos divulgando a proposta de inclusão da EA a partir
da Educação Infantil, em 1999 "descubro" a Internet como potente
ferramenta pedagógica, e como eu já tinha familiaridade com informática
(fui professora de informática, além de alfabetizadora) construí um website
para divulgar e difundir a EA, ampliando objetivos e abrangência do projeto
que sempre foi desenvolvido de forma independente e voluntária. Realmente o
trabalho forte do Projeto Apoema - Educação Ambiental é realizado pelo
ambiente virtual, que recebe mais de dois mil visitantes por dia, em média -
um número bastante expressivo para um website que não faz uso de publicidade
e por se tratar de um espaço virtual educacional. Além de divulgar e
difundir a EA, em 2000 fundei um grupo de estudos de EA chamado GEAI (Grupo de
Educação Ambiental da Internet) que conta com mais de 800 participantes,
sendo a maioria do Brasil, e deste grupo foi criada a revista eletrônica
Educação Ambiental em Ação, com periodicidade trimestral
(www.revistaea.org).
Em 2003 institucionalizo a editora Apoema Cultura Ambiental, que hoje conta
com 15 publicações de minha autoria voltadas para professores e crianças, e
são comercializados somente pela Internet.
Como o Projeto Apoema - EA foi ampliando sua abrangência, recentemente, mais
precisamente no final de 2007, transformou-se em ONG, e está em fase de
estruturação. Portanto, novas metas e planos estão nascendo: buscar
parceiros, captar recursos, formar uma equipe sólida para ações locais,
elaborar um informativo de Educação Ambiental para diferentes públicos,
promover cursos de capacitação em Educação Ambiental, auxiliar no
aprimoramento e fundamentação de projetos de EA em execução, promover
eventos, e um deles já está em andamento que é o I Encontro Metropolitano
de Educação Ambiental Martim-pescador, que organizamos em parceria com
outras instituições do Vale do Rio dos Sinos/RS, que ocorreu no final do mês
de maio/08. Deste evento pretende-se estabelecer maiores vínculos com
iniciativas de EA de diferentes segmentos da região e criar uma Rede
Metropolitana de Educação Ambiental, para unir esforços e trazer a tona
projetos de EA que estão sendo desenvolvidos em empresas, escolas, ONG,s e
outras instituições.
Tenho um prazer enorme em trabalhar nestes empreendimentos por tratar de um
assunto que sou apaixonada que é Educação Ambiental, tanto na editora
quanto na ONG recém-nascida - mas que já conta com uma longa caminhada. Hoje
está "na moda" falar em EA, e por isto ela se torna mais importante
ainda, pois deve passar da superficialidade aos aspectos mais profundos para
promover mudanças culturais.
RS - Vocês pretendem ter representantes em outros estados?
Berenice - Sim, pretendemos ter representantes em outros estados, tanto pela
editora Apoema Cultura Ambiental - pois pretendemos ampliar a distribuição
dos livros que hoje tem a internet como principal ferramenta de vendas -,
quanto pela associação Projeto Apoema - Educação Ambiental que no Artigo 5º
do seu estatuto prevê se organizar em tantas unidades quantas forem necessárias,
em qualquer parte do território nacional, para divulgar e difundir a EA.
RS - Além da internet, como levar o projeto para o país? Já existe alguma
idéia sobre isto?
Berenice - O Projeto Apoema - EA já participou de diversos eventos em
diferentes estados do país: SP, GO, MA, MS, SC, RS, e através de parcerias
com apoios na divulgação de inúmeras ações. Pretendemos ampliar essa
participação - que até o momento era feita de forma voluntária e com
recursos próprios - através da captação de recursos para a ONG que estamos
estruturando. A ideái inicial para deixar nossas pegadas pelo Brasil afora é
a promoção de uma feira cultural ambiental itinerante, e pretendemos
elaborar o projeto para apresentar a alguma empresa. Se já fomos tão longe
como associação independente, certamente romperemos muitas distâncias do
nosso imenso território nacional como associação legalizada. Também
pretendemos elaborar materiais impressos para distribuição gratuita em
escolas estaduais e municipais de todo Brasil, para incentivar ações e
capacitar professores das séries iniciais da educação básica, pois há uma
carência muito grande de material e de cursos voltados para este público.
RS - Você disse que está na moda falar de educação ambiental. Você tem
visto empresas se aproveitando desta moda para se promover? O que acha destas
ações empresariais de educação ambiental? Ela tem resultado?
Berenice - Penso que a EA estar "na moda" já é um primeiro passo,
pois indica que está na "vitrine", porém, é preciso sair da
vitrine para estar em todos os lugares. Todos precisamos "comprar"
essa idéia, através da sensibilização e da conscientização. Nas empresas
a EA está sendo articulada principalmente por obrigação, pela legislação
ambiental, pela imagem da empresa e por uma certa cobrança, ainda que um
tanto tímida, de clientes. As empresas precisam de muito empenho e pesquisa
para serem ambientalmente corretas, e a EA é imprescindível para essa necessária
transformação. Infelizmente, muitas empresas se utilizam de slogans
ambientais apenas para a promoção de imagem. Sei de um caso em que um técnico
de Meio Ambiente está vivendo uma crise ética, pois vê a empresa onde
trabalha praticar verdadeiros crimes ambientais, e não pode se manifestar,
pois perderá seu emprego. Esta situação se repete em centenas de outras
empresas, porém, não vêm à tona, são ocultas porque há muitos interesses
em jogo. Os ambientalistas ainda são vistos como ameaças, e a EA sofre de
descaso porque vai contra a cultura do consumo. É preciso sensibilizar empresários
e políticos, pois, mais dia, menos dia, estarão sofrendo as conseqüências
deste descaso na pele. O aquecimento global está aí, e suas conseqüências
já se manifestam sem timidez...
RS - Como introduzir educação ambiental na educação formal? Virar
disciplina obrigatória?
Berenice - A lei 9795 que institui a Educação Ambiental no Brasil é clara e
coerente com os princípios da EA delimitados por diferentes coletivos através
de conferências internacionais como a Conferência de Tbilisi, a de Belgrado,
a Eco-92, que prioriza sua prática como interdisciplinar a ser incluída em
todas as séries do ensino formal, portanto, desde a Educação Infantil ao
Ensino Superior. Infelizmente esta prática ainda não é efetivada e muitas
escolas optam por engessar a EA em uma Disciplina, quando ela deveria estar em
todas. Essa questão é muito debatida entre educadores ambientais, sendo que
muitos são a favor da criação da disciplina, pois desta forma ela acontece,
tem um professor responsável, tem uma grade de temáticas a seguir - os
famosos conteúdos curriculares -, uma vez que de forma interdisciplinar ela não
se efetiva - é de responsabilidade de todos e de ninguém ao mesmo tempo. Mas
isto acontece por desconhecimento dos princípios da EA contidos nos
principais documentos referência que são: O Tratado de Educação Ambiental
para Sociedade Sustentável e Responsabilidade Global, A Carta da Terra e a
Lei 9795 da EA, entre outros. É preciso promover a capacitação dos
profissionais da Educação para que tenham suporte teórico, didático e
metodológico para a inclusão da EA na Educação Formal. Eles só não
praticam a EA porque sentem falta de referências e de orientação.
RS - Como deve ser o preparo dos professores em educação ambiental?
Berenice - Os professores devem participar de atividades que os sensibilizem
para a necessidade de uma mudança de postura em relação aos nossos costumes
e hábitos, e devem ter conhecimento dos documentos que citei anteriormente.
Por isto a EA não é uma tarefa fácil, pois todo educador deverá mudar,
passando a enxergar o mundo de forma diferente, e este é o maior desafio que
a EA tem pela frente. Neste sentido a revista eletrônica Educação Ambiental
em Ação, do Projeto Apoema, dá um enorme contribuição aos educadores.
Também almejamos futuramente fazer uma versão impressa da revista, para
alcançar pessoas que são excluídas do universo digital.
RS - Qual o papel da mídia para auxiliar na educação ambiental?
Berenice - O papel da mídia é muito importante pois é um potente veículo
formador de opinião. É visível o aumento de programas televisivos - de boa
qualidade - sobre as questões ambientais, mas uma pena que a maioria é
veiculada em canais por assinatura. A mídia impressa também está abrindo um
espaço maior, mesmo que ainda não o suficiente. A mídia ainda está muito
voltada para o catastrofismo, que mais imobiliza do que sensibiliza, mas aos
pouco tudo está mudando.
RS - Conte um pouquinho da sua rotina diária e da rotina de um professor
ambiental.
Berenice - Normalmente, pela manhã, acesso o site para ler os recados que são
minha fonte de inspiração para prosseguir nesta jornada que às vezes é um
tanto árdua pelas dificuldades em conseguir verbas e parcerias. Para minha
rotina, que é um tanto flexível, tenho um cronograma e estabeleço metas de
acordo com este cronograma. Nas semanas anteriores, por exemplo, trabalhei
intensamente na ampliação de uma coleção infantil voltada para crianças,
desde o texto, ilustrações, atividades, editoração até a formatação; na
atualização do site do Projeto, na programação da revista eletrônica que
está entrando na sua 24ª edição (www.revistaea.org) cujo lançamento foi 5
de junho, entre outras atividades. Então, divido meu tempo entre atividades
com a editora e com o projeto.
RS - Como um professor pode começar a educação ambiental em sua escola?
Quais seriam os primeiros passos?
Berenice - Antes de iniciar a Educação Ambiental (EA) na escola, o professor
deve conhecer três documentos que são referência e que servirão de suporte
teórico para esta prática: A Carta da Terra, O Tratado de Educação
Ambiental para Sociedade Sustentável e Responsabilidade Global, e a Lei 9795.
Existem muitos outros documentos, mas considero estes os principais, pois os
dois primeiros acolhem os princípios e os pilares de uma Educação Ambiental
para a cidadania planetária e outro trata de um documento que legitima a EA
no Brasil. Estes documentos são facilmente encontrados na internet. É
interessante, também, conhecer o processo de construção de cada um deles.
RS - Quais os temas que devem ser tratados em educação ambiental? Como
trabalhar a interdisciplinaridade? Pode citar um exemplo?
Berenice - Depois de conhecidos os princípios e as bases da EA, sugiro para o
professor da Educação Infantil ou das séries iniciais do Ensino Fundamental
que faça uma atividade exploratória com as crianças para descobrir o que
mais desperta a curiosidade e o interesse delas sobre as questões ambientais.
Pode ser através de brincadeiras com imagens, listagens de palavras, alguma
história infantil, vai depender da criatividade do docente. Depois de
descobrir a temática de interesse, sugiro elaborar um projeto propondo
atividades variadas, explorando ao máximo o tema. Por exemplo, se o tema for
ANIMAIS, o professor poderá planejar atividades envolvendo: animais do
bairro, animais de estimação, animais em extinção, animais grandes e
pequenos, necessidades dos animais, importância dos animais para o ambiente,
necessidades físicas dos animais, cuidado com os animais, classificação dos
animais e por aí vai. É importante abordar as temáticas e desenvolver
projetos associando a quatro enfoques que são: AMBIENTE (a relação do
ambiente com a temática abordada e vice-versa)- ECOLOGIA (as inter-relações
que a temática envolve e necessidades vitais) - PRESERVAÇÃO (relação da
temática com a preservação) e RECICLAGEM (relação da temática envolvendo
reciclagem) procurando associar as temáticas de interesse que estão sendo
trabalhadas a estes enfoques que possibilitarão uma série de associações
dos processos de aprendizagem. Estas atividades podem envolver todas as
disciplinas e assim a EA vai sendo implantada aos poucos, de forma
interdisciplinar. O professor atento perceberá o momento em que o assunto
estiver esgotando a curiosidade das crianças, que indicarão interesse por
outra questão, por exemplo, ÁRVORES, ou BRINQUEDOS... Aí ele poderá seguir
o mesmo processo anterior. Se for um professor por Disciplina específica,
sugiro que estude a sua grade de conteúdos e veja onde poderá inserir os
enfoques ambientais. Em Português, por exemplo, as atividades podem ser
relacionadas ao meio ambiente: criar poemas, elaborar redações, criar histórias
que remetam a importância do cuidado, da preservação. Ou em Geografia, o
professor pode explorar as temáticas ambientais de distintas regiões,
trabalhar ambiente natural e ambiente construído - enfatizando que tudo é
meio ambiente, e não somente "a natureza", e trazer assuntos como o
estado dos rios do Brasil ou da cidade "tal," a vegetação, a
fauna, a flora, etc. E assim para as demais disciplinas. Sempre digo que a EA
funciona como um óculos, pois o nosso atual sistema de educação está míope,
e a EA vem para corrigir essa distorção de ótica. Passamos a enxergar mais
a vida em seu amplo contexto de relações através das lentes da EA.
RS - Quando se fala em "meio ambiente" as pessoas pensam em
florestas, longe do ambiente em que vivem. Como mudar esta visão e mostrar
que educação ambiental é educar para melhorar o ambiente em que se
vive?Como trabalhar com a criança que tem educação ambiental, mas que, ao
sair da escola, não vê o mesmo tratamento do ambiente. (exemplo: falar de
coleta seletiva, mas seu bairro não faz coleta). Geralmente educação
ambiental é voltada às crianças. Mas como educar os adultos?
Berenice - Trabalhar com a Educação Ambiental é trabalhar com o contraditório,
e por isto é tão difícil de compreendê-la na sua prática. Mas é bem mais
simples do que parece. Para tirar essa noção de que meio ambiente é algo
fora de nós, ou simplesmente uma paisagem natural, com rios límpidos e
florestas verdejantes, é importante desenvolver atividades com as crianças
em espaços diversos - jardins, parques, museus, até shoppins center se for o
caso de ser da realidade das crianças, e utilizar estes espaços como
Estruturas Educadoras. Há uma linha teórica sobre este assunto, que aborda a
Educação Ambiental numa simples volta na quadra da escola, ou mesmo dentro
das dependências do ambiente educacional, pois tudo é ambiente, com a
diferença que pode ser natural ou construído, e, em sendo construído, foi
construído com elementos do ambiente. Podemos exemplificar com uma escada de
pedra que tenha um corrimão de madeira. Nossa! Dá para trabalhar muitas
coisas, como: de onde vem aquelas pedras, e aquela madeira? Quem as
transformou? Aí entra o pedreiro e o marceneiro - profissões. E quantos
degraus têm essa escada? Quantas pedras têm nessa escada, que podemos
contar? Aí entra matemática. E assim como a escada serviu como estrutura
educadora, assim também temos inúmeros outros espaços que podem ser
explorados incluindo sempre o enfoque ambiental. E outra coisa importante a
salientar é que o professor não precisa ser biólogo, cientista, agrônomo,
ele não precisa saber tudo sobre meio ambiente, pois vai aprender junto com
seus alunos. Um professor curioso e interessado também é fundamental para
todo processo de aprendizagem. E é desta forma, educando diferente, inclusive
conversando sobre as contrariedades que vivenciamos como a questão da separação
do lixo e da falta da coleta seletiva que você abordou. É importante saber
primeiro o que eu posso fazer para melhorar o meu relacionamento com o meio
ambiente, pois esta mudança deve ser espontânea, e não deve ocorrer pela crítica
ou pelo dedo apontado aos outros que ainda não se sensibilizaram para a
importância de cuidar do meio ambiente. É desta forma que os educadores
podem oferecer para as crianças uma nova visão de mundo, lembrando que para
nós adultos, é bem mais difícil, porque temos que primeiro desaprender tudo
o que aprendemos, para reaprender a ler o mundo de forma interdisciplinar. Só
então perceberemos que tudo está relacionado entre si, e que dependemos uns
dos outros para viver.
RS - Como você está pensando em fazer parceria com as empresas? Alguma já
está interessada? Vai haver critérios para você escolher a empresa? (ex: não
ser poluidora do meio ambiente) Como será este apoio da empresa? Para quê?
Publicação de livros, palestras, viagens a outros estados...
Berenice - As parcerias são fundamentais. Temos parcerias estabelecidas com
outras ONG's: Intituto Martim-Pescador (SL/RS), Movimento Roessler (NH/RS),
Cooperativa Sítio Pé na Terra (NH/RS), e órgãos governamentais: Secretaria
do Meio Ambiente de Novo Hamburgo (SEMAM/NH-RS) e Ministério do Meio Ambiente
através do envio de materiais didáticos de EA produzidos pelo governo. Estas
parcerias colaboram principalmente na efetivação de eventos como o recente I
Encontro Metropolitanos de Educação Ambiental Martim-pescador, e divulgação
recíproca de ações. Mas, para que possamos ampliar as ações do projeto,
investindo em: recursos humanos, publicações voltadas para docentes e crianças,
eventos culturais com feiras educativas e mostras de teatro, elaboração de
informativos e materiais didático-pedagógicos como jogos e vídeos
educacionais, cursos a distância, palestras em lugares que têm pouco acesso
a informação ambiental, viagens para o intercâmbio com outros projetos de
Educação Ambiental desenvolvidos pelo Brasil, entre outras ações,
precisamos estabelecer parcerias com empresas para a obtenção de recursos
financeiros. Estamos aprendendo como isto funciona e quais mecanismos temos à
nossa disposição, pois o projeto existe como associação há pouco tempo,
menos de um ano, embora tenha uma histórias de quase 10 anos em ações
voluntárias. Todos sabemos que as indústrias, em maior ou menor escala, são
as maiores causadoras do desequilíbrio ambiental, e muitas delas recebem
multas (em caso de danos ambientais evidentes) ou condicionantes que lhes
exigem investimento em Educação Ambiental, e se uma empresa destas se
interessar em efetivar parceria, serão analisadas as possibilidades. Pode ser
proposto, como contrapartida pelo fato de ser potencialmente poluidora, o
desenvolvimento de um programa de Educação Ambiental dentro da empresa, por
exemplo. Se pudéssemos contar somente com a parceria de empresas consideradas
"ambientalmente corretas" seria o ideal, porém, isto é inviável
pelo pequeno número que existe, atualmente. Como já disse antes, lidar com a
Educação Ambiental é lidar com o contraditório e este tem sido o maior
desafio que educadores ambientais enfrentam com muita garra, sabedoria e tolerância.
RS - O que você acha da Política Nacional de Educação Ambiental? Ela está
sendo bem empregada? O que precisa para melhorar?Berenice - A Política
Nacional de Educação Ambiental, instituída através da Lei 9795/99 é um
grande avanço para nós, brasileiros, uma vez que através dela são
viabilizados centenas de projetos de Educação Ambiental pelo Brasil afora,
desde a sua regulamentação em junho de 2002. É uma política que vem sendo
articulada com diferentes atores da sociedade, não se restringindo apenas a
ambientes escolares, mas envolvendo, também, diferentes setores das
comunidades, como, por exemplo, a criação das Salas Verdes e a construção
de Coletivos Educadores Ambientais, que buscam articular ações de Formação
em Educação Ambiental em determinados espaços geográficos, abrangendo
todas instituições que fazem parte daquele território. Pretende alcançar
um processo permanente de EA em toda sociedade, embora necessite de muitos
aprimoramentos para ampliar sua abrangência: maior divulgação, promover
interação de educadores ambientais, facilitar o vocabulário de materiais e
discursos que muitas vezes é incompatível com a compreensão de determinados
públicos, mas o maior problema que vejo, nas ações governamentais de EA é
o de quando mudam os "atores" do cenário político. A continuidade
de muitos projetos depende de "pessoas-chave", que muitas vezes são
transferidas ou mudam de cargo deixando alguns projetos em completo abandono e
desamparo. Ouvi muito esta "queixa" em evento recente. São os
estilhaços da nossa atual crise política. Apesar de estarmos perplexos com a
saída da Ministra Marina Silva, do MMA, estamos esperançosos com o novo
Ministro Carlos Minc. E esperança é uma das palavras-chave da Educação
Ambiental.
Descrição da proposta metodológica que deu origem ao projeto
Clique no patinho para acessar
*O Projeto Apoema - Educação Ambiental - O material do projeto obteve parecer favorável do MEC/Departamento de Meio Ambiente
quando submetido a análise, em 1997.
Desde 1992
Março de 1999 - início do
projeto na Internet
Projeto Apoema - Educação Ambiental e Apoema Cultura Ambiental
Endereço: Rua São Luiz Gonzaga, 1152 Bairro Guarani
CEP - 93520460, Novo Hamburgo/RS - Brasil
Projeto Apoema - Educação Ambiental